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segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Um aerograma, por Luis Leote


20/11/2014 
 
Remexendo o baú das recordações....

A propósito da disponibilidade que o Fernando Lourenço colocou, para quem desejasse ver o filme que foi feito por ele e o filho, coloco aqui um pensamento, que roubei não sei onde, e que retrata o que vi!!!!

1971 - Cabo Delgado - Norte de Moçambique...



 Um aerograma...



"...O medo, a raiva e a ansiedade são na guerra as personagens principais, mas é o cansaço o verdadeiro protagonista.

O cansaço é a pior coisa que há numa guerra.



A fadiga do corpo, a fadiga da mente, a fadiga da própria vida, que nos aproxima tanto da morte que dir-se-ia uma tentação permanente.

Acho que se há heróis numa guerra, que lutam com desprezo da própria vida é porque estão demasiado exaustos para considerarem a vida uma coisa digna de apreço.

Nesta exaustão completa, o próprio instinto de sobrevivência desaparece."

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

NOVAMENTE, TAVIRA, por Fernando Bento


 
BOA TARDE PESSOAL.
 
FINALMENTE ENCONTRO-ME A PASSAR UMAS FERIAS EM SARZEDO, MINHA TERRA NATAL.
 
DEPOIS DE ALGUM TEMPO DE AUSÊNCIA DEVIDO A COMPROMISSOS PROFISSIONAIS, QUE MUITO ME OCUPARAM NESTAS ULTIMAS SEMANAS, CÁ ESTOU PARA TENTAR POR A ESCRITA EM DIA, E TENTAR COLABORAR (DENTRO DO POSSÍVEL), NESTA PAGINA.
 
GOSTARIA DE PARTILHAR CONNVOSCO A MINHA CHEGADA A TAVIRA.
ENTÃO CÁ VAI.
 
APÓS UMA RECRUTA NO RI 5 NAS CALDAS DA RAINHA, RECEBI GUIA DE MARCHA PARA TAVIRA (C.I.S.M.I.), ONDE IRIA FREQUENTAR O CURSO DE SAPADORES.
 
ESTÁVAMOS NO INICIO DO MÊS DE MAIO DE 1971.
 
DEPOIS DE UMA NOITE MAL DORMIDA, FEITA, PRIMEIRO DE BARCO DO TERREIRO DO PAÇO PARA O BARREIRO E DEPOIS DE COMBOIO, QUE PARAVA EM TODAS AS ESTAÇÕES E APEADEIROS, CHEGUEI A TAVIRA, CERCA DAS 6,30 DA MANHÃ.
NA GARE DA ESTAÇÃO DOIS ELEMENTOS DA P.U. (POLICIA DA UNIDADE), ESPERAVAM-NOS. MANDARAM-NOS FORMAR A DOIS E LÁ SEGUIMOS EM DIREÇÃO AO QUARTEL QUE ATÉ NEM FICAVA MUITO LONGE DA ESTAÇÃO.
 
QUANDO LÁ CHEGÁMOS JÁ ERA GRANDE A BARAFUNDA COM MUITOS INSTRUENDOS QUE À VOLTA DE UNS PLACARDS COLOCADOS À ENTRADA DA PARADA TENTAVAM SABER ONDE IRIAM SER COLOCADOS: COMPANHIA, CASERNA, ETC..
 
TINHA ACABADO DE VER ONDE IRIA SER COLOCADO (1ª COMPª. E 1º PELOTÃO), QUANDO SE OUVIU UMA VOZ NAS NOSSAS COSTAS:
ATENÇÃO, SAPADORES, ONDE ESTÃO OS SAPADORES DO 1º PELOTÃO.
TEEM 5 MINUTOS, 5 MINUTOS OUVIRAM BEM?... PARA ESTAREM AQUI NA PARADA FARDADOS COM A FARDA Nº 3.
 
OLHÁMOS NA DIREÇÃO DONDE VINHA AQUELA VOZ, ERA UM ALFERES, O ALFERES MADEIRA, SAPADOR, E QUE SERIA O NOSSO INSTRUTOR.
 
BOM, COMO CALCULAM FOI UMA CORRERIA LOUCA EM DIREÇÃO À CASERNA PARA NOS VESTIRMOS COMO ELE MANDOU.
FOI UMA GRANDE CONFUSÃO.
EU ATERREI NA PRIMEIRA CAMA QUE ENCONTREI VAZIA E DESPACHEI-ME O MAIS RÁPIDO QUE PUDE.
 
QUANDO CHEGAÁOS À PARADA, OS 5 MINUTOS TINHAM PASSADO HÁ MUITO.
HAVIA ALGUNS DE BLUSÃO, CAMISA E GRAVATA E CALÇAS Nº 3, OUTROS COM A PARTE DE CIMA Nº 3 E CALÇA DE SAIDA, UMA GRANDE MISTURA DE FARDAMENTOS.
 
O ALFERES À NOSSA FRENTE OLHOU-NOS COM UM SORRISO TROCISTA, MANDOU, FIRME, SENTIDOOOO, MEIA VOLTA VOLVER, PASSO DE CORRIDA E LÁ FOMOS EM DIREÇÃO AO PORTÃO SUL.
ESTE PORTÃO DAVA ACESSO À ZONA DE INSTRUÇÃO, ONDE SE SITUAVAM A PISTA DE OBSTÁCULOS, AS SALINAS COM AGUA ESTAGNADA, ETC..
 
BOM JÁ ESTÃO MAIS OU MENOS A CALCULAR A RECEPÇÃO QUE NOS FOI OFERECIDA.
ERAM AS FLEXÕES, OS ABDOMINAIS, O RASTEJAR, ANDAR DENTRO DAS SALINAS, ETC..
 
QUANDO UMA HORA DEPOIS ENTRAMOS NO QUARTEL, TODOS "BEM CHEIROSOS" E SUJOS DE PORCARIA DOS PÉS À CABEÇA E A GRITAR, OS SAPADORES SÃO OS MAIORES, ESTÃO A VER A CARA DOS OUTROS QUE SENTADOS PELOS CANTOS AINDA AGUARDAVAM ORDENS.
 
DEPOIS VIEMOS A SABER QUE AQUILO ERA UM ESPECIE DE PRAXE AOS NOVOS SAPADORES.
AS FARDAS FORAM LAVADAS CONNOSCO LÁ DENTRO.
Fernando Bento publicou no
BATALHÃO DE CAVALARIA 3878
20130820
 

 

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

MAFRA 1971...    Em janeiro de 1971 fui "empurrado" para o Convento de Mafra para conhecer umas freirinhas, pensava eu, mas tal não se verificou, pois quando lá cheguei, conheci sim muitas ratazanas que pareciam coelhos. Tanta malta na flor da idade como eu, prestes e enfrentar feras com garras de fora à nossa espera.  Eram só fulanos fardados e empertigados  a olharem-nos de alto a baixo com um olhar ameaçador ...todo encolhido, entrei e trataram-me de me dar uma roupa esquisita e, que remédio, lá fui eu enfiá-la antes que eles mo fizessem. Tive sorte, pois acertaram com o número  e de imediato  fui-me juntar aos  "virgens" nestas andanças. Enfiaram-me numa caserna enorme onde me esperava uma cama beliche ficando eu na parte inferior. Foi aí que conheci os nossos camaradas Ribeiro  e o Lea.,O primeiro ficaria por cima de mim, salvo seja, e na mesma também o Leal. 

   Passados os primeiros momentos em que convivi em amena cavaqueira, chamaram-nos e deram-nos uma G3 sem balas, que seria a minha companheira durante uns tempos. A partir daí começou a minha triste sina...calcorrear a mata de Mafra e a famosa aldeia dos macacos, onde fazíamos exercícios físicos e outros. Foi um período de seis meses divididos em dois. No primeiro, coincidente com o inverno, tive a felicidade de ter como instrutor um tenente miliciano que nos tratava como homens...chamava-se Silva... homem bom. No segundo já me apareceu um alferes da Academia  com ar prepotente e mal encarado que puxava e moía a tola a todos nós. No meio dos trabalhos em que me meti, melhor, em que me meteram, houve um episódio que me marcou para sempre. Era uma quinta-feira, vinha eu da instrução, já na especialidade, quando ao passar por uma lagoa, ouvi um alvoroço enorme. Que teria acontecido? Olhámos uns para os outros, mas a explicação não surgia...Eis senão quando ouvimos  um choro convulsivo...interrogámo-nos...o que aconteceu? Até que alguém nos comunicou que quatro cadetes tinham caído à lagoa. Pensámos logo no pior, o que infelizmente se veio a concretizar...morreram da maneira mais estúpida. Em poucas palavras vou procurar descrever o que se passou. De vez em quando tínhamos instrução nessas lagoas, cuja água era lodosa..o exercício consistia em  atravessar a dita com os pés a andarem em cima duma corda e as mão agarradas às outras duas...á medida que se avançava, as cordas baloiçavam e era sempre um "ai Jesus". Nesse dia aconteceu o pior, pois caiu um e atrás dele foram mais três...UMA TRAGÉDIA. Chegados ao quartel, um  clima de revolta pairava no ar, aliado a uma grande e profunda tristeza . Foi convocada uma "assembleia geral" na sala da psico. Aí ficaram estabelecidas certas reivindicações  afim de garantir a segurança de todos nós e também que ninguém almoçaria, isto é, um levantamento de rancho em linguagem militar. À hora do almoço, já com todo o pessoal reunido no refeitório e já em sentido, o oficial de serviço deu ordem para nos sentarmos, ordem essa à qual ninguém obedeceu...então, o oficial dirigiu-se a um de nós e mandou-o sentar e como resposta recebeu um choro intenso..O clima de hostilidade era enorme. Então, o Comandante para acalmar o ambiente, sendo uma quinta-feira, mandou-nos em fim de semana....
Rui Briote
      MAFRA 1971...   
Em janeiro de 1971 fui "empurrado" para o Convento de Mafra para conhecer umas freirinhas, pensava eu, mas tal não se verificou, pois quando lá cheguei, conheci sim muitas ratazanas que pareciam coelhos.
 
Tanta malta na flor da idade como eu, prestes e enfrentar feras com garras de fora à nossa espera. Eram só fulanos fardados e empertigados a olharem-nos de alto a baixo com um olhar ameaçador ...
Todo encolhido, entrei e trataram de me dar uma roupa esquisita e, que remédio, lá fui eu enfiá-la antes que eles mo fizessem.
 
Tive sorte, pois acertaram com o número e de imediato fui-me juntar aos "virgens" nestas andanças. Enfiaram-me numa caserna enorme onde me esperava uma cama beliche ficando eu na parte inferior. Foi aí que conheci os nossos camaradas Ribeiro e o Leal.
O primeiro ficaria por cima de mim, salvo seja, e na mesma também o Leal.

Passados os primeiros momentos em que convivi em amena cavaqueira, chamaram-nos e deram-nos uma G3 sem balas, que seria a minha companheira durante uns tempos.
A partir daí começou a minha triste sina...calcorrear a mata de Mafra e a famosa aldeia dos macacos, onde fazíamos exercícios físicos e outros.
Foi um período de seis meses divididos em dois.
No primeiro, coincidente com o inverno, tive a felicidade de ter como instrutor um tenente miliciano que nos tratava como homens...chamava-se Silva... homem bom.
No segundo já me apareceu um alferes da Academia com ar prepotente e mal encarado que puxava e moía a tola a todos nós.
No meio dos trabalhos em que me meti, melhor, em que me meteram, houve um episódio que me marcou para sempre.
 
Era uma quinta-feira, vinha eu da instrução, já na especialidade, quando ao passar por uma lagoa, ouvi um alvoroço enorme.
Que teria acontecido? Olhámos uns para os outros, mas a explicação não surgia...
Eis senão quando ouvimos um choro convulsivo...interrogámo-nos...o que aconteceu?...
Até que alguém nos comunicou que quatro cadetes tinham caído à lagoa.
Pensámos logo no pior, o que infelizmente se veio a concretizar...morreram da maneira mais estúpida.
 
Em poucas palavras vou procurar descrever o que se passou.
De vez em quando tínhamos instrução nessas lagoas, cuja água era lodosa...
O exercício consistia em atravessar a dita com os pés a andarem em cima duma corda e as mão agarradas às outras duas...
Á medida que se avançava, as cordas baloiçavam e era sempre um "ai Jesus".
 
Nesse dia aconteceu o pior, pois caiu um e atrás dele foram mais três...UMA TRAGÉDIA.
 
Chegados ao quartel, um clima de revolta pairava no ar, aliado a uma grande e profunda tristeza .
Foi convocada uma "assembleia geral" na sala da "psico".
Aí ficaram estabelecidas certas reivindicações afim de garantir a segurança de todos nós e também que ninguém almoçaria, isto é, um levantamento de rancho em linguagem militar.
 
À hora do almoço, já com todo o pessoal reunido no refeitório e já em sentido, o oficial de serviço deu ordem para nos sentarmos, ordem essa à qual ninguém obedeceu...
Então, o oficial dirigiu-se a um de nós e mandou-o sentar e como resposta recebeu um choro intenso...
O clima de hostilidade era enorme.
 
Então, o Comandante para acalmar o ambiente, sendo uma quinta-feira, mandou-nos em fim de semana....
 
Rui Briote (2013)