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domingo, 6 de novembro de 2016

Mataca, onde é que isso fica..., por Paulo Lopes





Aproveito para dizer que a única parte que jeito tenha do texto que o amigo Jose Capitao Pardal relembrou aqui, é o que não existia: as fotos!

Obrigado Pardal só que, com isso e ao ver o campo de futebol de Porto Amélia, fez com que volte a incomodar a
s hostes com mais umas palavrinhas do dito livro (que o não é):

Na Beira, depois daquelas burocracias habituais e extremamente aborrecidas de fazer, soube quando partiria para Porto Amelia, no distrito de Cabo Delgado.



Para mim, completamente desinformado da geografia Africana, tal nome nada me dizia, mas como o mal logo se sabe, fiquei esclarecido e para que constasse, Cabo Delgado era um dos principais distritos do norte de Moçambique onde a guerra estava bem implantada.
Começava a acordar de vez!
Mas que poderia esperar um atirador?

Três dias depois, aterrava no Aeroporto de Porto Amelia, capital do distrito de Cabo Delgado.

Entre apresentações e avisos do que havia a fazer, depressa fiquei conhecedor do meu pouso definitivo: — MATACA, junto à Serra do Mapé.



Restava-me saber quando e como iria.
Ninguém me deu agradáveis noticias de tal paradeiro: Uns não conheciam tão pouco Mataca mas da dita Serra, não me auguravam nada de aceitável.
Outros diziam que era no meio do nada e simplesmente faziam uma careta expelindo dos seus lábios um enorme "chiiiiiiii", alguns, os mais conformados, diziam que era igual a tantos outros aquartelamentos espalhados pelas matas de Cabo Delgado.
Fiquei a saber o que já sabia...nada!

Vinha munido da morada de uma amiga que morava em Lisboa precisamente na minha rua e que tinha vindo procurar vida nova exactamente para Porto Amélia.
E então, assim que me vi livre dos meus deveres militares, tal provinciano chegado a uma grande cidade, sem conhecer nada nem ninguém, ai fui eu a procura do paradeiro da minha amiga de infância.

Felizmente para mim, Porto Amélia não era nenhuma grande cidade (até bem pequena) e foi fácil localizar o destino a que me propus.

Ela era professora no liceu de Porto Amélia e ele, o marido, além de trabalhar na fabrica de cerveja, treinava a equipa de basquetebol da terra e, talvez por isso, estava bem relacionado com civis e algumas altas patentes militares a quem me foi apresentando aos poucos.

Através dele, fui fazer um treino de captação na equipa de futebol de Porto Amelia, com o alento despoletado por falsa esperança vinda do marido da minha amiga, que isso me levasse a ficar por lá.



De todo impossível!
As cunhas não funcionaram, o que não era de estranhar, e como eu não apresentava assim tanto jeito para dar uns pontapés na bola que desse uma mais-valia a equipa da terra... tinha mesmo de ir para as trincheiras da guerra.





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In "Memórias dos Anos Perdidos ou a Verdade dos Heróis"
paulo lopes

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

História do Chai XIII (1972/1974), por Livre Pensador


HISTÓRIAS DO CHAI (última)

Foi há 43 anos, no dia 14 de outubro de 1973, que o aquartelamento do Chai sofreu o maior ataque, cujos pormenores já aqui descrevi numa história anterior.
 





Esse ataque teve como reflexo imediato nos militares da Ccav. 3508, o despertar para o espírito de sobrevivência inerente a qualquer ser humano.
 
 
 
Todos nós tínhamos passado por imensos sacrifícios à custa de sangue, suor e lágrimas nos 20 meses de comissão cumpridos até essa altura.
 
 
Após tanto sof...rimento era nosso direito usar de todos os meios possíveis para sair vivo daquele inferno.
 
E foi com esse desejo que se enveredou por uma estratégia de defesa e segurança absolutas até ao dia em que fossemos rendidos.
 
 
Todos os dias, pelas 16,30h e até ser noite cerrada, eram ocupadas as posições de defesa do quartel.
O mesmo sucedia desde as 4,00h da manhã até ao nascer do sol.
E assim fomos vivendo em completo stress até ao dia 10 de março de 1974.
 
Foi esse o dia em que deixámos o Chai entregue à 2ª. Ccav. do Batalhão de Cavalaria 8422.
 
 
 
Os 40km que nos separavam de Macomia foram feitos passo a passo, com a observação atenta e minuciosa de todos os pontos ou locais que pudessem originar surpresas.
Felizmente chegámos ao destino sem qualquer contratempo.
 
Foi em Macomia que a Ccav. 3508 dormiu a noite de 10 para 11 de março de 1974, sendo por isso a última em zona de guerra.
 
Ao raiar do dia 11 partimos de Macomia com destino a Porto Amélia escoltados pelo Esquadrão de Cavalaria.
 
 
 
Chegados a Ancuabe (zona considerada sem guerra) as explosões de alegria não se fizeram esperar. 
 
Eu vi militares a gritar, a saltar, a chorar, a rezar, abraçados, etc, etc.
 
Por mim, apenas consegui pensar "PORRA DE GUERRA JÁ NÃO MORRO"!
 
 
 
Por isso mesmo ainda hoje considero o 11 de março de 1974 como sendo o dia mais feliz da minha vida!
 
Naquele momento todos passámos a ser heróis, apenas e tão só por termos saído vivos (mas não incólumes) dum inferno que nos arrasou durante cerca de 25 meses!
A FELICIDADE E A ESPERANÇA RENASCIAM PARA SEMPRE!


 
José Guedes Livre Pensador, ( Ribeiro ) é sempre bom recordar os bons e maus momentos que por lá se passaram, mas o mais importante deve ser o dia em que deixa-mos o local de guerra para trás e chegamos a locais mais confortáveis e sabermos que o dia do regresso estava para breve e como é bom que depois de tantos momentos difíceis que por lá se passaram ainda hoje podemos estar aqui a compartilhar isto uns com os outros,.. um abraço
 

 
Fernando José Alves Costa Livre Pensador ( Ribeiro) fizeste-me chorar de alegria, senti e vivi o grande alivio que todos vós sentiram o mesmo acontecendo com quase todos nós que por Ancuabe passaram. Abraço
 

 
Armando Guterres E a Mataca tão longe do Chai.
Depois de entrar numa viatura em Macomia - entrei em férias até umas boas horas em Porto Amélia ...
O caminho até lá !!!!
 

 
Rui Briote Esse sentimento de alegria infelizmente não o tive, mas imagino o estado de Alma de todos os que regressaram bem. Mais não digo, pois a minha vida foi e continua a ser um reflexo duma guerra inútil ...abraço a todos
 

 
Paulo Lopes Inútil (e não só) para nós meu amigo Rui Briote, porque alguém se governou bem com essa guerra, antes e até depois dela ter terminado.
Muitos andam por aí com grandes vidas à conta de outras perdidas!
 
 
Paulo Lopes Finalmente chegou! Finalmente a ansiosa mensagem que estava em nosso poder.
As datas confirmavam-se: chegada à Mataca da nova companhia a 2 de Março.
Saída da nossa companhia para Macomia e desta para Porto Amélia, a 12 de Março.
Viagem de Porto Amélia para a Beira a 16 de Março.
Partida da Beira para Lisboa, a 20 de Março.
Difícil descrever a alegria derramada quando a notícia, inevitável e trasbordantemente foi espalhada por aquele tão pequeno espaço que nos oprimia.
Nem mesmo, para nós tão preciosa como a vida, a chegada do correio nas quartas-feiras se sobrepunha a tamanho contentamento.
Nada que tivesse acontecido nestes meses infinitamente longos que, ocasionalmente, nos trouxesse um pouco de alegria, se aproximava de tanto mar de regozijo.
Estava perto o dia de voltar a abraçar os pais, filhos, esposas, amigos e eu sei lá o quê...
 
Estava perto o fim do pesadelo !
Sabia de antemão que eu, o capitão S....... e um dos primeiros-sargentos não embarcaríamos para a Metrópole na data que agora estava prevista, mas a nossa alegria, pelo menos naquele inesquecível momento, tinha o mesmo sentir e sabor da restante companhia.


Não seguiria na mesma data porque cheguei a este inferno de almas perdidas um pouco mais tarde que os restantes e havia que fazer todo um processo liquidatário e como tal, como seria lógico, caberia a mim, como sargento mais novo, auxiliar a essa tarefa burocrática.
Processo esse em que nem eu nem o capitão sabíamos bem qual a nossa missão, mas para nos dizer o que era preciso fazer estava lá o tal primeiro-sargento.


Pois que venha lá essa coisa de processo liquidatário!
O importante, para já, é que estávamos de partida.
Havia o alferes e os dois furriéis que tinham chegado ainda mais tarde, muito mais tarde, mas esses ainda não tinham cumprido nem metade da comissão e por isso iriam ficar integrados na companhia que nos viria render.
 
Uma triste e má notícia para eles mas, sem dúvida, uma mais-valia para os próximos e infelizes guerrilheiros que, tal como nós, chegariam de olhos completamente tapados e desprovidos de qualquer conhecimento do que os esperava, das aflições com que esta selvagem floresta de terrenos sinuosos os iria atormentar e que decerto lhes iria provocar um sentimento de revolta e ódio a quem os mandou para ali!
 
Os que iriam ficar poderiam proporcionar-lhes, sem dúvida, uma melhor condição do saber estar e de como agir mas, de forma alguma, lhes garantiriam uma fácil estadia nem poderiam transformar Mataca na cidade ou vila de onde foram arrancados e muito menos devolver-lhes os intermináveis meses de vida de que estavam a ser espoliados!


Ainda faltava tempo.
Tempo esse que apesar de ser mais animoso, continuava a ser imensamente difícil de passar se não talvez, ainda mais complicado: cada minuto era uma eternidade, mas havia no ar um calor diferente.
 
As situações difíceis tornavam-se mais fáceis.
A tolerância e compreensão eram mais notórias.
Assistia-se a uma transformação, a uma fuga à saturação!
Todos os rios de conversas desaguavam no mesmo mar: a chegada dos checas e a nossa partida.
 
Todos nós inventávamos o já anteriormente inventado pelos antecessores dos antecessores, as patranhas para pregar aos coitados, qual praxes estudantis.
 
As nossas mentes, os nossos olhos cerrados, já os viam caminhar pela picada que os faria entrar pelo velho portão de arame farpado!

in "Memórias dos Anos Perdidos ou a Verdade dos Heróis"
paulo lopes.
 

 
Livre Pensador Amigo Paulo, uma vez mais obrigado por este belo excerto das tuas memórias. Abraço.
 

 
Paulo Lopes Abraço amigo mas não se comparam com as tuas que são bem melhores! Bom fim de semana amigo!
 
 
Manuel Cabral Paulo Lopes a propósito desta parte do texto "Havia o alferes e os dois furriéis que tinham chegado ainda mais tarde, muito mais tarde, mas esses ainda não tinham cumprido nem metade da comissão e por isso iriam ficar integrados na companhia que nos viria render.
Uma triste e má notícia para eles mas, sem dúvida, uma mais-valia para os próximos e infelizes guerrilheiros que, tal como nós, chegariam de olhos completamente tapados "
 

 
Manuel Cabral Eu fui um dos que ficaram na nova companhia, e juro que nunca sofri tanto como nesses primeiros dias da companhia checa...
 

 
Manuel Cabral A primeira coluna que fiz com eles foi de Macomia para o Alto da Pedreira.
Pois toda a coluna saiu do cruzamento de Macomia aos tiros, e quando chegámos a um pequeno povoado, logo ali à saída, só eu e os dois soldados que iam ao meu lado (porque eu não os deixei ir na onda!) tínhamos balas no carregador... todos os outros tiveram que proceder a sua substituição...
 

 
Manuel Cabral foram uns meses muito complicados, até conseguir ir de férias... mas já contei essas aventuras noutro lado...
 

 
Paulo Lopes Compreendo-te perfeitamente amigo Manuel Cabral.
 
 
Duarte Pereira Mais um bom texto do Ribeiro.  
Pena eu não ter tomado umas notas.
Deve ter sido matéria dos aerogramas, para a Isabel, mas queimei-os todos.
 

 
Duarte Pereira O artigo do dia .
 

 
Jose Capitao Pardal Livre Pensador, já na cidade da Beira ouvi uma história de que eventualmente não iriamos partir para a Metrópole na data marcada, porque tínhamos de ir ainda para qualquer lado, mas só o Jose Ribeiro (alferes que nesse local estava à frente da companhia) e o Fernando Carvalho (o outro graduado do meu pelotão) é que poderão esclarecer o que se passou realmente, fruto da lamentação do primeiro para nós os dois...
 

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Histórias do Chai I (1972/1974), por Livre Pensador

Livre Pensador
 
A Companhia de Cavalaria 3508 instalou-se no Chai no dia 21 de Fevereiro de 1972, rendendo a C. Cav. 2751.
 
O trajeto de Macomia para o Chai realizado nesse dia, em coluna escoltada pelo Esquadrão de Cavalaria, deixou em todos nós, mesmo sendo "checas", a intrigante pergunta: "ONDE SERÁ QUE VAMOS PARAR"?
O fogo de reconhecimento que os camaradas do esquadrão sentiam necessidade ...de fazer, á medida que se avançava na picada e que foi aumentando de intensidade com a aproximação ao famigerado Monte das Oliveiras, ia deixando em nós a convicção de que nada de bom nos estaria reservado.
 
Chegados ao Chai, foi bem evidente aos nossos olhos toda a enorme alegria, satisfação e simpatia com que fomos recebidos pelos camaradas da 2751, o que era compreensível.
 
Poucas semanas se passaram após a rendição e logo começámos a compreender na pele as razões de tanta alegria por parte dos camaradas da companhia rendida.
 
 
 
As primeiras impressões sobre o aquartelamento do Chai foram más por um lado e de alguma resignação por outro.
É certo que em termos de instalações não sendo propriamente boas, também não se poderia exigir muitos mais "luxos" atendendo ao local onde estava inserido.
É justo dizer-se que paisagisticamente até disfrutava de um belo panorama, localizado no alto duma colina sobranceira ao lago Chai.
 
Alarmados e preocupados ficámos, pelo menos os mais responsáveis, com a segurança do aquartelamento.
O seu sistema defensivo resumia-se a uma vedação em arame farpado como 1ª. linha de defesa, após a qual havia uma 2ª. linha constituída por bidons cheios de terra.
O aquartelamento não dispunha de valas defensivas nem tão pouco de abrigos que dessem alguma proteção a possíveis ataques de morteiro e/ou canhão.
Os próprios postos de sentinela em redor do aquartelamento não ofereciam o mínimo de condições de segurança.
Estou em crer que, se alguma vez a Frelimo tivesse sido mais audaz com uma tentativa de golpe de mão, decerto que nos faria bastantes estragos.
 
Mas foi este o legado que recebemos da companhia 2751 que, para além de ocupar e defender o Chai, ocupava e defendia permanentemente com um grupo de combate, um posto avançado na ponte do Rio Messalo, situado a 10 Km do Chai e onde era necessário ir 2 vezes por dia buscar a água para o abastecimento do aquartelamento.
 
Esse tema ficará para uma próxima "Histórias do Chai" se não me castigarem com uma carecada.
  • Rui Briote Parabéns Amigo...texto muito bem escrito....abraço
     
  • Livre Pensador Desta já estou safo! O oficial de dia não me castigou com a carecada!
     
  • Armando Guterres só uma pequena repreensão - Monte DOS Oliveiras.
  • A única vez que fui à ponte do rio Messalo foi sem escolta.
  • Fernando Bernardes Muito bem e bom texto Ribeiro(Livre pensador).
  • Por favor não pares.
  • Fico aguardando ansiosamente o desenrolar desses teus bons relatos.Abraço
     
  • Velhas DE Estremoz Alentejanas É gratificante passar por aqui e encontar uma narrativa "daqueles tempos".
  • Sr Livre Pensador (Ribeiro), nas suas horas de ócio pode ir continuando, que estamos a gostar.
     
  • Julio Bernardo Que mente não deixe esquecer o que ainda há a dizer da vossa companhia, a quando ataque Chai e ponte, poderei dar umas dicas, boa gente encontrei na ponte, muito em perigo, mas bem despostos sempre.
      
  • José Guedes Cá ficarei aguardando novos relatos da vossa estadia pelo Chai,.. gostei deste texto e é bom recordar depois de tantos anos, muitos de nós ainda hoje desconhecemos muitos dos problemas que cada companhia tinha e passou,..
     
  • José Dias Nunes Amigo Livre Pensador (Ribeiro) gostei do testo escrito de uma formula simples mas muito realista.
  • O pessoal do Chai é sem sombra foi sem sombra de dúvidas o pessoal mais massacrado, quer pela Frelimo quer pelo nº de Operações em que estavam constantemente envolvidos.
     
  • Jose da Silva Livre Pensador, gostei de ler o que escreveste pois eu não posso avaliar muito o que vos passas-te lá no Chai, porque eu nunca saí de Macomia, não posso avaliar isso.
     
  • Luís Leote Boa noite
    Gostei imenso de ler.
    Sem floreados, ciso e conciso (é assim que se diz?).

    Parabéns smile emoticon
     
  • Velhas DE Estremoz Alentejanas Sr Luís Leote- Imagem de dente do siso
  • Luís Leote Está bem Comadres.
    Siso e conciso wink emoticon
     
  • Armando Guterres com siso e conciso L L
    O médico mandou-me contar os dentes e contei 32 contando dois e mais outro que ele tirou.
  • O primeiro foi tirado aos 13 anos com o estilete do compasso, enquanto se via a investidura do Paulo VI na TV.
  • Passado mais uns anos fiquei com uma placa com dois dentes nesse espaço que era de três.
     
  • Jose Capitao Pardal Livre Pensador gostei e estou à espera de mais...