Enfim chegou o dia da partida para o Algarve, saco de bagagem na mala, carocha á estrada e aí vou eu.
É madrugada e o carocha vai acelerando bem em pleno Alentejo, quando de repente surge no meio da estrada uma data de touros, que devem ter passado as vedações, pé no travão e agora, pensei eu: que fazer e se eles investirem contra o carocha, que tem uma cor perto do vermelho, lá se vai o carocha todo furado e eu sei lá que mais.
Passei para médios e com os vidros fechados esperei aí uma meia hora e os touros do meio da estrada.
É que não saíam, até que em sentido contrário chegou um camião, que parou mas depois começou a andar lentamente e os touros a vir na minha direção, ai ai ai ai, mas passaram ao lado e finalmente pude respirar e caminho livre outra vez.
Para compensar o tempo perdido, pé na chapa e já na Serra do Caldeirão, numa curva apertada, o carro bate num buraco da estrada, abre-se a porta do meu lado e fiquei pendurado na dita porta.
Por milagre o carro não foi serra abaixo.
Finalmente Algarve á vista e destino Loulé.
Fui ficar hospedado numa pensão perto do centro, porque queria visitar uma madrinha de guerra que tinha sacado a um soldado em Macomia e com a qual mantinha contato via CTT.
O encontro deu-se numa pastelaria do centro e ela estava acompanhada da irmã conforme combinado.
Mas que belezas!!!!
Apresentações, conversa puxa conversa e pequeno almoço para os três.
Paga o otário.
E nisto a irmã sai para ir não sei aonde e fiquei só com ela.
Afinal a "marafada" era casada, tinha uma filha e o marido "tava" a trabalhar na Argélia.
Pensei: "tou" feito, mas combinámos encontro para o outro dia, na mesma pastelaria á mesma hora.
O resto do dia eu e o carocha fomos até Quarteira, depois a Armação de Pera e voltámos para Albufeira.
Á entrada de Albufeira jantei num restaurante que tinha a cozinha no meio da sala, nunca tinha visto tal.
Depois Albufeira centro para a vida noturna e regresso a Loulé para descansar um pouco.
Fui o primeiro a chegar á pastelaria e pouco depois chegou ela.
Oi oi oi, até os meus olhos brilharam, mui formosa.
Após o pequeno almoço convenci-a a dar uma volta e acabámos por ir até Ayamonte, onde almoçámos uns calamares e mais uns petiscos.
Depois regressámos a Vila Real, para curtir uma praia em Monte Gordo, após o que regressámos a Loulé.
No dia seguinte combinámos ir à ilha, foi um dia de praia em que nos divertimos, trocámos intimidades, conversas, talvez mesmo promessas e sonhos, enfim um dia de felicidade para ambos.
Foi bonito, mas era o último dia em Loulé e as despedidas foram um pouco dolorosas.
Manhã seguinte, o carocha voltou á estrada e rumou á Praia da Rocha, em Portimão e ponta de Sagres.
Caminho de casa e jantar em Odemira.
À saída de Odemira, brigada da GNR, alto e para.
Parei e nisto um guarda com ar de parvalhão, chega á janela do carro e nem bom dia, nem boa noite.
Os seus documentos.
E eu respondi: não sei onde está isso.
E ele: se não tem fica tudo apreendido.
Ai é respondi eu.
Saquei do meu cartão de Sargento, esfreguei-o no olho do guarda, que de imediato, bateu ali uma "pálada".
Que gozo me deu.
Dei-lhe os documentos e como "tava" tudo em ordem, mas ele estava danado, de seguida, pede-me o "retângulo".
E eu disse que isso não tinha.
Não tem vai ser autuado e puxa do livro para escrever, foi aí que lhe disse, eu tenho é isto que é um triângulo, serve, é que o outro que pediu eu não tenho.
Ei ficou cá com uns cornos, bateu mais uma "pálada" e desejou boa viagem.
Pela manhã, já estava de volta á aldeia.
Afinal este carocha resistiu.
Os restantes dias foram passados ora no seio da família, ora com amigos.
No dia da partida para Moçambique, pensei em não ir, isto é, não regressar mais, mas as saudades de todos vocês, falaram mais alto e lá embarquei.
Um forte abraço para todos os militares do BCAV3878