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domingo, 8 de março de 2015

OS GRADUADOS "LEMBE-BOTAS", por Duarte Pereira

Duarte Pereira
 
INSPIREI-ME NESTAS PALAVRAS DO GILBERTO PEREIRA PARA ESCREVER UM PEQUENO, GRANDE TEXTO QUE ACABA POR SER HISTÓRICO PARA A COMPANHIA 3509 DO BATALHÃO DE CAVALARIA 3878, MOÇAMBIQUE 1972/74.
 
FAÇO UM POUCO DE HISTÓRIA.
A ÚLTIMA COMPANHIA DO BATALHÃO (3509) ERA COMANDADA POR UM CAPITÃO DE CARREIRA.
NÃO TINHA NASCIDO PARA "AQUILO" .
 
OS QUATRO ALFERES QUE CONHECI E FELIZMENTE AINDA CONHEÇO, ERAM DE COIMBRA PARA CIMA. LOGO GENTE INTELIGENTE DOU COMO EXEMPLO, QUE TRÊS EX-ALFERES AINDA TRABALHAM EM PROFISSÕES EXIGENTES E ESPERO QUE BEM REMUNERADAS.
 
O OUTRO, EX-BANCÁRIO TAMBÉM CONTRIBUIU NA ALTURA PARA A ECONOMIA DO PAÍS.
 
RECORDO O ANO DE 1971 EM SANTARÉM.
 
APLIQUEI-ME, ESTUDEI, DEI AO CANELO NO INVERNO, PRIMAVERA, VERÃO E INVERNO.
 
FIQUEI EM 2º LUGAR NO MEU CURSO.
 
O 1º CLASSIFICADO ERA MESMO BOM E SAIU-LHE A GUINÉ.
 
EM SANTA MARGARIDA FUI O "COMANDANTE" DOS FURRIEIS NUMA VIATURA DO LIXO QUE OS TRANSPORTAVA.
 
O MEU FUTURO ESTAVA TRAÇADO.
 
 
 
JÁ EM MOÇAMBIQUE DOIS EX-ALFERES, DEPOIS DE FAZEREM A ANÁLISE DO SEU COMANDO NOS PRIMEIROS MESES, OFERECERAM-SE PARA OS GE´S.
 
HAVIA UM FURRIEL, ALTO DE BIGODE E BOAS FALAS (REBELO) E "LIGADO" AO COMANDO QUE FOI O PRIMEIRO A SER GRADUADO EM ALFERES.
 
ERA DO 1º PELOTÃO.
TEVE AZAR, ENVIARAM-NO PARA A "PORRADA" EM CABORA BASSA.
 
CONTINUAVA A FALTA DE COMANDANTES DE PELOTÃO.
 
EM NOVEMBRO DE 72 E DEPOIS DE TEREM CONSULTADO OS "ASTROS", NOMEARAM-ME.
 
O FERRAZ FOI GRADUADO CAPITÃO E FOI COMANDAR O QUITERAJO.
 
POUCO TEMPO DEPOIS, PENSO EU, O SILVESTRE PIRES TAMBÉM FOI GRADUADO PARA PERMANECER NO 1º PELOTÃO.
 
ORA EU, CÁ O RAPAZ, TINHA ESTADO QUASE UM ANO NO 4º PELOTÃO COMANDADO PELO AMÉRICO COELHO E TENDO COMO "PARELHA" O EX-FURRIEL FERNANDO LOURENÇO.
 
CONHECIA OS SOLDADOS E CABOS POR DENTRO E POR FORA, JÁ OS TINHA VISTO TOMAR BANHO.
 
QUANDO ME DISSERAM QUE IRIA PARA O 3º PELOTÃO, EMBORA CONHECESSE DE VISTA E DE FAMA ALGUNS ELEMENTOS, SERIA DIFERENTE.
JÁ ME DAVA COM O EX-FURRIEL MADEIRA QUE TOPAVA BEM O MARALHAL.
 
EM MEADOS DE 1973, RENDIÇÃO INDIVIDUAL MANDARAM PARA LÁ O "MALUCO" DO MANUEL CABRAL, QUE AINDA VINHA COM A FEBRE DO "COMANDO" DA METRÓPOLE.
 
QUASE VOLTEI AO PRINCÍPIO. DEPOIS DE UM ANO A COMEÇAR A PERCEBER O QUE CADA UM PENSAVA E O QUE PODERIA VALER EM CASO DE BRONCA NO MATO OU NALGUM ATAQUE.
 
 
ANTES QUE ME ESQUEÇA, ESTOU TRISTE.
NAS VÁRIAS FOTOS TIRADAS NO MUCOJO NÃO CONSIGO VER NENHUMA DOS QUATRO EX-ALFERES DA 3509.
 
 
TAL ERA A SUA RESPONSABILIDADE OU FALTA DE OPORTUNIDADE.
 
O TERCEIRO PELOTÃO MUDOU DE VIDA, NÃO SEI SE PARA MELHOR .(AVENTURA PASSOU A TER).
 
ATÉ AO ALTO DA PEDREIRA, EM BASES PROVISÓRIAS COM POUCA PROTEÇÃO E POUCAS CONDIÇÕES COMO JÁ FOI DESCRITO POR ALGUNS, ERA UMA VIDA DE CIGANO.
PODÍAMOS TER SIDO "APANHADOS À MÃO".
TENDAS RUDIMENTARES, ÁGUA A CORRER COM AQUELAS CHUVADAS DILUVIANAS.
A ÚNICA TENDA "DECENTE" ERA A DOS GRADUADOS.
 
ESTAR QUASE UM ANO NO QUARTO PELOTÃO, DEU-ME EXPERIÊNCIA.
A CAUTELA DO AMÉRICO COELHO, O ESPÍRITO DE AVENTURA DO FERNANDO LOURENÇO.
O TERCEIRO PELOTÃO CONTINUOU ESSA SAGA.
 
SER ALFERES!!!
TER ALGUM PODER DE DECISÃO!!
NA ALTURA NÃO SABER AINDA BEM O QUE ERA "PAGAR" PELA SUA IRRESPONSABILIDADE.
 
CONFESSO, GOSTEI DE TER "O PODER"!!
DENTRO DOS LIMITES IMPOSTOS, ESCOLHER, VAMOS, PARA AQUI, PATRULHAR AQUI, MOLHAR O "CU" ALI.
 
 
EXPERIÊNCIA ÚNICA E CONFESSO QUE GOSTEI DE SER GRADUADO "LEMBE-BOTAS".
ALGUM MAIS DINHEIRO QUE GANHEI FOI INVESTIDO EM CONSTRUÇÕES NO ALTO DA PEDREIRA E COMPRA DE CAÇA PARA A MALTA.
 
SEI QUE MUITOS NÃO IRÃO LER TUDO, TEREI ESQUECIDO ALGUMAS COISAS QUE PORVENTURA JÁ TEREI PUBLICADO.
ESTE TEXTO IRÁ PARA A MINHA PÁGINA PESSOAL DO FACEBOOK, PARA UM DIA MAIS TARDE SE CÁ ESTIVER, LER AO MEU NETO.
 
GRATO PELA VOSSA ATENÇÃO.
PODE SER QUE CONSIGA UM "GOSTO" DO FERNANDO LOURENÇO.
EU GOSTEI DE O ESCREVER. 

domingo, 22 de dezembro de 2013

No dia em que o inimigo fugiu de mim... e eu dele..., por Manuel Cabral


Foto de Duarte Pereira.
Manuel Cabral
Duarte Pereira
Duarte e Lourenço,

Pois é, meus amigos, já passaram 40 anos desde a minha chegada a Macomia, para me juntar à CCAV 3509 e à vossa companhia!

Vocês regressaram nos princípios de 1974 e só nessa altura - com a chegada do Batalhão de checas, é que eu entendi o que era essa raça medonha de recém chegados da Metrópole!
Uma cambada de ignorantes, que diariamente punham a si e aos seus em eminente perigo!...

Lembro-me de uma das primeiras colunas que fiz com eles, subi na Berliet em frente ao quartel e o gajo arranca por ali abaixo, passa o cruzamento (da estrada para o Chai) e lá vai ele em direcção ao Alto da Pedreira, a todo o gás!
Como imaginam fui a viagem toda com o credo na boca!
 
Louvei por diversas vezes a sorte que tinha tido em apanhar uns gajos já tarimbados, o que facilitou a minha integração na realidade do local e do momento!
 
Lembro-me de ser assediado - já não me lembro por quem! - para trocar as minhas divisas novinhas de furriel por umas já usadas!
 
Enfim, os tempos que passei na vossa companhia nem foram assim tão maus!
 
Como o Duarte dizia no outro dia, havia ainda as escapadas ao Mucojo para uns banhos de praia, umas lagostas e ainda umas pequenas pérolas de que trouxe oito exemplares com que fiz um anel que ofereci à minha mãe!
 
E havia o Benfica e o Sporting, dois bairros do Mucojo, onde havia umas nativas sempre disponíveis para acalmar os ânimos...
 
Nas "protecções" que fazíamos às obras da estrada, ainda me lembro de levar uma daquelas camas de lona de praia, azul petróleo, e dormir até à hora do regresso...
 
Só uma vez tive contacto com o "inimigo", mas já não me lembro se foi ainda no vosso tempo, ou se terá sido depois.
Tinha ido numa patrulha rotineira - éramos largados num dia e recolhidos no outro, na nossa estrada - e ao final do dia caiu uma chuvada do "caraças".
Abrigámo-nos debaixo de uma árvore a aguardámos o amanhecer.
Durante a noite ouvimos umas explosões ao longe, mas com o temporal nem tivemos a certeza do que seria.
De manhã. com o clarear do dia e sem chuva, qual o nosso espanto ao vermos que aí a uns 150 metros estavam uns gajos a levantar-se também! Era o "inimigo"!
Não sei quem apanhou o maior susto - se nós (uns 10 heróicos defensores da Pátria!) se eles, um pequeno grupo de guerrilheiros!
 
Nós pensámos que eles tinham ido atrás de nós, a partir duma daquelas bases que tinham na região, e eles - soubemos depois que tinha havido um ataque a um aquartelamento, talvez o Chai, já não me recordo - devem ter pensado que nós éramos ou páras ou comando, lançados em sua perseguição!
 
Lembro-me que nós nos espalhámos numa linha e começámos a andar na direcção da "nossa" estrada, e eles, espalharam-se em linha e foram andando para o outro lado!
 
Dois grupos sensatos de inimigos!
 
Mas isto foi quatro décadas atrás!

Abraço

Manuel Cabral (2013-2-10)