Quem é que ainda se lembra do " QUEM VEM LÁ FAÇA ALTO" ou do " SENTINELA ALERTA" ou também do "ALERTA ESTÁ"?
Eram estas frases que se ouviam durante a noite nos quartéis deste País, protagonizadas por quem estava de sentinela e pelo sargento de dia que fazia a ronda pelos vários postos.
E era "mascarado" da maneira que se vê na foto que eu fazia esse serviço de sargento de dia no RC4 em Santa Margarida.
Foi precisamente lá que eu, pela primeira vez, me apercebi de como seria a vida no interior remoto de vida no interior remoto de Portugal.
Nascido e criado em Lisboa, nunca me passou pela cabeça que pudessem existir aldeias sem luz, sem água, sem escolas, sem estradas e sem tantas outras necessidades básicas que deixavam as populações completamente isoladas e abandonadas.
Tudo isto vem a propósito de lhes contar uma história passada comigo em Sta. Margarida.
O pelotão ao qual eu dava instrução era constituído por militares de várias regiões do interior do País.
Naquele tempo só não era aprovado para "TODO O SERVIÇO MILITAR" quem não tivesse braços ou pernas.
Por isso, no meu pelotão todos tinham cabeça, tronco e membros, mas havia dois soldados em que, infelizmente, nada existia dentro das suas cabeças.
Um deles, jamais esquecerei o seu nome, chamava-se Águeda.
Certo dia uns quantos soldados vieram ter comigo a queixarem-se do mau cheiro que o Águeda tinha.
Diziam que era impossível dormir perto dele.
Prometi-lhes que, como no fim de semana a seguir ia ficar de sargento de dia, eu me encarregava de levar o Águeda ao banho.
E assim fiz.
Nesse fim de semana convidei o nosso homem a acompanhar-me ao chuveiro.
Disse-lhe para se despir e tomar banho.
Ele despiu-se e, para meu espanto, a sua pele tinha um tom bronzeado escuro, não provocado pelos raios solares, mas sim pelo acumular de tanto lixo!
Das suas botas saíram umas meias bastante desfeitas que envolviam uns pés cobertos por autêntica lama!
Acreditem que não estou a exagerar!
O Águeda lá se pôs debaixo do chuveiro a ali ficou impávido e sereno.
Tive de lhe dizer para pegar no sabão (macaco) e esfregar no corpo.
Quando o sabão começou a fazer espuma na sua pele, ele desatou a rir, e disse-me que nunca tinha usado uma "coisa" daquelas!!!
Concluí então que o sabão macaco deixa tudo mais branco!
Aquele exemplo despertou-me para a realidade do nosso País antes do 25 de Abril de 1974 e para a qual eu, como "rato" de cidade, não estava minimamente consciencializado.
Foi mais uma boa lição de vida!
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