Mostrar mensagens com a etiqueta Manuel Delgado. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Manuel Delgado. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 8 de março de 2016

Histórias do Chai VI (1972/1974), por Livre Pensador


Livre Pensador
 
(Nota: estas histórias estão a ser publicadas de acordo com a ordem temporal em que sucederam, pelo que poderão surgir algumas que já tenham tido comentários esporádicos nesta página).
 
Estávamos no dia 24 de Maio de 1972.
A CCav. 3508 tinha de fazer uma coluna com picagem até ao Monte dos Oliveiras e montar segurança á coluna do esquadrão que vinha de Macomia.
 
São destacados o 2º. e 3º. grupos de combate para a tarefa.
Por impossibilidade do furriel Belo (especialista de minas e armadilhas do 2º. pelotão) sou convocado para a missão.
 

 
A primeira parte do percurso de 4 a 5 km do Chai até á ponte de Mapuedi é feita em coluna motorizada, em velocidade muito lenta.
 
Na Berliet rebenta-minas ocupada apenas pelo condutor Bento e por mim, olhamos com atenção para o alcatrão tentando descobrir algum indício suspeito de mina.

Chegados á ponte dei início á picagem, ao mesmo tempo que se preparam os militares com funções de segurança.
De repente uma explosão.
Todos se atiram ao chão e é desencadeado um tiroteio.
Após alguns segundos (ou minutos) percebe-se que os tiros são apenas das nossas forças.
É dada ordem de cessar fogo.
 
Assim que me levanto do chão fico estarrecido.
Não vou aqui pormenorizar aquilo que os meus olhos viram quando encarei o que restava do militar que ia a montar segurança á minha retaguarda.
 
Qualquer ex-militar pode imaginar o cenário visível se pensar no resultado da explosão de 2 ou 3 dilagramas que o 1º. cabo Manuel Delgado transportava á cintura.
 
Os pneus do lado direito da Berliet ficaram furados.
A coronha da minha G3 ficou cravada com alguns estilhaços, mas eu nada sofri.
 
Esta morte, por ser a primeira sofrida pela CCav. 3508 e também pelo modo como aconteceu, afetou de forma significativa a moral de todos os seus combatentes, porque ninguém estaria mentalizado para ver tombar daquela forma inglória um dos seus melhores militares até áquele momento.
Que continue a descansar em paz!
 
 
Jose Dos Santos Carreira Bom dia bem me lembro desses acontecimentos
 
 
Rui Briote Bom dia!
Lembro-me muitas vezes deste nefasto acontecimento...paz á sua alma
 
José Guedes Más recordações, mas que nunca se esquecem,. que esteja em paz,....

 
Gilberto Pereira Não percebo nada de guerra, mas fico a pensar como podem acontecer coisas deste género !!!
Paz á sua alma.

 
Jose Capitao Pardal O primeiro grande embate que o meu coração recebeu...
Muitos outros se seguiriam...
Não há-de ele (coração) estar tão ressentido dos estragos que eu lhe dei, ao longo dos meus quase 65 anos de vida...
 
 
Jose Capitao Pardal Paz para o Manuel Delgado...









 

 
Rui Briote Conhecia-o tão bem.
Dei-lhe a recruta em Beja e estava no meu pelotão quando o Ribeiro o "desviou" para o dele.
Logo à primeira vista vi que era uma muito bom rapaz, cumpridor e amigo.
Escolhi-o para cabo, pois tinha uma total confiança nele...descansa em paz Amigo
 
 
Velhas DE Estremoz Alentejanas Sr Livre Pensador.
O seu relato reporta-se a 24 de Maio de 1972.
Poucos meses de "estadia" e já tragédias para contar.
 
 
Livre Pensador É verdade caras amigas.
Como é costume dizer-se "começámos com o pé esquerdo".
 
 
Jose Dos Santos Carreira era um exelente militar e um grande amigo de todos.
Também ia nessa coluna que me ficou gravada na minha memoria: descansa em PAZ nosso cabo.
 
José Dias Nunes Que descanse em Paz.
 
Amaro Pereira Fizemos um minuto de silêncio no local onde faleceu, quando nos deslocamos ao Chai, em 2012.
Passados 40 anos, o frio provocado pela memória destes episódios vividos no mesmo local ainda cala fundo.
 
 
José Coelho Um dia triste para todos nós porque eram-os todos do mesmo batalhão!
Um dia bastante triste, mas mesmo bastante triste para mim.
Quando o Furriel de transmissões me disse, Coelho perdemos o nosso amigo Delgado.
Descansa em paz amigo.
 

domingo, 16 de março de 2014

Não é fácil recordar!..., por José Capitão Pardal

Achei interessante este diálogo (eu, Pedro Ranito, Armando Mouro, Rui Briote, Duarte Pereira e Livre Pensador), no grupo "PICADAS DE CABO DELGADO", sobre acontecimentos que alguns de vós, não têm conhecimento, pelo que aqui vos deixo a sua descrição:

 
Pedro Ranito: Fernando Augusto Telles Montenegro Os "frelos" atacaram uma vez um aquartelamento e umas das bojardas acertou na escola que havia no aldeamento.
Lembro-me que foi para os lados do Chai Macomia.
Só eu trouxe 17 crianças.
Eram tão pequenas que a maior parte cabia nas duas macas.
Foi uma daquelas que irão comigo .
 


 
Pedro Ranito: Foi, creio, em finais de 1973 .
 

 
Pedro Ranito: Jose Capitao Pardal, Foi lá para finais de 1973 e fez-me tanta ou pouca mossa que ainda me lembro.
Aliás foram duas ou três que me marcaram.
As outras, infelizmente, foram-se tornando rotineiras ou o escudo foi ficando mais forte.
 

 
Jose Capitao Pardal: Não terá sido em Outubro de 1973?
Ataque simultâneo, com misseis 122, ao Chai e golpe de mão à ponte sobre o Messalo?...
Eu estava lá e lembro-me que um dos misseis caiu no refeitório, sem consequências, mas não me lembro das consequências dos que  caíram no aldeamento...
Naquela zona, não me lembro de qualquer outro ataque, que tenha tido essas consequências...
O que tivemos em Junho desse ano, onde que feriu gravemente o Rui Briote... não teve essas consequências...
Quando eu fui ferido e morreram mais 3 militares, com a mina anticarro à entrada do Chai é que morreram vários miúdos (3 ou 4) e ficaram feridos muitos mais, mas isso foi em Março de 1973. Tenta recordar mais, SFF.
 
 
Pedro Ranito: Jose Capitao Pardal, em Março tenho evacuações a 15, 18, 22, 24 e 26, mas os destinos eram por iniciais tipo: NG (Nangade), NB (?), M Mag (?), MP (Mocímboa da Praia), Z (ZOPS ), NHI (Nhica do  Rovuma) etc .
 

 
Jose Capitao Pardal: Em Março/73 foi a 21...
 

 
Jose Capitao Pardal: Em Outubro/73, no ataque com misseis, foi a 14...
 

 
Jose Capitao Pardal: Em Junho/73 foi a 9, quando o Rui Briote foi ferido, mas como foi de noite, acho que a evacuação não foi de hélio, mas eu não estava, pelo que não sei mais do que isso...
 

 
Pedro Ranito: Ele chegou de avião, eu levei-o do AM ao Hospital e no dia seguinte de volta ao AM para ser evacuado de avião, creio que para Nampula.
Em Outubro de 73, estive grande parte do mês no Niassa.
 

 
Jose Capitao Pardal: Naquela zona: Messalo, Chai, Mataca, Quiterajo e Macomia, não me lembro de qualquer acontecimento com as consequências como a que descreves...
Em Macomia não tenho a certeza, mas vou informar-me...
 
 
Pedro Ranito: Já não me lembro dos nomes.
Houve um outro acidente estúpido em que ao entrar no aquartelamento o militar deu o tiro de segurança, com o dilagrama colocado e morreram uns tantos.
Nomes?
Não me lembro.
 

 
Jose Capitao Pardal: Esse último episódio, creio ter sido em Muaguide, a sul de Macomia, mas contaram-me, que terá sido em cima de uma Berliet...
 

 
Jose Capitao Pardal: Outro episódio estúpido terá sido o do furriel GE, que costumava tirar a folga ao gatilho da arma...
 

 
Jose Capitao Pardal: O primeiro morto que tivemos, no Chai, também ainda hoje não sabemos como sucedeu... e também com um dilagrama...
 

 
Rui Briote: Foi o Delgado...
 

 
Armando Mouro: José Pardal, foi em Muaguide, eu nesse dia estava no Sitate, foi à entrada de Muaguide, que o furriel mandou tirar as balas das câmaras, o individuo que levava o dilagrama puxou a culatra à frente, introduziu uma bala real e deu o disparo, ficou com a coronha na mão, houve vários feridos e um ou dois mortos.
O Furriel (indiano) levou com os estilhaços na nuca, ficou 15 dias em coma.
 

 
Jose Capitao Pardal: Bem me parecia...
O Pedro Ranito já está esclarecido...
 

 
Jose Capitao Pardal: Rui Briote quando foi o acidente com o dilagrama, a 24 de Maio de 1972, que não está descrito na "Síntese da Atividade" da nossa companhia, foi efetivamente com o Delgado, que era do meu pelotão, está sepultado no cemitério de Faro...
Rebentaram-lhe os dois dilagramas que trazia à cintura e o da arma não rebentou, nem ficou ferido nenhum dos camaradas que com ele faziam parte da equipa de picagem (absorveu sozinho o conteúdo das duas granadas)...
Foi no caminho do Monte dos Oliveiras, junto à primeira ponte...
Vou colocar aqui as fotos que tenho da sua sepultura...
Paz para ele...

Foto de Jose Capitao Pardal.
 
 
Rui Briote: Que descanse em paz...gostava imenso deste rapaz, pois dei-lhe a recruta em Beja, de seguida avançou para Sta. Margarida fazendo parte do meu pelotão indo mais tarde para o teu...
 


Jose Capitao Pardal: Rui Briote eu sei que gostavas muito dele...
Ele só ficou no meu pelotão, por quando da escolha dos cabos, na formação do batalhão em Santa Margarida, nós fomos os segundos a escolher e vocês foram os terceiros, e nós escolhemo-lo primeiro, pois sabíamos das suas qualidades, como homem e o do seu potencial...


Foto de Jose Capitao Pardal.
 
 
Rui Briote: Sempre vi nele um ótimo rapaz e com capacidades e foi por isso que o propus para cabo...
 


Jose Capitao Pardal: Rui Briote como nós no nosso pelotão, dos 3 cabos necessários, só tínhamos 2 que achávamos com condições, começámos em tempo a ver (olheiros, percebes...), qual seria o que atacaríamos e como sabíamos que escolhíamos primeiro que o 3º e 4º pelotão, foi para aí que virámos as nossas atenções...
E como percebes foi fácil detetar o alvo do ataque, o que veio a sortir efeito...
Tipo "Pinto da Costa"...
Lembro-me até que nessa altura ficaste um pouco chateado com o ex-alferes José Ribeiro...
Ainda te lembras?...

 
Rui Briote: Lembro-me perfeitamente..." nunca" mais lhe perdoei...

Já agora uma "achega" do Livre Pensador (Ribeiro), sobre o episódio do acidente ocorrido com o Manuel Delgado.
O Ribeiro estava junto do Delgado, no momento do acidente e foi dos que sentiram o sucedido com mais acuidade.
Hoje podemos dizer que o mais improvável aconteceu, com o rebentamento das duas granadas defensivas. 
Mais ninguém foi atingido, quando alguns não estavam a mais de um metro do falecido Delgado.
 
 
 
Livre Pensador Pardal, a única explicação que encontro para a morte do Delgado, deve ter a ver com alguma cavilha de segurança de alguma das granadas que ele levava à cintura.
E que provavelmente terá saído na altura em que ele e a respetiva secção, saltou do Unimog para iniciar a picagem.
Só sei que ele se colocou atrás de mim a montar segurança e quando eu ia iniciar a "picagem", a explosão foi imediata.
A reação de todos foi a normal, deitar no chão e reagir com fogo, até que me aperceber que o tiroteio era só nosso.
Nessa altura mandei parar os tiros e, assim que me levantei vi o corpo (o que restava) do Delgado deitado de bruços no chão.
Para além disso a minha arma estava cravada de estilhaços (e eu sem um arranhão) e os pneus da Berliet (rebenta minas) estavam furados.
Abraço. Ribeiro.
 
 
Duarte Pereira RIBEIRO - BOA DESCRIÇÃO DO LAMENTÁVEL ACIDENTE QUE PODERIA TER PROVOCADO MAIS MORTOS E FERIDOS GRAVES.
 

 
Jose Capitao Pardal Eu ia na parte de trás da coluna e a primeira coisa que pensámos era que teria sido um mina, colocada na parte da ponte que não tinha alcatrão, seguida de emboscada...
Éramos "chequinhas" ainda...
Foi tiroteio de ferver...
Houve quem esgotasse dois carregadores, apesar dos meus gritos para pararem...
Quando cheguei ao local do acidente, tomei consciência do que tinha sucedido e "vi o que vi", fiquei petrificado e sem vontade de prosseguir.
Foi o primeiro choque que levei...
Um dos episódios que nunca mais esquecerei, por muitos anos que viva...
  •  
    Livre Pensador Como "batismo" de guerra, foi uma situação bastante chocante e traumatizante.
    Ainda hoje me recordo bem que a primeira coisa que vi, assim que parou o tiroteio e me levantei do chão, era o intestino do Delgado que atravessava a picada.
     

     
    Armando Guterres e eu que me fiquei por um tiro esperar eco mais um tiro e pôr a tranca, levantar e esperar ... isto na segunda coluna, porque na primeira estava tão longe ... no último carro.
    Mas com precaução.
    Na segunda coluna quem ia atrás era o 1.º da 09 e no dia seguinte (dromimos) levaram com uma emboscada quando íamos a recomeçar.
     

     
    Rui Briote Eu quando ouvi o rebentamento deitei-me para o chão e caí num ninho de formigas e enquanto estava ocupado com elas o tirotei era intenso.
    Dei ordem de cessar fogo e só nessa altura é que vi a fatalidade ...o sangue frio e o zelo do Gardete, furriel enfermeiro, impressionou-me.
    O Jose Ribeiro ex-alferes teve um papel muito relevante para que o corpo fosse de heli....mais já não consigo dizer...
     


     
    Livre Pensador Briote, o Gardete apareceu já decorrido algum tempo após o incidente, numa coluna de reforço que entretanto saiu do Chai.
    Quando acabou o tiroteio e chamei o enfermeiro (salvo erro, o Bernardo) à frente.
    Ele, assim que viu a situação disse-me que não tinha coragem e voltou para as traseiras da coluna.
    Foi efetivamente o Gardete que, depois de chegar na coluna de reforço do Chai, andou a recolher os despojos do corpo.
    Ribeiro.