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quarta-feira, 18 de junho de 2014

Estrada Nacional 243 - Estrada Maldita?..., por José Capitão Pardal

 
 
 
Estrada Macomia - Monte dos Oliveiras - Chai
 
Esta estrada, era a célebre estrada que ligava Maputo (Lourenço Marques) e Pemba (Porto Amélia) a Mocímboa da Praia, passando por Macomia e Chai, que os "iluminados grandes chefes guerreiros" de gabinete, no início da década de 70, do século passado, projetaram como sendo uma estrada alcatroada-

Estrada alcatroada essa (nacional 243) que a partir de Ancuabe (alguns quilómetros após Pemba) para norte, de alcatrão tinha pouco.
 
Não passava de uma reduzida folha, que cortada apenas com uma catana e soldada com um pouco de fogo, permitia encobrir as minas colocadas, inclusive da equipa de picadores, que por mais astutos que fossem tinham dificuldade em as detetar...
 
E foi nesta estrada maldita que a 21 de Março de 1973, a poucos metros do Chai (muito próximo do aldeamento), uma mina me mandou, a mim e a mais 3 companheiros gravemente feridos, para o Hospital Militar de Nampula, durante quase 5 meses.
E ao fim desses 5 meses, ainda não totalmente reestabelecido, fui mandado novamente para o "mato".
Nessa altura começava a faltar a "carne para canhão".
Esses ferimentos ainda hoje me recordam diariamente essa passagem da minha vida, dado que me afetam sobre maneira a saúde física e não só.
 
Unimog que nos transportava 

 
No Hospital Militar de Nampula
 

Para além dos 4 feridos graves, tivemos igualmente mais 3 feridos ligeiros.
Pior sorte tiveram 3 companheiros que morreram nesse momento.
Dos miúdos que nos acompanhavam faleceram no local ou vieram a falecer posteriormente, 5 ou 6 em consequência dos ferimentos sofridos.
Foram também vários,  os miúdos que ficaram feridos ou estropiados...

Inocentes que nada tinham a ver com aquela guerra...
 
Para algumas mentes, seriam apenas "danos colaterais".
 
Para mim, que os ouvi chorar, eram os meninos da aldeia, que tanto adorava e com quem gostava de brincar...
 
Caros leitores, são estas situações que nos marcam para a vida e fazem de nós aquilo que somos.
 
Imagens e os sons que ainda hoje não esqueço e me consomem o espírito.
E que me vão acompanhar para o resto dos meus dias...
Especialmente, das minhas NOITES.
 
Aquele dia foi para mim o dia mais longo da minha vida.
Curta ainda (22 anitos), mas com uma vivência enorme moldada na picada e no mato de Cabo Delgado.

E continuando relembro:

O efeito das 2 doses de Morfina ministradas pelo amigo Furriel Enfermeiro Gardete, que nesse dia muito trabalho teve, dado que para além das baixas indicadas ainda tivemos mais 1 morto e 3 feridos numa emboscada, na mesma estrada, mas no sentido do rio Messalo, na coluna da água.

E lembro as palavras do Gardete dizendo: vou-te dar uma "dose de cavalo" para te aguentares na viagem.

O som característico dos rotores do helicóptero (que nunca mais me saiu dos ouvidos), numa viagem de helicóptero na evacuação entre Chai e Mueda, completamente "drogado", acompanhado por um anjo, a enfermeira para-quedista (me disse ser também alentejana de Viana do Alentejo e ao que julgo se chamará Mariana), me ia sussurrando ao ouvido palavras meigas e encorajadoras, para que eu aguentasse as dificuldades do percurso.
Nunca mais a esqueci, apesar de nunca mais a ter visto.

A primeira intervenção cirúrgica, ainda em Mueda, onde me engessaram o braço esquerdo e me tiraram um estilhaço da zona lombar junto aos rins.
Intervenção essa que quase não dei por ela, tal era a dose de morfina que levava e me retirou todas as dores durante mais de 24 horas.

Dakota da Força Aérea Portuguesa
 

Lembro ainda, vagamente, de me dizerem que iria ser evacuado para o Hospital Militar de Nampula, de me colocarem numa maca, me meterem dentro duma ambulância, tipo 2ª Guerra Mundial e me levarem para um Dakota, também da mesma época, onde me colocaram acompanhado de um cabo enfermeiro, que acompanhava mais uma vintena de feridos, com o mesmo destino, uns em macas outros sentados no "chão" da aeronave ou até em cima dos mais de 20 caixões (que também faziam parte da carga), até porque os poucos lugares sentados eram ocupados por "gente grande"...

Lembro também: sempre que o avião se inclinava, os feridos, as macas e os caixões misturavam-se numa dança macabra e era o salve-se quem puder...

Continuará este episódio...
 

segunda-feira, 16 de junho de 2014

As comadres entram na página do Batalhão!..., por Duarte Pereira


VENHA LÁ COMIGO, PÉ ANTE PÉ, PARA NÃO DAREM CONNOSCO.
 
TEMOS DE NOS APRESENTAR E AGRADECER A QUEM NOS ABRIU A PORTA, MAS A DA SERVENTIA ESTARÁ SEMPRE ABERTA SE QUISEREM CORRER COM A GENTE.
 
PARA JÁ OBRIGADO!
 
AGORA JÁ CONSEGUIMOS VER A FOTO DO NOSSO "PATRONO".
 
POR ENQUANTO COM O DEDINHO NO AR.
 
ELE ANDAVA UM POUCO CANSADO E NÓS VAMOS TENTAR AJUDAR OU A COMPLICAR.
 
AGORA VAMOS SAIR PÉ ANTE PÉ, ANTES QUE APAREÇA POR AÍ O GILBERTO PEREIRA.
 
NOVIDADE - JÁ ACEITÁMOS UM AMIGO, NÃO LHE FAÇAM MAL, QUE ELE NÃO TEVE CULPA DE NÓS ESTARMOS AQUI.
 
BOA NOITE A TODOS
 
BEIJINHOS.

domingo, 22 de dezembro de 2013

No dia em que o inimigo fugiu de mim... e eu dele..., por Manuel Cabral


Foto de Duarte Pereira.
Manuel Cabral
Duarte Pereira
Duarte e Lourenço,

Pois é, meus amigos, já passaram 40 anos desde a minha chegada a Macomia, para me juntar à CCAV 3509 e à vossa companhia!

Vocês regressaram nos princípios de 1974 e só nessa altura - com a chegada do Batalhão de checas, é que eu entendi o que era essa raça medonha de recém chegados da Metrópole!
Uma cambada de ignorantes, que diariamente punham a si e aos seus em eminente perigo!...

Lembro-me de uma das primeiras colunas que fiz com eles, subi na Berliet em frente ao quartel e o gajo arranca por ali abaixo, passa o cruzamento (da estrada para o Chai) e lá vai ele em direcção ao Alto da Pedreira, a todo o gás!
Como imaginam fui a viagem toda com o credo na boca!
 
Louvei por diversas vezes a sorte que tinha tido em apanhar uns gajos já tarimbados, o que facilitou a minha integração na realidade do local e do momento!
 
Lembro-me de ser assediado - já não me lembro por quem! - para trocar as minhas divisas novinhas de furriel por umas já usadas!
 
Enfim, os tempos que passei na vossa companhia nem foram assim tão maus!
 
Como o Duarte dizia no outro dia, havia ainda as escapadas ao Mucojo para uns banhos de praia, umas lagostas e ainda umas pequenas pérolas de que trouxe oito exemplares com que fiz um anel que ofereci à minha mãe!
 
E havia o Benfica e o Sporting, dois bairros do Mucojo, onde havia umas nativas sempre disponíveis para acalmar os ânimos...
 
Nas "protecções" que fazíamos às obras da estrada, ainda me lembro de levar uma daquelas camas de lona de praia, azul petróleo, e dormir até à hora do regresso...
 
Só uma vez tive contacto com o "inimigo", mas já não me lembro se foi ainda no vosso tempo, ou se terá sido depois.
Tinha ido numa patrulha rotineira - éramos largados num dia e recolhidos no outro, na nossa estrada - e ao final do dia caiu uma chuvada do "caraças".
Abrigámo-nos debaixo de uma árvore a aguardámos o amanhecer.
Durante a noite ouvimos umas explosões ao longe, mas com o temporal nem tivemos a certeza do que seria.
De manhã. com o clarear do dia e sem chuva, qual o nosso espanto ao vermos que aí a uns 150 metros estavam uns gajos a levantar-se também! Era o "inimigo"!
Não sei quem apanhou o maior susto - se nós (uns 10 heróicos defensores da Pátria!) se eles, um pequeno grupo de guerrilheiros!
 
Nós pensámos que eles tinham ido atrás de nós, a partir duma daquelas bases que tinham na região, e eles - soubemos depois que tinha havido um ataque a um aquartelamento, talvez o Chai, já não me recordo - devem ter pensado que nós éramos ou páras ou comando, lançados em sua perseguição!
 
Lembro-me que nós nos espalhámos numa linha e começámos a andar na direcção da "nossa" estrada, e eles, espalharam-se em linha e foram andando para o outro lado!
 
Dois grupos sensatos de inimigos!
 
Mas isto foi quatro décadas atrás!

Abraço

Manuel Cabral (2013-2-10)

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

A emboscada na picada Mueda - Mocimboa da Praia vista do ar..., por Fernando Bento



16 de Julho de 2013 23:29
Mais um episódio para a historia do nosso Batalhão, que vem na sequência da ajuda dos pilotos civis.
Não se alguém conheceu a ilha do IBO, ela faz parte do arquipélago das Quirimbas.
Em Maio de 1973, fiz parte de uma equipa que foi fazer inspeções militares a ex-elementos da "Frelimo" que aí se encontravam presos.
Dessa equipa fazia parte o capitão da 3509, o médico que na altura estava em Macomia, não recordo o nome, talvez os enfermeiros saibam, o alferes Mota e eu claro, que como escriturário (eu sapador), ia para ajudar os mancebos da Frelimo a preencher a papelada.
Uns tempos antes eu e o Mota tínhamos-nos deslocado a Nampula, no sentido de recebermos instruções para essa "missão".
Acabadas as inspeções que demoraram dia e meio, seguimos para a pista para o regresso a Macomia.
O avião só tinha três lugares vagos e azar, eu como menos graduado fiquei em terra o que foi uma "chatice", tive de esperar para o dia seguinte.
Fui para casa do administrador, almocei com ele e nessa tarde foi só praia.
No dia seguinte lá apanhei o avião, que era um avião que fazia a volta pelo Norte, depois do Ibo, aterrou no Quiterajo, a seguir Mocimboa da Praia.
Quando sobrevoávamos a picada de Mocímboa da Praia para Mueda, descortinamos um coluna militar que para aí se dirigia, a ser emboscada, perto de Diaca, o piloto ouvia os pedidos de ajuda da coluna, parece que a coisa estava feia, tinha rebentado uma mina e segundo parece havia feridos com alguma gravidade, então o nosso amigo piloto reforçou os pedidos de ajuda para Mueda.
Quando aterramos em Mueda já varias viaturas com pessoal seguiam para reforçar a coluna emboscada.
Depois de largar os passageiros seguimos então para Macomia, já só vinha eu e o piloto, durante esse trajeto não falamos de outra coisa que não fosse o que tínhamos acabado de assistir.
Ele que fazia aquela volta, assistia quase sempre a emboscadas naquela estrada.
Quanto a mim vê-la lá do alto era bem melhor.
Não sei se alguma vez comentei isto com alguém, estou agora a partilhar convosco.
Um abraço.