Mostrar mensagens com a etiqueta tragédia. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta tragédia. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

MAFRA 1971...    Em janeiro de 1971 fui "empurrado" para o Convento de Mafra para conhecer umas freirinhas, pensava eu, mas tal não se verificou, pois quando lá cheguei, conheci sim muitas ratazanas que pareciam coelhos. Tanta malta na flor da idade como eu, prestes e enfrentar feras com garras de fora à nossa espera.  Eram só fulanos fardados e empertigados  a olharem-nos de alto a baixo com um olhar ameaçador ...todo encolhido, entrei e trataram-me de me dar uma roupa esquisita e, que remédio, lá fui eu enfiá-la antes que eles mo fizessem. Tive sorte, pois acertaram com o número  e de imediato  fui-me juntar aos  "virgens" nestas andanças. Enfiaram-me numa caserna enorme onde me esperava uma cama beliche ficando eu na parte inferior. Foi aí que conheci os nossos camaradas Ribeiro  e o Lea.,O primeiro ficaria por cima de mim, salvo seja, e na mesma também o Leal. 

   Passados os primeiros momentos em que convivi em amena cavaqueira, chamaram-nos e deram-nos uma G3 sem balas, que seria a minha companheira durante uns tempos. A partir daí começou a minha triste sina...calcorrear a mata de Mafra e a famosa aldeia dos macacos, onde fazíamos exercícios físicos e outros. Foi um período de seis meses divididos em dois. No primeiro, coincidente com o inverno, tive a felicidade de ter como instrutor um tenente miliciano que nos tratava como homens...chamava-se Silva... homem bom. No segundo já me apareceu um alferes da Academia  com ar prepotente e mal encarado que puxava e moía a tola a todos nós. No meio dos trabalhos em que me meti, melhor, em que me meteram, houve um episódio que me marcou para sempre. Era uma quinta-feira, vinha eu da instrução, já na especialidade, quando ao passar por uma lagoa, ouvi um alvoroço enorme. Que teria acontecido? Olhámos uns para os outros, mas a explicação não surgia...Eis senão quando ouvimos  um choro convulsivo...interrogámo-nos...o que aconteceu? Até que alguém nos comunicou que quatro cadetes tinham caído à lagoa. Pensámos logo no pior, o que infelizmente se veio a concretizar...morreram da maneira mais estúpida. Em poucas palavras vou procurar descrever o que se passou. De vez em quando tínhamos instrução nessas lagoas, cuja água era lodosa..o exercício consistia em  atravessar a dita com os pés a andarem em cima duma corda e as mão agarradas às outras duas...á medida que se avançava, as cordas baloiçavam e era sempre um "ai Jesus". Nesse dia aconteceu o pior, pois caiu um e atrás dele foram mais três...UMA TRAGÉDIA. Chegados ao quartel, um  clima de revolta pairava no ar, aliado a uma grande e profunda tristeza . Foi convocada uma "assembleia geral" na sala da psico. Aí ficaram estabelecidas certas reivindicações  afim de garantir a segurança de todos nós e também que ninguém almoçaria, isto é, um levantamento de rancho em linguagem militar. À hora do almoço, já com todo o pessoal reunido no refeitório e já em sentido, o oficial de serviço deu ordem para nos sentarmos, ordem essa à qual ninguém obedeceu...então, o oficial dirigiu-se a um de nós e mandou-o sentar e como resposta recebeu um choro intenso..O clima de hostilidade era enorme. Então, o Comandante para acalmar o ambiente, sendo uma quinta-feira, mandou-nos em fim de semana....
Rui Briote
      MAFRA 1971...   
Em janeiro de 1971 fui "empurrado" para o Convento de Mafra para conhecer umas freirinhas, pensava eu, mas tal não se verificou, pois quando lá cheguei, conheci sim muitas ratazanas que pareciam coelhos.
 
Tanta malta na flor da idade como eu, prestes e enfrentar feras com garras de fora à nossa espera. Eram só fulanos fardados e empertigados a olharem-nos de alto a baixo com um olhar ameaçador ...
Todo encolhido, entrei e trataram de me dar uma roupa esquisita e, que remédio, lá fui eu enfiá-la antes que eles mo fizessem.
 
Tive sorte, pois acertaram com o número e de imediato fui-me juntar aos "virgens" nestas andanças. Enfiaram-me numa caserna enorme onde me esperava uma cama beliche ficando eu na parte inferior. Foi aí que conheci os nossos camaradas Ribeiro e o Leal.
O primeiro ficaria por cima de mim, salvo seja, e na mesma também o Leal.

Passados os primeiros momentos em que convivi em amena cavaqueira, chamaram-nos e deram-nos uma G3 sem balas, que seria a minha companheira durante uns tempos.
A partir daí começou a minha triste sina...calcorrear a mata de Mafra e a famosa aldeia dos macacos, onde fazíamos exercícios físicos e outros.
Foi um período de seis meses divididos em dois.
No primeiro, coincidente com o inverno, tive a felicidade de ter como instrutor um tenente miliciano que nos tratava como homens...chamava-se Silva... homem bom.
No segundo já me apareceu um alferes da Academia com ar prepotente e mal encarado que puxava e moía a tola a todos nós.
No meio dos trabalhos em que me meti, melhor, em que me meteram, houve um episódio que me marcou para sempre.
 
Era uma quinta-feira, vinha eu da instrução, já na especialidade, quando ao passar por uma lagoa, ouvi um alvoroço enorme.
Que teria acontecido? Olhámos uns para os outros, mas a explicação não surgia...
Eis senão quando ouvimos um choro convulsivo...interrogámo-nos...o que aconteceu?...
Até que alguém nos comunicou que quatro cadetes tinham caído à lagoa.
Pensámos logo no pior, o que infelizmente se veio a concretizar...morreram da maneira mais estúpida.
 
Em poucas palavras vou procurar descrever o que se passou.
De vez em quando tínhamos instrução nessas lagoas, cuja água era lodosa...
O exercício consistia em atravessar a dita com os pés a andarem em cima duma corda e as mão agarradas às outras duas...
Á medida que se avançava, as cordas baloiçavam e era sempre um "ai Jesus".
 
Nesse dia aconteceu o pior, pois caiu um e atrás dele foram mais três...UMA TRAGÉDIA.
 
Chegados ao quartel, um clima de revolta pairava no ar, aliado a uma grande e profunda tristeza .
Foi convocada uma "assembleia geral" na sala da "psico".
Aí ficaram estabelecidas certas reivindicações afim de garantir a segurança de todos nós e também que ninguém almoçaria, isto é, um levantamento de rancho em linguagem militar.
 
À hora do almoço, já com todo o pessoal reunido no refeitório e já em sentido, o oficial de serviço deu ordem para nos sentarmos, ordem essa à qual ninguém obedeceu...
Então, o oficial dirigiu-se a um de nós e mandou-o sentar e como resposta recebeu um choro intenso...
O clima de hostilidade era enorme.
 
Então, o Comandante para acalmar o ambiente, sendo uma quinta-feira, mandou-nos em fim de semana....
 
Rui Briote (2013)