Aos Militares do Batalhão de Cavalaria 3878, que serviram em Moçambique (Macomia, Chai e Mataca), de 1972 a 1974 e/ou passaram por: Serra Mapé, Messalo, Mucojo, Alto da Pedreira, Quiterajo, Ribaué, etc..
Vivências, Recordações boas ou más, encontros e desencontros, fotos, vídeos, recados, visitas, interações, etc..
Durante a comissão da Ccav.3508 no Chai, houve um dia em que o meu grupo de combate foi incumbido de se deslocar para o Monte dos Oliveiras para montar segurança ao longo da picada, enquanto a coluna do Esquadrão de Cavalaria fazia o trajecto Macomia-Chai-Macomia.
Com a segurança montada, aguardávamos já o regresso do Esquadrão do Chai para Macomia quando um dos meus soldados abriu fogo.
Acto instantâneo, houve logo quem o imitasse, mas de imediato pedi que parassem os tiros.
Aproximei-me do autor dos disparos e, ao lado dele, estava esta "pequenina" cobra que se preparava para lhe "montar uma emboscada".
Trouxemos aquele "simpático" réptil para o Chai porque na nossa companhia havia um soldado (na foto) que sabia tratar das peles de animais.
Quarta feira de cinzas, 16 de fevereiro de 1972, ao fim de uma tarde cinzenta, saímos de Santa Margarida, postos em autocarros rumo ao aeroporto de Figo Maduro, afim de partir para a nossa colónia de férias " resort Moçambique"...
Boing 707 da FAP
Um pássaro gigante, mais conhecido por avião, tripulado por pilotos da FA. ganha balanço e lá vamos nós a subir aos céus e ver Lisboa a fugir-nos rapidamente da vista...lágrimas afloram e correm de mansinho pela face...
As hospedeiras, aliás hospedeiros, também não ajudavam muito.
Já no ar, deixámos o nosso querido Portugal para trás, na altura conhecido por Metrópole.
As nuvens que sobrevoámos pareciam algodão ...
Que delícia para os nossos olhos!
Boing 707 da FAP, em Terra e em Voo
Seis horas depois, passámos o Equador e entramos no hemisfério sul em direção a Luanda, onde iríamos aterrar para relaxar.
Uma centena e meia de homens foi colocada num espaço exíguo e, com o calor que fazia, começamos a destilar e aí permanecemos uma hora mais minuto menos minuto.
Embarcámos de novo, rumo à cidade da Beira.
A aproximação à pista foi um tremendo susto, pois o avião começou a dançar, ora para a esquerda ou para a direita, e ao vermos o rio Zambeze (segundo o Hélder Losna (ECAV1), seria o rio Pungué e não o Zambeze, já que este último fica ainda longe da cidade da Beira), serpenteando com um caudal enorme, mesmo debaixo do nosso nariz ... os nossos corações começaram a bater forte, fortemente...será que iremos tomar um banho forçado?
Agarrados aos bancos estávamos a preparar-nos para tudo...
Finalmente, os pilotos lá endireitaram o avião e fizemos uma aterragem nada suave, mas chegamos inteiros...
UFA que alívio!!!
Aeroporto de Beira (Moçambique)
Já em terras africanas debaixo dum calor abrasador, entreolhávamo-nos com ar inquisidor, pois os olhares recaiam sobre nós e, de vez em quando lá se ouvia ..."aqui estão mais checas...".
Só esta receção já nos atemorizava, mas lá caminhámos para o quartel para tratar de receber a fiel companheira G3 e novas ordens.
Já ao fim da tarde fomos para os nossos aposentos para descansarmos.
Aproveitei essa folga para juntamente com o ex-alferes Ribeiro ir jantar a casa da prima da minha então namorada, hoje minha mulher, que morava junto à igreja de Nossa Senhora de Fátima.
Após o mesmo, quando regressávamos para os quartos, mais ou menos a meio caminho, virei-me para o Ribeiro e propus-lhe uma volta pela cidade.
Interrogámo-nos:
"Para onde?"...
Fizemos marcha atrás e eis que deparámos com a Boite Diana, que ficava junto ao Moulin Rouge.
Decidimo-nos pela primeira, para ver uma sessão de striptease ...
Moulin Rouge - Beira (Moçambique)
Entrámos lentamente com uma curiosidade latente nos nossos olhos bem abertos.
A sala iluminada por luzes psicadélicas anteviam um bom espetáculo para os checas.
Sentámo-nos logo nas mesas junto ao palco, pois queríamos estar em cima do acontecimento...
De súbito, ao som duma música quente, surge uma beldade toda ondulante e provocante.
Ao mesmo tempo que nos recostávamos nas cadeiras, os nossos olhos escancaram-se para não perder pitada do espetáculo.
A bailarina loira ou morena para aqui não interessa, num mexe, remexe com movimentos lentos e doces, lá se vai " descascando "...Eis senão quando, entra em cena uma cobra.
A beleza, pega nela sem receio e coloca-a ao pescoço, qual cachecol...
Ai que arrepio!!!...
A cobra, languidamente percorre o corpo desnudo, passando por áreas proibitivas, apertando a "nossa amiga" cada vez mais...
Só se ouvia a música suave que acompanhava o bailado, pois os espetadores estavam embevecidos com tanto bamboleio...
Infelizmente o fim do show chegou, mas iríamos ser surpreendidos.
Estávamos na "sobremesa" do espetáculo e, eis que a bailarina se aproxima de nós.
Gentilmente levantámo-nos, sim os dois ao mesmo tempo e puxámos por uma cadeira.
Ela com um sorriso rasgado sentou-se na nossa companhia. Lá tivemos que pedir um " chá" para a menina e encetámos uma conversa, não muito longa, mas com boas perspetivas... Num bate papo curto, mas " incisivo" convidámo-la a fazer-nos uma visita lá em cima, mais propriamente no Chai...e a malandra com sorriso cativante prometeu-nos tal desígnio...
Chegada a hora da despedida ela foi feita com um beijinho...soube a pouco, claro, mas ficou a promessa...até hoje!!!
Já a madrugada ia avançada, regressámos ao quartel e só uma forte chuvada nos acalmou após tão excitante noite em vésperas duma nova viagem, desta vez rumo a Porto Amélia...