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sábado, 10 de outubro de 2020

A bordo do navio Niassa..., por José Monteiro

Quase Diário ( 2 )
13 de Abril de 1967

Segundo dia a bordo do navio Niassa, misto de passageiros e de carga. 
Vou conhecer esta minha casa flutuante. 
Já só vejo água por todos os lados, vou á popa e apanho com vento que me sabe bem, a ondulação ainda se suporta. 

Camaradas da minha secção, aqueles com quem o relacionamento é mais constante, dizem-me para " visitar " o seu local de aposento. 

Espreito pelo buraco, onde normalmente vão mercadorias, que está dividido em três andares, onde os soldados pernoitam.
São, na verdade, condições degradantes e desumanas. 
Não se vive no escalão social mais baixo de qualquer sociedade e o exército, em muitas situações, não escapa a isso.

Por mim, na classe de sargentos, não tenho razão de queixa. 

Dormi e comi bem e sempre superior a qualquer quartel por onde passei. 

Os tripulantes eram simpáticos e havia, no meio daquela juventude, uma senhora, já com idade em relação a nós, uma enfermeira civil.

Hoje à noite está anunciado cinema, " esplendor na relva " de Elia Kasan, com Warren Beatty e Natalie Wood. 

Tenho que aproveitar para o tempo passar.



quinta-feira, 18 de junho de 2020

O Abrigo e as Pulgas..., por Livre Pensador

Livre Pensador
17/06/2020

O aquartelamento do Chai, onde a Ccav. 3508 esteve sediada desde Fevereiro de 1972 até Março de 1974, tinha vários abrigos distribuídos pelas suas instalações.


Mas os abrigos sempre tiveram uma dupla finalidade. 

Serviam para defesa dos ataques de morteirada e também serviam de "hotel" aos vários cães que permaneciam no aquartelamento. 


Este que se vê na foto estava localizado em frente da messe de sargentos.

Protegeu-nos de vários ataques (pelo menos 4, nas datas de 11/7/1972 - 8/8/1972 - 9/6/1973 - 14/10/1973), mas também fez com que sempre fossemos atacados por uma enorme praga de pulgas que eram companheiras dos cães que lá dormiam. 


No final de cada ataque era obrigatório tomar um bom banho para ficarmos livres de tantas pulgas.


O Livre Pensador


sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

O Pacheco morreu..., por Rui Brandão

Há dias que não deviam existir. 

Cheguei hoje de férias e fui dar uma "voltinha" no "face" do Batalhão. 
Tal não é o meu espanto quando leio a notícia do Fernando Silva António. 
O Pacheco morreu há 3 anos.



Não estou, ou continuo a não estar preparado para este tipo de notícias no que diz respeito àqueles que comigo partilharam o dia a dia em Macomia. 
Não é mesmo nada fácil para mim.

Pacheco!!! não tiveste o "músculo" para te aguentares com um desgosto de Amor. 
Entregaste a tua vida ao alcoolismo. 
Ok, foi uma escolha...
Recuperaste eu sei. 
Mas a procura de um suicídio lento foi o caminho que inclusivamente te levou a evitar os companheiros de Guerra que te iam procurando. 
Não te censuro. 
Os amigos para além de outras coisas, servem para compreender. 
Foste embora mais cedo. 
Não interessa. 
Continuarei a procurar-te nas minhas memórias onde aparece a tua frontalidade, a nobreza, a pureza da maneira de ser e estar e a constante procura de partilha. 
Foste um exemplo para todos nós, em como um homem deve estar com amigos. 
Deixa-me publicar as tuas frases que fizeram História numa companhia C.C.S que entre 1972 e 1974 permaneceu em Macomia.


Quando alguém casava... Disparavas. 
Putas as mesmas, cabrões mais um!!!
Quando recebias as encomendazitas dos teus Pais do Algarve... 
Desabafavas. 
A puta da velha, em vez de mandar uma garrafa de medronho, só manda bolos de amêndoa.
Quando arrancávamos para as nossas costumadas patuscadas... 
Desafiavas. 
Morra quem se negue!!!



Quando fomos violentamente atacados à morteirada, saíste debaixo de fogo do abrigo e correste para a fogueira da cozinha da messe de Sargentos para retirar o tacho do lume de uma valente caldeirada de línguas de bacalhau... 
E vociferaste. 
Estes filhos da puta (frelimos) ainda me deixam queimar as línguas de bacalhau !!!
Quando me viste pela primeira vez a "carecada" com que fiquei assim que cheguei a Macomia... Gritaste.
Caralho!!!
Pareces o menino Carlinhos!!!
Assim fiquei com a alcunha do menino Carlinhos.



Quando nasceu o meu 2º filho, já tínhamos rodado para Ribaué, perto de Nampula. 
Pus-lhe um nome fictício - Momade Issufo - . 
Tu foste designado por mim como o padrinho do puto. 
Assim aconteceu. 

Quando chegámos a Lisboa, estiveste presente no "batizado" e ficaste o padrinho do Nuno Miguel.
Que mais podemos ter Pacheco? 
Nada, não queremos ter mais nada. 
A nossa amizade chega, mesmo em "suporte" de memória. 
Fica bem meu companheiro Furriel Miliciano Cripto.