Á medida que os meses de comissão da Ccav. 3508 se vão acumulando em terras moçambicanas, vai sendo também evidente algum desgaste físico e psicológico nos seus militares.
Porém a atividade desenvolvida não conhece tréguas a nível de operações no mato.
Estas são cada vez mais frequentes, mais longas e mais perigosas.
Um bom exemplo disso mesmo foi a operação desencadeada nos primeiros dias de Fevereiro de 1973.
A mensagem recebida da sede do batalhão determinava que se fizesse uma operação de 5 dias procurando localizar e destruir objetivos inimigos na Serra do Mapé e mencionando que os grupos de combate envolvidos deveriam regressar ao Chai ou á Mataca, segundo decisão a tomar pelo oficial de operações, conforme o decorrer da operação.
De acordo com a programação estabelecida na 3508, esta operação estava destinada ao 2º. e 4º. pelotões.
Contudo, dada a previsível perigosidade da mesma, foi decidido reforçar esse contingente com o 1º. pelotão, que era o meu.
Não minto se disser que, pelo menos os graduados, pensaram na hipótese de tentar iludir o comando, fornecendo falsas localizações nas comunicações diárias, para não atingir o objetivo (Serra do Mapé), e ficando a "pastar" pelos arredores do Chai.
Porém, alguém sugeriu que isso era arriscado pois poderíamos receber ordem de regressar á Mataca, se eventualmente estivéssemos perto do Chai.
Não tivemos alternativa senão avançar para a Serra do Mapé.
O percurso foi penoso.
Em certas zonas da floresta só era possível progredir abrindo caminho á catanada, tal a sua densidade, que nem se conseguia ver o céu durante largos períodos.
Perante tão grande esforço a água dos nossos cantis acabou por se revelar muito pouca.
Valeu o facto de encontrarmos lianas com relativa frequência e ao cortá-las conseguíamos saciar a nossa sede com a sua preciosa seiva.
Militarmente falando esta operação correu bastante melhor do que imaginámos inicialmente.
Os contactos com o inimigo quase não existiram, para nosso bem.
Foram destruídas as palhotas de 3 aldeamentos e capturámos 1 homem, 1 mulher e 1 criança, todos "machambeiros", ou com aspeto disso.
Quando na manhã do 5º. dia pedimos autorização para regressar, tal como tínhamos suspeitado, esse destino era a Mataca.
Aí a situação complicou-se porque o nosso guia não sabia o caminho para lá e nós ainda muito menos.
Foi então que pedimos o apoio dos camaradas da Mataca.
A Ccav. 3507 rebentava uma granada de mão de 30 em 30 minutos e assim nos fomos aproximando ajudados pelo som dos rebentamentos.
Obrigado aos camaradas da Mataca por isso, por nos terem recebido no seu quartel da melhor forma possível e por nos terem transportado em coluna, no dia seguinte, até ao Alto do Delepa.
Daí seguimos para Macomia e depois para o Chai.