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domingo, 21 de junho de 2020

Não esquecer que ia o vago-mestre..., por Armando Guterres

As altas esferas de Macomia obrigaram-nos a fazer uma coluna de reabastecimento, apesar de se ter argumentado que nessa altura não necessitarmos. 



Como era o mais velho levei o vago-mestre acoplado. 
A viagem foi muito boa, até fui ajudar os picas (para aquilo andar mais depressa). 

Não esquecer que ia o vago-mestre. 
Ao chegarmos às machambas de Macomia, fizemos a sesta. 
Não fosse o major pensar que era sempre assim. 

No dia seguinte, a volta. 
O primeiro unimog carregado até aos taipais e nem mais uma caixa. 
O segundo 411 até aos taipais, bem carregado. 
O terceiro carro para variar, igual aos outros. 
A quarta viatura não levava batatas ou arroz ou feijão ou combustíveis ou munições ou ou ou ... 

Aí vai o pessoal de retorno à Mataca. 

Na base da serra um contratempo - apesar de todos os cuidados, umas caixas de Laurentina perderam as caricas. 
Fiz as contas dava a média de 48 garrafas a cada homem. 

Chegados ao aquartelamento enquanto o vago-mestre tratou das cervejas ... fui ao bar beber uma das antigas, mas fresquinha. 
Depois do banho ... peguei em duas caixas e fui à minha secção - uma para mim a outra para eles. Continuação na 2.º e na 3.º e seguiu-se outros abrigos. 
Em 48 horas acabou a cerveja. 
Dei uma ajudazinha (em 48 horas estive a beber umas quarenta).


Quanto às colunas com reabastecimento a meio. 
Fiz mais que uma, mas ao comando foram sempre completas.

Na altura em que destruíram a ponte maior, as colunas foram a Macomia. 
Os sapadores foram lá ver e retiram uma granada de mão (a única que dei conta de terem utilizado no nosso tempo). 
Para lá chegar passaram pelo Alto do Delepa e não chegaram à ponte pequena.


Um esclarecimento
Para eu ser o Comandante Operacional da Mataca era porque o segundo e terceiro pelotão estavam fora - mato ou coluna. 

A presença do comandante ou do major ... nada alterava. ... pois as colunas nunca foram feitas assim ... algumas operações sim.

João Farto - Isso era do calor e do cacimbo da Mataca.

Julio Bernardo - Guterres,a coluna Macomia=Mataca ou contrário, não eram feitas meias=meias?.
Eu fiz algumas com os picas na frente até vosso encontro a meio caminho.
Entrega reabastecimento meia volta e agora sem picar, fazer rapidamente chegada a Macomia.
Nestas colunas me lembro sempre muitos civis.

Paulo Lopes - No meu tempo, apenas uma coluna foi feita nos termos em que falas Julio Bernardo. Todas as outras foram Mataca-Macomia-Mataca.

João Farto - Eu como mais velho vos digo eram no meu tempo (C.CAÇ 2555) eram feitas das duas formas.
O encontro era na terra do Guterres, Delepa.

Paulo Lopes - E foi exactamente no Delepa (e creio que por causa das pontes estarem destruídas) que efectuei a única coluna a metade. 
Mas não quer dizer que não se tenham feito outras no meu tempo. 
Estou a falar individualmente: eu so fiz uma!

Julio Bernardo - Então é isso, eu fiz mais de que uma, o tal sítio Delepa por causa das pontes e quantidade de civis que iam em cada espaço disponível lembro.

Duarte Pereira Armando Guterres - Eu consegui ler tudo. Na minha guerra parecia tudo mais organizado

Duarte Pereira Esse unimog foi onde o Margarido foi ver os passarinhos ?

Armando Guterres Coloquei esta foto da ponte conjuntamente com a da viatura.
Por ter sido teclado um "gosto" ficou isolada e sem contexto.
Apaguei-a e reproduzi o comentário do Duarte Pereira.

Armando Guterres Esta viatura é deu o curso de para-quedista a alguns matacanhos.
Noutra altura, estava nesta posição, uma outra, talvez a que tenha partido o motor ou a caixa, numa ida à lenha - desculpem, foi na coluna seguinte ... segundo os relatórios.

Duarte Pereira Parece que na Mataca os estrados dos unimog eram em madeira, que em caso de mina rebentada duplicaria os estilhaços.

Duarte Pereira Estou a ficar sem bateria. Até lá mais para a tarde.

José Guedes Nunca imaginei o amigo Guterres a beber assim tanta cerveja numa noite,. depois reparei e ainda bem que assim é,. está com uma boa memória porque ele diz as datas dos acontecimentos, a não ser que tenha um diário feito na altura,.. agora colunas ao alto de Delepa até eu fiz mais que uma, mas não sei quantas e de certeza que não estive em todas que foram precisas lá fazer,. não era fácil atravessar aquele pedaço de picada, se os turras fossem inteligentes naquele fundo era mos apanhados há mão,...

Jose Capitao Pardal Eles inteligentes eram...

Duarte Pereira Andavam mais para os vossos lados porque vocês estavam mais perto dos "formigueiros".

Armando Guterres Eu sabia onde estavam os nossos formigueiros ... por isso, 90% das operações foram para o outro lado.

Gilberto Pereira Foi tudo uma brincadeira do caraças e assim se perdeu uma guerra

Armando Guterres Cuidado ... eu não brinquei ... levei tudo a sério 
O meu sério nada tinha a ver com o sério deles
Isso seria outros quinhentos

Duarte Pereira Era a lei da selva para eles e do rabo apertado para nós .

Armando Guterres talvez não seja dessa opinião ... pelo menos na zona da Mataca.

José Coelho Apesar de estarem muito quentes, mesmo assim ainda bebi algumas para matar a maldita sede ! só não bebi mais porque o comandante da coluna não deixou .

Joao Cerqueira José Coelho ve-se que pertencias a uma boa equipa.

sábado, 24 de junho de 2017

O Saco de Batatas, por LLP, no blog: http://alea.blogs.sapo.pt

Quase nada de um pouco de tudo.
blog: http://alea.blogs.sapo.pt
Segunda-feira, 06.05.13
Poucos dias depois da operação de Tartibo, fui visitar os trabalhos em Nangade.
Tartibo, pequeno estacionamento militar no alto das margens do Rovuma, fôra a minha última missão.
Cada vez que chegava a época das chuvas a companhia que estava estacionada lá em baixo a pouca distância das margens do rio, era literalmente submergida pela enorme cheia, obrigada a dormir no alto das árvores e a passar as rações de combate por um sistema de cordas. Era, compreende-se, uma situação insustentável e a exigir uma nova localização e um outro estacionamento para a desgraçada companhia que lá ia ficar.
Foi o que fez o meu pelotão.
Ainda me lembro da minha ânsia em me refrescar quando chegámos ao Rovuma, depois de um penoso, poeirento e  matagalento percurso desde Mueda. 
Precipitei-me, todo vestido, botas e tudo, para uma pequena lagoa no meio de descomplexadas gargalhadas dos “ mainatos “. 
“Porque é que te estás a rir, meu malandro ? 
“crocodili alferi, crocodili” e riam-se a bandeiras despregadas.
                                                
Na altura não achei piada, como também não achei piada à sessão de certeira morteirada com que foi brindada a partida da engenharia depois do trabalho concluído. 
O meu recente amigo, professor de filosofia na vida civil e então capitão miliciano da companhia de caçadores que lá ficou, também não.
Nangade só se parecia com Tartibo pela proximidade do grande rio. 
Aldeamento relativamente importante, no alto de um planalto, rodeado e semeado de cajueiros, era limpo, bem administrado e sede de um batalhão. 
Lá a guerra parecia longe e era quase como que um descanso para a tropa de engenharia ali destacada.
De Nangade só tenho boas recordações, começando pelo “meu“ comandante, grande senhor, oficial de cavalaria, culto, de invulgar competência e com particular simpatia pela engenharia.
“Ó António” dizia ele para o cozinheiro, com a sua careca vermelha e escorrendo suor “este caril não está suficientemente picante aqui para o nosso alferes...” e olhava para mim sorrindo amigavelmente. 
E (como posso esquecer?) aquela visita que um dia recebi de outro oficial superior de outra arma vindo de Nampula, que não percebia nada de nada e, ainda menos, as minhas reservas quanto à utilização da pista, por nós recém-construída, para aviões Noratlas. 
“Compactação? Compactação? Que não está em condições? Isto está bom, isto está bom”, exclamava ele convicto depois de bater com a bota no chão, como se aquele bater de bota fosse equivalente ao impacto de uma aterragem de mais de 15 toneladas...
Foi, pois, com prazer que um dia voltei a levantar vôo de Mueda em direcção a Nangade.
Ia com o meu  amigo de infância André, piloto da força aérea e que, depois de tantos perigos e missões arriscadas na fronteira Norte de Moçambique, morreu tragicamente num naufrágio aqui, perto de Peniche. 
“Olha” disse-me ele “hoje não vens ao meu lado. 
Isto está a abarrotar com tudo e mais alguma coisa. 
Vais atrás de mim, ali em cima dos sacos de batatas”.
           
                                           
“Está bem”.
E a DO levantou, mas não como era hábito, levantou em parafuso, na vertical. 
“Recebemos informações. 
Isto hoje não está bom, os gajos estão lá em baixo e mais vale nós irmos alto, muito alto”. 
“Está bem” e olhava lá para baixo para Mueda que, felizmente, se afastava cada vez mais. 
Ficava tudo o que eu conhecia estranhamente pequeníssimo. 
Era uma sensação algo desagradável, nada que se parecesse com os inebriantes vôos que tinha feito de heli escoltado por dois T6, quase lado a lado e a rasar a copa das árvores. 
E subimos, subimos na vertical até o André achar que já era seguro e, depois, rumo a Norte. 
Chegámos àquilo que para mim era um oásis.
 “Os gajos estavam lá” disse-me ele inspeccionando a fuselagem e ao meu olhar interrogativo respondeu apontando para um buraco de bala na barriga do nosso aviãozito. 
“Cá está” e riu-se. 
Eu menos, era mesmo por de baixo do saco de batatas onde eu viera sentado.
”Ó António, hoje o caril tem que estar muito picante... ver se animamos aqui o nosso alferes”, exclamou o "meu" comandante quando soube da ocorrência.
Pois.