HISTÓRIAS DO CHAI
São 4,30h do dia 14 de Outubro de 1973.
O aquartelamento do Chai acorda ao som duma violenta explosão.
Todos os militares correm para os abrigos assumindo as suas posições de defesa do quartel.
Porém, logo se percebe que essa explosão e o tiroteio que se ouve vem do lado da ponte do Messalo, situada a 10 km do Chai.
Via rádio, os camaradas lá sitiados informam que estão a ser fortemente atacados.
De imediato é formada uma coluna com um grupo de combate que sai do quartel para dar apoio aos militares do Messalo.
Poucos minutos após a saída da coluna de socorro, o quartel do Chai começa a ser atacado.
Inicialmente ouvimos uns "zumbidos" (tipo avião a jacto) a sobrevoar o quartel e a explodirem logo após.
Todo o chão estremece.
É assim que nos apercebemos de que estamos a ser atacados com a nova arma que a Frelimo dispõe: O TEMÍVEL MÍSSIL / FOGUETÃO 122.
Já tínhamos sido informados de que esta arma tinha um alcance próximo dos 20 km. Como poderíamos responder ao ataque, sabendo que os nossos dois obuses 8.8 poderiam atingir no máximo 10 km?
Entretanto, as más notícias (via rádio) continuam a chegar.
O grupo de combate saído do quartel para apoiar os camaradas da ponte do Messalo, fica retido numa emboscada da Frelimo pouco depois da pista de aviação, a cerca de 2/3 km de distância.
Por sua vez, os militares da ponte vêm-se a braços com uma tentativa de assalto / golpe de mão em que está iminente uma luta corpo a corpo, havendo já troca de gritos e insultos entre os guerrilheiros da Frelimo e as nossas tropas.
No quartel e perante a consciência de estarmos a ser atacados com uma arma poderosíssima e de longo alcance, os nossos obuses e morteiros são municiados com as cargas máximas e apontados à máxima distância possível.
Cada míssil / foguetão que cai faz estremecer todo o quartel (são 50 kg de explosivo)!
Ao fim de quase uma hora de combate, cai o primeiro míssil dentro das instalações do quartel.
Os camaradas que operavam um dos obuses 8.8 apercebem-se que o "torpedo" vem no ar e conseguem saltar para a parte de fora dos bidons que protegem o obus.
O míssil explode, destrói uma grande parte do refeitório e deixa o obus inoperacional.
Que sorte que eles tiveram ao escapar sem ferimentos!
Nessa altura e perante a escassez de munições que já se fazia sentir, é decidido pedir o apoio aéreo a Porto Amélia.
O combate vai continuando tentando gerir o consumo de munições.
Entretanto, no Messalo a situação começa a evoluir a favor das nossas tropas graças à coragem, determinação e sangue frio de dois militares (não me recordo dos seus nomes) do 4º. pelotão que, com o morteiro 60, conseguem lançar as suas granadas a subir e descer quase na vertical e estas começam a atingir em cheio os guerrilheiros da Frelimo que já estavam a penetrar no arame farpado.
É graças a essa acção destemida que são abatidos 13 guerrilheiros da Frelimo, para além de muitos outros que ficaram feridos.
As nossas tropas sofreram 2 feridos graves e 3 ligeiros, um dos quais o furriel Vicente que ficou com uma bala espetada na barriga (à superfície) depois desta ter atravessado um bidon cheio de areia.
No quartel do Chai, resistia-se como se podia e após quase duas horas de combate terminavam as hostilidades.
Da nossa parte porque as munições acabaram e da parte da Frelimo porque começaram a ser sobrevoados e atacados por 2 caças Fiat (anjos para nós!) da força aérea.
No ataque à ponte, para além dos 13 mortos da Frelimo (que foram enterrados no local) capturámos o seguinte material:
- 1 metralhadora Degtyarev
- 2 espingardas Kalashnikov
- 5 espingardas Simonov
- 2 pistolas
- 11 granadas de lança granadas foguete
- 11 cargas de lança granadas foguete
- 25 granadas de mão defensivas
- 5 carregadores de Kalashnikov
- 5 petardos de TNT
- 27 pentes de munições Simonov
- 5 bombas de avião de 50 kg
- 1 bombas de avião de 15 kg
Nesse mesmo dia foi feita uma batida para descobrir o local de ataque da Frelimo e concluímos que ele tinha sido feito na margem do lago Chai que distanciava, no máximo, 2 km do quartel.
E nós a dispararmos os obuses para 8 km!!!
Os militares do Chai sobreviveram a este ataque por uns escassos metros.
A maior parte dos mísseis caíram a menos de 50 metros do arame farpado abrindo grandes crateras no solo.
Se nos lembrarmos do estrago que fez o único míssil que caiu dentro do quartel, o que seria de todos nós se aquela pequena distância de 50 metros tivesse sido vencida por todos os outros mísseis?
Para nossa felicidade ... o destino assim quis!!!