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quarta-feira, 22 de abril de 2020

Apresentação na Mataca, por Paulo Lopes

Devidamente autorizado e para que não constasse o meu nome em qualquer escala de serviço, até porque estava apenas em transito e à espera de guia de marcha para seguir o meu destino, hospedei-me em casa dos meus amigos, tendo que fazer uma visita diária ao quartel para saber da minha viagem até Mataca. 



Ainda estive vinte e oito dias em Porto Amélia, os quais foram utilizados da melhor maneira possível, fazendo de tudo e de todos um escape para a ideia atormentadora de que se aproximava a derradeira epopeia para a qual servia a minha presença nesta terra tão distante da minha e que nada me dizia.



Estava na esplanada do Hotel Cabo Delgado desfrutando o prazer de beber uma fresca cerveja para acalmar o estalar na pele do quente sol africano, quando um dos amigos do casal que me dava guarida e que já me tinha sido apresentado, e até já confraternizando numa ou noutra conversa, interrompeu esse prazer: — É pá, vai ao Sector para te entregarem a guia de marcha.

O interlocutor nem me deixou pestanejar e prosseguiu com a sua informação em primeira-mão: segues amanhã comigo para a Mataca.

Fiz-lhe sinal com a cabeça para ele se sentar e acompanhar-me numa bebida. 
Aceitou e enquanto puxava pela cadeira continuou a sua prelecção: — Em vez de ires em coluna de Porto Amélia para Macomia, o que já é mau, e depois ficares lá à espera doutra coluna que te leve para Mataca, o que ainda é muito pior, vais comigo de avião directo a Mataca.

Este meu recente amigo era um piloto de aviões ligeiros, mais conhecidos por Táxis Aéreos, os quais eram fretados pelo exército para fazerem varias distribuições pelos diversos postos militares espalhados por todo o Distrito.



Acabámos a nossa desinteressante conversa no ultimo gole de cerveja e fui cumprir o meu dever de militar.

Feitas as respectivas diligencias no quartel de Porto Amélia estava, no dia seguinte, a despedir-me do casal meu conhecido e pronto para descolar asas até ao meu próximo destino, aproveitando a boleia de avião em vez de fazer as tais colunas de tão má reputação mas que eu, desconhecedor das realidades, não fazia a mínima ideia do que eram.

paulo lopes 
in "Memórias dos Anos Perdidos ou a Verdade dos Heróis"




sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

"HOJE EM DESTAQUE" - " A GRANDE EVASÃO", por Duarte Pereira

RECORDANDO ARTIGOS ESCRITOS NO " PASSADO".
NÃO PERCAM.
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Duarte Pereira
17 de Março de 2015
"HOJE EM DESTAQUE"
" A GRANDE EVASÃO"
ACTOR PRINCIPAL




Gilberto Pereira comentou- António Encarnação, NO COMENTÁRIO ATRÁS DISSESTE QUE O VOSSO ESCRIBA ERA BEM MAIS REFINADO QUE EU. 

FIQUEI A PENSAR E SINCERAMENTE NÃO ENTENDI. 

O MEU PALMARÉS RONDA EXACTAMENTE 1/3 DO TEMPO DE SERVIÇO DESENFIADO NO EXTERIOR. NO RESTANTE NEM SE FALA, QUASE SEMELHANTE A UM TURISTA, NUNCA FIZ PORRA DUM CORNO, ATÉ O 1º SARG CARTEIRO DIZIA: MAL EMPREGADO DINHEIRO NUM SACANA DESTES. 

AGORA SE ERA REFINADO OU EM BRUTO, ISSO EU NÃO SEI. FIZ TANTA MERDA QUE JÁ NEM ME LEMBRO, SÓ QUANDO ME AVIVAM A MEMÓRIA. BEM HAJAM OS QUE DERAM O LITRO POR MIM, UM ABRAÇO PARA ELES.

Gilberto Pereira E POR FALAR ÁS VEZES ME LEMBRO DE ALGUMAS, VOU CONTAR-TE ESTA António Encarnação : NUM DOMINGO BEBEMOS UNS COPOS E COMO O MÉDICO TINHA IDO PARA UMA QUALQUER COMPANHIA, EU PERGUNTEI AO BATANETE SE ERA VERDADE, ELE DISSE QUE SIM QUE TINHA IDO LÁ PARA O CHAI OU COISA QUE O VALHA E ENTÃO COMBINEI COM ELE PARA SIMULAR DOENTE PARA SER EVACUADO. 

ENTÃO FIQUEI NA CAMA AOS AIS E ELE TEVE DE DAR CONHECIMENTO AO MÉDICO VIA RÁDIO QUE EU ESTAVA COM FEBRE E ,MUITO MAL E O MÉDICO DEU AVAL Á EVACUAÇÃO O HORAS. 

O COMANDANTE SIMÕES FOI AO MEU QUARTO MAS ANTES TINHAM AVISADO QUE ELE VINHA LÁ, AINDA FIZ PIOR QUANDO ELE ENTROU E VIU AQUELE ESPECTÁCULO NÃO TEVE DÚVIDA QUE TINHA DE SER EVACUADO. 

TRATARAM DE TUDO E Á NOITE LÁ IA EU NA MACA RUMO Á PISTA. 

TEVE DE SER ILUMINADA E FUI ESTREAR UM TÁXI AÉREO OU LÁ O QUE ERA. 

QUANDO IA ATRAVESSAR A PARADA NA MACA, NÃO SEI BEM SE FOI O BARROS METEU-ME UMA CERVEJA E UMA SANDES DEBAIXO DAS COSTAS E O BATANETE TREMIA E DIZIA-ME BAIXINHO: NÃO TE DESMANCHES SENÃO VAI TUDO PRESO; E LÁ FUI ATÉ MUEDA ........ 

O RESTO CONTO-TE QUANDO TIVER PACIÊNCIA .......

-------- ONDE ESTÁ O MILITAR QUE FARIA UMA CENA DESTAS? 

QUERO CONHECÊ-LO PESSOALMENTE PARA LHE DAR UM ABRAÇO.



António Encarnação Ok, de acordo. Apenas acrescento que entre Macomia e Mueda ...
Quase de certeza que todo o pessoal de Mueda gostaria de passar umas temporadas na paz de Macomia.

Gilberto Pereira MUEDA ERA TRAMPOLIN PARA NAMPULA

António Encarnação comentou- Pelo contrário, eu não fui um desenfiado. 
Por razões de serviço, tinha idas frequentes a Porto Amélia e fiz um "raid" da Beira a Macomia, que foi muito especial e cuja recordação, guardo com satisfação.

Mas como disse, não tinha o espírito de me desenfiar e, por isso e ainda bem, nunca entrei num hospital.
Bem, a verdade é que, embora tivesse pensamentos muito contrários a muita coisa que se passava e decidia, assumi que o meu lugar era ali e fiz os possíveis por participar, de forma construtiva, na vida dos que faziam parte daquela minha nova família. 
Por vezes, até tinha a ousadia de pensar que fazia falta.

Não me desenfiei, mas confraternizei e fiz amizades que, ainda agora, se revelam fortes em pequenos pormenores.

Tenho ideia, talvez errada, que o tempo que passou, o muito tempo que passou, nos leva, eventualmente, a sobrevalorizar e a desvalorizar algumas recordações, de forma a ficarem mais próximas daquilo que agora pensamos ou de como gostamos de olhar para nós.

Como já tive oportunidade de escrever antes, desliguei completamente de Macomia e não vejo quaisquer razões para modificar, mesmo que só para mim, o que pensei e o que fiz. 

Tive uma passagem discreta por aquela terra, mas vivi-a com muita intensidade, como atestam as muitas centenas de slides e fotos que fiz, não da guerra, mas da terra e do seu povo.

Hoje, estou apaziguado com tudo o que aconteceu e recordo com saudade e grande amizade, muitos amigos, mesmos alguns que nunca mais encontrei.

Estas e outras razões, levam-me a aceitar calmamente, cada um dos restantes elementos desta página, a tentar perceber o seu posicionamento em relação aos diversos assuntos, sem espaço para zangas ou birras de espécie alguma.

Estamos juntos.