HISTÓRIAS DO CHAI XIV
Numa guerra de guerrilha como aquela que Portugal enfrentou em terras moçambicanas, qualquer força de intervenção se torna extremamente vulnerável sempre que tem de executar acções rotineiras, pois nesse caso, permite que o inimigo estude metodicamente os seus movimentos, hábitos e procedimentos, aproveitando assim os melhores momentos para desferir os seus ataques.
Era nesta situação e perante este perigo que se encontrava a Ccav. 3508 estacionada no Chai.
Ao ter de realizar diariamente, ao início da manhã e ao fim da tarde, o percurso de cerca de 10 km entre o Chai e a ponte do rio Messalo, para reabastecimento de água ao quartel, a coluna militar ficava perigosamente exposta ás investidas dos guerrilheiros da Frelimo, tanto pela forma de emboscadas como de possíveis minas colocadas nesse percurso.
Não foi de estranhar, portanto, que o comando do Batalhão de Cavalaria 3878 lhe atribuísse o código de "Operação Tartaruga".
No dia 24 de Agosto de 1973, como sempre acontecia, um grupo de combate da Ccav. 3508, neste caso o 3º. pelotão, partiu cerca das 6 horas da manhã com destino à ponte do Messalo.
Como nesse dia o meu grupo de combate (1º. pelotão) se encontrava de piquete e, uma das suas funções era a apanha de lenha para a cozinha, resolvi com os militares da minha secção e a viatura que nos estava destinada, acompanhar os camaradas do 3º. pelotão em parte do seu percurso até ao Messalo.
Estrategicamente falando, sempre eram duas forças que se podiam apoiar mutuamente no caso de alguma acção atacante por parte da Frelimo.
Na prática, para o trabalho a desempenhar pelo piquete (apanha de lenha) também era melhor optar por esse percurso, dado que tinha sofrido recentemente uma operação de desbaste de árvores ao longo da picada, efectuado pela população do aldeamento.
Esta limpeza teve como principal objectivo diminuir o perigo de emboscadas e permitir a tal recolha de lenha.
Percorridos que estavam alguns quilómetros após a saída do Chai, solicitei ao condutor da viatura que encostasse na berma da picada dado que tínhamos atingido um local onde havia bastante lenha para recolher.
Os camaradas do 3º. grupo de combate continuaram a sua viagem a caminho do rio Messalo e nós começámos os preparativos para a recolha.
Poucos minutos passaram, talvez 3 ou 4 no máximo, até ouvirmos um enorme tiroteio.
Não havia dúvidas!
A coluna para a água estava a sofrer uma emboscada.
De imediato solicitei aos militares que me acompanhavam que subissem para a nossa viatura e fomos em socorro dos nossos camaradas.
Quando chegámos ao local havia ainda bastante tiroteio.
Encobertos por alguns pequenos arbustos ou abrigados debaixo das viaturas, assim ripostámos ao fogo inimigo.
Ao mesmo tempo, os nossos camaradas estacionados na ponte começaram a lançar granadas de morteiro 60 e 81 para as posições em que se encontravam os guerrilheiros, pois que conseguiram descortinar a sua localização aproximada com o auxílio das comunicações estabelecidas entre o nosso soldado de transmissões e aquele que se encontrava na ponte.
Findo o combate foi possível verificar e concluir que felizmente não havia danos pessoais entre os nossos militares, o que era sempre motivo de enorme satisfação.
Entretanto, junta-se a nós o 2º. grupo de combate comandado pelo alferes Ribeiro, que havia saído do Chai logo que ouviram os tiros da emboscada.
Foi assim possível que o 3º. pelotão continuasse a coluna em direcção ao rio Messalo e o 2º. pelotão faria a batida e reconhecimento à zona de emboscada, enquanto eu com a minha secção ficámos a montar segurança às viaturas.
Nessa diligência foi encontrado um guerrilheiro morto e detectados vários rastos de sangue pelo mato fora, provenientes de combatentes feridos.
Quanto a material capturámos 1 metralhadora Degtyarev, 1 espingarda automática Kalashnikov e 4 granadas de mão.
Por fim, cada um de nós ficou a agradecer ao seu Deus pela protecção recebida neste combate, ao mesmo tempo que ficou a desejar não ter mais nenhum, pois nessa altura, que já tínhamos atingido os 18 meses de comissão em zona de guerra a 100%, alimentávamos o sonho de ser rendidos em breve, como aliás era habitual na época.
Infelizmente isso não passou dum sonho, como veio a verificar-se!
Estive algum tempo antes no Chai. Obrigado pela memória. Tivemos também muitas histórias e por vezes não muito felizes na Cart 2763. Obrigado
ResponderEliminarFoi a nossa companhia Ccav 3508 que vos substituiu em Fevº de 1972.
Eliminarsai do chai fim de 74 c cv 3318
ResponderEliminarNão estarás enganado na companhia? 3318?...
EliminarQuando estive no Chai o aquartelamento era comandado pelo cap. Campos Andrada. Era umas instalações finórias para quem como nós andava com a casa às costas, sempre hospedado em barracas de lona (Cartão 2763)
ResponderEliminarÉ Cart 2763 em vez de cartão 2763.
ResponderEliminarestive26 meses em Porto Amelia atual Pemba como radio telegrafista e conheci todos esses locais de 64a66 ainda não tinha começado o barulho a serio mas já havia fortes combates principalmente a norte do messalo ate ao Rovuma os montes Muidumbe eram um perigo constante
ResponderEliminarE continuaram a ser...
Eliminar