21 de Março de 1973 foi, sem qualquer dúvida, o dia mais negro da comissão da Ccav. 3508 em terras moçambicanas.
Como habitualmente, pelas 6,30 h da manhã, parte em direção ao rio Messalo a coluna de reabastecimento de água, tarefa que nesse dia era desempenhada pelo 4º. grupo de combate.
Creio que estariam percorridos cerca de 8 dos 10 km que separam o Chai do rio Messalo quando é desencadeada uma emboscada contra as nossas tropas.
No quartel o tiroteio é perfeitamente audível e de imediato sai uma coluna com um pelotão (não me recordo qual) para dar apoio aos camaradas emboscados.
Nesse dia a escala de serviço determinava que o 2º. pelotão estava encarregue da segurança do quartel: postos de sentinela e piquete de emergência.
Nas funções do piquete, a realizar ao princípio do dia, constava a picagem da pista de aterragem e a apanha de lenha para a cozinha, tarefa que o furriel Pardal com a sua secção, iniciou no único Unimog (o único sem blindagem) que restou no quartel.
Nas funções do piquete, a realizar ao princípio do dia, constava a picagem da pista de aterragem e a apanha de lenha para a cozinha, tarefa que o furriel Pardal com a sua secção, iniciou no único Unimog (o único sem blindagem) que restou no quartel.
Entretanto, via rádio chegam notícias pouco animadoras da emboscada.
Havia um ferido muito grave (o soldado de transmissões Salvado) com um tiro na zona do peito e 4 feridos ligeiros.
Entre os nativos (que aproveitavam a coluna para ir lavar a roupa ao Messalo) estava já morta a "Luísa maconde", que era assim como "garota de programa" das NT e porque era conhecida.
Ainda estávamos a tentar reagir ás noticias tristes da emboscada quando se ouve uma forte explosão na picada Chai - Macomia.
Queríamos fazer chegar alguém a esse local para ver o que teria acontecido.
Queríamos fazer chegar alguém a esse local para ver o que teria acontecido.
Nesse momento quase não havia operacionais disponíveis e, para complicar ainda mais, não tínhamos viaturas, a não ser o jeep do comando.
Alguns minutos depois chega ao quartel, todo ensanguentado e a cambalear, o cabo Brotas.
Ele informa que o piquete tinha sido vitima duma mina anticarro e havia feridos muito graves.
Nesse momento, quatro ou cinco militares armados dirigem-se no jeep do comando para o local.
A cerca de 500 metros do arame farpado do aldeamento, enfrentam um cenário de horror com feridos graves espalhados pelo chão.
Os militares socorristas ficam a montar segurança no local, enquanto o jeep vai trazendo para o quartel um ou dois feridos em cada viagem.
Os feridos amontoam-se na enfermaria onde o furriel Gardete e outro enfermeiro (naquela semana não havia médico) tentam fazer os impossíveis.
Presto a minha justa homenagem a esses dois homens, que muito contribuíram para que o resultado não fosse pior do que aquele que foi.
Eu (que estava no quartel com paludismo) e alguns camaradas tentávamos acudir aos feridos menos graves, da forma que podíamos e sabíamos.
Em resultado da mina faleceram 3 militares: o cabo condutor Paulino, o atirador Constantino e outro atirador que não recordo o nome (Monteiro).
Na emboscada para o Messalo acabou por falecer o transmissões Salvado.
Contou o furriel Gaspar que o Salvado já em agonia ainda lhe disse: "FURRIEL, POR FAVOR, DÊ-ME UM TIRO NA CABEÇA PORQUE EU SEI QUE VOU MORRER".
Alguém seria capaz disso?
Entretanto, o soldado Brotas que ferido na mina, conseguiu chegar ao quartel, lamentou-se que ao chegar á entrada do aldeamento pediu ao milícia aí de sentinela para ir avisar o quartel, o que ele recusou.
Achámos essa atitude estranha e disso informámos o agente da PIDE/DGS do Chai.
Foi interrogado.
Conclusão: as duas minas (já falo da outra) foram colocadas pelos guerrilheiros da Frelimo com a ajuda de 3 "pretos" do aldeamento e o milícia tinha conhecimento disso.
Um bom exemplo da população que nos rodeava!!!!
O agente da PIDE/DGS prendeu os 4 até vir um avião buscá-los no dia seguinte.
Pedimos ao agente para autorizar que os levássemos ao quartel durante 1 hora, mas ele não concordou.
Ainda na tarde desse dia e apesar da dose de paludismo com que estava, fui rebentar uma outra mina anticarro que estava colocada cerca de 200 metros após aquela que foi acionada pelo Unimog.
Com esta ação e na minha opinião, a Frelimo quis vingar-se do ataque que no mês anterior tínhamos feito á sua base "Distrito Mucojo".
21 DE MARÇO DE 1973.
DIA DE LUTO PARA A CCAV. 3508.
QUATRO MORTOS, QUATRO FERIDOS GRAVES E SETE FERIDOS LIGEIROS.
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