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terça-feira, 20 de setembro de 2016

A PRIMEIRA “PICADA” ATÉ MACOMIA, por Paulo Lopes


Paulo Lopes
 
PRIMEIRA “PICADA” ATÉ MACOMIA

Ficamos alguns dias sossegados da azafama constante do vai e vem das operações, o que nos admirou bastante mas não nos preocupou absolutamente nada.
 
Podíamos passar os dias a ler, a jogar xadrez, damas ou cartas, consoante os gostos de cada um e, pela tardinha, fazíamos —os mais desportistas— uma peladinha naquele “estádio” fabuloso onde, enquanto uns corriam atrás da bola fugindo ao tédio, outros viam, aplaudiam e apoiavam os do lado de que mais gostassem naquele momento, como se estivessem no estádio do seu clube eleito.
 
Quanto ao que me tocava, não dispensava esse momento de desporto e lá estava eu, sempre no meu posto de guarda-redes, defendendo o meu emblema que era, sem duvida, o esgotar dos minutos, o passar do tempo numa actividade com acesso à descompressão do pensamento negativo.
 
Enquanto tentava que nenhuma bola passasse para além das canas de bambu, esquecia-me que, para lá do arame farpado, existia outro “jogo”, onde nenhum de nós, jogadores, ganharia.
A vitória ia apenas e sempre, para os abutres que dominam o mundo e as pessoas!
 
Nestes dias tínhamos, portanto, as duas partes que constituem a felicidade de um soldado: bem alimentados (tendo como conceito que a boa alimentação era apenas e tão só o não comer a ração de combate) e repouso absoluto.
Situação invejável, não fosse o local de isolamento onde permanecíamos e a constante tensão que, mesmo neste sossego interior, estavam, apesar das aparências, continuamente presente.
A qualquer momento todo o cenário se poderia modificar e o que era descanso passaria a pesadelo muito antes de um esfregar de olhos!
 
Nos primeiros tempos da campanha, mesmo com estas situações pontuais, sentia-me completamente destroçado e incapaz de reagir.
 
Agora, ventos e tempestades passadas, tormentas e ansiedades desmanteladas, horas consecutivamente contadas minuto a minuto, estes poucos dias de “nada fazer”, faziam-me sentir quase contente e feliz.
 
É tudo uma questão de hábito.
Assim se comprova, na realidade, que somos um animal de hábitos.
 
Mas a “boa fruta” chegou ao fim quando uma ordem para nos irmos reabastecer a Macomia entrou pelas antenas do aparelho do nosso criptógrafo.
 
Era a primeira vez que saía da Mataca para ir a outro aquartelamento atravessando a serra através da picada que nos levava até lá.
Ia “estreá-la” e conhecer todos os seus riscos que espreitavam atrás de cada árvore, à frente do próximo passo.
Mais uma nova experiência não desejada para adicionar a umas já conhecidas, à espera de outras que o futuro espreita.
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— Amanhã vamos a Macomia e como já não é novidade, os perigos são vários, tanto no caminho para lá como no regresso e principalmente neste, visto que vimos carregadinhos de mantimentos, portanto, há que abrir bem os olhos e arrebitar as orelhas.
Dizia o alferes S……, continuando: — Daqui a pouco, mais para a noite, como costumamos fazer nestas ocasiões, vão informar a vossa “malta” que por volta das quatro e meia, cinco horas, arrancamos!
Creio que não são necessárias mais conversas porque, como sabem, para estas picadas, quanto menos se falar melhor.
 
E com estas palavras, poucas e simples, saímos!
Ainda vinha a sair da reunião e já estava a perguntar, porque me fez uma certa curiosidade, o porque do “quanto menos se falar melhor” e qual a razão de apenas à noite se ir dizer ao grupo que cada um de nós comandava, que iríamos a Macomia no dia seguinte.
 
As respostas às minhas questões foram tão rápidas e simples quanto a reunião que acabávamos de ter:
— Porque, não sabendo como, mesmo aquela hora da manhã, quando se passa pela aldeola, já lá estão nativos para aproveitarem a nossa deslocação a Macomia apanhando boleia até lá, correndo assim menos riscos de serem apanhados por elementos da Frelimo e também para pouparem uns largos quilómetros nas pernas.
 
Ora, se eles sabem, mesmo quando essa viagem só é dada a conhecer já à noitinha, também os “turras” tinham esse conhecimento e tempo para preparar uma emboscada ou colocar minas. Portanto, quanto mais tarde se desse a informação, menor era a possibilidade de ser passada para o exterior. Dizia-me um camarada.
Simples e agradável de saber!
 
Ainda não eram cinco da manhã e mal a aurora tinha chegado, já todos estávamos preparados para a partida.
O roncar dos motores deu o sinal e, ainda em cima das Mercedes 404, quatro ao todo, iniciámos o percurso que tinha passagem inevitável pela aldeola.
 
E lá estavam eles!!! Tal como me tinham dito, uma dúzia bem medida de nativos já estavam prontos, de malas aviadas e “arranjadinhos” para a “excursão”.
 
Enquanto eles subiam para as caixas das Mercedes, nós saltávamos para o chão porque, a partir dali, íamos entrar na floresta a caminho da Serra do Mapé.
 
A “estrada” não era mais do que trilhos formados pelo passar daquelas já cansadas viaturas que as gastas rodas faziam pelo mato dentro rasgando uma linha que se ia desviando ao sabor das corpulentas árvores tão velhas como a floresta que atravessava.
 
À frente iam os batedores.
Cerca de dez de cada lado do rodado por onde passariam as rodas das viaturas.
A distribuição destes militares era feita intervaladamente e revezando-se: cinco preparados com a sua respectiva arma para o que desse e viesse e os outros cinco iam picando constantemente a terra com uma cana de bambu que tinha um prego enorme na ponta, a que chamavam “detector de minas” que, conforme o nome indica, tinha como intenção o detectar das minas que estivessem colocadas no dito rodado.
 
Eram trinta e tal longos quilómetros que tínhamos de palmilhar até Macomia!.
A vegetação era inconstante: ora espessa e de uma densidade assustadora não permitindo enxergar meio metro para os lados.
Ora aberta e de arvoredo espaçado dando-nos uma confortável sensação de segurança quanto a possíveis emboscadas.
 
De minuto em minuto, de passo em passo, umas vezes apressados, outras nem tanto, consoante as exigências do terreno, fomos progredindo atravessando o pé da Serra, subindo-a, “largando”, de quando em quando, granadas de morteiro, como que a “varrer” os locais periféricos da nossa passagem, até atingirmos o cume.
 
Sem descanso e com todos os sentidos a funcionar em pleno, avistámos as machambas de Macomia, cerca do meio-dia.
 
Do aquartelamento de Macomia até às machambas onde nos encontrávamos, já um grupo de combate daquele quartel tinha batido a zona e então, com mais segurança, poderíamos montar nas Mercedes e dirigir-mo-nos ao quartel, dando um pouco de descanso as pernas já um pouco desejosas de parar.
 
Num instante chegámos a Macomia.
Vila onde se situava a sede do Batalhão ao qual a nossa Companhia pertencia.
 
Para além do quartel (quartel mesmo! com casernas e tudo), Macomia já tinha umas quantas casas de habitação, cujas, poderiam ter mesmo esse nome.
Já havia uma, mas só uma, estrada de alcatrão.
Esta vinha de Porto Amélia, com passagem por Macomia.
 
Estrada nada amigável para ser utilizada por viaturas civis sem se fazerem acompanhar pelas Panhard do exercito e em coluna não estando, mesmo assim, livres de irem pelos ares arremessadas por minas não detectadas que, mesmo por baixo do alcatrão, eram colocadas pelos guerrilheiros que esburacavam nos laterais do asfalto depositando-as na distancia prevista onde passaria o rodado das viaturas.
 
Também existiam duas casas comerciais onde se podia comer um bife com batatas fritas e beber uma bela cerveja fresca o que, para nós, vindos do fim do mato, atravessando um autentico oceano de arvoredo, era um hotel de cinco estrelas!
Que luxo!!.
 
Este quartel já tinha traços metropolitanos e de forma idêntica aos diversos quartéis espalhados por Portugal Continental.
 
Não tinha nada em comum, no aspecto arquitectónico, com aquilo que tínhamos em Mataca.
Um quartel murado com muros de tijolo e cimento, chão totalmente alcatroado, não com simples arame farpado como na Mataca e dum chão de terra batida esvoaçando poeira mal havia uma leve brisa de vento.
Recheado dumas quantas casernas também feitas de material que consiste numa casa normal, com telhados de telha de barro, janelas para arejar e dar luz solar e chão de mosaico.
 
Não num buraco feito na terra, com folhas de zinco como telhado, sem uma única janela ou quaisquer arejamento para além das portas mal amanhadas que arrastavam e esburacavam o chão feito do mesmo material que o restante estacionamento, como as nossas “casernas” da Mataca.
 
Que me perdoem, esta minha invejosa definição e comparação, os camaradas que sofreram naquela terra onde a guerra também estava visível a olho nu e que, tal como nós, estavam bem longe dos seus.
 
Felizmente para eles que tinham, pelo menos, o mínimo de condições de sobrevivência e que, não os aliviando da malfadada sorte de terem sido espoliados da sua juventude, os ajudava a desanuviar um pouco mais a dor que nos perseguia constantemente e que instintivamente nos íamos defendendo, cada um à sua maneira e com as armas que individualmente tínhamos no pensamento.
 
Estivemos dois dias estacionados, onde até deu, pelo menos para mim que não posso ver uma bola aos saltos, seja de que modalidade for, disputar uns quantos jogos de voleibol.
 
Sim! Aquele quartel até tinha campo de voleibol alcatroado e delineado!
Claro que nada disto os afastava dos perigos constantes e comuns a todos nós.
Apenas os aliviava um pouco a tensão tal como as nossas “jogatanas” de futebol na Mataca.
Mas como o nosso lugar não era aquele, após termos o nosso carregamento prontinho para regressar, fizemos-nos à “estrada!”...
 
Já tínhamos talvez perto de três horas percorridas e já estava ultrapassada a descida da serra quando, de repente, fomos surpreendidos pelo som estridente dos tiros que vinham da frente da formação. Estávamos no meio de uma emboscada.
 
Quase de imediato, como se fosse automático, os nossos homens que se encontravam na zona efectiva da emboscada, ripostaram com bastante fogo de rajada.
Conheci então, pela primeira vez, a guerra psicológica:
— Comandos a esquerda! G.E. à direita!
Gritava o furriel M…… de alto e bom som, fazendo jus a sua boa voz de comando enquanto todo o pessoal já estava, apesar da surpresa inicial, ordeira e estrategicamente deitados no chão da picada com as armas apontadas para os dois lados do denso mato e prontas para a defesa.
 
Comandos e Grupos Especiais, como o M…… queria que houvesse, isso é que não vi nem poderia ver a não ser em pensamento ou nalguma visão de filme de guerra!
 
As únicas forças existentes eram os primeiro e quarto grupo de combate e mais a tal dúzia de nativos que regressavam connosco para Mataca que, não ajudando em nada nestas ocasiões, atrapalhavam ainda mais!
Conforme sorrateira e inesperadamente fazem a emboscada, também e com ainda maior rapidez desaparecem sem deixar rasto da sua presença.
Assim funciona a guerra de guerrilha feita pelos guerrilheiros da Frelimo.
 
Entre gritos, tiros, explosões de granadas por nós atiradas, e de insultos ao inimigo nada nos aconteceu para além do enorme susto e o acelerar das batidas do coração.
Foi muito maior o nosso fogo de resposta à emboscada do que aquele efectivado pelo IN.
Este disparou alguns tiros e fugiu.
Aliás, e felizmente para nós, como era habitual nos guerrilheiros da Frelimo!
 
Pela forma do ataque, ficamos convictos que não tinha sido uma emboscada premeditada mas sim e apenas um encontro ocasional, uma passagem simultânea no mesmo local aproveitada pelos guerrilheiros, visto que, a grande distancia, já se ouvia o roncar fastidioso e melancólico dos motores das nossas viaturas.
 
O tiroteio também não durou muito tempo, e depois de fazermos uma busca rápida a zona circundante no interior do mato, prosseguimos com a coluna até a Mataca sem que mais problemas tenham surgido.
 
Nestes momentos, passados os sustos, é que nos vem à memoria como eram bons os tempos em que, nas diversas paradas dos quartéis da Metrópole, quando em formatura se ordenava: — quem sabe andar de bicicleta saia da formação.
 
Estratégia de que todos conheciam a razão, mas que sempre fazia alguns “cair”, espelhando orgulho nos seus rostos como se saber andar de bicicleta fosse uma questão de grande orgulho nacional: —Então apresentem-se na cozinha que há muita batata para descascar”.
Surgia de imediato o prémio!
Após este susto, e com surpresa geral, estivemos novamente “parados” no nosso canto, mais de quinze dias.
 
Foi neste espaço de tempo que saíram duas promoções:
Sem alaridos, sem pompa nem discursos de ocasião e muito menos com paradas militares.
Apenas em comunicado oficial e lido, já não sei bem por quem, duma forma simples como quem lê uma noticia no jornal sem quaisquer importância:
— O alferes S…… passa a capitão miliciano e o furriel L…. promovido a alferes miliciano.
A única situação alterada, e apenas para o L…., foi a mudança de “aposentos” instalando-se na messe dos oficiais.
 

domingo, 15 de maio de 2016

Histórias do Chai X (1972/1974), por Livre Pensador



Em Janeiro de 1973 entregou-se na Ccav.3508 um nativo que afirmou ser um elemento da população apoiante da Frelimo, na base com o nome de "Distrito Mucojo", localizada precisamente entre o Chai e o Mucojo.
 
O homem disse que foi espancado por elementos da Frelimo e por isso, resolveu entregar-se no Chai ás nossas tropas.

 
 
Com base nas informações dadas por esse elemento e usando-o como guia, foi planeada uma operação com o 1º. e 3º. grupos de combate da nossa companhia destinada a realizar um assalto, não á base "Distrito Mucojo", mas sim a um posto avançado dessa base onde permaneciam habitualmente vários guerrilheiros da Frelimo.
 
E assim saímos do Chai ao clarear do dia 13 de Fevereiro de 1973.


 
Caminhámos durante todo o dia, efetuando algumas pequenas paragens para descansar, pois o arsenal bélico que transportámos composto por "bazooka", morteiros 60, granadas, HK-21, etc...etc, muito contribuía para a fadiga.
 
Quando a noite começou a chegar parámos para comer e "passar pelas brasas" (como se costuma dizer), pois estava previsto que a aproximação ao objetivo fosse feita durante a noite.
 
Nesse momento planeou-se que o assalto seria executado pelo 3º. grupo de combate (do alferes Briote) reforçado por mim (do 1º. grupo) por ser portador da metralhadora HK-21 e por um 1º. cabo (também do meu grupo) por ser o homem da "bazooka".
 
Os restantes camaradas do 1º. pelotão estariam á retaguarda a dar o apoio necessário nomeadamente com fogo de morteiro 60.
 
Cerca da meia-noite retomámos a caminhada.
 
Não se via "a ponta dum corno".
 
A progressão era feita com uma das mãos a tocar no camarada da frente e debaixo dum "silêncio de morte", pois não queríamos ser detetados na aproximação ao objetivo.
 
A hora de começar a clarear estava para breve quando o guia nos mandou parar e nos fez posicionar mais ou menos em semi-circulo informando (por gestos) que estávamos no local.
Porém, continuávamos a não ver rigorosamente nada, a não ser as árvores que estivessem quase coladas aos nossos olhos.
 
Assim que surgem os primeiros raios de alguma pouca claridade surge uma informação dos camaradas de trás: "APANHÁMOS UM TURRA ARMADO".
 
É precisamente nesse momento que ao chamado grupo de assalto se vislumbra um grupo de palhotas dispostas em semi-circulo onde era possível ver os guerrilheiros da Frelimo ainda a dormir nas suas esteiras.
 
Em resumo, tínhamos entrado naquele posto avançado com um silêncio tal que ninguém acordou.
 
Estava previsto começar o ataque com um disparo de "bazooka" para assim atingir a maior quantidade de palhotas possível, mas o gatilho da bazooka só fazia "click" e nada de disparo.
 
Estou deitado no chão com o alferes Briote ao meu lado esquerdo, que me diz para iniciar o ataque com a minha HK-21, logo seguido de tudo quanto era G3.
 
Vemos perfeitamente através das palhotas que há guerrilheiros que não têm tempo de se levantar das esteiras.


 
Um deles consegue sair e disparar uma rajada que se crava a, no máximo, um palmo ou dois da minha cabeça e do Briote, pois ficámos por alguns segundos sem ver nada por causa da poeira levantada pela rajada ao cravar-se no chão, e conseguiu fugir sem ser atingido, pensamos nós.
 
Enquanto alguns camaradas lançam fogo ás palhotas existentes, eu e três soldados montámos segurança a um trilho de acesso aquele local.
 
Daí surge um guerrilheiro armado.
No confronto "cara a cara" entre a minha HK-21 e a sua "Simonov", esta não teve qualquer hipótese.
 
Depois de destruídas as 15 palhotas, capturados diversos documentos, várias munições, abatidos 10 guerrilheiros, capturada 1 "Simonov" e 1 guerrilheiro armado com "Kalashnikov", imediatamente demos "corda ás botas" e abandonámos o local.
 
Quando atingimos uma zona mais segura foi o momento de reunir e fazer um breve balanço da operação.
 
Foi nessa altura que os militares que integraram o grupo de assalto ficaram a saber que o grupo da retaguarda capturou o guerrilheiro armado com "Kalash" quando se aproximou para urinar sem se aperceber da nossa presença.
 
Quando apontou a sua "arma" para urinar, foram-lhe encostadas duas G3 e ele só teve tempo de pôr as mãos no ar.
 
Após essa paragem, só parámos no Chai.
Como foi bom voltar a "casa" e sem um arranhão em todos nós!
 
Armando Guterres Esta não fez parte da minha guerra.

 
Armando Guterres Gostei da descrição.

 
José Lopes Vicente Um pequeno reparo amigo Ribeiro à tua correta descrição dos factos.
O 4°pelotão também participou pois lembro-me de ter ficado na retaguarda a dar apoio, assim como de ter sido informado antes do assalto de sido capturado o turra.

 
Livre Pensador Olá Vicente.
Devo dizer com toda a sinceridade que não me lembro do 4º. pelotão ter participado nessa operação e por isso tenho de te pedir desculpa pelo meu lapso de memória.
Abraço.

 
Jose Capitao Pardal Eu sei que nesse dia fiquei com o 2º pelotão no Chai.
E lembro-me da vossa descrição.
 
Rui Briote Li e revi um dos piores momentos por que passámos, mas logo com mais calma acrescentarei ao teu bom relato alguns pormenores...abraço

 
José Guedes Mais um texto bem escrito e assim vamos ficando a saber certas coisas que mesmo lá não tinha-mos conhecimento,  pelo menos nesta operação embora perigosa nada aconteceu aos nossos amigos,  mas nem sempre aconteceu assim, em operações ou em picadas muito sofrimento por lá se passou, felizes de nós que ainda cá estamos para as poder contar, os que já partiram que estejam em paz,....
 
 
Rui Briote Se me permites Livre Pensador, aliás Ribeiro, vou acrescentar mais algumas lembranças que tenho dessa operação.
O capitão Rocha era o manda chuva que comandou essa mesma operação.
 
Quando chegámos ao local a primeira coisa que fizemos foi montar emboscadas em vários trilhos. Comigo aconteceu algo de engraçado, pois estava eu na " zona de fogo" vi a aproximar-se uma linda rapariga.
Quando chegou à minha frente fiz-lhe " Psiu psiu" e ela mal ouviu o meu chamamento deu às canetas e foi-se.
Fui muito gozado pelos meus soldados.
Não tive coragem de lhe atirar e nem pensei em "saltar-lhe" para cima.
 
Foi esse momento que despoletou o início da operação.
Eu, tu e o Rocha avançámos com muito cuidado e, conforme tu dizes, apanhámos os "turras" a dormir a sono solto.
Nessa parte foi só atirar e ainda me lembro (desculpai o pormenor) de estar um " turra" agonizante e do Rocha me dizer -"Briote acabe com ele".
A essa ordem dei-te um toque e tu Ribeiro fizeste-o em meu lugar.
 
Foi a partir daí que mais à frente deparámos com muita resistência onde fomos obrigados a enfiar a cabeça terra adentro perante tanto fogacho.
 
Começou aí a nossa debandada, pois os morteiros deles a isso nos obrigaram.
Protegidos pelos aviões chegamos sãos e salvos ao nosso "querido" quartel.
 
 
Gilberto Pereira Tantos assaltos a bases, tantas capturas, tantos aldeamentos destruídos, tantos turras mortos e no final viemos com o rabinho entre as pernas, para além de termos ficado desarmados e á mercê do destino; nunca percebi bem toda esta brincadeira.
 
 
Paulo Lopes Continua amigo Livre Pensador (Ribeiro).
E também é bom ter o apoio dos restantes para acrescentarem e até retificarem as memórias.
Como já tenho dito aos meus botões: se tivesse encontrado este pessoal antes de me ter dedicado a escrever as minhas memórias, outro galo cantaria!
Abraço meu amigo.

 
Jose Capitao Pardal Gilberto Pereira nós, os da 3508 - Chai, estivemos na guerra... apesar de contrariados...
 
 
Rui Briote O que escrevemos é o relato pelo que passamos e isso não é para nos vangloriarmo-nos ...
 
 
Jose Capitao Pardal Lembro-me agora que esse guerrilheiro que vocês trouxeram para o Chai ficou temporariamente na "prisão", depois foi levado pela PIDE/DGS, que o interrogou, tendo alguns dias depois regressado com uma Companhia de Comandos (penso que era uma das de Moçambique)...
 
Pretensamente, pretendiam que servisse de guia a essa Companhia de Comandos e lá saiu com eles em direção à base da Frelimo "Distrito de Mucojo", mas o que é certo é que não regressou e os Comandos não chegaram a encontrar a referida base...
 
A verdade oficial da Companhia de Comandos foi que pela densidade da arborização ele lhes tinha fugido...
 
Mas o que foi referido por alguns elementos dessa Companhia foi que ao fim de algum tempo concluíram que andavam às voltas tendo passado mais que uma vez pelo mesmo local, sem qualquer aproximação à base e...
Escusado será dizer aqui o que sucedeu...
Isto pela voz de alguns dos elementos dessa companhia...

 
Livre Pensador Pardal, os elementos da companhia de comandos mandaram o guia fugir e ... não digo o que fizeram.
 
 
Rui Briote Correto Amigo Jose Capitao Pardal
 
 
Armando Guterres Tentei passar o tempo o melhor possível e isso obrigava-me a não cumprir as ordens e fazer para que os comandos o soubessem ... de tal modo que não pudessem tomar partido desse mesmo conhecimento.
Não foi por acaso que fui um dos que não foi à missa campal no IAO.

 
 
José Lopes Vicente Factos são factos.
Aos operacionais perante as situações tinham de tomar decisões.
Tenho orgulho de escrever que apesar de apanhados do clima nunca atuámos como tal perante a população ou com o IN.

Gilberto Pereira Eu sei que mimavam o IN.
 
 
Rui Briote Certas decisões eram muito difíceis de tomar, mas alguém tinha que decidir umas vezes bem outras mal.
As decisões que tomei foram sempre a pensar na nossa pele....
 
 
Livre Pensador Como de resto todos assim fizemos.
Primeiro nós e depois ... a "guerra dos outros".

 
Rui Briote Nunca mais me esqueci duma operação que me mandaram fazer lá para os lados da base Mucojo.
Fui só com o meu pelotão e quando cheguei àquele riacho com águas turvas passei os dias a dizer para o comando que não conseguia passar.
Regressei e passados oito dias houve um pelotão mais um grupo de GEs que foram e passaram logo no primeiro dia...Fiquei pior que estragado...
 
 
Livre Pensador Era, se bem me lembro, o rio Licueledo.
 
 
Rui Briote Correto
 
 
Paulo Lopes Missa?? Qual missa, Armando Guterres?
Por azar ou sorte (para não passar vergonhas) quando o padre foi dar missa à Mataca, o nosso grupo saiu para mais uma das muitas operações.
Coitado do padre que ainda estava na Mataca quando regressamos da dita!
Teve que comer macaco à caçadora!

 
Gilberto Pereira REFLEXÃO----------- DE TUDO O QUE APRENDI NOS MANUAIS TUDO FOI FEITO AO CONTRÁRIO.

 
Armando Guterres Eu tinha ido para Pemba e safei-me da operação e infelizmente - também do coelho, aliás macaco.
 
 
Gilberto Pereira Devias ter cunha para te baldares tanto.

 
Armando Guterres A cunha principal - era quem lhe ia contar tudo - e ELES ficavam à espera de ouvir de outrem o mesmo.
 
 
Paulo Lopes Amigo Gilberto Pereira: eu tentei fazer tudo ao contrário dos manuais escritos por generais do tempo dos Afonsinhos os quais, esses generais e outros tais, nunca puseram os pés nas matas por onde palmilhamos kms.
E, principalmente, sempre que possível, contraria as ordens desse bêbado "majorseco" de botas à cavaleiro e bengalim nas mãos sempre ávido de medalhas à custa dos "desgraçados", que só me dava sempre uma enorme vontade de lhe enfiar esse adereço pelo rabo a cima!
 
 
Livre Pensador Não valia a pena enfiares o pingalim porque era fino de mais!

 
Paulo Lopes E ele era capaz de gostar!!! 
 
 
Gilberto Pereira E porque fizeste tudo ao contrário, lá se foi a guerra ao ar, Paulo Lopes.
 
 
Paulo Lopes Olha que chatice amigo!
Pena tenho foi de não irem pelos ares todos esses gabirus de estrelas e montes de riscos dourados! Isso é que eu tenho pena de...
E mais pena ainda tenho de ter lá ido parar com os costados.
Poderá ser que tivesse sido muito bom para alguns mesmo dos "pequeninos" mas isso é lá com eles. Para mim, foram anos perdidos.
Os de lá e os que passei cá de quartel em quartel!
 
 
Gilberto Pereira Oh amigo se não fosse a guerra nunca tinhas conhecido o Continente Africano ficavas-te aí pelo Continente da zona.
 
 
Livre Pensador E mesmo assim ainda teria de esperar uns anos para conhecer o ... Continente!!!
 
 
Paulo Lopes Mas quem é que disse que eu queria conhecer esse continente???
Há tanta coisa boa para ver, logo fui obrigado a conhecer esse!
Eu gosto de ir onde eu quero ir, não é onde os outros acham que devo ir!
 
Jose Capitao Pardal Caros amigos, apesar dos constrangimentos duma guerra que, à maior parte, nos era alheia, quando confrontados com ela tínhamos que fazer tudo para salvar a pele e perante determinadas ordens não tínhamos muitas opções...
 
Lembro-vos que um mês depois fui eu e outros camaradas de armas os atingidos...
 
Foi creio eu a 13 de Março de 1973, que fui gravemente ferido, com mais 3 e onde morreram 3 dos nossos e 5 ou 6 crianças inocentes de 5/6 anos, que nada tinham a ver com aquela guerra...
 
Lembro que à mesma hora deste dia morreu mais um dos nossos, a caminho do rio Messalo, onde ía o pelotão, creio que do José Lopes Vicente...
 
Pagámos nesse dia o que tínhamos feito um mês antes... Naquela guerra era assim... Tirando as grandes operações de ambos os lados, quanto mais se mexia no vespeiro, mais as "vespas" mordiam... Mas o nosso espaço de manobra era muito limitado, principalmente nas operações a nível de companhia, com objetivo determinado e numa zona onde o contacto com o IN era frequente, nomeadamente, a partir do 3º trimestre do ano de 1972.
 
 
Livre Pensador Pardal, a mina de que foste vitima foi a 21 de Março de 1973.
 
Para além dos 3 camaradas mortos nessa mina (o cabo condutor Paulino, o atirador Constantino e outro atirador de que não me recordo o nome) tivemos ainda um morto (o transmissões Salvado) na emboscada da coluna para o rio Messalo.
 
Desde sempre acreditei que essa ação concertada da Frelimo (emboscada e mina) foi uma retaliação ao ataque que lhes fizemos em Fevereiro e que acabei de descrever aqui.
Abraço.
 
 
Jose Capitao Pardal É isso, o outro atirador chamava-se salvo erro Monteiro e era do recrutamento de Moçambique, um abraço.
Eram da seção do Belo, que estava desenfiado, aliás ferido por uma queda da Berliet, em Nampula e eu e o Carvalho é que alinhávamos.
 
 
Armando Guterres Pois ... por cá, fora o curso de buracos e alçapões em Tancos ... dado por alf e fur mui porreiros.
No último dia, por muito pouco, a linha da CP não teve uns pedregulhos a atrapalhar o trânsito.
O material que tinha sobrado foi ao ar de uma vez só.
De resto andei a pastar a vaca, sem responsabilidades permanentes até chegar à Mataca.