Mais uma...
Aconteceu no dia 21 Janeiro de 71. Íamos a caminho da Mataca, numa coluna de abastecimentos, era cerca do meio-dia.
Já tínhamos picado, debaixo de um sol tórrido, e o Gouveia com o seu "olho de lince" ia na frente, do lado direito da picada, do outro lado o Cabo Abel, com o diagrama na G3 ( Só os cabos usavam os dilagramas.(?)
A coluna avança lentamente e percorridos cerca de 500 metros, numa longa recta, já no Alto do Delepa, o Gouveia deteta um vulto no capim, a 2 a 3 metros da picada.
Tem uma Kakashi na mão.
Atrapalhado, o IN, levanta-se e tenta fugir!
O Abel dispara o dilagrama, mas a granada cai a 4 ou 5 metros à frente, ainda agarrada ao dilagrama que fica enterrado na vertical no matope.
Tinha chovido muito durante a noite.
Branco como a cal, o Abel, fica imobilizado e tenta explicar, que a bala que tinha no carregador era a indicada.
Mas a gaguez, começou nesse dia, a ser a forma de comunicação oral do Abel.
Mais uma vez, aparece o FMil José Bento, que com toda a calma, vai buscar o diagrama.
Agarra a granada, e a cavilha.
Fazendo um gesto para que todos se deitem, atira a granada para bem longe.
Passados uns largos segundos, ela explode!
Respiramos fundo.
O 2 GC, faz uma incursão na mata, e verifica vestígios de que seriam 3 a 4 guerrilheiros, que estariam prontos para fazerem a emboscada.
Fugiram como ratos, cada um para seu lado.
Daqui para a frente as cautelas foram redobradas, até avistarmos o GC da 2750, que vinha ao nosso encontro.
Já na Mataca, e ainda muito traumatizado, o Abel tenta explicar "que...que ...que eu vi aqueles olh...olho...olhos gran...grandes a olharem para ...para mim, me ...meu Furriel!!! Só... só se viam...os den...dentes bran... bran...brancos....me meu Furriel!!!
Mais um dia em que a CCav 2752 é poupada!!!
Cont.
José Leitão
CCav 2752
In " Pedaços de memória ...de rajada"
Nota: Como funcionava o "diagrama":
Retirada a cavilha da granada, a alavanca de segurança ficava presa pelo retentor.
Quando se premia o gatilho da arma e o cartucho era percutido, a acção de gases que se seguia impulsionava o conjunto, lançando-o pelo ar e pela acção da inércia o grampo de armar recuava, partindo o retentor, soltando-se, então, a alavanca de segurança da granada, iniciando-se a combustão do misto retardador e consequentemente a explosão, com fragmentação de todo o conjunto.
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