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sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Alto da Pedreira, por Duarte Pereira

 
Devido à minha "timidez" tenho falado muito nos ex-combatentes da minha companhia.
 
Depois comecei a acompanhar e tentar identificar elementos de outras companhias.
 
 
Chegou a minha vez.
 
Nos primeiros tempos andava mais ou menos calmo, porque ainda não sabia onde "andava metido".
 
Ao fim de algum tempo na base do aldeamento de Nambine e quase à noite fui buscar com uma secção o correio a Macomia.
 
Em 13 de Julho de 1972 enfiaram-me uma "tosga" que fiquei quase em "coma".
Devo ter ido de Nambime até Macomia deitado num unimog.
 
 
 
Entretanto saíram três ex-alferes da companhia.
O capitão começou a meter "baixa" e a seguir ao ex-alferes Américo Coelho, eu seria o "mais antigo ex-furriel".
 
Talvez em Setembro de 1972 chegámos à última base (Alto da Pedreira).
 
 
Com a possibilidade do ex-capitão estar de baixa e o Américo Coelho estar em Macomia ou de férias aquela "chafarica" estava sob o meu "poder".
 
Um puto com 22 anos com um curso para "tentar mandar "nuns sete ou oito e apanhar com uma base de milícias e dois ou três pelotões, da companhia. ?
 
Havia um assessor que comigo foi pescador.
 
Tínhamos um caçador.
 
Em 1973 tive de falar em Macomia com quem eu não queria.
 
 
 
Pouco tempo passava dentro do quartel.
 
Pensei que os "graduados" não seriam bem vindos à messe dos mais antigos.
 
Sentia-me mais "livre" na base do que na sede do batalhão.
 
Esta é um pouco da minha "história"
Nos últimos três anos já narrei muitos episódios.
 
Os mais novos que avancem.
Estou a ficar cansado.
 
 

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Vê para onde vais ou onde te mandam, por Duarte Pereira

 
Quando um "pai " faz um filho, não consegue saber o dia da sua "compilação.

Tira nove meses ao dia do seu nascimento e terá uma ideia.

Já não sei se este Grupo irá a caminho da sua primeira "diuturnidade". ?

"Criado" por um "quadro intermédio" no escalão militar da altura.

Quem apreciará mais. ?

Os que "não mandavam" ?

Os "quadros intermédios" que pensavam que mandavam.

Os "quadros médios" que não fariam nada sem os "quadros intermédios" ?.

Em Santarém nos seis primeiros me...ses, só obedecia.

Nos seis meses seguintes antes de "avionar" para Moçambique , pensava que mandava.

No primeiro ano em Moçambique, não valia a pena mandar.
Estávamos todos no mesmo "barco".

No segundo ano de comissão, cheguei à conclusão que já era tarde para "mandar". 
 Funcionava tudo em "piloto automático".

Nos últimos meses, foram-se cortando as "aventuras".
Queríamos chegar vivos e de boa saúde ao avião que nos traria de volta.

Resumindo : Primeiros dois ou três meses, "cagufa".

Meses seguintes "falsa confiança e alguma aventura ".

Últimos dois meses "Vê para onde vais ou onde te mandam ".




 

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

O CONTRIBUTO DA EXPERIENCIA MILITAR PARA O ENRIQUECIMENTO DA DIMENSÃO HUMANA II, por António Ferraz


Luís Leote
Texto de António Ferraz .
Fiz e sofri a guerra.
 
No chão tive sempre total autonomia de comando.
Vivi 40 meses integrado nas Forças Armadas dos quais 26 em Cabo Delgado (Moçambique) na área do Batalhão de Macomia, de Fevereiro de 72 a Março de 74.
 
Fui ferido em combate e transporto na mão, e no braço direito e na cabeça alguns dos estilhaços duma granada de mão com que a FRELIMO me presenteou numa emboscada, junto ao Rio Diquide, afluente do Messalo, em 12 de Novembro de 1972.
 
Um mês antes, chamados pelo cantar repetido dum galo, seguindo um trilho fresco, iluminados pelo luar, desprezando possíveis minas anti-pessoais e armadilhas, desconhecendo se o acampamento inimigo estava armado, mas sem um único tiro, acordámos e capturámos os residentes desse acampamento inimigo.
 
A nossa imprudência teve sorte, pois soube-se mais tarde, o único guerrilheiro da Frelimo que aí fora dormir, teve a sensatez de se esconder e não disparar.
 
Capturámos 10 mulheres, 10 crianças e 3 homens que desde 1964 no início da guerra, ficaram sob o controlo da Frelimo e foram após a operação então entregues á administração portuguesa.
 
Mais outros três golpes de mão bem sucedidos, e praticamente sem uso das armas, a não ser na resposta, quando vieram no nosso encalce, lembro com orgulho.
 
Seria mais fácil e de menos riscos entrar a varrer, do que sujeitarmo-nos em mera fracção de segundo a levar um tiro de quem mais atento já tivesse dado conta da nossa presença.
 
Com este orgulho de na guerra poupar vidas, a 18 de Março último na povoação de Ilala (antiga Cobre) entre Mucojo e Quiterajo, chorei mas de alegria: 37 anos depois voltava a abraçar o pequeno Ali Aín que em Março de 1973 capturámos com o Alid e deles fizemos os meninos da Companhia, permanecendo e vivendo connosco nas pobres instalações de nosso aquartelamento.
 
Não esqueço os momentos de profundo desgosto e desespero pela morte do alferes Lopes em 15 de Junho de 1973, pois cumprindo o exemplo de todos os oficiais da Companhia seguia ao lado do condutor do rebenta – minas e a equipa de picagem não encontrou a mina anti-carro que o matou.
 
Não esqueço a prostração pela morte do Ângelo Pequenino, que após passagem de oito camaradas pelo mesmo trilho accionou uma mina anti-pessoal e que fui buscar já morto na picada para Mocimba da Praia num pincher.

 
 
Lembro-me bem no Alto da Pedreira, do meu primeiro guarda – costas, o Castro, pastor da Beira Baixa, quando ao entregar uma granada de morteiro ao alferes Fortes, que me substituíra, após minha graduação, no comando do meu grupo de combate, quando a dita granada deflagrou no chão entre os dois.
 
O Fortes no solo com o peito desfeito e olhos vítreos! e o Castro caminhando e amparando por baixo as tripas que lhe saiam do ventre, dizia para o Alferes Coelho:
- «Meu Alferes que grande desgraça! o nosso Alferes Fortes está a morrer!...»
 
E assim tombou um grande soldado que nas últimas palavras, não cuidava de si, mas do seu superior.

 
 
Não esqueço o assalto comemorativo do início da guerra que a Frelimo fazia todos os anos e que em Cabo Delgado em 1973, teve por objectivo o meu aquartelamento e Posto Administrativo fronteiro de Quiterajo em 20 /09.
 
Após bombardear em 01 de Agosto Mocimba da Praia, utilizou pela segunda vez o canhão sem recuo B-11.
A Frelimo com guerrilheiros dos Bases de Gaza e Ibo terá juntado efectivos a norte de Messalo, calculados em mais de 200 guerrilheiros fortemente armados com morteiros 82, aquele canhão, RPGs 7, além das habituais Kalash, PPSH e Simonov.
O Posto Administrativo, anexos de saúde e Posto Médico, e a casa do adjunto de administração foram pilhados, mas meia dúzia de homens já experimentados, entre restantes 50 básicos que permaneciam no aquartelamento e se refugiaram nos abrigos contra morteiros, conseguimos repelir o assalto ao quartel.
- Um ajudante de cozinha com o morteiro 60 queimou as mãos com o aquecimento provocado por cerca das 100 granadas que enfiara no tubo, mas atingiu a base de fogo inimigo.
 
- Quando o alarido da vitória dos guerrilheiros já se ouvia por detrás da secretaria do Posto Administrativo encontrei o apontador do 81 a chorar porque a granada não saía do tubo. Tirei-lhe o bipé e retirando o tubo do prato base o inclinámos e recolhemos a granada.
Sem bipé, por estimativa e com granadas novas, que o soldado ia introduzindo no tubo, destruímos o telhado do Posto Administrativo mas afugentámos os guerrilheiros.
 
Deixaram um morto que sepultámos e um ferido que evacuámos por helicóptero para Mueda, e soubemos mais tarde que carregaram consigo outros sete mortos.
 
Demonstraram porém a força que a guerrilha já tinha e não tomaram certamente conta do aquartelamento, porque não quiseram sacrificar mais homens á mão daquela meia dúzia que bravamente preferia morrer combatendo, do que deixar-se aprisionar vivo.
 
São episódios da vida militar e da guerra como estes, tantas vezes contados e repetidos por aqueles que fizeram e sofreram a guerra, que marcam a existência dos combatentes.
 
Daqui alguns inferem que nos nossos encontros comemoramos ou temos saudades da guerra.
Nada mais errado.
O que nós comemoramos e a vida militar de combatente nos recorda, e nos enriqueceu foi:
- a capacidade de suportar o sacrifício que nos moldou a personalidade;
- a solidariedade praticante;
- o respeito pela vida alheia e também pelo inimigo;
- a humildade das nossas insuficiências;
- o controle do medo que nos fez corajosos.
 
Aquartelados em barracas ou construindo as próprias instalações com o que tínhamos á mão, vivíamos tantas vezes como bichos, tantas vezes abaixo do nível do solo, acompanhados por insectos e rastejantes susceptíveis de nos provocarem graves doenças.
 
Condições de higiene infra-humanas e águas infectadas ou que tínhamos de procurar longe diariamente com risco da própria vida.
 
Rações de combate impróprias para aquele meio e por vezes impróprias para consumo.
 
Quilómetros e quilómetros percorridos com o peso das rações, da água, das armas e munições que ultrapassavam 1/3 do peso do nosso corpo, por entre capim e lianas, atravessando pântanos e rios, dormindo ou vigilantes tantas vezes encharcados até aos ossos.
 
Á frente da coluna, com as armas ás costas, os primeiros picando á procura de minas, sem possibilidade de reacção imediata, ou sentados no Unimog de peito aberto para os lados da picada, éramos alvos tão fáceis para abater!
 
A simples permanência obrigava a riscos para poder sobreviver, pois os reabastecimentos, a procura de lenha e água expunham os combatentes de então como alvos fáceis do inimigo.
 
Talvez mais que nos golpes de mão ou emboscadas que nós próprios lhes montávamos.
 
O isolamento (tantos aquartelamentos eram único local de presença humana!) criava só por si condições de anormalidade psíquica.
 
Esta capacidade de suportar o sacrifício e viver os riscos inerentes só foi possível com a solidariedade e generosidade dos que partilharam a mesma vida e as mesmas instalações.
 
Quando o amigo fraquejava era não só a palavra amiga, mas por vezes tomar o seu lugar nas operações ou na coluna auto.
Alguns encontraram a morte, que não teriam por ausência no local dela.
 
O exemplo de muitos graduados que nada mandavam fazer sem primeiro o praticarem, de assumirem as posições dianteiras, quer nas colunas, quer nas deambulações pelo mato.
Teriam certamente o mesmo medo que os demais, mas escondiam-no para efectivo controlo e incentivo do seu pessoal.
Tinham vergonha de fraquejar perante os seus soldados.
Esse controlo do medo e vergonha das suas debilidades fez deles bravos soldados e comandantes corajosos.
Não era prossecução de ideais, pois ao fim de poucos meses a quem os levava já o dia a dia lhos tinha retirado.
Não se concordava tantas vezes com aquela guerra, mas fazia-se e sofria-se a guerra, combatendo com bravura e disciplina, porque havia o sentido comum da responsabilidade pela vida dos seus camaradas.
 
Enquanto durava a metralha procurávamos destruir o inimigo, mas calados os fogos, não abatíamos os feridos.
Mesmo quando se formava uma onda de vingança, havia o comandante da força que impunha o respeito pela vida alheia, evitando o tiro certeiro ou os sevícios.
 
Do mesmo modo com as populações subtraídas ao controlo do inimigo.
No inicio da guerrilha a subtracção das populações ao seu controlo foram bastante mais frequentes e fáceis.
Mais meia dúzia depois, já bem enquadradas pelo seu controlo, as populações não só lhes asseguravam a subsistência alimentar como eram os primeiros vigilantes da aproximação da tropa.
E eficazmente doutrinados suportavam privações bem mais acentuadas do que as populações sob o controlo das nossas autoridades administrativas.
 
Apesar de nunca sabermos, se alguém que encontrássemos em território suspeito era simples machambeiro ou possível miliciano ou guerrilheiro, desde que aparecesse desarmado, a regra era procurar a sua captura.
 
Éramos humildes.
Não demonstrávamos arrogância fosse com o que fosse.
Respeitávamos as populações e procurávamos ajudá-las e apesar de termos a força das armas sabíamos respeitar o poder e as competências das autoridades administrativas.
 
A humildade das nossas insuficiências levou á superação das mesmas, motivando-nos para com os meios á mão construirmos as infra-estruturas que nos eram imprescindíveis ou nos parecessem úteis.
Foi a construção de casernas ou simples palhotas para dormir e ter os nossos poucos pertences, foi a construção de alpendres para viaturas, foi a construção dos balneários com resguardos de bambu, onde meio por cima de 4 paus ao alto sobressaíam os bidões com chuveiro, foi a construção dum cimentado com uma cobertura de macuti para refeitório… tantas e tantas coisas para além das habituais defesas da construção de valas em redor de arame farpado circundante, abrigos contra morteiros, de paióis, e postos de sentinela.
 
E não esquecemos aquilo que certamente mais significado teve: a ajuda sanitária ás populações.
 
Ainda e até hoje (posso testemunhá-lo pois em Março último estive na zona de acção da minha antiga companhia).
 
O único médico que até hoje as populações viram ou com quem tiveram contacto foi o médico militar que nos acompanhava.
 
E quando em Pemba fui á melhor farmácia para adquirir um simples creme para queimaduras solares, pude aperceber-me que a nossa farmácia dos nossos pobres aquartelamentos era mais bem recheada do que aquela que agora existia na capital de Cabo Delgado.
 
Tive um furriel enfermeiro diligente e amigo das populações.
Filho de colonos, nascido em Moçambique, fez questão até hoje de lá ficar e reivindica-se tão moçambicano como os de cor negra.
Com ele fiz a viagem de recordação atrás referida e ele lembrava os seus pedidos de medicamentos para as populações e a minha resposta:
- «Souto, desde que não falte para os soldados, podes dar-lhes tudo o que queiras!.»
 
E não se pense que a tropa prestava somente cuidados curativos.
Embora estes fossem os mais visíveis e comuns, praticava-se também os preventivos com programas predefinidos.
E posso dizê-lo era pela saúde que melhor cativávamos a população.
 
Na guerra era o trabalho da paz que mais contribuía para o respeito que as populações nos devotavam.
 
E devo aqui prestar a minha homenagem sincera, aos médicos, habitualmente alferes, mas por vezes com graduação superior quando a especialidade era rara, ou já entrados na idade.
Sem jeito ou prática de armas, o doutor garantia não só a saúde, mas dava sempre um ar de civilista entre a tropa, mesmo que entre os oficiais pudesse haver um ou outro licenciado.
Parecia que o exercício das suas funções e o seu porte amenizava o ambiente marcial.
A minha geração e as populações africanas devem muito a esses jovens médicos.
 
Mas também eles, apesar de todos os sacrifícios, acabaram por enriquecer de sobremaneira os seus conhecimentos e valorizar a sua carreira, pois muitos aí fizeram práticas de que em outro ambiente não teriam oportunidade.
 
Testemunho pois que esta experiência militar de combatente de África trouxe para mim e para toda a minha geração um enorme enriquecimento da nossa dimensão humana.
Não quero dizer que a guerra se justifica porque contribuiu para esse enriquecimento.
De modo nenhum.
 
Testemunho tão somente, que enquadrados nas Forças Armadas, os homens da minha geração souberam na guerra cultivar e praticar virtudes que honram e distinguem qualquer homem: O espírito de sacrifício e de humildade para superação das insuficiências, a solidariedade formadora dum espírito de corpo, o respeito pela vida alheia e pelo inimigo, a consciência da responsabilidade superadora do medo.
 
É momento de perguntar porque foi isso possível!
Mas antes devo interrogar-me se essas tais virtudes têm hoje sentido, numa sociedade onde as regras de comportamento se subordinam ao lucro e bem estar fácil e ao sucesso sem mérito.
 
Entendo que mais do que nunca esses predicados de sacrifício, humildade e respeito e responsabilidade são essenciais para superar as enormes e cada vez maiores dificuldades que nos apoquentam.
 
Só através duma prática alicerçada nestes princípios e na consciência duma solidariedade militante, onde cada qual saiba ocupar o seu lugar podemos viver e vencer.
 
Há quem identifique FORÇAS ARMADAS com os seus quadros profissionais permanentes.
Essa ideia é frequentemente veiculada ou induzida pela comunicação social, fazendo por vezes crer que as Forças Armadas são um peso demasiado caro nos encargos do País.
Os adeptos de tal ideia esquecem quais sejam os deveres do simples cidadão para com a Pátria.
Não é de admirar, pois muitos não sabem o que seja a Pátria, nem mesmo a Nação, e do Estado têm a noção duma entidade que só lhes retira impostos ou que é preciso enganar sugando-lhe algum dinheiro.
 
Nos termos do artigo 276º nº1 da Constituição da Republica « A defesa da Pátria é direito e dever fundamental de todos os portugueses »
E no artigo 275 precedente, no nº1 se diz : «Às Forças Armadas incumbe a defesa militar da República ».
Apesar deste direito e dever do cidadão, entende-se hoje, depois da alteração constitucional em que o serviço militar por lei ordinária deixou de ser obrigatório, que a defesa da Pátria pode ser um serviço contratado.
 
E que dizer da hipocrisia dum serviço cívico previsto nos números 3,4 e 5 do dito atrigo 276º da Constituição?
Previsto para os inaptos para o serviço militar armado e para os objectores de consciência, deixou inclusive de ser substitutivo do serviço militar dos considerados aptos.
As menores necessidade de efectivos e o direito de prosseguir uma carreira, não justificam que se tenha optado pelo serviço militar não obrigatório e que o serviço cívico seja só destinado aos inaptos e objectores de consciência.
Pelo contrário cumprindo o preceito constitucional do dever e direito da defesa da Pátria, o serviço militar deveria ser obrigatório, e os dispensados dele por desnecessidade de efectivos deveriam cumprir um serviço cívico de duração igual, e verdadeiro serviço.
 
As Forças Armadas como as entendo, não são somente os seus quadros profissionais permanentes.
Delas são e deverão ser todos os demais cidadãos chamados às fileiras, prontos e predispostos para assegurar a defesa da sua Pátria.
 
Recordo os benefícios, que os mais humildes da minha geração e as imediatamente antecedentes, os soldados, receberam da instituição militar.
Muitos completaram a instrução primária.
Aprenderam hábitos de higiene e da vivência em sociedade, ganharam autonomia e auto-estima. Aprenderam novas profissões.
Habituaram-se à disciplina, a respeitar os demais, a suportar sacrifícios, enfim valorizaram-se durante o cumprimento do serviço militar, durante o período em que pertenceram às FORÇAS ARMADAS.
Tantos e tantos cresceram e se fizeram homens no cumprimento do seu dever dentro das fileiras das Forças Armadas.
 
Miúdo, ouvi muitas vezes as frases dos velhos para os rapazes em véspera de sortes: “Na tropa abrem-te os olhos! Na tropa fazem de ti um homem.“
 
Não posso encerrar este testemunho sem trazer à discussão uma acusação que a muitos oficiais milicianos nos toca pela sua grave injustiça.
Os adeptos da continuação da guerra do Ultramar, acusam-nos de termos pervertido as Forças Armadas de então.
Que introduzimos nas Forças Armadas Portuguesas ideias revolucionárias de oposição à guerra, minando os ideais e o empenhamento dos combatentes.
Creio que esses pensadores conhecem mal o movimento associativo estudantil de então, tomaram a parte pelo todo, e não foram capazes de entender o estado de espírito da generalidade dos combatentes no final da guerra.
 
A enorme maioria dos universitários de então, integrados nas fileiras não alimentou ideias revolucionárias.
Antes, no final da guerra, os quadros permanentes estavam saturados da guerra, e o povo, apesar da falta de informação sobre ela, ou impedido de ter informação sobre ela, já não a sentia como legítima e necessária, como o fora no início dela em Angola.
O sacrifício de filhos e mais filhos, as narrativas dos que regressavam davam bem a noção que aquela guerra não tinha fim à vista.
Não discuto quem perdeu essa guerra que militarmente nunca se ganha, nem aceito que se possa dizer que foram os milicianos que provocaram o fim da guerra.
 
Da mesma forma que reconheço, pelo meu testemunho o mérito da experiência militar como enriquecimento da condição humana, entendo que os estudantes universitários integrados nas fileiras, muito contribuíram para que junto dos quadros permanentes surgisse uma visão mais moderna, mais actual e mais justa do mundo de então.
E criaram junto dos elementos mais novos desses quadros o gosto pela sua valorização, através da frequência de tantos outros cursos universitários, para além dos estudos da Academia Militar.
 
È de notar quantos militares têm hoje cursos universitários civis.

 
 
CONCLUSÕES:
 
1. As Forças Armadas Portuguesas quer na guerra quer na paz, contribuíram para o enriquecimento humano dos que passaram por elas no cumprimento do serviço militar.
2. Esse enriquecimento consistiu no exemplo de comando, na aprendizagem e prática de disciplina, solidariedade, capacidade de sacrifício, humildade nas insuficiências, respeito pela vida alheia e elevação social das populações mesmo na guerra.
3. Elevou o nível social dos nossos soldados, pela instrução, pela aprendizagem de novas profissões, e pela prática de entreajuda e auto-estima conseguida.
4. Também a passagem de membros mais estudados da sociedade civil pelas Forças Armadas as enriqueceram e deu aos seus quadros permanentes uma visão mais actual, mais moderna e mais justa do mundo, provocando neles o desejo duma maior valorização.
5. O direito e dever da defesa da Pátria, que se realiza dentro das Forças Armadas, não pode ser um serviço contratado, mas deve realizar-se através do serviço militar obrigatório.
Não cumprido, por desnecessidade de efectivos, deve ser substituído por um verdadeiro serviço cívico.
 
É ESTE O MEU TESTEMUNHO.
 
António Ferraz
 

domingo, 20 de setembro de 2015

O Silvestre Pires fez anos, por Duarte Pereira



Apanhamos mais um texto de "amizades explícitas", nas memória ocultas e ainda não escritas pelo sr. Duarte.

Sr SILVESTRE PIRES.



Quem é, quem foi e o que agora será ?
O sr Duarte diz que tem de ser escrito, para ficar para a posteridade uma, que ele acha, verdadeira amizade....

Não se sabe nada da sua juventude, nem nunca o iremos saber.


Foi mobilizado para Moçambique com o "dever" de acabar a "guerra" nos 100 anos seguintes.

Um alentejano não tem pressa. 



Foi "apanhado" num pelotão "aguerrido".
Pelo menos o primeiro ano terá sido difícil para ele e os restantes militares que o acompanhavam.
Sabemos que não tinha namorada na altura.

Escreveria talvez aerogramas para a família.

Porquê o destaque deste seu aniversário?
Primeiro, porque era da companhia 3509.
Segundo, nós "amadrinhamos" a 3509".
Terceiro, no ano passado descobrimos antecipadamente o dia do seu aniversário.
Quarto, não iremos dar mais "graxa ao cágado".


Homem de carecadas que para um graduado, na altura não era "bem visto" naquele "teatro".

Ainda por cima com bigode, que parecia que só lhe nascia o cabelo por debaixo do nariz.

Depois uma cena que nunca esqueceu ao sr Duarte.

Seria a partir de meados de 1973.
Os dois a jogarem dados na messe de oficiais, sem passar "peva" aos que pudessem entrar.




Nunca o sr Duarte se lembra de ter almoçado ou jantado naquela messe.
Alguns elementos até poderiam ser "porreiros", mas eles estavam desenquadrados. 

Esperamos num dos próximos anos fazer uma "emboscada" a Viana do Alentejo.




Parabéns rapaz.
Votos de boa saúde, para ti, para os teus e para todos nós.

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Algum coisa vai mal, não , muita coisa vai mal... neste reino de Portugal, por Leonel Pereira da Silva


O LEONEL PEREIRA SILVA NA SUA PRIMEIRA LONGA METRAGEM.

Leonel Pereira Silva Comentou hoje:

Alguma coisa vai mal, não, muita coisa vai mal, Gilberto Pereira.
Mas esta do abandono a que "todos" os politicos nos deixaram soa até a vingança, como se nós os ex-combatentes não "chicos" tivéssemos tido vontade própria de ser mobilizados.

Deixa-me desabafar o que senti logo no pós 25/4/74, uma vez regressado da guerra a casa dos meus pais, quando percebi que os principiantes de po...líticos que emergiam como moscas perante um monte de excrementos.

Cheguei a temer que esses oportunistas nos perseguissem, ou mandassem, claro.
Poderia, como talvez tu também, relatar aqui casos concretos de ex-combatentes que conheço que vivem situações complicadas assim com os seus famíliares, mas não vou alongar muito este desbafo, no entanto o último que tive conhecimento foi na passada semana dia 12/6, e, como está fresco e também porque me tem inquietado bastante vou partilhá-lo aqui na página.

Estava eu, depois do almoço a tomar o meu cafézinho e a dar uma olhada no jornal numa pastelaria onde vou quase diáriamente, quando na mesa ao lado, 3 pessoas que me pareceram ser um casal mais uma senhora, pessoas que não conheço, nem de vista, de idade ligeiramente superior à nossa e o tema da conversa era precisamente o "stress pós-traumático de guerra", a senhora que não tinha ali o marido, dizia para o casal entre muitas outras coisas que - há muito anos, mas agora duma maneira quase diária e com tanta intensidade e até violência o meu marido não descansa de noite nem me deixa descansar, que além de sonhar e ter pesadelos, que tem noites em que se levanta assustado mais que uma vez, estamos a passar muito mal com a situação - , quando questionada se ele não estava a ser acompanhado pelo médico, ela respondeu que sim mas que ultimamente ele tinha dias que se recusava a tomar qualquer medicamento.


Deu perfeitamente para perceber que é mais um caso entre tantos, e que já está a chegar ao limite do admissível.

Pedi licença para entrar na conversa e sugeri que fossem à liga dos combatentes a Leiria onde ele podia ser atendido e acompanhado por um médico da especialidade, pois sei que outros o têem feito com sucesso.

Desculpem o discurso e mal "amanhado" mas é na senda dos políticos que temos tido até aos dias de hoje.


Um abraço ao Gilberto Pereira e demais amigos aqui da folha.
  • Rui Briote Já comentei este muito bom texto...é para continuar...abraço

  • Velhas DE Estremoz Alentejanas É PRECISO APOIAR OS JOVENS COM TALENTO. CONTINUAMOS À ESPERA DO SR RIBEIRO DO CHAI., LIVRE PENSADOR??? SÓ PENSA PARA ELE !!!
     
  • Gilberto Pereira JÁ LI E COMPREENDO ESSES CASOS, REALMENTE HOUVE CASOS QUE DEIXARAM MAZELAS PARA TODO O SEMPRE E SEM ACOMPANHAMENTO PIOR, MAS NESTE PAIS É ASSIM NINGUÉM QUER SABER DE NINGUÉM, É UMA PORCARIA
     
  • Velhas DE Estremoz Alentejanas AINDA PODERÁ HAVER A REVOLUÇÃO DOS INCONFORMADOS JÁ COM UMA CERTA IDADE.
  • O SR JOÃO NOVO ANDAVA NESSAS LUTAS, AGORA PARECE QUE ANDA A APRENDER A DANÇAR E A TOCAR VIOLA, ENTRE OUTRAS COISAS "MAGANO" !!!
     
  • Rui Briote Estes casos de certeza que aumentarão, pois com o avançar da idade a falta de apoio, aliado à não existência de políticas humanas os desprotegidos vaguearão ao acaso..

domingo, 17 de agosto de 2014

ALTO DA PEDREIRA 1973 - comandos à caça, por Duarte Pereira


ESTE COMENTÁRIO DO RUI BRANDÃO AGUÇOU-ME A CURIOSIDADE
 
Rui Brandão:
 
Então essa estrada conhecia-a muito bem agora nesta visita a Macomia.
Presumo que saibas que ficamos instalados no Resort que está no Mucojo.
 
 
No entanto, quero partilhar aqui um pequeno segredo.
Nos dias de loucura de Macomia (chamava-se na altura cacimbados do clima), quando já tínhamos uns bons meses de comissão e eu já estava "solteiro" (a minha mulher regressou de imediato à Metrópole logo a seguir ao ataque), no Jeep do Alferes Vinagre e após as 5 da tarde, aventurávamo-nos Kms e Kms na estrada para o Mucojo até chegarmos ao local dos macacos e mais adiante ainda.
Para dizer que já conhecia um bom bocado dessa estrada.
Há que reconhecer que até é um passeio fantástico.
 
 
AMANHÃ FAREI OS MEUS CONSIDERANDOS. BOA NOITE A TODOS.
HOJE JÁ É HOJE
ALTO DA PEDREIRA 1973, NÃO ME LEMBRO SE JÁ ESTARIA O MANUEL CABRAL.
 
JÁ ERA NOITE, FOI AVISTADA LUZ NA ESTRADA, CONTACTOU-SE MACOMIA PARA SE SABER DE ALGUMA COISA, FORAM INFORMADOS QUE SE HOUVESSE BARULHO DE MORTEIRO ÉRAMOS NÓS.
MORTEIRO VIRADO PARA ESTRADA.
ALGUÉM SE LEMBROU, NÃO SERÃO OS MALUCOS DOS COMANDOS?
LIGOU-SE PARA LÁ E INFORMARAM QUE TINHAM SAÍDO COM UMA VIATURA PARA CAÇAR "AO CANDEIO" PARA AQUELES LADOS.
MORAL DA HISTÓRIA, FICOU TODA A MALTA SEM DORMIR, POR CAUSA DAQUELES "BRINCALHÕES" E NÃO FICÁMOS COM A CERTEZA SE ERAM MESMO ELES.
O 81 NÃO DISPAROU POR POUCO.
 
 
SERIA UMA NOITE AINDA MAIS CONFUSA.
NOTA: SE EU SOUBESSE QUE PODERIAM SER VOCÊS, BRINDÁVAMOS COM UMA "AMEIXA" UM BOCADO MAIS PARA O LADO. 

domingo, 13 de julho de 2014

Desejo que possam dizer: eu tenho amigos, por Fernando Lourenço


A amizade é uma das mais comuns relações interpessoais que a maioria das pessoas tem na vida.
Mas a palavra amizade tem vindo a perder o seu valor quando se define este sentimento.
Hoje em dia chama-se amigo e diz-se "amigo de" com a facilidade e distancia de um clik.

O ser-se amigo ou ter-se como amigo, não é necessário gostar dos mesmos assuntos, partilhar as mesmas ideias politicas ou religiosas, ter os mesmos conhecimentos e ou movimentar-se no mesmo meio social.

Numa ami...zade vive-se uma experiencia de vital importância; pelo respeito, tolerância, lealdade enfim é a aceitação de cada um como realmente ele é.

Hoje ás 8 horas da manhã estava a telefonar ao Duarte Pereira para lhe dar os parabéns.
Há perto de 40 anos atrás teria ido ás duas da manhã bater-lhe á porta.
E ele ia desculpar-me e aceitar porque é meu amigo e a mulher dele também (parece que estou a ouvir a Isabel: é muito doido este tipo).

De hoje a uma semana, no dia 20 de julho celebra-se o dia do amigo.
Desejo que nesse dia possam dizer: eu tenho amigos.

Mais um abraço Duarte Pereira.

domingo, 29 de junho de 2014

As comadres e o novo administrador, por Duarte Pereira



COMADRE, HOJE É DIA DE FESTA.
UM NOVO ADMINISTRADOR, UM TAL LEOTE DA MATACA.
ACHO BEM!!
ACHO QUE JÁ HAVIA DE DUAS COMPANHIAS, FICA A FALTAR A C.C.S..

A C.C.S, QUE NÃO FIQUE ABORRECIDA.
O JOÃO NOVO, QUE TEM APARECIDO POUCO, POR ANDAR "APIXONADO" PELA VIDA, FOI MAIS C.C.S. QUE OUTROS.

VAMOS LÁ VER SE ME LEMBRO DOS OUTROS TODOS.
AMARO PEREIRA 3509 E 3508, AINDA TRABALHA.
MAS PROMETEU TRABALHAR AQUI MAIS.
LOGO QUE SE REFORMAR.

RUI BRIOTE 3507, TEM COLABORADO MUITO E PENSA EM NOVOS PROJECTOS.

CAPITÃO PARDAL "O PAI DA PÁGINA", DEIXOU UM POUCO A PUBLICIDADE AO ALENTEJO, MAS TEM FEITO ALGUNS " BLOCOS", CADA VEZ MAIS APERFEIÇOADOS E INTERESSANTES.

QUEM FALTA???
AH! O FERNANDO LOURENÇO, QUE DEVE ANDAR EM MEDITAÇÃO.
UNS DIAS SIM E OUTROS NÃO.
ESSE ESTÁ DESCULPADO, TEM UMAS VOLTINHAS PARA DAR.

O ÚLTIMO - DUARTE PEREIRA, OLHE ESSE JÁ NÃO TEM REMÉDIO! EM VEZ DE DOIS, PARECE QUE TEM TRÊS NETOS.

MAS POR QUE É QUE O LEOTE FOI NOMEADO??
NEM QUEIRA SABER!!!
COMO ELE, O PATRONO, GOSTA DE SE DEITAR CEDO E ATÉ NOS DIAS DO ANTÔNIO BRITO DO CANADÁ GOSTAVA DE SE DEITAR MAIS CEDO, NOMEOU O LUIS LEOTE QUE SE DEITA TARDE, PARA ALTERAR A FOTO DE CAPA E PÔR ALGUM VÍDEO DESSES MODERNOS QUE ELE "COMPILA".

O NOSSO "PATRONO" NÃO É NADA BURRO.
MAS O PORQUÊ DA NOMEAÇÃO HOJE.
É FÁCIL DE EXPLICAR.
AMANHÃ HÁ CASAMENTO E ELE TEM DE SE DEITAR CEDO, POR CAUSA DAS OLHEIRAS.

SABE A ÚLTIMA??
JÁ TEMOS TRÊS AMIGOS.
COMO SOMOS MODESTAS, NÃO IREMOS CONVIDAR NINGUÉM.
QUEM SE OFERECER SERÁ BEM VINDO.

COMADRE, ESPERAMOS TER FOTOS E FAZER REPORTAGEM DO CASAMENTO.
O CÃO COM AS ALIANÇAS DOS NOIVOS, ACHO QUE IRÁ DAR PARÓDIA.
  •  
    Paulo Lopes O seu a seu dono Velhas DE Estremoz Alentejanas:
    Por feitio ou defeito, leio sempre tudo ( a não ser que me escape à rede).
  • E leio não apenas por ler mas por gostar de o fazer e faço-o com atenção (penso eu).
  • Por isso, velhas duma figa, o Rui Briote, não era da 3507!
  • Não é que o não gostasse de ter tido como companheiro das lutas irremediavelmente perdidas, nada disso mas sim porque devem-se colocar os galos nas devidas gaiolas!
    Quanto à amizade suas velhas ranhosas, não ma peçam que não é preciso pois tenho onde as possa "espiolhar"!
  • Vão-se catar!!! :-):-):-)
     
  •  
    Duarte Pereira PAULO LOPES, TENS RAZÃO RUI BRIOTE, " NASCIDO E CRIADO" NA 3508.
  • PENA FOI, NÃO TER SER TRANSFERIDO "EM TEMPO", PARA A MINHA COMPANHIA.
  • SEMPRE ATENTO PAULO LOPES.
     
  •  
    Duarte Pereira SABES QUAL É O MAL??? 
  • QUEM ESCREVE MUITO ESTÁ SUJEITO A ERROS!!! 
  • MAS NÃO ME IMPORTO.
  • AINDA POR CIMA, NÃO FUI EU.
  • FORAM ELAS.
  • AGORA PERCEBES A IDEIA DE "ELAS" CÁ ESTAREM.