Em Janeiro de 1973 entregou-se na Ccav.3508 um nativo que afirmou ser um elemento da população apoiante da Frelimo, na base com o nome de "Distrito Mucojo", localizada precisamente entre o Chai e o Mucojo.
O homem disse que foi espancado por elementos da Frelimo e por isso, resolveu entregar-se no Chai ás nossas tropas.
Com base nas informações dadas por esse elemento e usando-o como guia, foi planeada uma operação com o 1º. e 3º. grupos de combate da nossa companhia destinada a realizar um assalto, não á base "Distrito Mucojo", mas sim a um posto avançado dessa base onde permaneciam habitualmente vários guerrilheiros da Frelimo.
E assim saímos do Chai ao clarear do dia 13 de Fevereiro de 1973.
Caminhámos durante todo o dia, efetuando algumas pequenas paragens para descansar, pois o arsenal bélico que transportámos composto por "bazooka", morteiros 60, granadas, HK-21, etc...etc, muito contribuía para a fadiga.
Quando a noite começou a chegar parámos para comer e "passar pelas brasas" (como se costuma dizer), pois estava previsto que a aproximação ao objetivo fosse feita durante a noite.
Nesse momento planeou-se que o assalto seria executado pelo 3º. grupo de combate (do alferes Briote) reforçado por mim (do 1º. grupo) por ser portador da metralhadora HK-21 e por um 1º. cabo (também do meu grupo) por ser o homem da "bazooka".
Os restantes camaradas do 1º. pelotão estariam á retaguarda a dar o apoio necessário nomeadamente com fogo de morteiro 60.
Cerca da meia-noite retomámos a caminhada.
Não se via "a ponta dum corno".
A progressão era feita com uma das mãos a tocar no camarada da frente e debaixo dum "silêncio de morte", pois não queríamos ser detetados na aproximação ao objetivo.
A hora de começar a clarear estava para breve quando o guia nos mandou parar e nos fez posicionar mais ou menos em semi-circulo informando (por gestos) que estávamos no local.
Porém, continuávamos a não ver rigorosamente nada, a não ser as árvores que estivessem quase coladas aos nossos olhos.
Assim que surgem os primeiros raios de alguma pouca claridade surge uma informação dos camaradas de trás: "APANHÁMOS UM TURRA ARMADO".
É precisamente nesse momento que ao chamado grupo de assalto se vislumbra um grupo de palhotas dispostas em semi-circulo onde era possível ver os guerrilheiros da Frelimo ainda a dormir nas suas esteiras.
Em resumo, tínhamos entrado naquele posto avançado com um silêncio tal que ninguém acordou.
Estava previsto começar o ataque com um disparo de "bazooka" para assim atingir a maior quantidade de palhotas possível, mas o gatilho da bazooka só fazia "click" e nada de disparo.
Estou deitado no chão com o alferes Briote ao meu lado esquerdo, que me diz para iniciar o ataque com a minha HK-21, logo seguido de tudo quanto era G3.
Vemos perfeitamente através das palhotas que há guerrilheiros que não têm tempo de se levantar das esteiras.
Um deles consegue sair e disparar uma rajada que se crava a, no máximo, um palmo ou dois da minha cabeça e do Briote, pois ficámos por alguns segundos sem ver nada por causa da poeira levantada pela rajada ao cravar-se no chão, e conseguiu fugir sem ser atingido, pensamos nós.
Enquanto alguns camaradas lançam fogo ás palhotas existentes, eu e três soldados montámos segurança a um trilho de acesso aquele local.
Daí surge um guerrilheiro armado.
No confronto "cara a cara" entre a minha HK-21 e a sua "Simonov", esta não teve qualquer hipótese.
Depois de destruídas as 15 palhotas, capturados diversos documentos, várias munições, abatidos 10 guerrilheiros, capturada 1 "Simonov" e 1 guerrilheiro armado com "Kalashnikov", imediatamente demos "corda ás botas" e abandonámos o local.
Quando atingimos uma zona mais segura foi o momento de reunir e fazer um breve balanço da operação.
Foi nessa altura que os militares que integraram o grupo de assalto ficaram a saber que o grupo da retaguarda capturou o guerrilheiro armado com "Kalash" quando se aproximou para urinar sem se aperceber da nossa presença.
Quando apontou a sua "arma" para urinar, foram-lhe encostadas duas G3 e ele só teve tempo de pôr as mãos no ar.
Após essa paragem, só parámos no Chai.
Como foi bom voltar a "casa" e sem um arranhão em todos nós!