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quarta-feira, 21 de maio de 2014

25 de Abril - Viva a Liberdade, por Manuel Cabral



Duarte Pereira
AS COMADRES ENVIARAM-ME ESTE TEXTO PUBLICADO PELO MANUEL CABRAL (EX-FURRIEL) QUE ESTEVE COMIGO, EM 1973 NO 3º PELOTÃO DA 3509 . EMBORA APAREÇA POUCO NA PÁGINA TAMBÉM TEMOS DIREITO AO SEU TEXTO.
Manuel Cabral
há 9 horas perto de Valença, Brazil · Editado
.
Tenho por hábito há muitos anos não falar publicamente de política, mas hoje, perante a enorme quantidade de comentários saudosistas do antigo regime, não posso ficar calado.


Muitos dos que falam hoje da superioridade do que se passava antes do 25 de Abril de 1974, não viveram esses tempos, não sofreram a intolerância de um regime que calava pelo medo e pela repressão os que pensavam de maneira diferente, os que queriam para o nosso país um futuro diferente.
E esta é a primeira grande diferença entre os dois tempos: a tolerância.


Foi graças ao fim da intolerância que hoje, os que estão em desacordo com o que se passa, podem expressar os seus pontos de vista, defender até o regresso ao passado, a um passado em que apenas os que detinham o poder podiam ter opinião, e os outros não podiam expressar o que sentiam, o que pensavam, fosse de que forma fosse.


Os que hoje falam do mal que estamos, esquecem que eles próprios ajudaram a chegar onde estamos agora - todos somos culpados, não há inocentes.
Uns porque agiram mal, outros porque não agiram, outros ainda porque deliberadamente tentaram destruir o estado de democracia em que vivemos.
Mas uma coisa é certa - mesmo com todos os erros, com todas as escolhas erradas, todos contribuíram, com o seu voto, para estarmos onde hoje estamos.


Ao contrário do que se passava antes do 25 de Abril, onde as eleições não passavam - quando existiam - de farsas armadas para perpetuar no poder os que lá se encontravam.


Fala-se muito dos políticos desonestos de hoje, mas não porque no passado eles não existissem - simplesmente hoje todos sabemos quem eles são, pois mesmo com todos os seus defeitos, a imprensa de hoje pode e fala sobre eles, denuncia os roubos que fazem, os danos que exercem sobre a nossa economia.


E se as instituições não funcionam, se os tribunais relaxam e deixam que os prazos se imponham à justiça, hoje, tudo isso é conhecido, tudo isso aparece em público.


Antes, quem se atrevesse a denunciar os abusos dos presidentes das Câmaras, do polícia do bairro, era simplesmente abafado, quer pela agressão física que grupos de "justiceiros" do regime se encarregavam de aplicar, quer pela perseguição política, pela prisão, pelo degredo.


Num regime que, ao mesmo tempo, castigava brandamente um marido traído, que matava a esposa infiel, ou uma filha apanhada na cama com o seu namorado, num regime que encobria os crimes dos que lhe eram fiéis.
Mas nada se sabia, em público, ao contrário do que se passa hoje.


Não vale a pena os que hoje defendem o regresso ao passado pensarem nisso - nunca vai acontecer, não porque os que defendem a mudança sejam melhores, mais fortes, mais poderosos. 
Simplesmente porque quem um dia provou o sabor da Liberdade não vai deixar que lha tirem de novo.

O que vale a pena é aproveitar a tolerância que se conquistou com o 25 de Abril, e com o uso apropriado do voto, com o uso dos direitos que o 25 de Abril pôs à disposição de todos, exigir aos corruptos, aos inaptos, que se afastem, pondo no lugar deles, os que verdadeiramente querem um Portugal melhor para todos.

Porque eu sei o valor que ela tem, viva a Liberdade!