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quarta-feira, 3 de junho de 2020

O içar e arrear da bandeira..., por Livre Pensador

Livre Pensador
03/06/2020


Apesar da Ccav. 3508 estar colocada no "inferno" do Chai, isso não impedia que determinadas "burocracias militaristas" ficassem esquecidas, como era o caso do içar e arrear da bandeira portuguesa todos os dias. 

Aqui está a foto com o comprovativo dessa habitual tarefa, que neste caso é o içar da bandeira. 
Perguntarão vocês, qual a certeza de ser o içar da bandeira? 

Essa garantia é dada pela direcção das sombras dos intervenientes na cerimónia, que são: soldado Diamantino (clarim), furriel Ribeiro (sargento de dia), 1º. cabo Rodrigues (cabo de dia), 1º. cabo Ferreira e soldado Malícia.



quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

O arrear da Bandeira, pelo Gilberto Pereira

 
VOU CONTAR UMA HISTÓRIA AO PARDAL E AO DUARTE:
 
Um dia à hora de arrear a bandeira, eu estava de Sargento Dia e acho que o Cabo Dia era Silva e o pelotão sapadores e o "pelrec" estavam fora, logo os dois, que tinham essa missão.
 
Como não chegavam, eu disse ao cabo para arranjar aí uma malta para irmos arrear a bandeira.
 
Então apareceram escriturários, impedidos, cozinheiros, eu sei lá--- fiquei a olhar para aquilo, uns de farda nº 2 outros com a nº 3, uns de botas, outros de alpercatas enfim...
A corneta tocou e lá foi aquela "cowboiada" toda; esquerda, direita, esquerda. direita.
 
Quando á voz de alto, iam caindo em cima uns dos outros.
À voz de direita volver, uns ficaram virados para a bandeira, outros ao contrário.
Imaginem o que eu não lhes disse.
 
Nessa altura, já tinha visto o Comandante a espreitar da janela, logo vi que ia sobrar para mim...
Acenei ao clarim para dar o toque para arrear e depois na voz de direita volver, um que não me lembro quem era, até ficou virado pro Subtil e até lhe disse: estás com fome?
 
Começaram a marchar passos trocados...
 
Nisto o comandante abriu a janela, e á voz de ombro arma, um ficou com a arma que parecia que ia aos pardais...
Nisto só ouvi a voz do comandante: nosso furriel, depois venha ao meu gabinete.
E aquela escumalha, lá chegou ao portão todos contentes a pensar que tinham feito um figurão.
 
Destroçar.
Aí é que eu lhes disse, o que nem o diabo gostava de ouvir!!!! 
 
2ª parte
 
E agora falta o mais difícil, disso eu tinha consciência: que fazer? o que me vai acontecer?
 
Pensei rápido, puxei a culatra atrás e lá fui: Entrei no gabinete do Comandante com a performance dum militar de carreira.
Ele estava atrás da secretária, levantou-se e disse-me tanta barbaridade e cada uma eu respondia: sim meu Comandante.
Estava a ficar irritado com a minha resposta que era sempre a mesma, de repente saiu detrás da secretária e veio posicionar-se á minha frente, encostou o nariz dele, quase ao meu e nessa altura eu pensei em milésimos de segundo, se me tocas, um passo atrás e adeus meu Comandante.
 
Mantive-me firme e ele disse-me em voz alterada: Voçê é uma porcaria, vou mandá-lo para a chefina e despromovê-lo.
E eu respondi: sim meu Comandante.
E ele disse: desapareça.
E eu respondi: sim meu Comandante.
E saí porta fora.
 
Passados dias outra evacuação para Nampula:
Estadia de 6 meses.
FURRIEL SOFRE..............
 

Foto de Gilberto Pereira.
 

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

DE RECRUTA A ESPECIALISTA, por Paulo Lopes





Foto de autor desconhecido (Google)



— Juro...

Ouvia-se em uníssono como um trovão que se espalhava na atmosfera, misturando-se com a multidão, entrando nos corações dos familiares fazendo com que estes sentissem um estremecer nos seus corpos emocionados, não sei, digo eu, porquê!...
 
Um Juramento de Bandeira duma imensidão de mancebos que já estava com o seu tempo de juventude encalhado numa forte incerteza no futuro que os separava dum presente eficazmente escolhido por homens dum passado mantido em segredo, cujo pensamento mesquinho e curto não alcançavam nada para além dos seus interesses pessoais.
 
Um falso juramento de mão no peito e de palavras no pensamento que só estão descritas nos dicionários de obscenidades.
 
Um juramento de vontade apressada porque a família, embasbacada de orgulho nos seus filhos, estavam a espera, desejosos de nos levar até casa, para uns míseros dias de descanso, onde nos esperava uma dose reforçada de carinho e de acepipes que só as mães de cada um sabiam fazer.
E ainda só tinham passado três meses...

— Juro...

Por minha parte não jurei absolutamente nada, apenas terminei o primeiro ciclo de uma vida que não queria mas a que a isso estava obrigado.
Obrigado a cumprir.
Obrigado a obedecer. (Obrigado Srs. generais, Srs. marchais, muito obrigado. Estou imensamente grato a V. Exas.
Curvo-me a vossa sabedoria).
Próximo destino: Tavira.
O tal pensamento ou sonho que me acompanhava e me assolava de vez em quando o espírito, segredando-me que iria passar a minha missão militar numa secretaria, já tinha ficado para trás.
 
O Exército não ia formar sargentos milicianos para ficarem dentro duma repartição... a não ser que surja aquela repentina doença: a cunha!...
 
Se alguma réstia de esperança ainda teimasse em sobreviver no meu intimo, Tavira, dava-lhe o golpe de misericórdia.
Acabava com ela.
 
Já conhecia esta cidade algarvia de outros tempos.
Tempos de praia e lazer.
Tempo de criança onde tive a oportunidade de ir passar algumas férias aproveitando aquele sol algarvio e o refrescar nas águas tépidas da Ilha de Tavira.
 
Só não sabia, que já nesse tempo, existia um quartel dentro da cidade a formar futuros sargentos milicianos atiradores e de outras especialidades todas elas com o cunho bélico.
Significava então, que a esferográfica ou a máquina de escrever que pairavam nas minhas esperanças seriam substituídas, no meu caso, por uma espingarda.

Na chegada a Tavira deparei com um quartel muito inferior ao das Caldas da Rainha: de aspeto velho e a precisar dum urgente restauro.
Uma parada que se ficava por uma milésima parte da parada do RI 5.
Após os já conhecidos requisitos do costume, fiquei a saber que por via da falta de alojamento para tanto instruendo, estava instalada uma pratica comum de, com a apresentação dum qualquer documento médico de pouca convicção, poderia pernoitar fora do quartel.
Aproveitei essa benesse com unhas e dentes e tudo o mais que conseguisse para agarrar essa bendita prática do quartel de Tavira apesar de estar sujeito a ver sugado o meu pecúlio mensal oferecido e cumprido pelo meu ex-patrão e mais o que vinha dos meus familiares.
Quarto para alugar era produto que abundava.
Bastava ir a Porta de Armas que logo alguém apareceria para nos ajudar a tal procura.
Tavira era movimentada por essa industria.
Não havia rua onde não houvesse quartos alugados por militares com pouca vontade de pernoitar no quartel. Esta prática dava-nos também acesso a sermos desarranjados ao jantar: — A não ser que fossemos previamente avisados que não nos poderíamos ausentar do quartel.
 
Alguém logo nos foi alertando com um tom de voz que fazia subentender a prática de um crime militar gravíssimo.
Uma mais-valia para as tascas de Tavira que tinham de alimentar todas aquelas bocas de jovens militares famintos. E não foram poucos os que aproveitavam essa soberba forma de falsa liberdade militar... Para nos era uma golfada de ar fantasiosamente fresco.
 
Para os comerciantes era um abono de família suplementar.
Para os assalariados do exército que tinham obrigatoriamente de nos alojar e alimentar era, sem dúvida, uma forma rápida de fazer pequena fortuna, à custa do que entrava para o orçamento militar daquele quartel, cujas contas já tinham incluída a nossa alimentação, que depois viria a sair sabe-se lá como e para onde!...

In "Memórias dos Anos Perdidos ou a Verdade dos Heróis"
Paulo Lopes (20130801)