Memórias
A tintura de iodo fazia "milagres"
Missão : instrução militar para autodefesa da população. distribuicão de Mausers à população!
Molumbo 1972.
Diariamente nos deslocamos a uma aldeia entre o Molumbo e Milange.
Comigo no Jeep ia sempre a "mala de enfermeiro" com tudo o que eram primeiros socorros...ligaduras, comprimidos LM, quinino e uns verdes para desinfecção da agua dos cantis, adesivos, "mercurocromo", álcool, talas, seringas, tintura de iodo, etc.
Manhã cedo, depois de uma viagem numa picada em muito mau estado, chegávamos a uma clareira no meio das palhotas.
Éramos recebidos pelo chefe da aldeia, um cocuana já com alguma dificuldade em andar!
Invejava a sua bengala em pau preto, e a meu lado o João Paulino, o nosso tradutor.
A instrução começava com uma marcha em círculo...depois uns exercícios de ginástica de pernas e braços.
Apareciam para as "aulas" muitos jovens e alguns cocuanas.
Estes tinham muita dificuldade, mas a vontade férrea de também lhe ser atribuída uma Mauser, era enorme.
Diziam que só queriam a arma para se defenderem do macaco-cão que, em bandos de várias dezenas, lhe destruíam as machambas de mandioca, principal alimento da sua "cadeia alimentar"!!!
Durante varias semanas a instrução matinal era motivo para também se fazerem curativos às maleitas de que se queixavam.
Dores de cabeça, pequenas feridas, dores de barriga, etc.
Tudo era motivo para rapidamente se esgotaram os medicamentos.
Os LM davam para tudo.
Mas um belo dia e depois de esgotados todos os medicamentos, aparece uma cocuana que se queixava de dores fortes na garganta.
Mal falava tal a rouquidão.
Olhei para a mala de enfermeiro e so restava um frasco de tintura de iodo e algodão!
Bem aqui pensei...se bem não fizer mal também não faz e com delicadeza pincelei, as peles que pendiam (eram as mamas) o pescoço ate à barriga com a tintura de iodo.
Disse ao João Paulino para lhe explicar que a rouquidão iria passar e no dia seguinte já estaria curada!
Não foi no dia seguinte, mas passados uns dias, eis que aparece a cocuana e o velho marido, ela com uma capulana tipo sacola,com muitos ovos e ele com uma galinha.
Num ritual com vénia e tudo, eis que me oferecem aquele presente.
Em dialecto que o João Paulino traduziu a meu pedido ... o agradecimento/oferta porque eu "Homem bom" a tinha curado!!!
Claro que nesse dia...senti-me mesmo "um homem bom"!!!!
E tudo por causa da tintura...da milagrosa tintura de iodo!
José Leitão
C.Cav 2752