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segunda-feira, 20 de abril de 2020

VOLTEI A ÁFRICA (4º e último episódio), por Livre Pensador

Livre Pensador
16/04/2020
VOLTEI A ÁFRICA (4º e último episódio)

A ilha do Príncipe está situada a cerca de 170 km da ilha de S.Tomé, ou seja, a quase 30 minutos de avião. 

Tem uma população aproximada de 7000 habitantes e a capital, Santo António que tem cerca de 1200 habitantes é considerada a capital mais pequena do mundo. 



Toda a ilha está coberta por selva tropical o que nos transporta à sensação de estar na África genuína.



Por exemplo, a energia eléctrica só funciona entre as 6 e as 24 horas. 

Também lá imperaram as roças como motor da economia, mas que actualmente estão desactivadas na sua maioria, restando uma ou outra adaptadas ao turismo. 

As suas praias são espectaculares, ainda mais belas que em S. Tomé, mas com as mesmas dificuldades de acesso, como é o caso da Praia Banana, Praia Boi, Praia Grande e outras. 



Dispõe ainda de bonitas cascatas (cascata do Rio Baixarel, cascata Oquê Pipi, etc.), cujos acessos só são possíveis por trilhos percorridos através da selva. 

A maior atracção turística da ilha do Príncipe é, sem dúvida, a visita à Praia Grande onde se pode observar a desova e/ou eclosão das tartarugas. 


A desova verifica-se entre Setembro e Fevereiro, e a eclosão nos meses de Novembro a Abril. 
Este "fenómeno" na praia é controlado dia e noite por vigilantes da natureza, funcionários da Associação das Tartarugas Marinhas. 
Sempre que uma tartaruga põe os seus ovos na praia, num buraco que escava e que atinge 40 cm de profundidade, é espetada uma estaca numerada na areia, a indicar o local da desova. 
Assim, controlam a data da desova, bem como a data em que acontecerá a eclosão. 



A Praia Grande tinha desde Setembro de 2019 até ao dia 21 de Março de 2020 "apenas" 994 ninhos de ovos. 
Todos os dias nascem tartarugas de um ou mais ninhos. 
Assim que saem do solo, com apenas 6 cm de comprimento, caminham apressadamente para o mar. 
De quando em vez param por poucos segundos. 
É para memorizarem o local onde nasceram, segundo explicou o vigilante, e acrescentou: daqui por 20 a 25 anos voltam a esta mesma praia para desovar!!! 

Que maravilha que é a Mãe Natureza!!! (fim)

segunda-feira, 13 de abril de 2020

VOLTEI A ÁFRICA (3º. episódio), por Livre Pensador

Livre Pensador
13/04/2020
VOLTEI A ÁFRICA (3º. episódio)
Na ilha de S. Tomé os colonos portugueses dedicaram-se à criação de explorações agrícolas de cacau e café, designadas por roças. 

Existiam grandes e pequenas roças e o seu número total chegou a atingir a centena e meia. 
As pequenas normalmente vendiam a sua produção às grandes roças. 
Estas, cuja área oscilava os mil hectares eram completamente auto-suficientes. 
Tinham camaratas para os escravos, casas para os capatazes, oficinas de manutenção, estufas para a secagem do café e cacau, rede ferroviária e até hospital. 

O hospital era necessário para tratar algumas das epidemias próprias da época ... e não só! 

Em cada roça, a sua linha férrea destinava-se à recolha e transporte das colheitas até às estufas, feito em pequenos vagões puxados por uma locomotiva a vapor. 

A ilha de S. Tomé que tem uma área de 900 Km2, aproximadamente a área de Lisboa e arredores, chegou a ter 200 Km de linhas de comboio. 
A roça Monte Café fundada em 1858/1868 que visitei, é um desses exemplos e funciona actualmente como roça museu onde é possível ficar a conhecer toda a sua história. 
Dispunha dum efectivo que rondava os 2500 escravos. 
Trabalhavam de sol a sol e todos tinham objectivos a cumprir. 
Se falhassem eram apelidados de "malandros" e o capataz dava-lhes o respectivo "tratamento" e assim passavam uns dias no hospital. 
Por exemplo, às mulheres estava reservada a tarefa de escolher e separar os grãos de café. 
Cada uma tinha de o fazer a 30 Kg de café por dia, sob pena de passar uns dias de "descanso" no hospital. 
Também eram considerados "malandros" todos aqueles que tentavam fugir da roça. 
Para albergar todos os "malandros" o hospital era, normalmente, o maior edifício da roça. 

Todos estes escravos eram oriundos principalmente de Angola e até de Cabo Verde. 
Em Portugal, o comércio de escravos (não a escravatura) terminou oficialmente em 1761. 
Em S. Tomé a escravatura terminou em 1900. 
Os donos das roças foram então obrigados a fazer "contratos de trabalho" com salário descriminado, e assim os escravos passaram a ser considerados trabalhadores. 
Folhas de salário dessa época expostas na roça Monte Café, provam que a maioria dos "novos trabalhadores" nada recebiam depois de todos os "descontos" e "multas" que lhes eram aplicados!
Assim se compreende que S. Tomé/Portugal tenha sido o maior exportador mundial de cacau e café à custa de mão de obra quase a "custo zero"! 
A maior parte das roças estão hoje abandonadas.

Uma ou outra aproveitou o despertar do turismo na ilha e foi reconvertida para hotelaria, restauração e turismo. 

É o caso da Roça Saudade onde nasceu o escritor e artista plástico Almada Negreiros em 1893, bem como a Roça S.João dos Angolares onde pontifica o chefe João Carlos Silva autor do antigo programa de TV "na roça com os tachos".