VOLTEI A ÁFRICA (3º. episódio)
Na ilha de S. Tomé os colonos portugueses dedicaram-se à criação de explorações agrícolas de cacau e café, designadas por roças.
Existiam grandes e pequenas roças e o seu número total chegou a atingir a centena e meia.
As pequenas normalmente vendiam a sua produção às grandes roças.
Estas, cuja área oscilava os mil hectares eram completamente auto-suficientes.
Tinham camaratas para os escravos, casas para os capatazes, oficinas de manutenção, estufas para a secagem do café e cacau, rede ferroviária e até hospital.
O hospital era necessário para tratar algumas das epidemias próprias da época ... e não só!
Em cada roça, a sua linha férrea destinava-se à recolha e transporte das colheitas até às estufas, feito em pequenos vagões puxados por uma locomotiva a vapor.
A ilha de S. Tomé que tem uma área de 900 Km2, aproximadamente a área de Lisboa e arredores, chegou a ter 200 Km de linhas de comboio.
A roça Monte Café fundada em 1858/1868 que visitei, é um desses exemplos e funciona actualmente como roça museu onde é possível ficar a conhecer toda a sua história.
Dispunha dum efectivo que rondava os 2500 escravos.
Trabalhavam de sol a sol e todos tinham objectivos a cumprir.
Se falhassem eram apelidados de "malandros" e o capataz dava-lhes o respectivo "tratamento" e assim passavam uns dias no hospital.
Por exemplo, às mulheres estava reservada a tarefa de escolher e separar os grãos de café.
Cada uma tinha de o fazer a 30 Kg de café por dia, sob pena de passar uns dias de "descanso" no hospital.
Também eram considerados "malandros" todos aqueles que tentavam fugir da roça.
Para albergar todos os "malandros" o hospital era, normalmente, o maior edifício da roça.
Todos estes escravos eram oriundos principalmente de Angola e até de Cabo Verde.
Em Portugal, o comércio de escravos (não a escravatura) terminou oficialmente em 1761.
Em S. Tomé a escravatura terminou em 1900.
Os donos das roças foram então obrigados a fazer "contratos de trabalho" com salário descriminado, e assim os escravos passaram a ser considerados trabalhadores.
Folhas de salário dessa época expostas na roça Monte Café, provam que a maioria dos "novos trabalhadores" nada recebiam depois de todos os "descontos" e "multas" que lhes eram aplicados!
Assim se compreende que S. Tomé/Portugal tenha sido o maior exportador mundial de cacau e café à custa de mão de obra quase a "custo zero"!
A maior parte das roças estão hoje abandonadas.
Uma ou outra aproveitou o despertar do turismo na ilha e foi reconvertida para hotelaria, restauração e turismo.
É o caso da Roça Saudade onde nasceu o escritor e artista plástico Almada Negreiros em 1893, bem como a Roça S.João dos Angolares onde pontifica o chefe João Carlos Silva autor do antigo programa de TV "na roça com os tachos".
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