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domingo, 13 de outubro de 2019

Ataques à ponte sobre o rio Messalo..., por Livre Pensador

Livre Pensador 




Devido a algumas dúvidas, incertezas e "apagamentos" na minha memória, o Livre Pensador (Ribeiro) esclareceu-me e deixou este depoimento, que vos deixo para recordar, sobre os ataques à ponte sobre o Rio Messalo.

"Pardal, durante os quase 25 meses que estivemos no Chai houve alguns ataques à ponte do Messalo. 




No entanto, aqueles de maior envergadura foram em Maio e Outubro de 1973 em que a Frelimo tentou fazer golpes de mão para conquistar e destruir a ponte, tanto assim que nessas duas tentativas eles iam prevenidos com bombas de avião, que depois abandonaram na fuga e nós tivemos de andar a explodi-las com a colaboração dos camaradas sapadores do batalhão.





Em Maio de 73 foi com a ajuda do furriel António e em Outubro de 73 com a colaboração do furriel Bernardo, já falecido. 

Foi no ataque de Maio de 1973, altura em que a ponte era defendida apenas pelo pelotão de Bilibiza, que a Frelimo conseguiu conquistar metade da ponte, originando alguns mortos e feridos nesse pelotão e em que um dos mortos e/ou desaparecido levou uma bazookada de RPG7 quando tentava fugir do abrigo a meio da ponte para os abrigos situados na margem sul. 

Desse militar restou apenas um pedaço de camuflado caído no chão em cima da ponte. 

Como o Briote escreveu no texto atrás, foi o pelotão dele que depois andou a percorrer as margens do rio na tentativa de encontrar alguns restos mortais do soldado. 




A partir desse ataque a ponte continuou a ser defendida durante o dia com o pelotão de Bilibiza e à noite era reforçado com uma secção da 3508. 

Foi essa a situação verificada no grande ataque de Outubro de 1973 em que o pelotão de Bilibiza estava reforçado com uma secção do 3º.pelotão da 3508 comandada pelo furriel Vicente. 

Como te disse, ouve outros pequenos ataques ao longo dos 25 meses, mas reportavam-se apenas a umas morteiradas lançadas de longe. 





Na última de todas, ocorrida em meados de Fevereiro de 1974, estava lá eu com a minha secção e a Frelimo resolveu que não nos ia deixar dormir nessa noite. 

De hora a hora, mais ou menos, lançavam uma morteirada que rebentava relativamente afastada da ponte. 

Ás duas ou três primeiras ainda respondemos, mas depois eu decidi que parávamos por ali. 

Eles continuaram a "brincar" até amanhecer. 

Abraço, rapaz".

quarta-feira, 9 de março de 2016

Histórias do Chai VIII (1972/1974), por Livre Pensador

 
A companhia de cavalaria 3508 assegurou a defesa da ponte do Messalo desde Fevereiro a Agosto de 1972, com um pelotão lá colocado permanentemente.


A partir desse mês, essa missão passou a ser desempenhada por um grupo de combate duma companhia moçambicana estacionada em Bilibiza.
Objetivo da alteração: permitir que a 3508 ficasse disponível para desempenhar ainda mais operações no mato.
Uma dessas muitas operações foi realizada em Novembro de 1972 e tinha como objetivo a zona compreendida entre o Chai e o Mucojo, pois sabia-se da implantação de bases da Frelimo nessa área.
Seria uma missão a desempenhar em 3 dias.
Era já época das chuvas e as ditas não se faziam rogadas e, por isso, a progressão na mata era muito difícil.
Difícil foi também atravessar o rio Licualedo (afluente do Messalo na margem sul), pois as suas margens estavam de tal forma alagadas (e alargadas) que demorámos várias horas a ultrapassar aquele obstáculo e sempre com água pela cintura. No final do 2º. dia tornou-se evidente que seria impossível atingir o objetivo da missão nos 3 dias para os quais tínhamos ração de combate, pois como é costume dizer-se "a procissão ainda ía no adro".
 
Por essa razão, na manhã do 3º. dia informámos o oficial de operações do batalhão 3878 (major "Alvega") que precisávamos de reabastecimento de rações de combate para mais dois dias, a fim de conseguirmos terminar a operação.
A resposta, via rádio, do "distinto" oficial foi clara e rápida: "A RAÇÃO QUE DÁ PARA 3 DIAS TAMBÉM DÁ PARA 5"!!!
Era vulgar dizer-se que um militar não virava a cara á luta.
Foi o que fizemos.
Por essa razão insistimos no pedido ao oficial de operações.
A sua (dele) segunda resposta foi ainda mais rápida: "COMAM CAPIM"!!!
 
Palavras para quê?
Apenas soltámos aquele grito de revolta que se resume a 3 letras "FDP"!!!
 
Em resumo: mais uma missão cumprida e comprida (5 dias), mas sem qualquer contacto com o inimigo porque ... também não fizemos por isso!

Duarte Pereira Livre Pensador. Em Novembro de 1972 já estávamos na nossa última base.
Falta de comunicação.
Só teriam de chegar ao Mucojo, o que não seria fácil.
Depois era telefonarem para a 3509.
O Major Alvega, faria esses comentários.
Depois bebia mais um gole e era capaz de chorar.
Paulo Lopes Mas pergunto eu: porque raio estão estes textos escondido?
Hoje, tenho muita pena de não os ter encontrado antes de ter escrito, em definitivo, o "Memórias dos Anos Perdidos ou a Verdade dos Heróis", pois tinha recolhido muito mais matéria e muito melhor e bem escrita que as minhas.

O livro seria outro.
Abraço a todos e um em especial para o Livre Pensador (Ribeiro).
José Lopes Vicente Mais uma ótima narrativa de uma operação iguais a tantas outra que efetuamos e que nos faz relembrar as dificuldades que os operacionais passaram.
Obrigado .
Armando Guterres Não tenho nada a ver com esta situação.
Nunca me molhei
Nunca tive contacto com o inimigo
(só com amigas - numa op. na Mataca e na op machamba no Quiterajo)
E quanto a ração de combate ... nada a assinalar ... numa em duas fui reabastecido de cerveja fresquinha.
E na op. machamba também fomos reabastecido de quatro garrafas de champanhe e não fora o heli canhão mais houvera.

Paulo Lopes Este nosso amigo Armando Guterres foi (e espero e desejo que ainda seja e para sempre) um grande sortudo na tropa (também teve a inteligência de o ser).
Eu recordo-me que, numa Op. que durou 23 dias (penso) estivemos 3 dias à espera de sermos reabastecidos num dos reabastecimentos calculados (ou não)!
Duarte Pereira Paulo Lopes. Parece que também tiveste o nosso "Mapé" de Abril/Maio de 1972.