Estávamos como sempre, ano após ano, década após década, numa evidente aparentada época de calmaria política alimentada por um mesmo regime de longos anos no poder.
Poder que incansavelmente não poupava esforços para fomentar uma ignorância propositadamente imposta e nada interessado em divulgar assuntos que fizessem os jovens de precárias posses formarem qualquer pensamento que os levasse a extravasar e mexer com os poleiros dos galos da capoeira, tanto civil como militar, deste meu país à beira-mar plantado de tantos heróis do mar, nobre povo, nação valente...( digo eu hoje que posso dizer. Será que posso? ) tendo ainda, mesmo assim, como um segundo suporte, qual muro de Berlim, para assegurar que possíveis devaneios de alguns tresmalhados não tivessem ideias estranhas, umas quantas diversas polícias para resolver esses assuntos mais atrevidos, com base na força dos bastões empunhados por mãos que se encontravam, por acaso, agarradas a corpos com cabeças mais ou menos ocas, embelezadas com olhos de pedras não preciosas, metidos dentro de fardamentos que lhes transmitia um orgulho igual à estupidez que sempre os acompanhava tanto na rua como no seio dos seus lares mas que sabiam, se sabiam, manejar a sua arma, consoante os cordelinhos que os seus superiores moviam tal e qual marionetas encorpadas de pano e palha com cabeça de madeira, manietadas por alguém escondido dentro de uma pequena barraca sem teto e que tentava divertir a pequenada pelas ruas de Lisboa.
E assim iam conseguindo mover o seu moinho, pelo qual não passava qualquer leito de rio ou riacho, mas sim uma enorme enxurrada de medos e receios.
Os anos passavam empurrados pelas horas sempre iguais e as alternativas de melhorias eram sempre prometidas e nunca cumpridas.
Situação que já vem da História Antiga e de que, ainda hoje, não vislumbro uma visão muito diferente para que possa, substancialmente, dizer que algo mudou: os poleiros ainda existem, só que agora são mais.
Os bastões também mas agora dão choque.
As fardas têm aspecto de serem mais leves e quem as veste, provavelmente tira-as quando chega a casa (não todos, obviamente) e coloca de lado a profissão vestindo a farda de homem comum que é, com ou sem farda!...
Os cordelinhos, esses, quem os move, são outros mas iguais ou parecidos aos de outrora, com a mesma prepotência e presunção de quem gosta, quer e tem o poder nas suas mãos.
Normalmente usa-o para benefício próprio e dos seus afilhados sempre a desfavor dos que fazem do trabalho por conta de outrem o seu dia-a-dia, colocando sempre nos seus ludibriosos e inteligentes discursos a sensação de pessoas de bem e esforçadas para melhorar a vida dum povo que os elegeu.
E o pior é que esse desfavorecido povo, tão desfavorecido quanto indulgente, elege-os mesmo, eleição após eleição!
In "Memórias dos Anos Perdidos ou a Verdade dos Heróis"
paulo lopes
Sem comentários:
Enviar um comentário