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sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

HISTÓRIA DA MINHA IDA À GUERRA (pareço o Solnado), por Livre Pensador

HISTÓRIA DA MINHA IDA À GUERRA (pareço o Raul Solnado)

Haverá camaradas que não sabem que fui como voluntário para a tropa, assim como há outros que têm conhecimento desse facto. 

Mas decerto que uns e outros perguntarão porque razão me passou essa loucura pela cabeça. 
Pois bem, é precisamente isso que pretendo esclarecer nesta minha história. Naqueles tempos (décadas de 60 e 70) era habitual aparecerem em Lisboa cartazes afixados a solicitarem voluntários para o exército. 
Não sei se aconteceria o mesmo noutros locais do País, mas presumo que talvez. 
Esses cartazes diziam que, quem fosse voluntário aos 18 anos, tinha a possibilidade de escolher a arma (cavalaria, infantaria, engenharia, etc.) em que desejasse cumprir o serviço militar.

Acontece que eu tinha informações, por familiares meus já regressados da guerra colonial, que essa mesma guerra piorava à medida que o tempo ia passando. 
Logo pensei que quanto mais cedo fosse menos seriam os perigos a enfrentar e, portanto, há que me oferecer como voluntário. 

No requerimento que fiz em meados de 1970 (com 18 anos), pedi para ser integrado na arma de engenharia, por ser aquela que estava directamente relacionada com a minha profissão de Desenhador que já desempenhava desde os 15 anos, após a conclusão do Curso Industrial.

Em Setembro ou Outubro de 1970 recebi uma guia de marcha para me apresentar no quartel em Setúbal para ser sujeito à inspecção militar. 
Nunca percebi porque razão, havendo tantos quartéis em Lisboa, tive de ir fazê-la a Setúbal.

Quando cheguei à porta do quartel em Setúbal, já lá estavam mais 4 ou 5 "loucos" como eu. 
Ainda mais "loucos" ficámos quando nos disseram (um amarelado qualquer) que não tinham indicações para fazer inspecções militares e mandaram que fossemos às instalações do D.R.M. (Distrito de Recrutamento e Mobilização).

No D.R.M. também não sabiam de nada e "devolveram-nos" ao quartel. 
Aqui chegados, e depois de muito esperarmos, lá arranjaram um "veterinário" que nos fez a inspecção, nos aprovou e afirmou: "grande País este que até tem voluntários para a guerra"! 
Cada um de nós seguiu depois o seu destino ficando a aguardar pelo dia da incorporação.

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No meu caso esse dia chegou a 11 de Janeiro de 1971 com a entrada no destacamento da Escola Prática de Cavalaria em Santarém, para iniciar a recruta no C.S.M. (curso de sargentos milicianos) plenamente convencido de que, no final dessa mesma recruta, me seria atribuída uma qualquer especialidade relacionada com a arma de engenharia.

Quando nos últimos dias de Março de 1971 foram divulgadas as especialidades de cada militar e me foi indicada a de atirador de cavalaria, obviamente a minha reacção foi: "não pode ser, tem de haver engano"!

Rapidamente pedi para ir à presença do comandante de esquadrão (tenente Capão) a quem informei que tinha de haver erro na atribuição da minha especialidade, pelo facto de ser voluntário e de, nessa qualidade, ter escolhido a arma de engenharia e não cavalaria.

Com uma grande calma e um ar de gozo o tenente Capão diz-me: "o edital que leste dizia que podias escolher a arma, e tu escolheste, mas não dizia que te era dada. 
Fica sabendo que todos os voluntários terminam em atiradores"!
Nesse momento apenas me vieram à memória três palavras, F.D.P.!!!

Após regressar de Moçambique, durante muitos anos me penalizei por ter ido como voluntário, pois com o acontecimento do 25 de Abril, poderia ter ido ao ultramar (ou até não ter ido) apenas por pouco tempo e livre, pensava eu, de todos os perigos e sacrifícios que por lá passámos desde Fevereiro de 1972 até Março de 1974. 

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Porém, quando hoje em dia vou tomando conhecimento, pelo Facebook, das situações vividas no pós 25 de Abril pelos camaradas de Omar, do Chai, de Nangololo e alguns outros casos, chego à conclusão de que a minha loucura não foi tão louca quanto isso!