Livre Pensador
(Nota: estas histórias estão a ser publicadas de acordo com a ordem temporal em que sucederam, pelo que poderão surgir algumas que já tenham tido comentários esporádicos nesta página).
Estávamos no dia 24 de Maio de 1972.
A CCav. 3508 tinha de fazer uma coluna com picagem até ao Monte dos Oliveiras e montar segurança á coluna do esquadrão que vinha de Macomia.
São destacados o 2º. e 3º. grupos de combate para a tarefa.
Por impossibilidade do furriel Belo (especialista de minas e armadilhas do 2º. pelotão) sou convocado para a missão.
A primeira parte do percurso de 4 a 5 km do Chai até á ponte de Mapuedi é feita em coluna motorizada, em velocidade muito lenta.
Na Berliet rebenta-minas ocupada apenas pelo condutor Bento e por mim, olhamos com atenção para o alcatrão tentando descobrir algum indício suspeito de mina.
Chegados á ponte dei início á picagem, ao mesmo tempo que se preparam os militares com funções de segurança.
De repente uma explosão.
Todos se atiram ao chão e é desencadeado um tiroteio.
Após alguns segundos (ou minutos) percebe-se que os tiros são apenas das nossas forças.
É dada ordem de cessar fogo.
Assim que me levanto do chão fico estarrecido.
Não vou aqui pormenorizar aquilo que os meus olhos viram quando encarei o que restava do militar que ia a montar segurança á minha retaguarda.
Qualquer ex-militar pode imaginar o cenário visível se pensar no resultado da explosão de 2 ou 3 dilagramas que o 1º. cabo Manuel Delgado transportava á cintura.
Os pneus do lado direito da Berliet ficaram furados.
A coronha da minha G3 ficou cravada com alguns estilhaços, mas eu nada sofri.
Esta morte, por ser a primeira sofrida pela CCav. 3508 e também pelo modo como aconteceu, afetou de forma significativa a moral de todos os seus combatentes, porque ninguém estaria mentalizado para ver tombar daquela forma inglória um dos seus melhores militares até áquele momento.
Que continue a descansar em paz!