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segunda-feira, 20 de abril de 2020

A primeira refeição..., por Paulo Lopes


Paulo Lopes 


Como sempre digo, cada coisa que os meus amigos partilham das suas memórias e em relação à primeira refeição na tropa, vem-me logo à moleirinha um pouquinho do meu livro!

Sem querer massacrar ninguém, sai para a mesa do canto mais umas " letrinhas apenas" do livro:......

Falando nisso, vamos almoçar...



Um militar de divisas douradas em pano de fundo verde tropa (fiquei a saber que era 2º sargento) veio chamar-nos à caserna, agora um pouco mais calma e menos conflituosa com a confusão gerada pelo homem/roupa/apetrechos/cama de cima ou de baixo/cacifo esquerdo ou direito:
— Tudo lá fora, rápido. 
Vociferou com voz de comando num tom feroz a querer meter-nos medo, como se disso houvesse necessidade, a nós, pobres mancebos que ainda nos tremiam as pernas só de ver o lustroso fardamento que enfeitava a besta feita militar.

Após reunidos e perfilados na parada à saída da caserna e sem muitos rodeios, pôs-nos a caminhar mais ou menos ordenados em direcção ao refeitório.
Primeira refeição: Chicharro frito com arroz. 
Até que do chicharro gostei ou então seria a fome que já fustigava o estômago e resmungava por qualquer ementa, mas o arroz, coitado, parecia feito de um bago só, qual cimento quase seco! 
Enfim, do mal, o menos, e dava para afugentar a fome que se ia aproximando dos nossos esfomeados esqueletos! 

Decerto que me esperavam coisas bem piores que um simples arroz mal confeccionado! Digo eu!

In "Memórias dos Anos Perdidos ou a Verdade dos Heróis"
Paulo Lopes

domingo, 15 de março de 2015

HOJE ESTOU DESOLADO, por Rui Brandão

HOJE ESTOU INDIGNADO COMIGO PRÓPRIO
 
Companheiros Furriéis que frequentavam a messe de Sargentos em Macomia, quero aqui deixar as minhas desculpas.



Acabo de constatar que no mês de Novembro de 1973 dei 51$00 de LUCRO!!!!...
Imaginem!!!!

Roubei à boca dos desgraçados dos Furriéis para meter no bolso dos "xicos" que se abotoavam com todos os trocos (seriam só trocos?...).



Resta aprovar o "rigor orçamental" (agora usa.se muito esta muleta) quando observamos que com pouco mais de 150$00 (moeda corrente na altura) se dava: pequeno almoço, almoço e jantar a entre 30 a 40 pessoas durante 1 mês.
Claro que os tempos eram outros, mas mesmo assim 30 e tal contos era uma miséria de fome para aquela malta toda.

 

Como se não bastasse, assinei um documento referente ao mês de Novembro de 1973, com data de Novembro de 1974.
Ganda "tótó"... assinava tudo o que me metiam à frente.


Já agora e ainda trazendo à baila os "trocos" para os "xicos", em agilização com os alferes que por inerência faziam de ".Oficiais de Dia", a partir de certa altura, aquando dos nossos serviços de "Sargentos de Dia", passámos a estar presentes nas pesagens dos géneros alimentícios do refeitório dos Soldados.


Meus caros amigos. Aí, bem aí, era mesmo à descarada.
"Da-se" até metia impressão.

Muito se gamou naquele quartel.
Claro que alguns de nós passámos a ser "personas non gratas", obviamente.

Começámos a exigir a colocação das pesagens de acordo com a dotação.

FOI O CARAÇAS!!!!...

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

O arrear da Bandeira, pelo Gilberto Pereira

 
VOU CONTAR UMA HISTÓRIA AO PARDAL E AO DUARTE:
 
Um dia à hora de arrear a bandeira, eu estava de Sargento Dia e acho que o Cabo Dia era Silva e o pelotão sapadores e o "pelrec" estavam fora, logo os dois, que tinham essa missão.
 
Como não chegavam, eu disse ao cabo para arranjar aí uma malta para irmos arrear a bandeira.
 
Então apareceram escriturários, impedidos, cozinheiros, eu sei lá--- fiquei a olhar para aquilo, uns de farda nº 2 outros com a nº 3, uns de botas, outros de alpercatas enfim...
A corneta tocou e lá foi aquela "cowboiada" toda; esquerda, direita, esquerda. direita.
 
Quando á voz de alto, iam caindo em cima uns dos outros.
À voz de direita volver, uns ficaram virados para a bandeira, outros ao contrário.
Imaginem o que eu não lhes disse.
 
Nessa altura, já tinha visto o Comandante a espreitar da janela, logo vi que ia sobrar para mim...
Acenei ao clarim para dar o toque para arrear e depois na voz de direita volver, um que não me lembro quem era, até ficou virado pro Subtil e até lhe disse: estás com fome?
 
Começaram a marchar passos trocados...
 
Nisto o comandante abriu a janela, e á voz de ombro arma, um ficou com a arma que parecia que ia aos pardais...
Nisto só ouvi a voz do comandante: nosso furriel, depois venha ao meu gabinete.
E aquela escumalha, lá chegou ao portão todos contentes a pensar que tinham feito um figurão.
 
Destroçar.
Aí é que eu lhes disse, o que nem o diabo gostava de ouvir!!!! 
 
2ª parte
 
E agora falta o mais difícil, disso eu tinha consciência: que fazer? o que me vai acontecer?
 
Pensei rápido, puxei a culatra atrás e lá fui: Entrei no gabinete do Comandante com a performance dum militar de carreira.
Ele estava atrás da secretária, levantou-se e disse-me tanta barbaridade e cada uma eu respondia: sim meu Comandante.
Estava a ficar irritado com a minha resposta que era sempre a mesma, de repente saiu detrás da secretária e veio posicionar-se á minha frente, encostou o nariz dele, quase ao meu e nessa altura eu pensei em milésimos de segundo, se me tocas, um passo atrás e adeus meu Comandante.
 
Mantive-me firme e ele disse-me em voz alterada: Voçê é uma porcaria, vou mandá-lo para a chefina e despromovê-lo.
E eu respondi: sim meu Comandante.
E ele disse: desapareça.
E eu respondi: sim meu Comandante.
E saí porta fora.
 
Passados dias outra evacuação para Nampula:
Estadia de 6 meses.
FURRIEL SOFRE..............
 

Foto de Gilberto Pereira.