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segunda-feira, 20 de abril de 2020

A primeira refeição..., por Paulo Lopes


Paulo Lopes 


Como sempre digo, cada coisa que os meus amigos partilham das suas memórias e em relação à primeira refeição na tropa, vem-me logo à moleirinha um pouquinho do meu livro!

Sem querer massacrar ninguém, sai para a mesa do canto mais umas " letrinhas apenas" do livro:......

Falando nisso, vamos almoçar...



Um militar de divisas douradas em pano de fundo verde tropa (fiquei a saber que era 2º sargento) veio chamar-nos à caserna, agora um pouco mais calma e menos conflituosa com a confusão gerada pelo homem/roupa/apetrechos/cama de cima ou de baixo/cacifo esquerdo ou direito:
— Tudo lá fora, rápido. 
Vociferou com voz de comando num tom feroz a querer meter-nos medo, como se disso houvesse necessidade, a nós, pobres mancebos que ainda nos tremiam as pernas só de ver o lustroso fardamento que enfeitava a besta feita militar.

Após reunidos e perfilados na parada à saída da caserna e sem muitos rodeios, pôs-nos a caminhar mais ou menos ordenados em direcção ao refeitório.
Primeira refeição: Chicharro frito com arroz. 
Até que do chicharro gostei ou então seria a fome que já fustigava o estômago e resmungava por qualquer ementa, mas o arroz, coitado, parecia feito de um bago só, qual cimento quase seco! 
Enfim, do mal, o menos, e dava para afugentar a fome que se ia aproximando dos nossos esfomeados esqueletos! 

Decerto que me esperavam coisas bem piores que um simples arroz mal confeccionado! Digo eu!

In "Memórias dos Anos Perdidos ou a Verdade dos Heróis"
Paulo Lopes

domingo, 13 de novembro de 2016

Estás mobilizado Lopes..., por Paulo Lopes


a
Comentários



E no meio desses azares todos, longe, muito longe, estava eu descansado, como quase sempre:

...Foi num dos momentos de lazer, quando esperávamos quórum suficiente para mais uma tarde de jogo de futebol de 5, que o Comandante da Companhia, também ele apreciador de um bom jogo de futebol ou de qualquer outra actividade desportiva que metesse bola, chegou para aumentar o numero que fosse o ideal para iniciar a partida e me informou, com simples palavras calmas e duma frieza extrema sem transparecer qualquer hesitação no discurso de parcas palavras e sem nenhuns rodeios, colocando o braço sobre o meu ombro, num semi-abraço:
— Estás mobilizado Lopes. Vais para Moçambique...

Formou-se um silêncio longo e escuro que me abraçou suavemente. 

Um abraço com a duração de um instante parecendo-me uma vida. Vida que nesse momento me colocou em solidão, adormecido no tempo e no local, esquecido do presente, transportando-me para outro mundo, desconhecido no meu horizonte. 

Acordou-me a bola que bateu perto de mim...
Por estranho que pareça, não deixei de, briosamente, defender a baliza que estava à minha guarda e creio que nem o capitão o autorizaria e afinal, nada estava a acontecer que estivesse a fugir à normalidade. 

Apenas mais um seguiria para o Ultramar. 
Mais um número para informar o quartel de Adidos, em Lisboa, na Ajuda, para prepararem a partida. 

Afinal, o que perdiam ali no quartel de Beja era apenas o guarda-redes da equipa de futebol de 5 e não havia outro. 

Tinham de pensar em arranjar. 
Que chatice... 

Depois da missão desportiva cumprida e banho tomado, vestido como um militar, lá fui eu à secretaria saber mais pormenorizadamente do meu futuro, militarmente falando.
...
In "Memórias dos Anos Perdidos ou a Verdade dos Heróis"
paulo lopes

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Natal, por Paulo Lopes

Paulo Lopes


PRESENTES DE NATAL

Não sabem os homens
que o sonho da criança
ultrapassa a barreira da ilusão
voam mais alto que as nuvens
criam fortalezas de esperança
onde nasce a sua confusão.

paulo lopes


NATAL

E eis que os focinhos
se elevam para o humano
arrebitam orelhas
para ouvirem os sinos

Levantam os olhos
para enxergarem luzes
vestem-se de bondade
constroem o presépio

Inventam os minutos
e olham curiosos
o rodar dos ponteiros

Mascaram-se...

paulo lopes (Moçambique / Mataca (1973)

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

AÍ VAI UM RELATO SOB A MINHA ESTADIA EM BEJA - 1971, por Rui Briote

 
Rui Briote
 
Mafra ficou para trás e de troca recebi o diploma honoris, causa de amanuense de G3...
 
Deram-me um papel para as mãos afim de escolher o quartel para onde queria ir e eu feito esperto pus logo Braga..
Como resposta enfiaram-me em Beja...seria por começar por B? Não sei, nem nunca saberei...

Em meados de Julho saí de comboio, já não me recordo do dia, à meia noite de Coimbra e cheguei a Beja ao meio dia.
Foi uma curta e pouca demorada viagem como se vê!...
Atravessar o Alentejo em pleno verão e à hora do calor num comboio "pára aqui, pára acolá" ...foi uma rica sauna...
 
Chegado à minha nova morada, tive que me ir apresentar a um militar com muitos amarelos nos ombros. Fiz a continência da praxe, apresentei-me e mandou-me " visitar" os meus novos aposentos.
 
Ótimos, pois o tempo da caserna foi-se.
No dia seguinte deram-me de mão beijada 10 cabo-verdianos para lhes ensinar os primeiros passos de dança .
O trabalho que me deram!
 
Uns dias depois, caíram, vindos de todos os lados, uma " fornada" de novos candidatos para brincar às guerras...provenientes de todo o país, mas principalmente do Alentejo.
Eram distribuídos por diferentes salas, despiam-se, víamos o peso, a altura e por aí adiante.
Foi uma tarefa cansativa e morosa, mas fez-se.
 
Fiquei com um pelotão com quase 80 homens.
Comecei logo a matutar como ia descalçar aquela bota, pois eram mais que muitos.. Juntamente com dois cabos milicianos lá procurei levar a água ao moinho.
Todos os dias de manhã fazíamos um cross ligeiro na estrada em direção a Mértola, uma fila do lado esquerdo, outra do lado contrário.
 
Ao fim de alguns dias começamos a ter a feliz ideia de no regresso ao quartel trazermos uns melões escondidos na camisa...sabiam tão bem!...
 
Já no quartel passávamos à instrução debaixo da torreira alentejana...o pior era no intervalo, pois como havia falta de água e como só havia um repuxo tinha que pôr a malta em " pirilau" e de vez em quando era obrigado a dizer ..." Despacha-te, porque todos têm direito ...
"Muitas vezes acontecia que, chegado a meio da fila já não havia nem gota...
Os dias passaram e o pessoal começou a dar cartas, tanto a marchar como no manuseamento da menina G3.
 
Até que chegou o dia de ir à carreira de tiro que ficava a uma distância razoável.
A sessão decorreu normalmente e por fim regressámos à casa materna.
Aí chegados fui chamado ao major Ferro que me comunicou que tinha falecido a minha avó paterna. Isto numa terça feira. Fui à secretaria buscar o impresso para preencher o passaporte, aproveitei e perguntei se estava de serviço no fim de semana a que me responderam " não".
Preenchi logo dois.
Fui a esse major pedir para mos assinar e o fulano quando se deparou com o impresso para o fim de semana ficou histérico e pura e simplesmente negou-mo.
Apeteceu-me apertar-lhe os colarinhos, mas travei os meus ímpetos.
Fiz uma longa viagem até ao Minho e regressei a Beja na sexta, onde me apresentei.
 
O tal major estava a falar com um amigo meu e, segundo ele, depois de eu sair questionou-o se eu era o Briote...mais palavras para quê...era um " chicalhão"...
    
Vou passar agora relatar-vos um episódio que meteu cabeça de borrego regado com tinto alentejano e guarda republicana...
Certo dia, dirigimo-nos em alguns carros até Moura para comer cabeça de borrego regado com boa pinga.
No regresso passámos por Serpa onde havia uma festa que metia bailarico.
Aí houve um sarilho que envolveu saias, pois um colega estava a dançar com uma garota e eis senão quando aparece o namorado, o que provocou troca de mimos que culminaram numa " visita" ao posto da GNR.
Felizmente o problema foi sanado, mas para susto bastou.
   
Já com os diplomas de bom aproveitamento, estavam prontos a seguir para outras paragens os recrutas passados a " prontos".
 
Entretanto surge a " boa nova"...mobilizado para Moçambique.
Fico de rastos, pois nunca esperava que isso acontecesse, pois tinha ficado bem classificado.
Reagi o melhor que pude e procurei preparar-me psicologicamente para a nova tribulação.
 
Conjuntamente comigo iriam uns "malandros" a quem dei instrução. Fui incumbido de levar 60 a Santa Margarida. Não imaginam a dor de cabeça que tive a fazer essa " viagem". Com muito custo e dor de cabeça lá os entreguei ao Teixeira Lopes.
 
Depois de um ligeiro descanso, regresso de novo a Beja para " dar conta do recado" o mesmo será dizer " missão cumprida".
 
Esta tropa tinha cada uma, pois no mesmo dia obrigaram-me a andar de Aná para Caifás...Fiquei com os bofes de fora!!!
     
Aos fins de semana ia de vez em quando passá-lo ao Algarve molhar os pés...
Armadilhados com uma tenda cinco estrelas lá íamos saborear um pouco as águas tépidas e as estrangeiras que por lá nos esperavam.
 
Foram os melhores dias dessa recruta dada na muito sossegada cidade de Beja...
 
Rui Briote (2013-10-01)

 

terça-feira, 6 de agosto de 2013

ESTÁS MOBILIZADO - Beja RI 3, por Paulo Lopes

 
 
                                                                      Paulo Lopes

Mais um quartel a acrescentar a um currículo militar caracterizado pelo conformismo, adaptado às circunstancias de um destino paralelo ao indesejado.
Estava agora encartado para ficar do outro lado da parada. Numa fila um pouco mais à frente mas, pouco mais. Apenas as ordens eram dadas doutra forma e as exigências um pouco mais brandas. Desde que cumprisse!
Então, já com alguns meses de serviço militar cumpridos, passados entre o péssimo e o mau, com alguns rasgos de aceitável e poucos, muito poucos, momentos de lazer, recruta tirada nas Caldas da Rainha e “doutorado” em atirador com distinção de atirador especial da HK21 no quartel de Tavira, estava agora em Beja no R.I. 3, com uma situação muito diferente da que vivi anteriormente na recruta e na especialidade.
Passando o tempo de “encarceramento” obrigatório dentro do quartel, refugiando-me ora no desporto, ora na leitura, esperando pela minha hora de entrar em cena, tentando passar o que tinha aprendido, a um punhado de aprendizes a soldados que possivelmente, na maioria deles, estavam como eu, resignados com a sina de serem militares a força.
Tinha como missão, auxiliar na formação de mais um batalhão de recrutas.
Missão essa que se resumia, dado o elevado numero de formadores, a dar uma aula de ginástica das oito horas ate as nove horas da manhã e mais tarde, uma aula sem tempo, nem horário determinado, a qual tinha o pomposo nome bélico de “Instrução de Combate Noturno”, intervalados nalguns dias, com uma pequena maratona, de G3 e mochilas às costas pelas longas planícies alentejanas dos arredores de Beja.
Encontrava-me, portanto, virado para a multidão de mancebos que, prostrados em sentido, formados na parada, olhando e obedecendo sem a mínima vontade de satisfazer essas ordens mas que, pela força das circunstâncias a isso eram obrigados.
Mancebos que, tal como eu me tinha sentido, olhavam para mim duma forma não respeitadora mas de sentimentos receosos. Estava nas minhas mãos provar que ordenar, criar disciplina, não é necessariamente impor ordens apenas com o intuito de mostrar um pseudo poder, transportando para nós, instrutores, um protagonismo estúpido e rancoroso.
Uma vez por outra estava de serviço como “Sargento de Dia” não podendo, por isso, ausentar-me da porta de armas ou, outras vezes, fazendo de Policia Militar, passeando pelas ruas de Beja, mostrando cara de poucos amigos, mascarando-me, principalmente quando avistava um oficial de raiz, tal e qual um polícia, o que me dava uma certa vontade de rir e um gozo sarcástico.
Estar de serviço como Policia Militar até não era mau, porque sempre se ia dando uma visitinha ao cinema ou ver um jogo de futebol e... tudo à borla!
Na verdade, sempre tinham razão, e não nos estavam a incutir mais uma patranha, aqueles que nos informaram que os primeiros classificados do curso de sargentos milicianos não seriam de imediato escolhidos para irem formar Batalhão com o intuito de seguirem para o Ultramar.
Só iam chamando estes consoante as necessidades prementes.
Ou então tive sorte por não haver cunhas para os que tinham ficado numa classificação inferior a minha e que foram formar esses tais Batalhões com destino a África.
Apesar de não estar tão oprimido como nos últimos tempos, não deixava de me sentir privado da minha liberdade de civil.
Falsa liberdade mas, civil.
E como diria um bom português: do mal, o menos e se parti uma perna, tive sorte, pois poderia ter partido as duas..
Passaram-se, com a lentidão de quem tem pressa que o tempo se escoe rapidamente, os três meses normais da formação de recrutas.
Todos eles partiram para outros quartéis a fim de tirarem as diversas especialidades mas, fossem quais fossem essas especialidades, poucos seriam os que não rumassem as Províncias Ultramarinas.
Eu também parti até Lisboa, mas apenas por poucos dias, regressando rapidamente a Beja onde me esperava mais um ciclo de três meses.
Mais uma formação a outros tantos recrutas que, apalermados e assustados, chegavam de todas as coordenadas do País, vindos de lugarejos, aldeolas, aldeias, vilas, cidades pequenas ou grandes.
Uns mais espevitados. Outros mais cautelosos. Outros ainda, completamente fora do contexto, sendo estes, sempre os mais apedrejados pela malvadez de apanágio juvenil dos seus camaradas de caserna.
Nunca tive quaisquer problemas de registo que obrigasse a uma intervenção dalguma patente mais acima.
Tudo rapaziada bem comportada com os seus quês e senãos, mas não conflituosos nem complicativos.
Apenas uma vez fui obrigado a impor um pouco a minha ideia ao pensamento de outro. Mostrar as minhas parcas divisas indo contra os meus valores e princípios e fazendo-o apenas a pensar no grupo que tinha em mãos para instruir.
Aconteceu com um mariola, numa saída para um crosse, sem a componente de obter um vencedor: o rapaz achava que era mais forte que todos os outros e então desatou a correr pelos caminhos arenosos envolventes ao quartel que utilizávamos para esse exercício físico no exterior da prisão.
Saindo da formação, tentando mostrar a sua superioridade perante a fragilidade de alguns.
Determinei, mal ou bem, que não deveria permitir essa sua demonstração atlética, que sem duvida tinha, mas que não estava nem na hora nem no local exato para fazer prevalecer essa sua melhor preparação física.
Não querendo retirar-lhe as suas razões protagonistas através de castigos humilhantes, enveredei por outros caminhos para amansar o seu ímpeto carregando-o com umas pedras dentro da mochila que transportava às costas.
O moço foi suficientemente inteligente e percebeu a mensagem... ou sentiu o peso dela!
Para lá desta minha ocupação profissional obrigatória, estava inserido na equipa de Futebol de 5 de sargentos do RI3, a qual disputava o campeonato militar da referida modalidade o que dava para me desviar de certos e alguns serviços.
Só não resultou na “Semana de Campo”: no dia de saída para essa maldita semana (para os recrutas), tinha jogo contra a equipa do quartel de Évora e por isso estava autorizado a deslocar-me aquela cidade apresentando-me no entanto, no dia seguinte, no local onde decorria a “Semana de Campo”. Fomos jogar e ganhámos.
Lampeiro, “Chico esperto”, achei que tinha direito a prémio e não segui nesse dia para o local onde me deveria apresentar. Esqueci-me duma regra básica instalada no exército: Nunca te armes em esperto!
A minha escala de fatores positivos que tinha a tropa era péssima.
Pouco sumo ou mesmo nenhum havia a extrair as condutas militares mas, esta regra que me deu a entender existir, marcava pontos: na tropa raramente a esperteza se conseguia sobrepor à inteligência...
O capitão não achou graça a minha esperteza...
O episódio ficou-se por um corte de cabelo mais aprumado.
Não fosse o capitão, um fervoroso adepto do futebol e apoiante da nossa equipa e mais longe teria ido o dedo apontador do meu comandante.
Talvez tivesse ficado algum tempo de serviço permanente a qualquer coisa, ou ainda pior.
Mas: "Quando terminar a “Semana de Campo” quero ver-te de cabelo como deve ser. Desta vez safas-te assim", palavras do comandante de Companhia.
O como deve ser, era máquina zero ou parecido.
E assim ia levando a água ao meu moinho. Uns dias melhores, outros nem por isso, mas sempre com o tempo seguindo em frente, passando o dia-a-dia na minha obrigação de bem servir a Pátria pensando sempre que um dia voltaria a ser civil.
Cada dia que passava, tentava não auto criar uma demasiada esperança de que o tempo corria a meu favor e que, por isso, cada vez mais, ia ficando de fora a hipótese de ir para o Ultramar.
Andava, auxiliado por idênticas situações passadas com alguns camaradas que iam já na terceira instrução a recrutas, um pouco anestesiado esquecendo que era militar e que nada certificava a minha não mobilização.
Formar Batalhão já não ia. Era uma quase certeza absoluta. Essa tinha sido a hipótese primeira que ficara afastada ao vir para Beja dar instrução.
Mas eu era atirador. Formaram-me para a guerra. Não tinha cunhas. Apenas tinha ficado bem classificado no meu curso em Tavira. Estas razões que ultrapassam o suficiente colocavam, em noites de insónia, sempre no meu pensamento o espectro da partida, mas que logo no dia seguinte, me ia esquecendo e deixando-me levar pelo sonho de que mais um dia estava a contar para o fim do interminável tempo que me obrigavam a suportar.
Continuei a minha caminhada militar entre o dever e o lazer. Procurando sempre cumprir com a minha parte, evitando confrontos ideológicos, não dando no entanto demasiadamente o meu braço a torcer.
Fingindo muitas vezes. Dizendo sim quando apetecia dizer não. Calar-me quando a vontade era de gritar.
E tudo isto porque, se um simples ser humano mas de ombros enfeitados de divisas, sentisse apenas uma ligeira tentativa de desobediência ou contrariedade às suas ordens, mesmo erradas que estivessem, ou pressentisse um esboço de protesto, rapidamente me colocaria no rol dos possíveis candidatos a uma viagem até ao outro lado do mar!...

De nada me valeu essa minha conduta de bom rapazinho!...

ESTÁS MOBILIZADO ...

Foi num dos momentos de lazer, quando esperávamos quórum suficiente para mais uma tarde de jogo de futebol de 5, que o Comandante da Companhia, também ele apreciador de um bom jogo de futebol ou de qualquer outra atividade desportiva, que metesse bola, chegou para aumentar o número que fosse o ideal para iniciar a partida e me informou, com simples palavras calmas e duma frieza extrema sem transparecer quaisquer hesitação no discurso de parcas palavras e sem nenhuns rodeios, colocando o braço sobre o meu ombro, num semi-abraço:

— Estás mobilizado.

In "Memórias dos Anos Perdidos ou a Verdade dos Heróis"
Paulo Lopes