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E no meio desses azares todos, longe, muito longe, estava eu descansado, como quase sempre:
...Foi num dos momentos de lazer, quando esperávamos quórum suficiente para mais uma tarde de jogo de futebol de 5, que o Comandante da Companhia, também ele apreciador de um bom jogo de futebol ou de qualquer outra actividade desportiva que metesse bola, chegou para aumentar o numero que fosse o ideal para iniciar a partida e me informou, com simples palavras calmas e duma frieza extrema sem transparecer qualquer hesitação no discurso de parcas palavras e sem nenhuns rodeios, colocando o braço sobre o meu ombro, num semi-abraço:
— Estás mobilizado Lopes. Vais para Moçambique...
Formou-se um silêncio longo e escuro que me abraçou suavemente.
Um abraço com a duração de um instante parecendo-me uma vida. Vida que nesse momento me colocou em solidão, adormecido no tempo e no local, esquecido do presente, transportando-me para outro mundo, desconhecido no meu horizonte.
Acordou-me a bola que bateu perto de mim...
Por estranho que pareça, não deixei de, briosamente, defender a baliza que estava à minha guarda e creio que nem o capitão o autorizaria e afinal, nada estava a acontecer que estivesse a fugir à normalidade.
Apenas mais um seguiria para o Ultramar.
Mais um número para informar o quartel de Adidos, em Lisboa, na Ajuda, para prepararem a partida.
Afinal, o que perdiam ali no quartel de Beja era apenas o guarda-redes da equipa de futebol de 5 e não havia outro.
Tinham de pensar em arranjar.
Que chatice...
Depois da missão desportiva cumprida e banho tomado, vestido como um militar, lá fui eu à secretaria saber mais pormenorizadamente do meu futuro, militarmente falando.
...
In "Memórias dos Anos Perdidos ou a Verdade dos Heróis"
paulo lopes