segunda-feira, 8 de maio de 2017

Uma Guerra Deprimente..., por José M. Dionísio

Uma Guerra Deprimente...

MOTE

D’uma guerra deprimente
No antigo território Colonial
Na minha geração era normal
Ser herói/mártir noutro Continente


1
Fazer a vida militar
era uma obrigação,
pois na minha geração
não havia volta a dar,
todo o jovem lá ia parar
e dizer estou presente,
fosse saudável ou doente
só livre da tropa ficava
se alguém influente o safava,
D’uma guerra deprimente

2
Não se tinha a percepção
em nossa plena juventude,
não víamos na plenitude
os perigos que à frente estão.
Às vezes não dávamos razão
ao que era substancial,
por vezes levávamos a mal
aos conselhos que nos davam,
sobre os perigos que grassavam
No antigo território Colonial

3
Todos temos na lembrança
do tempo que durou a guerra,
muitos, longe da sua terra
em África marcavam presença,
com receio e com esperança
para nada correr mal,
era essa a questão essencial
chegar ao “Puto” são e salvo,
ir à guerra e ser um alvo
Na minha geração era normal

4
Ao estadista falta sensibilidade
tanto hoje como outrora,
nesse aspeto não há melhora
essa é a pura realidade.
Há falta de sensibilidade
sem dar valor à “Gente”(1),
era assim que antigamente
acontecia aos jovens de então,
fosse fraco ou valentão
Ser herói/mártir noutro Continente

(1),- Jovens que no meu tempo,
lutaram em terras de África

José M.Dionísio, Ago._2004

domingo, 23 de abril de 2017

A arte do desenfianço, por Gilberto Pereira


" JORNAL DA CASERNA "

NA SUA EDIÇÃO DE HOJE PODEMOS LER UM PEQUENO TRECHO INTITULADO:
" O MILITAR DESENFIADO "



DECERTO TODOS O CONHECIAM, ODIADO POR UNS AMADO POR OUTROS.
(Gilberto Pereira?...)

NÃO TENDO RESISTIDO AO EXCESSO DE ALCÓOL A FIM DE ESQUECER A MATILHA MILITAR, FOI VITIMA DE FEBRES ALTAS, TENDO SIDO EVACUADO PARA HM MUEDA E POSTERIORMENTE TRANSFERIDO PARA O HM NAMPULA.

AÍ FOI INSTALADO NUMA SUITE MILITAR E TEVE OS CUIDADOS MÉDICOS DE ACORDO COM A SUA PATENTE.

FORAM SEIS MESES DE LUTA CONTRA A DOENÇA, MAS AO MESMO TEMPO SEIS DE DESCANSO E LAZER.


ESTES DIAS ERAM PASSADOS DO SEGUINTE MODO:

ÁS NOVE HORAS DA MANHÃ A FEBRE APARECIA E IA ATÉ AOS
41,5º FAZIA EXAMES E ANÁLISES ORA NO HM ORA NO HC.

Á TARDE POR VOLTA DAS 4/5 HORAS A FEBRE DESCIA ATÉ AO
NORMAL. 

DEPOIS UM DUCHE UM "LANCHITO" E A FUGA PELO ARAME FARPADO EM DIREÇÃO Á CIDADE NA COMPANHIA DE OUTROS CAMARADAS TAMBÉM MUITO DOENTES.

UMA VEZ CHEGADO À CIDADE UMA PEQUENA GULOSEIMA NO PORTUGAL, UNS MORANGOS COM CHANTILY VITAMINAS CONTRA OS ANTIBIÓTICOS QUE A SANITA ENGOLIA.

DEPOIS UMA VOLTINHA LÁ PARA BAIXO QUE VOCÊS CONHECEM BEM AFIM DE MANTER A FORMA FISICA. 

DEPOIS TÁXI PARA CIMA EM DIREÇÃO À "FLORESTA" UM JANTAR PARA RETEMPERAR FORÇAS. 

JÁ É NOITE UM CINEMA DE VEZ EM QUANDO E PARA FINDAR A NOITE NADA MELHOR QUE UNS CAMARÕES E UMAS BAZUCAS NA "MARISQUEIRA A TAL PONTO QUE O REGRESSO AO HM TERIA DE SER FEITO EM TÁXI E QUANTAS VEZES NELE ENTREI DE GATAS COMO SE FOSSE AINDA MENINO.

AGORA O PIOR ESTAVA PARA VIR: E COMO ENTRAR NAQUELE
ESTADO SE AO CIMO DA RAMPA NO PORTÃO ESTAVA UM CHECA? 

NÃO HAVIA DISPENSA NEM PAPEL NENHUM COMO FAZER? 

A CABEÇA QUADRADA, AS PERNAS NÃO AJUDAVAM MUITO E O DESEQUILÍBRIO ERA CONSTANTE A PONTOS DE A MEIA RAMPA VIRAR PARA BAIXO.

APÓS ALGUMAS TENTATIVAS E PERANTE O OLHAR ATERRORIZADOR DO CHECA LÁ CONSEGUIA CHEGAR AO PAU DO PORTÃO QUE ME SERVIA DE BENGALA, E AGORA?

O CHECA DE ARMA APONTADA DIZIA: A SUA DISPENSA? E EU RESPONDIA: QUAL DISPENSA QUAL ???..........., MOSTRAVA O CARTÃO MILITAR E PUXAVA DUM MAÇO DE NOTAS E ENTREGAVA UMA DIZENDO TENS AÍ A DISPENSA E AMANHÃ HÁ MAIS--------.
E ASSIM ENTRAVA ENQUANTO ELE SORRIA PARA A NOTINHA E DIZIA BOA NOITE.

TODOS OS DIAS A HISTÓRIA SE REPETIA ATÉ QUE AO FIM DE SEIS MESES ESTAVA TESO E FINALMENTE A DOENÇA ESTAVA DESCOBERTA. 

IAM-ME DAR ALTA E EU IA PARA OS ADIDOS. 
ENTRETANTO JÁ TINHA PEDIDO MAIS DINHEIRO QUE CHEGOU NA HORA CERTA. 

AO CHEGAR AOS ADIDOS Á ESPERA DE TRANSPORTE PARA MACOMIA, FUI INFORMADO PELO OFICIAL DE DIA QUE SÓ TINHA COLUNA PARA MUEDA NA PRÓXIMA SEMANA E QUE ESTARIA DE SERVIÇO NO OUTRO DIA, AO QUE RESPONDI: NÃO NÃO FAÇO SERVIÇO NENHUM, TIRE ESSA IDÉIA DA SUA CABEÇA E ELE RESPONDEU: ENTÃO NÃO VENHAS VER A ESCALA NÃO!

COM DINHEIRO NO BOLSO FUI COMPRAR PASSAGEM DE AVIÃO NO MESMO DIA VOEI PARA PORTO AMÉLIA E Á TARDE DE TÁXI AÉREO PARA MACOMIA. 

APRESENTEI-ME COM O PAPEL DA BAIXA E TUDO FICOU BEM. 
ESTAVA ENTÃO DE VOLTA Á CASA MATERNA. 

ESTÁVAMOS POR VOLTA DOS ANOS 73 CREIO NÃO SOU MUITO BOM EM DATAS, MAS PELO PAPEL QUE TINHA DEVIA SER ISSO.
TEMPOS QUE JAMAIS ESQUECEREI.....

AS SAUDADES FORAM TANTAS QUE MAIS TARDE VOLTEI LÁ (HMN).
DESTA VEZ POR MENOS TEMPO, A METRÓPOLE ESTAVA PERTO.

MUITA COISA FICOU POR DIZER, JÁ VAI LONGA A CONVERSA E O VOSSO TEMPO É PRECIOSO.

UM ABRAÇO A TODOS.

sexta-feira, 14 de abril de 2017

A minha música nos idos anos de 60/70, por Paulo Lopes


Paulo Lopes 


Boa tarde minha querida amiga Maria Faria.



A musica é e sempre será um universo de sensações dispares cujos gostos se alternam em extremidades que, ao contrário de outras, são impossíveis de se tocarem. 

Isto porque, quem adora num sentido extremo o rock, decerto detesta o pimba! 
Por isso ser-lhe-á muito complicado chegar a um consenso em relação à matéria que se propôs criar em trabalho. 

Mas lá vai a minha fraca e humilde participação: para mim será muito complicado afirmar que este ou aquele tema deste ou daquele grupo ou individuo me marcou a mente porque o que me marcou e marca é a própria musica. 

Em relação ao que se ouvia quando estávamos na guerra, também não lhe vou adiantar nada porque, na Mataca, completamente isolados, o que se ouvia era musica que passava na rádio e essa, muito sinceramente, se a ouvia era apenas som que entrava num lado e saía do outro sem ficar absolutamente nada porque, o que se ouvia, canção sim, canção não, era Roberto Carlos e outros iguais cujos nomes agora me escapam. 

Agora, se recuarmos um pouco o tempo, o antes da Mataca e ainda em Lisboa mas já numa fase de pré-guerra, aí poderei já, efectivamente dizer o que ouvia e o que ouvia baseava-se muito no rock; jazz; blues; country e baladas de intervenção (mas não significa que não ouvisse, com interesse, outras coisas). 
Dizia eu num pretenso livro que rascunhei e cujo conteúdo já foram passados aqui alguns (demasiados para alguns) trechos mas que este tema torna viável recordar mais este e que talvez sirva para a sua tese:
..................................
"E assim ia eu passando a minha certinha vida, pobrete mas alegrete, entre o escritório duma concessão de automóveisda marca Opel (onde o Eusébio, mítico jogador de futebol sobejamente conhecido, achado num clube desportivo de Moçambique e arrancado ao eminente pé descalço, foi comprar um carro ou disso fez intenção) e as aulas, intercaladas com
umas fitas nos cinemas Imperio; Imperial; Avis; Odeon; Politeama; Max e outros. 



Uns mais para a fineza outros mais para o piolho (nunca disso fazendo grande distinção), misturando pelo meio umas passagens na Portugália dando umas tacadas nas bolas de snooker ou, de estilo mais emproado, num bilhar às três tabelas, preocupando-me muito mais com a mesa onde permanecia uma travessa de batatas fritas com mostarda e na imperial que estava a perder a pressão, do que propriamente na pontuação que ia obtendo no combate bilharesco, nunca descurando, quando possível, uma paragem no Parque Mayer, colando os ouvidos a uma maquina de discos (invenção americana dos anos cinquenta, creio eu) metendo uma moedinha, percorrendo com os dedos e olhos o numero e letra que dava acesso ao que queríamos ouvir: Everly Brothers; Tremeloes; Chuck Berry; Kinks; Byrds; Crispian St. Peters; The Walker Brothers; Procol Harum; Jimi Hendrix; Scott Mackenzie; Manfred Man; The Move não esquecendo claro está, The Beatles ou, noutro estilo de rock, The Rolling Stones, não variando as composições porque os vinis eram inevitavelmente os mesmos, viro-disco-e-toco-mesmo, sempre com a esperança de um dia, com um pouco de sorte, pudesse chegar ao luxo de ter uma aparelhagem e discos próprios em casa (coisa que só alguns, muito poucos, a isso tinham acesso)."


......................................

Creio que este trecho já diz um pouco sobre a sua pergunta mas, ainda faltam muitos que me marcaram e que poderei mencionar como, por exemplo: Bob Dylan; Donovan; Tem Yerars After; Credence Clearwater Revival; Simon & Garfunkel; Steve Miller Band; Barclay James Harvest e muitos outros que a década dos nossos dourados anos criou.

Agora perguntará a Maria Faria: "E Portugueses?"

E eu repondo: o inevitável Zeca Afonso (que me desiludiu muito depois da revolução por se ter "vendido" ao partidarismo cego): Fernando Lopes-Graça; António Pinho Vargas; José Mário Branco e outros que, na altura da guerra pouco ou nada era ouvidos pelas razões óbvias.

E pronto. 


Desculpa esta longa resposta ao pedido mas o culpado foi o Luís Leote ao dizer que eu seria a pessoa indicada para tal informação o que, pelo descrito, é totalmente errado porque o que eu ouvia e gostava, não era, de forma alguma, o comum dos tempos de guerra! 

Mas, dos outros, eles que se prenunciem! Apenas falo por mim e pelos meus gostos musicais.

Um beijo.
Paulo Lopes

terça-feira, 11 de abril de 2017

OS CHEIROS OU ODORES, por Duarte Pereira


OUTRO TEXTO APANHADO AO SR DUARTE.

OS CHEIROS OU ODORES



QUEM PASSOU MAIS DE DOIS ANOS "NAQUELA TERRA" NÃO PODERÁ ESQUECER....


A CHUVA NO MATO, NOS CAMUFLADOS, O PEIXE SECO, DO SUOR, DA FALTA DE BANHO, DAS POPULAÇÕES RESIDENTES.
 
NÃO ESQUECENDO O DA GASOLINA E GASÓLEO DAS VIATURAS, DOS SORTUDOS, O DO SEXO.

QUEM TEVE A OPORTUNIDADE COMO EU, DE OUVIR, VER, CHEIRAR E BANHAR O OCEANO ÍNDICO.

NEM QUERO FALAR DO CHEIRO DO FRANGO À "CAFREAL", DO PEIXE E JAVALI, FRITOS OU ASSADOS.



DOS PETISCOS DO PRIMEIRO SARGENTO SILVA QUE FOI DE CASTIGO PARA O ALTO DA PEDREIRA. 

PENA O CASTIGO NÃO TER SIDO TODOS OS MESES DA COMISSÃO. 
SERIA BOM PARA ELE E PARA TODOS OS QUE FORAM "ABENÇOADOS" COM CASTIGO NA NOSSA COMPANHIA E COM A NOSSA COMPANHIA FORA DE PORTAS.
 
APANHEI UMA CHUVADA DAS GRANDES, ACHO QUE FIQUEI CONSTIPADO SEM CHEIRO OU ODOR.


domingo, 19 de março de 2017

Memórias da Guerra Colonial, por Manuel Neves Silva


O Cachicha (Soldado GE, Maconde)- Memórias da Guerra Colonial

Por Manuel Neves Silva-Furriel Miliciano GE

Todos os soldados do meu Grupo Especial (GE) eram macuas muçulmanos, á excepção de dois que eram macondes e católicos, o Cachicha e o Chitapata. Esqueci-me completamente do nome do primeiro e se agora ainda a minha memória o chama de Cachicha é culpa minha, assumidamente minha porque o nicknomeei assim mesmo, de Cachicha. E à força do hábito e facilitismo de assim o chamar, este nome virou verdade, o outro ficou esquecido.

Ele, o Cachicha era de estatura baixa, afável, sempre com um sorriso na sua cara tatuada e de dentes afiados. Do seu uniforme camuflado apenas o quico lhe enchia a cabeça, o resto, calças e camisa sobravam muito para além da altura breve do seu corpo. Aceitou prontamente a alcunha, imposta como castigo, por querer partilhar sempre uma das minhas latas de salsicha, uma das poucas viandas que se tragavam na ração de combate para além da sardinha portuguesa e da enlatada carne de vaca” Fray Bentos” made in South África.

O Cachicha, maconde e como tal “católico”, não tinha problemas em comer carne de porco. Os outos macuas islamizados dispensavam o pecado por respeito a Alá, embora outro tanto não fizessem em relação à cerveja, quando esta aparecia no pacote. Este pecado do álcool, talvez Alá tolerasse. Talvez, por ser um pecado mais líquido, mais fluido, menos encorpado, mais evaporável. As salsichas eram sólidas, de aspecto fálico e eram mesmo o pecado da carne, da carne do sujo porco.

Era comum entre macuas e macondes a troca de latas de sardinha por latas de salsicha, cambio sempre inflacionado a desfavor dos macuas. A Manutenção Militar do Exército nunca teve em conta a confecção das rações de combate em função da religião destes soldados. Eles como não comiam as pecaminosas salsichas, ou as deitavam fora ou teriam de aceitar o preço de troca imposto pelos macondes que geralmente só abriam mão de uma de sardinha em troca de duas ou até três de salsicha.

 O Cachicha gostava de comer. De tudo comia na ração de combate. Seus dentes afiados de maconde davam-lhe todas as vantagens nessa tarefa. E mesmo depois de barganhar aos seus camaradas macuas duas ou três latas de salsicha, por apenas uma de sardinha, quase sempre abeirava-se de mim com o mesmo discurso: Siliva, nosso pai, anipe cachicha moja.

Depois de tantas vivências de tantos perigos partilhados, de tantos minutos com estatuto de horas, de tantas esperanças de que o pior não iria acontecer e que o melhor estaria sempre para chegar, eu já entendia a outra língua, para eles mais espontânea, mais corrida, mais natural. Neste crioulo suaíli-macua-português, eu o Silva que me orgulhava de ser tratado de pai por todos eles, macuas e macondes, acabei por entender: Silva, nosso pai dá-me uma lata de salsicha. Deste saboroso crioulo e do engraçado modo como corrompia a palavra salsicha, e ainda porque o seu original nome maconde se tornava difícil ao meu chamamento, assim mesmo o renomeei: Cachicha.

 O Cachicha aceitou. E Cachicha ficou “oficialmente” a ser Cachicha.

Cachicha, digo-te que hoje eu já não sei se recordo a guerra, ou já recordo as recordações da guerra. Na minha memória há uma linha ténue onde se misturam e confundem as vivências passadas com os pesadelos presentes. Nessa bruma esbatida ainda te revejo camuflado na tua demasiada farda, de G3 aperrada ao peito de olhos e ouvidos sempre em alerta.

 Cachicha gostava de ver-te, de abraçar-te, de falar contigo em Suaíli ou português. Sei que a vossa esperança de vida aí em Moçambique é curta, e tu eras bem mais “kokuana” do que eu. Possivelmente já por aí não estás, mas onde quer que te encontres quero deixar-te um abraço e manifestar-te a minha gratidão. Gratidão pelas vezes que me salvaste a vida com os conselhos e avisos de quem sabia de cor cada palmo dessa terra, porque nela nasceste, cresceste e te fizeste soldado, talvez no lado errado da guerra se é que essa guerra teve algum lado certo. Foram os anos onde os jovens do meu e do teu país morriam e matavam por razões que nem eu sentia, nem tu entendias.

 Bem hajas Grande Cachicha! Tenho “maningue” saudades vossas.

Manuel Neves Silva-




Manuel Neves Silva
-Furriel Miliciano GE
-MEMÓRIAS DA GUERRA COLONIAL
Manuel Neves Silva carregou um ficheiro.
Penso que já publiquei este meu texto sobre as minhas vivências da guerra. 
Se assim for ,volto a postá-lo de novo e dedico ao Duilio Caleca, que partilhou comigo a célebre coluna de Nangololo e tb ao Jose Monteiro, que passou por Mueda antes de mim, camaradas que conheci há uns meses atrás num restaurante de Lisboa. 
Dedico de igual modo a todos os elementos do Picadas.
  • Pedro Inácio Excelente texto. Parabéns!!!

  • Augusto Mota Gostei, PARABÉNS.

  • Jose Monteiro Manuel Neves Silva, adorei o teu texto.
    Será que iremos a tempo de ver o Cachicha e outros Cachicas de Moçambique??? 
  • Um abraço.


  • Duilio Caleca Bem haja a quem consegue retratar por escrito os sentimentos de grande amizade e companheirismo que todos nós deixámos por lá.
    Manuel Neves Silva tocaste num ponto que é a grande realidade. Será que na guerra haverá lado em que se devia de estar????
    Aquilo que me baralhou completamente essa ideia, foi que alguns "amarelados" fizeram de tudo para que "matássemos" o inimigo. 
    Pós 25 os mesmos "amarelados" disseram para nos darmos bem com o inimigo.

  • Januario Batista Jorge Muito obrigado por nos falares do teu Cachicha Maconde para nos relembrarmos dos outros "Cachichas ". O meu tinha o nome de Saíide, era macua e era mainato na messe do quartel do Chai. 
    Quando Saíide fazia algo muito bom o prémio era de loucura: um copinho de "água de Lisboa " (aguardente), que o MNF fazia o favor de transportar aqui de Castelo Branco para o Chai sem grandes demoras. 
  • Um dia estava eu sentado na messe a ler um "Seculo Ilustrado", que tinha sido recentemente enviado daqui e na pagina central tinha uma foto da Praça do Comercio, tirada do TEJO para cá. 
  •  Saíide estava a espreitar a foto e disse : Paliota maningue grrrandeeeee. 
  • E depois perguntou... Isto é teu terra pá? 
  • Sim isto é a minha terra; 
  • Isto é Lisboa e este rio é o Rio da água de Lisboa. 
  • Saltou para a minha frente, ajoelhou-se, juntou as mãos e disse : Faz favor ... leva mim teu terra ... eu jura mesmo... morre neste rio! 
  • Saíide ficou no Chai... possivelmente a sua alma já visitou o seu rio da "água de Lisboa " mas nunca me falou da sua vinda. 
  • Mas eu tenho saudades e deixo um abraço.

  • Manuel Neves Silva Bonita história,sabiamente contada. 
    Quem por lá andou e sofreu entende e sente esta tua prosa Januario Batista Jorge.

  • Januario Batista Jorge 
  • ESTA É SÓ PARA OS EX-COMBATENTES... Saìde era gente grande no Chai.
  • Mainato di nosso Alferi e di nosso Furieri na messe. 
  • Tinha pernas de gazela e como elas movia-se de forma ligeira e graciosa. 
  • Andava sempre limpo e com roupa que nós lhe dávamos, tinha algum dinheiro, óculi escuro e rádio. 
  • E a crescer na escala social dos Macuas. 
  • Régulo deu ordem para Saìde comprar mais um mulheri .Passava a ter dois mulheri. 
  • O Régulo tinha 3.

  • Januario Batista Jorge Estávamos a comentar isto e Saíde chegou e nós dissemos: Tu tens que ver o que é uma mulher branca para saberes realmente como é bom. 
  • Saíde, com as suas pernas de gazela, começou aos saltos que quase parecia a Margot Fonteyn e dizia... eu já vi!... eu já vi passarinho. 
  • Eu no Mueda era mainato de nosso Sargento. 
  • Um dia senhora no banho, chama...Saìde?... Saìde?.. traz toalha a sinhora. 
  • Saìde levou toalha e viu senhora branca. 
  • E faz favor pá, meu xoriço cresceu 30 kilos pá .

  • Francisco Mota Dores Ahahahahahahahahahahahahahahahah

  • Manuel Neves Silva Gosto do teu modo de escrever...as histórias estão muito bem contadas...Continua tens muito jeito Januario Batista Jorge

  • Manuel Neves Silva Francisco Mota Dores, Obrigado pelo esforço, mas ainda assim o meu texto "Cachicha Maconde" visualiza-se melhor no documento "docx" que postei.

  • Francisco Mota Dores Já clicou em cima das fotos ?

  • Manuel Neves Silva Já. mas o docx abre maior e com mais nitidez

sábado, 18 de fevereiro de 2017

A morte do padre Daniel e o início da Guerra em Moçambique, por Raul Vilas Boas



FAZ HOJE 50 ANOS:

Em 24 de Agosto, morreu o padre Daniel, da Missão de Nangololo: 

«Pelas 20 horas do dia 24, um grupo inimigo feriu mortalmente um padre da Missão de Nangololo, tendo o autóctone Ernesto Dinagomo, que acompanhava o padre, sido ferido por um projéctil de canhangulo», como se refere no mesmo relatório.



Contudo, a Frelimo considera que foram as acções de 24 e 25 de Setembro de 1964, que marcaram o início da luta armada. 
Estas acções foram determinadas pelo seu Comité Central, enquanto as anteriores foram atribuídas a grupos de guerrilheiros da MANU e da Undenamo. 

Para o amigo Duilio Caleca, matar saudades!
  • Jose Fernandes Tantas vezes esteve neste local nas sepulturas tinham nomes bem Portugueses, como Fátima e outros.
  • Tenho este local na memória de um simples soldado.

  • Agostinho Diez nesse dia eu era 2º sargento do batalhão de Porto Amélia e 2 dias depois a minha companhia foi transferida para Macomia e dividida em pelotões e secções distribuidas para o Chai Messalo e outras localidades.
    Foi o principio da guerra.

  • Agostinho Diez de seguida foi o ataque á plantação de Moaguide.

  • Jose Fernandes Pois eu estive lá em 71 e 72 em Nangololo.

  • Agostinho Diez eu em Nangololo só de passagem porque isto foi em 1964.
    Nesse tempo a guerra não era muito intensa em certas localidades. Aquilo era de ataca e foge.

  • Jose Fernandes Pois, mas eu deixo mais comentários para o Duílio.
    Esse é que foi o ultimo estratega da guerra em Nangololo.

  • Francisco Sabino em 67 o cemitério não se via era só mato.

  • Antonio Sa O Duílio abandonou o picadas. 
    Está a banhos e os netos não lhe emprestam a pad.
  • Jose Carlos Galo O Duílio está de retiro na catedral de Nangololo em Olhão.

  • Januario Batista Jorge A contestação dos Macondes, começou na zona do Planalto dos Macondes, por causa de um imposto que o administrador de Mueda queria impor à população por causa da distribuição de água pelo planalto...a célebre Guerra da Quinhenta. 

  • A carrinha que transportava o Padre Daniel ou era a carrinha do homem de Mueda ou era igual à dele. 

  • Quem lidou com os macondes sabe bem que são homens verticais, frontais e profundamente católicos. 
  • A morte do Padre Daniel, em Nangololo, foi um erro e um engano. 

  • A Guerra da Quinhenta era contra o boss de Mueda e nada tinha a ver com o Pastor de Nangololo. 

  • Eu próprio, no Chai, constatei isso ao falar com um alto dirigente maconde que se foi lá entregar-se e que depois foi fuzilado pela FRELIMO. 
  • Ele confirmou que o alvo deles era o homem de Mueda.

  • Raul Vilas Boas Januario Batista Jorge, esse dirigente era o Ernesto Luciano Maúa?

  • Raul Vilas Boas A minha intenção ao evocar esta data, não é para saber quem matou ou deixou de matar o Padre (até podem ter sido os Nianjas), é o erro histórico que a FRELIMO está a cometer, ao afirmar que o primeiro tiro foi dado no dia 25 de Setembro. 

  • Quando começou a guerra da quinhenta eu já estava em Moçambique e em Cabo Delgado. 
  • Já agora, em que ano esteve no Chai? 
  • Um abraço

  • Januario Batista Jorge Eu jamais teria o atrevimento de afirmar que " é erro histórico que a Frelimo está a cometer ao afirmar que o primeiro tiro foi dado no dia 25 Setembro no Chai".

  • A guerra foi deles.
  • Foi a guerra deles nunca a nossa. 
  • O Ernesto Luciano Maúa não sei quem é. 
  • Nem me parece um nome maconde. 
  • O dirigente que lhe falei era, digamos, um grande régulo maconde da zona de Cabo Delgado. 
  • Em relação à Guerra da Quinhenta, possivelmente, não terá toda a informação .

  • Joao Antonio Mota Asseiceiro José Fernandes: Em 1973 conheci em Mueda uma senhora maconde que se chamava Fátima... Fátima Cao. Era de pele tatuada e dentes em bico, alta, bebia que se fartava. Éramos amigos.

  • Joao Antonio Mota Asseiceiro Lázaro Kavandame apresentou-se e foi um trunfo para Portugal. 
    Mais tarde foi eliminado pela estrutura Frelimo.
  • Jose Fernandes Pois eu em 73 já estava em Nampula mas lembra-me de ver em 72 uma Fátima que era mista mas era jovem.

  • Januario Batista Jorge O Vilas Boas já estava lá na altura da Guerra da Quinhenta? 
    E também já estava em Moçambique quando foi o massacre de Mueda (16.06.1960 )? 
  • E sabe que nesse dia foram mortos em Mueda 600 chefes macondes? E isto foi realmente o rastilho para o começo da guerrilha em Moçambique. 
  • Mas eles não consideram esse dia suficientemente relevante para ser considerado o dia do começo da sua luta. 
  • E eles lá sabem porquê.

  • Jose Carlos Galo Joao Antonio Mota Asseiceiro. O Lázaro Kavandame apresentou-se em Nangade em Março de 1969, um domingo.
  • Eu estava de Sargento de dia. 
  • Apresentou-se acompanhado com outro maconde que transportava uma mala. 
  • Devo ter sido o primeiro militar a ver o chefe Maconde.

  • Raul Vilas Boas Camarada Januario Batista Jorge, durante o chamado massacre de Mueda (uns dizem 500, outros 600 até cheguei a ouvir que só foram 14), eu nessa altura vivia em Nicócue, antes do Nairoto. 

  • A revolta dos macondes começou muito antes, com o algodão, porque quando iam vender, os agentes roubavam no peso. 
  • E terminou com a revolta da água, (chamada a guerra da quinhenta). O Ernesto era maconde e, mais tarde foi Furriel dos GE em Mocimboa do Rovuma, apresentou-se na pista com um posto grande da FRELIMO.