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domingo, 5 de junho de 2016

FALO DO QUE SEI OU PENSO QUE ME LEMBRO, por Duarte Pereira

Duarte Pereira
 
PARA OS MAIS NOVOS NA PÁGINA,
AS COMADRES ATIRAM-ME CONSTANTEMENTE ABAIXO, MAS QUERO DEFENDER A MINHA HONRA.

FALO DO QUE SEI, OU PENSO QUE ME LEMBRO.

A 3509 FOI FAZER A PROTEÇÃO A UMA ESTRADA QUE CONDUZIA DE MACOMIA AO MUCOJO.

OS "VELHINHOS" DIZIAM QUE A ESTRADA (PICADA) ERA PERIGOSA.

ERA ESTREITA E COM CAPIM QUASE A BEIJAR AS VIATURAS.

OS MACACOS QUE POR LÁ ANDAVAM. ERA SÓ ESTICAR OS BRAÇOS PARA NOS APERTAREM OS PESCOÇOS.

NA ALTURA TÍNHAMOS A MG-42 NA BERLIET.
RECONHECIMENTO, MONTES DE DISPAROS A CORTAR O CAPIM, DAVA UMA FALSA SENSAÇÃO DE SEGURANÇA.

A ESTRADA IA AVANÇANDO PROPORCIONANDO AS EMBOSCADAS.

EM 13 DE JULHO DE 1972 ESTÁVAMOS DE CERTEZA NO ALDEAMENTO DE NAMBINE. LEVARAM-ME PARA DORMIR EM COMA ALCOÓLICO PARA MACOMIA (NESSA NOITE EM MACOMIA HOUVE PORCARIA).

JÁ EM 1973 COMPETIA-ME A ORGANIZAÇÃO DE ALGUMAS COLUNAS.

O TERRENO MAIS ALARGADO ESTAVA MAIS PROPÍCIO A EMBOSCADAS ÓPTIMO PARA O "TIRO AOS PATOS".

MINHA ESTRATÉGIA.
OS UNIMOGS EM VEZ DE LEVAREM MILITARES AGUERRIDOS COM AS SUAS G-3 EM POSIÇÃO AMEAÇADORA, LEVAVAM INTERCALADOS, "MOÇOILAS " ENTRE ELES.

OS "TURRAS" TAMBÉM TERIAM FILHAS.

GRAÇAS A DEUS TUDO CORREU BEM PARA MIM E NOS PELOTÕES POR ONDE PASSEI,

O 3º PELOTÃO EM 1973 DEIXOU DE TER EMBOSCADAS.
TINHA TIDO PROBLEMAS EM 1972.
POR ONDE ANDEI NUNCA REBENTOU NENHUMA MINA.
ALGUMAS FORAM DETETADAS E REBENTADAS.
PRÉMIOS DE LEVANTAMENTO ?? COMIGO NÃO.

sexta-feira, 20 de maio de 2016

Histórias do Chai XI (1972/1974), por Livre Pensador





21 de Março de 1973 foi, sem qualquer dúvida, o dia mais negro da comissão da Ccav. 3508 em terras moçambicanas.

 

Como habitualmente, pelas 6,30 h da manhã, parte em direção ao rio Messalo a coluna de reabastecimento de água, tarefa que nesse dia era desempenhada pelo 4º. grupo de combate.

 
 
É uma missão sempre perigosa que, por ser rotineira, se torna um alvo apetecível para a Frelimo.

 
 
Creio que estariam percorridos cerca de 8 dos 10 km que separam o Chai do rio Messalo quando é desencadeada uma emboscada contra as nossas tropas.
 
No quartel o tiroteio é perfeitamente audível e de imediato sai uma coluna com um pelotão (não me recordo qual) para dar apoio aos camaradas emboscados.
 
Nesse dia a escala de serviço determinava que o 2º. pelotão estava encarregue da segurança do quartel: postos de sentinela e piquete de emergência.

Nas funções do piquete, a realizar ao princípio do dia, constava a picagem da pista de aterragem e a apanha de lenha para a cozinha, tarefa que o furriel Pardal com a sua secção, iniciou no único Unimog (o único sem blindagem) que restou no quartel.


 
Entretanto, via rádio chegam notícias pouco animadoras da emboscada.
 
Havia um ferido muito grave (o soldado de transmissões Salvado) com um tiro na zona do peito e 4 feridos ligeiros.
Entre os nativos (que aproveitavam a coluna para ir lavar a roupa ao Messalo) estava já morta a "Luísa maconde", que era assim como "garota de programa" das NT e porque era conhecida.
 
Ainda estávamos a tentar reagir ás noticias tristes da emboscada quando se ouve uma forte explosão na picada Chai - Macomia.

Queríamos fazer chegar alguém a esse local para ver o que teria acontecido.
Nesse momento quase não havia operacionais disponíveis e, para complicar ainda mais, não tínhamos viaturas, a não ser o jeep do comando.
 
Alguns minutos depois chega ao quartel, todo ensanguentado e a cambalear, o cabo Brotas.
Ele informa que o piquete tinha sido vitima duma mina anticarro e havia feridos muito graves.
 
Nesse momento, quatro ou cinco militares armados dirigem-se no jeep do comando para o local.
A cerca de 500 metros do arame farpado do aldeamento, enfrentam um cenário de horror com feridos graves espalhados pelo chão.

 
 
Os militares socorristas ficam a montar segurança no local, enquanto o jeep vai trazendo para o quartel um ou dois feridos em cada viagem.
 
Os feridos amontoam-se na enfermaria onde o furriel Gardete e outro enfermeiro (naquela semana não havia médico) tentam fazer os impossíveis.

 
 
Presto a minha justa homenagem a esses dois homens, que muito contribuíram para que o resultado não fosse pior do que aquele que foi.
 
Eu (que estava no quartel com paludismo) e alguns camaradas tentávamos acudir aos feridos menos graves, da forma que podíamos e sabíamos.
 
Em resultado da mina faleceram 3 militares: o cabo condutor Paulino, o atirador Constantino e outro atirador que não recordo o nome (Monteiro).
 
Houve ainda 4 feridos graves (um deles o Pardal) e 3 feridos ligeiros.


 
Na emboscada para o Messalo acabou por falecer o transmissões Salvado.
 
Contou o furriel Gaspar que o Salvado já em agonia ainda lhe disse: "FURRIEL, POR FAVOR, DÊ-ME UM TIRO NA CABEÇA PORQUE EU SEI QUE VOU MORRER".
Alguém seria capaz disso?
 
Entretanto, o soldado Brotas que ferido na mina, conseguiu chegar ao quartel, lamentou-se que ao chegar á entrada do aldeamento pediu ao milícia aí de sentinela para ir avisar o quartel, o que ele recusou.
 
Achámos essa atitude estranha e disso informámos o agente da PIDE/DGS do Chai.
Foi interrogado.
 
Conclusão: as duas minas (já falo da outra) foram colocadas pelos guerrilheiros da Frelimo com a ajuda de 3 "pretos" do aldeamento e o milícia tinha conhecimento disso.
Um bom exemplo da população que nos rodeava!!!!
O agente da PIDE/DGS prendeu os 4 até vir um avião buscá-los no dia seguinte.
 
Pedimos ao agente para autorizar que os levássemos ao quartel durante 1 hora, mas ele não concordou.
Decerto que se evitava a despesa duma viagem de avião!!!


 
Ainda na tarde desse dia e apesar da dose de paludismo com que estava, fui rebentar uma outra mina anticarro que estava colocada cerca de 200 metros após aquela que foi acionada pelo Unimog.


 
Com esta ação e na minha opinião, a Frelimo quis vingar-se do ataque que no mês anterior tínhamos feito á sua base "Distrito Mucojo".
21 DE MARÇO DE 1973.
DIA DE LUTO PARA A CCAV. 3508.
QUATRO MORTOS, QUATRO FERIDOS GRAVES E SETE FERIDOS LIGEIROS.
 
 
Fernando Bernardes O transmissões Salvado morreu nos meus braços.
Enquanto a vida dele se extinguia, não parou de dizer repetidamente: Ai que morro, ai que morro.
De volta dele, estava eu e o enfermeiro do pelotão da ponte.
Eu tb fiquei ferido de toda parte lateral esquerda do corpo.
Quando cheguei junto dele, estava deitado de costas e de cabeça voltada para o mato na beira da picada.
O orifício no peito, na zona do mamilo, por onde entrou a bala, já não saía sangue nenhum.
Eu tinha uma ótima amizade com o Salvado.
Convivemos muito os dois.
Segundo ele próprio me disse tinha o problema qualquer no coração.
Coração dilatado.
 
 
Livre Pensador Quero pedir desculpa por ter dado "dois pontapés na gramática" no texto que escrevi. Onde se lê "quando se HOUVE uma forte explosão" deve ler-se "quando se OUVE uma forte explosão" e onde se lê "todo ENSAGUENTADO" deve ler-se "todo ENSANGUENTADO". Obrigado.
 
 
Rui Briote Quando estes casos fatídicos aconteceram encontrava- me de serviço.
Quando da emboscada dizia-se logo que o Salvado tinha falecido.
 
Quando do rebentamento da mina e com a chegada do Brotas juntei meia dúzia de "aramistas" fomos ao local do sucedido.
Chegados lá, ficámos horrorizados com o que vimos.
Quatro camaradas muito feridos, crianças estropiadas...o clima era muito pesado e as lágrimas começaram a escorrer pelos nossos rostos.
De imediato, levámos os feridos para a enfermaria.
 
O Gardete e enfermeiros foram incansáveis procurando minimizar o sofrimento dos feridos.
Três foram logo, que foi possível, evacuados.
O Constantino, ferido na "femural", rapidamente veio a falecer.
 
 
José Guedes Devia ser um dia para esquecer, mas a memória não consegue esquecer, tudo marca esses momentos e com tantos problemas ao mesmo tempo com baixas e feridos todo o pessoal era pouco para aquela situação.
 
A gente confiava na tropa negra que estava do nosso lado e afinal também jogavam dos dois lados e com certeza nem sabemos nada da missa a metade, muitas das coisas se calhar eles sabiam que iriam acontecer, nem os da cor deles conseguiam proteger quando sabiam que muitos deles nos acompanhavam nas colunas,..
Infelizmente tantas coisas se passaram de mal e nunca ninguém mais quis saber de quem tão mal passou durante aquele tempo que por lá andou,..
 
 
Armando Guterres Dos dois lados ... não escolhe cor.
Não esquecer que os oficiais dos dois lados estudaram nas mesmas faculdades.
Antes de ir para Moçambique conheci alguns.

 
 
José Lopes Vicente Seguia no rebenta minas quando se deu esta fatídica emboscada.
Quando rebentou disse para o condutor para acelerar e só parar na ponte do Messalo.
Ai foi apontar o morteiro 80 em direção da emboscada e disparar umas quantas granadas.
 
De regresso ao local da emboscada deparo com o Salvado já morto.
Um amigo aqui de S. Salvador e também os mortos civis e onde me informaram que também havia mortes no Chai.
 
 
Fernando José Alves Costa Ao lembrar os acontecimentos desta data, pergunto-me como é que aqueles que viveram toda esta tragédia comemoram o dia de hoje?
Com alegria por estarem vivos?
Ou tristeza pelos amigos que viram as suas vidas interrompidas tão precocemente?
 
 
Jose Capitao Pardal Não me lembrava da data (faz anos hoje), mas depois de ler o texto do Ribeiro e chorar convulsamente, só consegui dizer: PUTA DE VIDA AQUELA,...
 
 
 O  José Capitão Pardal escreve o primeiro aerograma após 3 intervenções cirúrgicas...

domingo, 15 de maio de 2016

Histórias do Chai X (1972/1974), por Livre Pensador



Em Janeiro de 1973 entregou-se na Ccav.3508 um nativo que afirmou ser um elemento da população apoiante da Frelimo, na base com o nome de "Distrito Mucojo", localizada precisamente entre o Chai e o Mucojo.
 
O homem disse que foi espancado por elementos da Frelimo e por isso, resolveu entregar-se no Chai ás nossas tropas.

 
 
Com base nas informações dadas por esse elemento e usando-o como guia, foi planeada uma operação com o 1º. e 3º. grupos de combate da nossa companhia destinada a realizar um assalto, não á base "Distrito Mucojo", mas sim a um posto avançado dessa base onde permaneciam habitualmente vários guerrilheiros da Frelimo.
 
E assim saímos do Chai ao clarear do dia 13 de Fevereiro de 1973.


 
Caminhámos durante todo o dia, efetuando algumas pequenas paragens para descansar, pois o arsenal bélico que transportámos composto por "bazooka", morteiros 60, granadas, HK-21, etc...etc, muito contribuía para a fadiga.
 
Quando a noite começou a chegar parámos para comer e "passar pelas brasas" (como se costuma dizer), pois estava previsto que a aproximação ao objetivo fosse feita durante a noite.
 
Nesse momento planeou-se que o assalto seria executado pelo 3º. grupo de combate (do alferes Briote) reforçado por mim (do 1º. grupo) por ser portador da metralhadora HK-21 e por um 1º. cabo (também do meu grupo) por ser o homem da "bazooka".
 
Os restantes camaradas do 1º. pelotão estariam á retaguarda a dar o apoio necessário nomeadamente com fogo de morteiro 60.
 
Cerca da meia-noite retomámos a caminhada.
 
Não se via "a ponta dum corno".
 
A progressão era feita com uma das mãos a tocar no camarada da frente e debaixo dum "silêncio de morte", pois não queríamos ser detetados na aproximação ao objetivo.
 
A hora de começar a clarear estava para breve quando o guia nos mandou parar e nos fez posicionar mais ou menos em semi-circulo informando (por gestos) que estávamos no local.
Porém, continuávamos a não ver rigorosamente nada, a não ser as árvores que estivessem quase coladas aos nossos olhos.
 
Assim que surgem os primeiros raios de alguma pouca claridade surge uma informação dos camaradas de trás: "APANHÁMOS UM TURRA ARMADO".
 
É precisamente nesse momento que ao chamado grupo de assalto se vislumbra um grupo de palhotas dispostas em semi-circulo onde era possível ver os guerrilheiros da Frelimo ainda a dormir nas suas esteiras.
 
Em resumo, tínhamos entrado naquele posto avançado com um silêncio tal que ninguém acordou.
 
Estava previsto começar o ataque com um disparo de "bazooka" para assim atingir a maior quantidade de palhotas possível, mas o gatilho da bazooka só fazia "click" e nada de disparo.
 
Estou deitado no chão com o alferes Briote ao meu lado esquerdo, que me diz para iniciar o ataque com a minha HK-21, logo seguido de tudo quanto era G3.
 
Vemos perfeitamente através das palhotas que há guerrilheiros que não têm tempo de se levantar das esteiras.


 
Um deles consegue sair e disparar uma rajada que se crava a, no máximo, um palmo ou dois da minha cabeça e do Briote, pois ficámos por alguns segundos sem ver nada por causa da poeira levantada pela rajada ao cravar-se no chão, e conseguiu fugir sem ser atingido, pensamos nós.
 
Enquanto alguns camaradas lançam fogo ás palhotas existentes, eu e três soldados montámos segurança a um trilho de acesso aquele local.
 
Daí surge um guerrilheiro armado.
No confronto "cara a cara" entre a minha HK-21 e a sua "Simonov", esta não teve qualquer hipótese.
 
Depois de destruídas as 15 palhotas, capturados diversos documentos, várias munições, abatidos 10 guerrilheiros, capturada 1 "Simonov" e 1 guerrilheiro armado com "Kalashnikov", imediatamente demos "corda ás botas" e abandonámos o local.
 
Quando atingimos uma zona mais segura foi o momento de reunir e fazer um breve balanço da operação.
 
Foi nessa altura que os militares que integraram o grupo de assalto ficaram a saber que o grupo da retaguarda capturou o guerrilheiro armado com "Kalash" quando se aproximou para urinar sem se aperceber da nossa presença.
 
Quando apontou a sua "arma" para urinar, foram-lhe encostadas duas G3 e ele só teve tempo de pôr as mãos no ar.
 
Após essa paragem, só parámos no Chai.
Como foi bom voltar a "casa" e sem um arranhão em todos nós!
 
Armando Guterres Esta não fez parte da minha guerra.

 
Armando Guterres Gostei da descrição.

 
José Lopes Vicente Um pequeno reparo amigo Ribeiro à tua correta descrição dos factos.
O 4°pelotão também participou pois lembro-me de ter ficado na retaguarda a dar apoio, assim como de ter sido informado antes do assalto de sido capturado o turra.

 
Livre Pensador Olá Vicente.
Devo dizer com toda a sinceridade que não me lembro do 4º. pelotão ter participado nessa operação e por isso tenho de te pedir desculpa pelo meu lapso de memória.
Abraço.

 
Jose Capitao Pardal Eu sei que nesse dia fiquei com o 2º pelotão no Chai.
E lembro-me da vossa descrição.
 
Rui Briote Li e revi um dos piores momentos por que passámos, mas logo com mais calma acrescentarei ao teu bom relato alguns pormenores...abraço

 
José Guedes Mais um texto bem escrito e assim vamos ficando a saber certas coisas que mesmo lá não tinha-mos conhecimento,  pelo menos nesta operação embora perigosa nada aconteceu aos nossos amigos,  mas nem sempre aconteceu assim, em operações ou em picadas muito sofrimento por lá se passou, felizes de nós que ainda cá estamos para as poder contar, os que já partiram que estejam em paz,....
 
 
Rui Briote Se me permites Livre Pensador, aliás Ribeiro, vou acrescentar mais algumas lembranças que tenho dessa operação.
O capitão Rocha era o manda chuva que comandou essa mesma operação.
 
Quando chegámos ao local a primeira coisa que fizemos foi montar emboscadas em vários trilhos. Comigo aconteceu algo de engraçado, pois estava eu na " zona de fogo" vi a aproximar-se uma linda rapariga.
Quando chegou à minha frente fiz-lhe " Psiu psiu" e ela mal ouviu o meu chamamento deu às canetas e foi-se.
Fui muito gozado pelos meus soldados.
Não tive coragem de lhe atirar e nem pensei em "saltar-lhe" para cima.
 
Foi esse momento que despoletou o início da operação.
Eu, tu e o Rocha avançámos com muito cuidado e, conforme tu dizes, apanhámos os "turras" a dormir a sono solto.
Nessa parte foi só atirar e ainda me lembro (desculpai o pormenor) de estar um " turra" agonizante e do Rocha me dizer -"Briote acabe com ele".
A essa ordem dei-te um toque e tu Ribeiro fizeste-o em meu lugar.
 
Foi a partir daí que mais à frente deparámos com muita resistência onde fomos obrigados a enfiar a cabeça terra adentro perante tanto fogacho.
 
Começou aí a nossa debandada, pois os morteiros deles a isso nos obrigaram.
Protegidos pelos aviões chegamos sãos e salvos ao nosso "querido" quartel.
 
 
Gilberto Pereira Tantos assaltos a bases, tantas capturas, tantos aldeamentos destruídos, tantos turras mortos e no final viemos com o rabinho entre as pernas, para além de termos ficado desarmados e á mercê do destino; nunca percebi bem toda esta brincadeira.
 
 
Paulo Lopes Continua amigo Livre Pensador (Ribeiro).
E também é bom ter o apoio dos restantes para acrescentarem e até retificarem as memórias.
Como já tenho dito aos meus botões: se tivesse encontrado este pessoal antes de me ter dedicado a escrever as minhas memórias, outro galo cantaria!
Abraço meu amigo.

 
Jose Capitao Pardal Gilberto Pereira nós, os da 3508 - Chai, estivemos na guerra... apesar de contrariados...
 
 
Rui Briote O que escrevemos é o relato pelo que passamos e isso não é para nos vangloriarmo-nos ...
 
 
Jose Capitao Pardal Lembro-me agora que esse guerrilheiro que vocês trouxeram para o Chai ficou temporariamente na "prisão", depois foi levado pela PIDE/DGS, que o interrogou, tendo alguns dias depois regressado com uma Companhia de Comandos (penso que era uma das de Moçambique)...
 
Pretensamente, pretendiam que servisse de guia a essa Companhia de Comandos e lá saiu com eles em direção à base da Frelimo "Distrito de Mucojo", mas o que é certo é que não regressou e os Comandos não chegaram a encontrar a referida base...
 
A verdade oficial da Companhia de Comandos foi que pela densidade da arborização ele lhes tinha fugido...
 
Mas o que foi referido por alguns elementos dessa Companhia foi que ao fim de algum tempo concluíram que andavam às voltas tendo passado mais que uma vez pelo mesmo local, sem qualquer aproximação à base e...
Escusado será dizer aqui o que sucedeu...
Isto pela voz de alguns dos elementos dessa companhia...

 
Livre Pensador Pardal, os elementos da companhia de comandos mandaram o guia fugir e ... não digo o que fizeram.
 
 
Rui Briote Correto Amigo Jose Capitao Pardal
 
 
Armando Guterres Tentei passar o tempo o melhor possível e isso obrigava-me a não cumprir as ordens e fazer para que os comandos o soubessem ... de tal modo que não pudessem tomar partido desse mesmo conhecimento.
Não foi por acaso que fui um dos que não foi à missa campal no IAO.

 
 
José Lopes Vicente Factos são factos.
Aos operacionais perante as situações tinham de tomar decisões.
Tenho orgulho de escrever que apesar de apanhados do clima nunca atuámos como tal perante a população ou com o IN.

Gilberto Pereira Eu sei que mimavam o IN.
 
 
Rui Briote Certas decisões eram muito difíceis de tomar, mas alguém tinha que decidir umas vezes bem outras mal.
As decisões que tomei foram sempre a pensar na nossa pele....
 
 
Livre Pensador Como de resto todos assim fizemos.
Primeiro nós e depois ... a "guerra dos outros".

 
Rui Briote Nunca mais me esqueci duma operação que me mandaram fazer lá para os lados da base Mucojo.
Fui só com o meu pelotão e quando cheguei àquele riacho com águas turvas passei os dias a dizer para o comando que não conseguia passar.
Regressei e passados oito dias houve um pelotão mais um grupo de GEs que foram e passaram logo no primeiro dia...Fiquei pior que estragado...
 
 
Livre Pensador Era, se bem me lembro, o rio Licueledo.
 
 
Rui Briote Correto
 
 
Paulo Lopes Missa?? Qual missa, Armando Guterres?
Por azar ou sorte (para não passar vergonhas) quando o padre foi dar missa à Mataca, o nosso grupo saiu para mais uma das muitas operações.
Coitado do padre que ainda estava na Mataca quando regressamos da dita!
Teve que comer macaco à caçadora!

 
Gilberto Pereira REFLEXÃO----------- DE TUDO O QUE APRENDI NOS MANUAIS TUDO FOI FEITO AO CONTRÁRIO.

 
Armando Guterres Eu tinha ido para Pemba e safei-me da operação e infelizmente - também do coelho, aliás macaco.
 
 
Gilberto Pereira Devias ter cunha para te baldares tanto.

 
Armando Guterres A cunha principal - era quem lhe ia contar tudo - e ELES ficavam à espera de ouvir de outrem o mesmo.
 
 
Paulo Lopes Amigo Gilberto Pereira: eu tentei fazer tudo ao contrário dos manuais escritos por generais do tempo dos Afonsinhos os quais, esses generais e outros tais, nunca puseram os pés nas matas por onde palmilhamos kms.
E, principalmente, sempre que possível, contraria as ordens desse bêbado "majorseco" de botas à cavaleiro e bengalim nas mãos sempre ávido de medalhas à custa dos "desgraçados", que só me dava sempre uma enorme vontade de lhe enfiar esse adereço pelo rabo a cima!
 
 
Livre Pensador Não valia a pena enfiares o pingalim porque era fino de mais!

 
Paulo Lopes E ele era capaz de gostar!!! 
 
 
Gilberto Pereira E porque fizeste tudo ao contrário, lá se foi a guerra ao ar, Paulo Lopes.
 
 
Paulo Lopes Olha que chatice amigo!
Pena tenho foi de não irem pelos ares todos esses gabirus de estrelas e montes de riscos dourados! Isso é que eu tenho pena de...
E mais pena ainda tenho de ter lá ido parar com os costados.
Poderá ser que tivesse sido muito bom para alguns mesmo dos "pequeninos" mas isso é lá com eles. Para mim, foram anos perdidos.
Os de lá e os que passei cá de quartel em quartel!
 
 
Gilberto Pereira Oh amigo se não fosse a guerra nunca tinhas conhecido o Continente Africano ficavas-te aí pelo Continente da zona.
 
 
Livre Pensador E mesmo assim ainda teria de esperar uns anos para conhecer o ... Continente!!!
 
 
Paulo Lopes Mas quem é que disse que eu queria conhecer esse continente???
Há tanta coisa boa para ver, logo fui obrigado a conhecer esse!
Eu gosto de ir onde eu quero ir, não é onde os outros acham que devo ir!
 
Jose Capitao Pardal Caros amigos, apesar dos constrangimentos duma guerra que, à maior parte, nos era alheia, quando confrontados com ela tínhamos que fazer tudo para salvar a pele e perante determinadas ordens não tínhamos muitas opções...
 
Lembro-vos que um mês depois fui eu e outros camaradas de armas os atingidos...
 
Foi creio eu a 13 de Março de 1973, que fui gravemente ferido, com mais 3 e onde morreram 3 dos nossos e 5 ou 6 crianças inocentes de 5/6 anos, que nada tinham a ver com aquela guerra...
 
Lembro que à mesma hora deste dia morreu mais um dos nossos, a caminho do rio Messalo, onde ía o pelotão, creio que do José Lopes Vicente...
 
Pagámos nesse dia o que tínhamos feito um mês antes... Naquela guerra era assim... Tirando as grandes operações de ambos os lados, quanto mais se mexia no vespeiro, mais as "vespas" mordiam... Mas o nosso espaço de manobra era muito limitado, principalmente nas operações a nível de companhia, com objetivo determinado e numa zona onde o contacto com o IN era frequente, nomeadamente, a partir do 3º trimestre do ano de 1972.
 
 
Livre Pensador Pardal, a mina de que foste vitima foi a 21 de Março de 1973.
 
Para além dos 3 camaradas mortos nessa mina (o cabo condutor Paulino, o atirador Constantino e outro atirador de que não me recordo o nome) tivemos ainda um morto (o transmissões Salvado) na emboscada da coluna para o rio Messalo.
 
Desde sempre acreditei que essa ação concertada da Frelimo (emboscada e mina) foi uma retaliação ao ataque que lhes fizemos em Fevereiro e que acabei de descrever aqui.
Abraço.
 
 
Jose Capitao Pardal É isso, o outro atirador chamava-se salvo erro Monteiro e era do recrutamento de Moçambique, um abraço.
Eram da seção do Belo, que estava desenfiado, aliás ferido por uma queda da Berliet, em Nampula e eu e o Carvalho é que alinhávamos.
 
 
Armando Guterres Pois ... por cá, fora o curso de buracos e alçapões em Tancos ... dado por alf e fur mui porreiros.
No último dia, por muito pouco, a linha da CP não teve uns pedregulhos a atrapalhar o trânsito.
O material que tinha sobrado foi ao ar de uma vez só.
De resto andei a pastar a vaca, sem responsabilidades permanentes até chegar à Mataca.