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domingo, 6 de dezembro de 2020

Com os "pendentes" bem demolhados..., por Livre Pensador

 

Esta foto foi tirada durante mais uma operação que a Ccav. 3508 efectuou entre o Chai e o Mucojo.

Aconteceu na época das chuvas e, por isso, as margens do rio Messalo e do rio Licueledo estavam totalmente inundadas.

Ainda não eram 9 da manhã do 1º. dia de operação, já tínhamos água pela cintura e ainda havia o Licueledo para atravessar.

Era impossível continuar.

O "Racal" e o nosso companheiro de transmissões foram colocados em cima duma árvore.

Dali, o oficial de operações do batalhão foi informado da situação.

Mandou-nos aguardar.

Iria providenciar o fornecimento de botes para podermos prosseguir!!!

Tentava transformar-nos em "fuzileiros navais"!!!!

Cansei-me de carregar a minha metralhadora HK-21 e pendurei-a na árvore junto do Racal, mas fiquei com a pistola Walter à cintura.

A meio da tarde, após mais de 6 horas dentro de água, tivemos ordem para regressar.

Chegámos ao quartel já anoitecia e com "eles" (os "pendentes") bem demolhados!!!
A imagem pode conter: Livre Pensador, ar livre

quarta-feira, 22 de abril de 2020

A viagem para África..., por Luís Leote - Fonte: Guerra Colonial 1961-1974

A viagem

A viagem para África começava muito antes do embarque. 
O processo que levava um jovem até Angola, Guiné ou Moçambique iniciava-se habitualmente logo após o final da instrução da especialidade. 


Para um atirador, e tanto fazia sê-lo de Infantaria, Cavalaria ou Artilharia, após ser dado como pronto vinha a ordem de mobilização. 
O caso mais vulgar e típico era o de o militar pertencer a uma companhia e esta a um batalhão.

A ordem de mobilização originava a guia de marcha para a unidade mobilizadora. 
Aí se juntavam os militares vindos dos vários centros de instrução, os graduados e os comandantes. 
A companhia e o batalhão já tinham um número de código atribuído e, aos poucos, surgiam os especialistas diversos, os condutores, transmissões, enfermeiros e cozinheiros, de modo a que se preenchesse o quadro orgânico respectivo.



Enquanto se formava a unidade, realizavam-se os exercícios de instrução - IAO, a Instrução de Aperfeiçoamento Operacional - com os conselhos sobre o que fazer em África para sobreviver. 

Recebiam-se as vacinas, o camuflado e, por fim, a unidade estava pronta.
Chegava a ordem de embarque e então o contingente formava na parada do quartel. 
Nos primeiros tempos, o capelão rezava uma missa campal, que depois caiu em desuso; o comandante da unidade mobilizadora, um coronel, proferia umas palavras alusivas à missão e entregava o guião ao comandante do batalhão mobilizado, um tenente-coronel, ou então da companhia, um capitão; as tropas desfilavam ao som da música, era concedida a licença de dez dias antes de embarque e pagas as ajudas de custo. 



Neste momento, o militar era um mobilizado, ia a casa, despedia-se da família, fazia umas asneiras por conta, arranjava umas correspondentes para lhe escreverem, ou umas madrinhas de guerra, e voltava à unidade mobilizadora para daí iniciar verdadeiramente a viagem.

Neste regresso faltavam uns quantos camaradas, que tinham decidido dar o salto para o estrangeiro ou baixado ao hospital com uma doença mesmo a calhar, mas os que restavam formavam de novo na parada do quartel, com as malas, e embarcavam nas viaturas militares para a estação de caminho de ferro mais próxima.

Na estação, quase sempre de noite, o contingente embarcava num comboio especial em direcção a Lisboa, ao Cais da Rocha ou ao de Alcântara.




O navio que os iria levar estava atracado e as famílias apinhavam-se nas varandas da gare marítima com lenços de acenar, cartazes com o nome do militar, para chamar a atenção, e lágrimas da despedida.

A tropa, vinda de vários pontos em quantidade suficiente para encher o navio, desfilava de novo, agora em continência perante um alto representante militar, com as senhoras do Movimento Nacional Feminino e da Cruz Vermelha a distribuírem lembranças e mais folhetos sobre o território de destino.

Chegava o momento do embarque. 
Subiam-se as escadas e arrumava-se a bagagem junto ao beliche armado nos porões, transformados em casernas. 

Depois, voltava-se ao convés, lutava-se por um lugar na amurada ou trepava-se aos mastros, para os últimos acenos.

Por volta do meio-dia, o navio recolhia as escadas e os cabos, a sirene apitava e, durante alguns anos, a instalação sonora tocava a marcha intitulada "Angola é Nossa", independentemente do destino - um ritual abandonado nos anos mais próximos do fim da guerra.

O navio afastava-se lentamente, virava a proa à foz do Tejo, passava por baixo da ponte e deslizava diante da Torre de Belém.

A fome já apertava e eram dadas instruções para a primeira refeição abordo. 
Os oficiais seguiam para a primeira classe, os sargentos para a segunda e os praças para a terceira, Neste caso, e dada a grande quantidade de tropas embarcadas, havia um sistema de self-service. 
Cada grupo nomeava os seus faxinas, que se aproximavam dos caldeirões, montados à proa e à ré, para receber um tacho de sopa, um de «segundo», o pão e a fruta, que redistribuíam aos seus camaradas, no regresso aos seus postos. 
Comia-se como num piquenique, sentado no convés.
Este sistema já funcionava mal com o mar calmo, mas piorava nos dias de tempestade. 
Nesses dias, os respingos do mar salgavam a comida, os faxinas desequilibravam-se com o balanço, entornando a sopa, e os restos espalhados ajudavam a escorregar os que vinham em sentido contrário. 
Valia nessas ocasiões o enjoo da maioria, que os tornava menos exigentes na qualidade e quantidade da alimentação.

A meio da viagem realizavam-se.exercícios de salvamento a bordo, e todo o contingente enfiava o colete salva-vidas e cada um apresentava-se junto à baleeira que lhe estava destinada em caso de naufrágio. 
Tiravam-se umas fotografias e estava passada mais uma tarde.

Os dias de calma eram gastos a jogar às cartas e a receber alguma instrução sobre o destino, em que ninguém, verdadeiramente, queria pensar.

A passagem do Equador fornecia o pretexto para uma cerimónia da praxe e, entretanto, aproximava-se a chegada, que, quase sempre de manhã, era o tempo da curiosidade de África, o tempo de refazer as malas e do desembarque. 

Nova formatura, agora ao calor, um desfile e um discurso. 
Depois, a partida para um campo militar, o Grafanil, em Luanda, o Cumeré, em Bissau. Aqueles para quem Moçambique era o destino, prosseguiam viagem de Lourenço Marques para norte, até à Beira, Nacala ou Porto Amélia. 
A partir daqui, seguiam-se os dois anos da comissão.

Fonte: Guerra Colonial 1961-1974

terça-feira, 8 de setembro de 2015

O Elefante, por Fernando Lourenço

Duarte Pereira
 
COMO TENHO FEITO COM OUTROS MEMBROS, RESOLVI ISOLAR ESTE ARTIGO.
 
Fernando Lourenço comentou:
 
 
Recordo uma memoria que coloquei em abril de 2013.
 
Quando saía para o mato o meu maior inimigo era a sede.
Levava o que podia mas nunca era o suficiente.
 
Quando estava sediado no Mucojo saí muitas vezes em operações para uma zona, que se a memória não me falha, chamada Namarata.
Tinha sido em tempos uma zona de caça grossa e abundavam todo o tipo de animais.
 
Eu quando saía, marimbava-m...e um bocado para as coordenadas que o comando me dava e a minha maior preocupação era procurar sítios onde houvesse água.
 
Certa vez lá fui para mais uma missão com um elemento de transmissões, outro de morteiro e o resto milícias.
 
Ao fim do 2º dia já desesperava com sede e água nada.
Tinha que arranjar local para passar a noite que se aproximava e por sorte lá encontrei uma zona lamacenta.
 
Num buraco estreito feito por um elefante com a profundidade quase do meu braço foi de onde eu tirei água.
 
Saciado/s e sem muito tempo para nos deslocarmos por estar a ficar escuro, decidi ficar por ali perto numa elevação do terreno não mais de 50 metros talvez, contra a vontade dos milícias que não achavam boa ideia até porque segundo eles andava por ali um elefante... ali, ali, não vê...? mas eu na minha burrice, até porque era o comandante, molho o dedo na boca, ponho no ar e ... nããã... o vento está em sentido contrário... e toca a pôr a malta em circulo e os "branquélas" no meio.
 
Como vocês se lembram começava a escurecer por volta das 4/5 horas da tarde.
Pegar no sono estava difícil porque tinha ficado de consciência pouco tranquila com a certeza de estar a fazer uma asneirada e do barulho que pouco depois ouvia de animais em disputa também pela água.
 
Lá consegui adormecer.
 
Eram 11 horas da noite escura como breu, acordo com uma grande algazarra, os milícias todos a gritar, eu agarro na G3 e desato a correr não sei para aonde, bati com a testa num tronco, perdi momentaneamente os sentidos, tal não foi a porrada que dei com os "cornos" na árvore.
Bem feito.
 
O que é que tinha acontecido: pois bem, a gaita do elefante lembrou-se de caminhar na nossa direção e quando já estava muito perto os milícias começaram a gritar para o afugentar, o que fizeram.
Eu nem o cheguei a ver.