sexta-feira, 1 de junho de 2018

Vou partilhar alguns comentários, publicados algures em parte incerta..., por Duarte Pereira



Gosto de ler...mas pouco.
Mas se são amigos costumo ler tudo até ao fim.
Não ando só por este grupo, há sempre mensagens privadas e outros meios.
Sem autorização, vou partilhar alguns comentários, publicados algures em parte incerta.
Não irei revelar quem usou a " pena ".


Os comentadores estiverem em Macomia 1972/74...
e em Sandim há poucos dias. .
???????? Respondendo às "nossas" Velhas, direi que ouvi atentamente peripécias e episódios que, embora andando por lá, não me apercebi.
Alguns dos amigos que compunham aquela mesa, foram gente que navegava noutros horizontes muito diferentes dos meus e em áreas que não dominava.
Por isso, gostei muito de os ouvir e cada vez estou mais convicto que, de facto, aquela situação era muito complexa e um manancial de emoções.
Paralelamente àquela guerra, muitas vezes dura e trágica, havia também outra dentro e fora do arame farpado.
Com muitos amores e paixões nos aldeamentos, solidariedade, segredos, ordens e planos de guerra quase diabólicos.
Pelo meio, a influência do poder civil implantado e polícia política - interpostos no seio dos militares e seus controladores- transformavam todo aquele cenário numa enorme complexidade, de conteúdos pouco perceptíveis ao comum dos mortais e que, ao fim e ao cabo, acabaram por ser as maiores vítimas de todo aquele sistema.
Abraço.
???????? Bom dia, amigo ?????, respondeste às Velhas mas eu apreciei, (como é habitual) a tua opinião, é sempre enriquecedora e dá-nos um certo conforto sentir que apesar da distância temporal ainda há muitos que conservam os episódios bem latentes e mais que isso conseguem "pensar". Também serve certamente para prevenir a alzhaimer...
Eu, no que me diz respeito andei uns bons anos que nem comentava nem queria ouvir comentar nada acerca daquela nossa experiência, mas a partir do primeiro encontro em que participei, (Marvão) senti que precisava de "soltar" determinados "pesos" que me atrofiavam em relação aquele período da minha vida.
E sinto-me bem assim.
Mas também sei ver que nem todos têm a mesma vivência da situação, mas aí é um assunto para psicólogos, sociólogos e até psiquiatras e como eu não sou nada disso, termino.
Um bom Domingo, um grande abraço e quando tiveres um tempinho "abota" mais umas coisas.
?????? Obrigado amigo ????.
Aprecio também muito as tuas sempre sinceras e sábias palavras.
Concordo plenamente que é mais do que hora de fazer passar alguma mensagem daquela época e daquilo que por lá aconteceu.
Suponho, que o nosso silêncio ao longo de tantos anos, evitando falar -até por motivos traumáticos- daquela guerra, terá levado a que, lentamente, se fossem esquecendo de nós.
Felizmente, já muita literatura vai aparecendo com a publicação de muitos livros, artigos, documentários, redes sociais, etc.
Contudo, parece-me que essa informação não passará muito ou não interessará já demasiado à sociedade civil e muito menos aos políticos.
Já somos demasiado idosos e de débil saúde e sem poder de exigir.
Não devemos esquecer que fomos a última geração de combatentes do Império.
Muitos já nos levam 10 anos.Essa informação circulará mais entre nós e não irá muito para além disso.
Tudo isto para dizer, que nada temos a perder.
E, pelo menos, vamos desabafando uns com os outros.
Grande abraço.

Duarte Pereira São "escritos" de dois ex-combatentes, em que a sua especialidade não era destruir.... não eram atiradores , mas " conservadores " , cada um à sua maneira ... e parece que eram bons .

Livre Pensador Duarte, os atiradores podiam eventualmente destruir, mas por outro lado, eram "construtores" da segurança de todos aqueles que apenas ouviam falar de guerra.

Duarte Pereira Livre Pensador - Ribeiro . Ainda não tinha analisado por esse prisma . Nós tentávamos afastar as " moscas " , para não caírem na " sopa " de Macomia.


Leonel Pereira Silva Bom dia amigo Duarte Pereira, então se queres bonecos, cá vai... com votos de boa quinta-feira...

Leonel Pereira Silva Mais...bonecos...

Leonel Pereira Silva E mais números...

os parabéns vai a "adoro".

Duarte Pereira Armando Guterres - Tenho utilizado o " boneco surpresa "para dizer que li. Continua a ser para mim " uma surpresa" quando alguém, publica, comenta ou clica em alguma coisa.

Duarte Pereira Manuel Martins Fonseca - Já leste o texto com comentários de dois ilustres ex-combatentes ?

Manuel Martins Fonseca Sim já li, muito interessante e muita realidade com tudo o que se passou na nossa guerra. Abraço

Duarte Pereira Manuel Martins Fonseca - São estes pequenos " grandes" relatos que eu gostaria de ler de vez em quando. Como diria ( em especial) o Fernando Silva e Horácio Cunha, aqueles dois anos em Moçambique, teriam mais histórias para contar e episódios para recordar. Enfim.... se tiver oportunidade de " captar" alguns, com a vossa autorização, transcreverei para a página deste Batalhão.

Luís Leote Não foi o meu caso, mas quem foi para África de avião, não se adaptou progressivamente. Devia ter sido um choque num curto espaço de tempo.
Quando cheguei, estava balofo, em baixo de forma física. Na primeira coluna de Mataca a Macomia a subir a Serra, com a cintura carregada com todos os artefatos, se tapasse a boca morria.

Duarte Pereira Nem um mini comentário do Paulo Lopes. Muito estranho mesmo.
Paulo Lopes Minis, só sagres!
Se não "abotasses" o meu nome, decerto que não leria o comentário anterior!
Passava sem o ver.
Eu fui um dos que viajou de avião e sozinho, sem camaradas que tivessem o mesmo destino que eu!
Aliás, um avião cheio de militares "gordos", acompanhados dos seus familiares, com destino a Luanda e Beira que deveriam regressar das suas "constantes" férias.
Depois, em Porto Amélia, tive a sorte de conhecer um dos pilotos que fazia os trajetos Porto Amélia/Quiterajo/Macomia/Chai/Mataca e que me transportou no seu Azteca até Mataca!
O que significa que também não fiz nem a picada Porto Amélia/Macomia nem a famigerada Macomia/Mataca.

Mas não ia balofo (também nunca fui, o meu peso normal e quase constante no andebol andava sempre pelos 64 kilos) porque a minha preparação física nunca parou nem mesmo nas duas recrutas que dei em Beja já que, a minha "missão" era dar ginástica, fazer os crosses e, principalmente, treinar futebol de 5 na equipa de sargentos que disputava o campeonato militar.
Depois, em Porto Amélia, ainda andei pelos treinos da equipa lá da terra (na tentativa de ficar por lá) e também por treinos de basket já que o treinador da equipa de Porto Amélia era meu familiar. Portanto a minha preparação não era problema!
Problema seria a preparação psicológica!!
A minha primeira saída foi para uma operação de 4 dias e aconteceu muito poucos dias de entrar na Mataca.
Tudo normal e nada de especial apesar do nervosismo de "checa"!
Escrevi no meu livro: ...
"Estavam decorridos poucos dias após a minha chegada a tão desesperante local quando fui chamado à primeira ação como guerrilheiro: chegara a minha primeira saída para o verdadeiro mato.
Apesar de estarmos estacionados bem dentro dele, tínhamos a sensação duma falsa proteção dada pelo arame farpado, valas e arsenal bélico, que sustentava uma segurança meramente psicológica. Levava comigo um punhado de conselhos dados por aqueles que já tinham feito umas quantas operações e que, pelo menos, conheciam muito melhor que eu todas as movimentações necessárias e cautelas que a ocasião exigia.
Não me sentia, de forma alguma e como seria natural, muito à vontade com esta nova, mais uma, experiência militar.
Na minha mente transbordava o pensamento:
— Faz o que os outros fizerem; observa as atitudes dos que te acompanham e tudo será mais simplificado'
Até a chegada da minha primeira picada, toma lá mais um pouco do livro:
"Ficámos alguns dias sossegados da azáfama constante do vai e vem das operações, o que nos admirou bastante mas não nos preocupou absolutamente nada.
Podíamos passar os dias a ler, a jogar xadrez, damas ou cartas, consoante os gostos de cada um e, pela tardinha, fazíamos —os mais desportistas— uma peladinha naquele estádio fabuloso onde, enquanto uns corriam atrás da bola fugindo ao tédio, outros viam, aplaudiam e apoiavam os do lado de que mais gostassem naquele momento, como se estivessem no estádio do seu clube eleito.
Quanto ao que me tocava, não dispensava esse momento de desporto e lá estava eu, sempre no meu posto de guarda-redes, defendendo o meu emblema que era, sem dúvida, o esgotar dos minutos, o passar do tempo numa atividade com acesso à descompressão do pensamento negativo.
Enquanto tentava que nenhuma bola passasse para além das canas de bambu, esquecia-me que, para lá do arame farpado, existia outro jogo, onde nenhum de nós, jogadores, ganharia.
A vitória ia apenas e sempre, para os abutres que dominam o mundo e as pessoas!...
Nessa primeira picada, como é lógico, tinha na minha mente que e pelo que me contaram já na Mataca, que foi numa dessas picadas que bateu à porta o infortúnio do furriel que eu fui substituir! Nada de agradável para o começo!!
Mas e em relação à adaptação, como sempre me aconteceu em quase tudo, foi-me fácil e sem problemas de substancial gravidade!
Fisicamente, nula!
Psicologicamente, mais fácil do que esperava!
Satisfeito Sr, Duarte Pereira! Como te estou farto de alertar, não me puxes pela caneta que ela tem corda para dias seguidos!!

Julio Santos Se o Leote se refere à coluna em que fomos levar a Macomia a comp. que fomos render na Matáca, para cima foi difícil tudo bem, mas para baixo tivemos o nosso baptismo de guerra e com grande fogo de artifício por cima e por baixo, era o nosso falecido Fortes o comand. da coluna a qual pernoitou na picada depois dos fiat's terem lá ido bombardear a mata e se irem embora devido à hora tardia para eles andarem por lá, sei que foi anoite toda a dar soro a um condutor já sem uma perna, testículos e mais qualquer coisa , acabou ali a guerra para esse condutor na manhã seguinte, não me recordo o seu nome, talvez devido ao pouco tempo que nos conhecemos e não me recordo se também acabou para mais algum camarada. sei que o nosso Cap. Marvão foi levado, segundo me informaram dentro de uma camisa de força para dentro de um helicóptero.
Luís Leote Não Julio Santos. Essa coluna que referes, foi a minha última.
Vim desde a Mataca até às machambas de Macomia a fazer fogo atrás dos picas.
A que me refiro foi a primeira, em janeiro de 71.
O meu camuflado ainda cheirava a naftalina.
Luís Leote Sei que vos avisámos para terem muito cuidado no regresso à Mataca, porque os frelos experimentavam sempre os checas logo na primeira coluna. Vim a saber a vossa má sorte, já em Quelimane.
Julio Santos Áh, ok. pois essa para nós foi a primeira coluna.. Um abraço.
Luís Leote Um abraço.
Julio Santos Igualmente

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