24 de Maio de 1972 foi o primeiro dia triste para os militares da Ccav. 3508 estacionada no Chai desde 21 de Fevereiro desse ano, e eu jamais o esquecerei.
Foi o dia de mais uma coluna até ao famigerado monte dos Oliveiras.
Como habitualmente, as viaturas partiram do Chai em marcha muito lenta, durante 5 ou 6 km até à ponte Mapuedi.
Até esse local as possibilidades de emboscadas ou minas eram, por nós, consideradas remotas.
Ao chegar ao local apeou-se a secção de picagem, e o restante percurso até ao monte dos Oliveiras (cerca de 15 km) será feito apeado.
Dou orientações sobre os procedimentos a tomar e inicia-se a picagem.
Instantaneamente ocorre uma explosão.
Todos no chão e reacção imediata com tiroteio.
Apercebo-me de só haver tiros das nossas tropas e mando parar o fogo.
Assim que me levanto, fico petrificado ao verificar o que restava do corpo humano do militar que seguia atrás de mim, a montar segurança, enquanto eu picava.
Os dilagramas que ele transportava à cintura tinham acabado de explodir.
Assim faleceu ingloriamente, há 48 anos, o primeiro militar da Ccav. 3508, o 1º. cabo Manuel Delgado.
Na primeira foto pode ver-se o dispositivo adoptado para a picagem até ao monte dos Oliveiras, constituído por uma equipa de cada lado da picada e em posição desfasada.
Comentários
Duarte Pereira Os dilagramas não eram de fiar. Transportei dois durante quase toda a comissão entre as cartucheiras dos carregadores da G-3. Levava umas quatro ou cinco balas especiais para o seu impulso num dos bolsos da camisa do camuflado. Por vezes levava o sistema montado , já com a bala própria na câmara . Era preciso ter muito cuidado com as cavilhas das granadas , penso que até poderiam enferrujar e partir.
Livre Pensador Sem ter a certeza, mas quase posso garantir, que naquele caso terá sido uma cavilha que saiu dum dos dilagramas quando o malogrado Delgado saltou do unimog para o chão.
Fernando Bernardes O Delgado foi sentado ao meu lado,e o alferes ia nas nossas costas.Como ele não levantou logo,constou que teria estado toda noite a jogar,o alferes perguntou se ele não ia picar.Saltou do unimog e minutos depois estava morto.Quanto aos dilagramas,eu próprio vi e tive me minhas mãos alguns em que o braço que une o dispositivo onde se encontra a granada e a alavanca da própria granada,estava partida.Eu vi o movimento que o Delgado fez quando começou a andar e a picar.Ele procurou "apoiar" a G3 entre o corpo e as cartucheiras,prática que muitos utilizavam.Segundos depois estava morto.Quando cheguei junto do corpo dele,percebi logo que cheirava a leite com café,havia pedacinhos de notas em volta do corpo misturados com sangue dele,e toda a parte lateral esquerda não existia mais.
Armando Guterres Não passei da G3 e de uns petardos de TNT para mina anticarro (deles ou nossa? - estava por tapar). Mais três ou quatro para destroçar o que restou da arrecadação de material de guerra - éramos tão eficientes que dispensámos trabalhos externos [o que nestes tempos chamam de "exteriorização"].
José Coelho Muito meu amigo e conterrâneo,está sepultado no cemitério de Faro. Que descanse em Paz.
Rui Briote Foi um choque tremendo e nunca mais me esqueci, pois estava presente....;(. Estas datas são horríveis e a minha está a aproximar-se e estou a ficar já alterado... não é fácil
Jose Capitao Pardal O primeiro de muitos... Era da minha seção...
O ex-alferes Jose Ribeiro fez uma ginástica enorme para o conseguir no nosso pelotão, pois era o cabo que na especialidade mais se tinha destinguido... Rui Briote é que não gostou nada da brincadeira... não foi?
José Coelho Na primeira mina que tivemos o Pinto encostou a G3 com dilagrama a uma árvore,correu para socorrer os feridos,no meio daquela confusão toda alguém sem querer tocou na arma,a mesma ao cair a granada saiu fazendo -se explodir,"uma desgraça numca vem só" (ditado antigo) um furriel em estado muito grave,penso que ficou cego...outro nosso Militar (O Nelinho) também gravemente ferido,sendo evacuado para Nampula e depois para a África do Sul terminando tanto o Furriel como o Nelinho, a sua triste carreira Militar no Hospital da Estrela.
Paulo Lopes Esse episódio foi o despoletar para a minha mobilização que, em princípio, estava já fora de questão!!
Armando Guterres O dilagrama tinha sido descavilhado. Mas, com a ordem de cessar-fogo, nem a atirou nem voltou a recolocar a cavilha.
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Paulo Lopes Já a mim, a sua presença por aí também me fazia falta mas...
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José Lopes Vicente Fiz quase toda a comissão com o diagrama. Por precaução a cavilha do diagrama retorcia para para dificultar a sua saída do diagrama. No carregador apenas a do bala do dilagrama. Apenas o utilizei uma vez no ataque à ponte do Messalo. Quando bem disparado dava muito jeito.
Manuel Fernandes Acabou de falar o jovem mais sereno da 08.Companhia Descarararar
Armando Guterres Para mim, o dilagrama e o morteiro 60, na terceira emboscada, deram-nos uma boa ajuda.
Quem falou em sacas?
Joaquim Afonso eu recordo bem esse dia porque me tocou um carregamento de bidons de combustível e não gostava porque tinha medo.na minha lembrança estava a chover e com neblina
Alberto Cardoso Estava lá foi coisa feia o que aconteceu pois ele era quase meu vizinho
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