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quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

IDA PARA O DESCONHECIDO..., por Rui Briote


Ruipara 
Comentários
Rui Briote IDA PARA O DESCONHECIDO...
Quarta feira de cinzas, 17 de fevereiro de 1972, ao fim de uma tarde cinzenta, saímos de Santa Margarida, postos em autocarros rumo ao aeroporto de Figo Maduro, afim de partir para a nossa colónia de férias " resort Moçambique"...
Um pássaro gigante, mais conhecido por avião, tripulado por pilotos da FA. ganha balanço e lá vamos nós a subir aos céus e ver Lisboa a fugir-nos rapidamente da vista...lágrimas afloram e correm de mansinho pela face...
As hospedeiras, aliás hospedeiros, também não ajudavam muito.Já no ar, deixámos o nosso querido Portugal para trás, na altura conhecido por Metrópole. As nuvens que sobrevoámos pareciam algodão ... 

Que delícia para os nossos olhos! 

Seis horas depois, passámos o Equador e entramos no hemisfério sul em direção a Luanda, onde iríamos aterrar para relaxar. 
Uma centena e meia de homens foi colocada num espaço exíguo e, com o calor que fazia, começamos a destilar e aí permanecemos uma hora mais minuto menos minuto.

Embarcámos de novo, rumo à cidade da Beira. 
A aproximação à pista foi um tremendo susto, pois o avião começou a dançar, ora para a esquerda ou para a direita, e ao vermos o rio Zambeze, serpenteando com um caudal enorme, mesmo debaixo do nosso nariz ... os nossos corações começaram a bater forte, fortemente. 

Será que iremos tomar um banho forçado? 
Agarrados aos bancos estávamos a preparar-nos para tudo...
Finalmente, os pilotos lá endireitaram o avião, e fizemos uma aterragem nada suave, mas chegamos inteiros...UFA que alívio!!!

Já em terras africanas debaixo dum calor abrasador, entreolhávamo-nos com ar inquisidor, pois os olhares recaiam sobre nós e, de vez em quando lá se ouvia ..."aqui estão mais checas...". 

Só esta recepção já nos atemorizava, mas lá caminhámos para o quartel para tratar de receber a fiel companheira G3 e novas ordens. 

Já ao fim da tarde dirigimo-nos para os nossos "aposentos" para descansarmos.
Aproveitei essa folga, para juntamente com o ex-alferes Ribeiro, ir jantar a casa da prima da minha então namorada, hoje minha mulher, que morava junto à igreja de Nossa Senhora de Fátima. 

Após o mesmo, quando regressávamos para os quartos, mais ou menos a meio caminho, virei-me para o Ribeiro e propus-lhe uma volta pela cidade. 

Interrogámo-nos..." Para onde ?"
...Fizemos marcha atrás e, eis que deparámos com a Boite Diana, que ficava junto ao Moulin Rouge. 

Decidimo-nos pela primeira, para ver uma sessão de striptease ...
Entrámos lentamente com uma curiosidade latente nos nossos olhos bem abertos.

A sala iluminada por luzes psicadélicas anteviam um bom espetáculo para os checas. 

Sentámo-nos logo nas mesas junto ao palco, pois queríamos estar em cima do acontecimento... 
De súbito, ao som duma música quente, surge uma beldade toda ondulante e provocante. 

Ao mesmo tempo que nos recostávamos nas cadeiras, os nossos olhos escancaram-se para não perder pitada do espetáculo. 
A bailarina loira ou morena para aqui não interessa, num mexe, remexe com movimentos lentos e doces, lá se vai " descascando.

"...Eis senão quando, entra em cena uma cobra. 
A beleza, pega nela sem receio e coloca-a ao pescoço, qual cachecol.
Ai que arrepio!!!...
A cobra, lânguidamente percorre o corpo desnudo, passando por áreas proibitivas, apertando a "nossa amiga" cada vez mais...

Só se ouvia a música suave que acompanhava o bailado, pois os espectadores estavam embevecidos com tanto bamboleio...
Infelizmente o fim do show chegou, mas iríamos ser surpreendidos. 
Estávamos na "sobremesa" do espetáculo e, eis que a bailarina se aproxima de nós. 

Gentilmente levantámo-nos, sim os dois ao mesmo tempo e puxámos por uma cadeira. Ela com um sorriso rasgado sentou-se na nossa companhia. 
Lá tivemos que pedir um "chá" para a menina e encetámos uma conversa, não muito longa, mas com boas perspetivas... 
Num bate papo curto, mas " incisivo" convidámo-la a fazer-nos uma visita lá em cima, mais propriamente no Chai e a malandra com sorriso cativante prometeu-nos tal desígnio... 

Chegada a hora da despedida ela foi feita com um beijinho. 
Soube a pouco, claro, mas ficou a promessa...até hoje!!!

Já a madrugada ia avançada, regressámos ao quartel e só uma forte chuvada nos acalmou após tão excitante noite em vésperas duma nova viagem, desta vez rumo a Porto Amélia...





Rui Briote Eis um relato meu feito já há uns anos Rui Fernandes
Gerir
Leonel Pereira Silva Boa noite amigo Briote, mas que relato...tinhas isso apontado ou foi de memória? Abraço
Gerir




Jose Capitao Pardal Rui Briote só uma pequena imprecisão nós saímos de Figo

Maduro ainda no dia 16/2/72 e chegámos à Beira a 17/02/1972...

domingo, 25 de novembro de 2018

O MARROQUINO (1), por José Nobre

O MARROQUINO (1)
Navio Niassa – 4 de Agosto de 1967.
Era o nosso segundo dia de viagem a bordo do Navio Niassa, o qual pertencia à Companhia Nacional de Navegação, mas que desde o inicio da guerra ultramarina, servia para transportar, os mancebos mobilizados para o chamado ultramar. 

O nosso destino era Moçambique. 
Rapidamente compreendemos que a vida dentro daquele navio não seria fácil. 
Os porões tinham sido transformados em dormitórios, centenas e centenas de camas, que não eram mais do que umas tábuas cobertas com os chamados “colchões de espuma” e uma manta. 
Não existia qualquer local para as refeições, os duches eram de água salgada e as retretes eram uns cubículos mal amanhados, onde a privacidade dos utilizadores não existia. 
Bastou uma única noite, a primeira, para que a vida a bordo daquele navio se transformasse num inferno. 
O cheiro a vomitado que vinha dos porões era indescritível. 

Começava bem a nossa viagem a caminho de uma guerra que ninguém queria.
Nessa manhã de 4 de Agosto de 1967, tivemos a primeira palestra dada pelo nosso capitão, o comandante da Companhia de Cavalaria 1728, e também a primeira revista ao fardamento, entre outras coisas.

O Marroquino, o soldado condutor 044483/67, era a gargalhada da companhia 1728. 
Quando recebeu o fardamento, poucos dias entes do embarque para Moçambique, meteu-o dentro do saco de viagem e nunca mais lhe tocou, ficou tal e qual como lhe tinham entregue.
Antes da formatura já todos riam do fardamento do “marroquino” destacava-se de todos os outros que tinham o fardamento à sua medida. 

O alferes Guerra gritou, sentido, e todos ao mesmo tempo obedeceram à ordem.
O Capitão Pereira Monteiro, ou seja o “Becas” acabava de chegar para proceder à primeira revista da companhia. 
Olhou para todos, um a um, e ia fazendo alguns reparos sobre o cabelo, a barba, as camisas desabotoadas, e até o emblema da boina que não estava direito. 
A meio da revista, deu com os olhos no marroquino, não acreditou no que estava a ver. 
Tinha um verdadeiro espantalho na sua frente, no meio do seu pessoal. 
Ficou vermelho (particularidade do “Becas” quando se irritava). 
Fez-se ainda mais silêncio. 
Todos esperavam pela reação do comandante da companhia.
- Então você, (o Becas tratava todos por você) não tinha ninguém para lhe tratar do fardamento? 
Porque não trocou a camisa e os calções? 
O algarvio mantinha-se em sentido.
Diga- me lá porquê?
O Niassa avançava para Moçambique e enquanto o “Becas” falava o silêncio ainda era mais pesado, até os motores do navio faziam menos barulho.
- Como o meu capitão sabe, os meus pais estão em França, vai para dois anos, e eu não sei coser roupa e também não tenho ninguém na família que tenha o curso de “ Corte e Costura.”
Ouviu-se um burburinho na formatura, o Augusto, mesmo ao lado do marroquino, fazia um grande esforço para não rir.
- E as camisas, meu capitão, só haviam estas quando chegou a minha vez de receber o fardamento.
Ainda ficou mais vermelho, o “Becas.” 
A sentença caiu pesada, chamou pelo furriel, responsável pelos condutores, mais conhecido por “Parafuso” e disse-lhe.
- Este soldado deverá comparecer na próxima formatura com o cabeça rapada, e fica proibido de sair do navio quando chegarmos a Luanda.

Saiu-lhe cara a piada do “corte e costura.” 
Em pleno Atlântico tinha começado uma relação, entre o “Becas”, o marroquino e o barbeiro, que só terminaria no dia 12 de Outubro de 1969 quando regressaram a Lisboa. 

Depois e durante os vinte e sete meses moçambicanos, foram só mais umas doze carecadas, o marroquino, partiu careca e chegou careca.

Evidentemente que o “ Becas” quando da nossa escala em Luanda, deixou-me sair do Niassa, para um breve conhecimento da capital angolana.

Depois do nosso regresso de Moçambique e já no quartel de Estremoz, e na hora das despedidas, o “Becas” abraçou o marroquino e disse-lhe: Se algum dia tiver filhos e eles se portarem mal......não se esqueça de lhes dar uma carecada.
Ainda hoje, quando entro numa barbearia e me sento na cadeira, sinto a vontade de dizer...
É mais uma carecada.
RIP – Capitão Pereira Monteiro, nunca me esquecerei de si.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Camarada de Guerra, por António Lobo Antunes, em artigo de Duarte Pereira


Duarte Pereira
António Lobo Antunes
(escritor e antigo combatente)

Para definir camarada de guerra:
 
«Só quem esteve na Guerra compreende inteiramente o sentido: não é bem irmão, não é bem amigo, não é bem companheiro, não é bem cúmplice é uma mistura disto tudo com raiva e esperança e desespero e medo e alegria e revolta e coragem e indignação e espanto, é uma mistura disto tudo com lágrimas escondidas.»

E, para definir a ausência na guerra:

«Não conheço uma única pessoa que tenha passado por aquele horror na qual não exista uma parte que se mata devagar, em silêncio, numa discrição pungente que apenas os que passaram por aquilo sabem reconhecer.»

E, as recordações:

«De repente a certeza de ter voltado anos atrás e nós, quase meninos julgando-nos homens, nas terras do Fim do Mundo, desamparados, a marcarmos cruzinhas nos calendários a cada dia que passava.
Onde se habitava em condições miseráveis, porque quem mandava em Luanda estava-se nas tintas para nós: bem se ralavam com a nossa sorte e a gente rodeada de inimigos.»
«Metade de nós ficou lá para sempre: a nossa juventude, os nossos projectos, a nossa alma manchada de sangue e terra.
Não vou descrever horrores, não vou contar nada.
Não é possível.
Não consigo.
Era um fardo pavoroso (perdão, é um fardo pavoroso) que continuamos a carregar juntos...»
 

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

A minha partida para Moçambique, por Paulo Lopes



Algures por aqui, o Duarte Pereira, diz que tem algumas perguntas a fazer sobre a partida para e chegada a África!...
 
RI 3 . Regimento de Infantaria 3 (Beja)
 
 
A minha foi mais ou menos isto e tenham lá a paciência de ler mais um pouco do livro:

Eram 19 horas, quando cheguei ao Aeroporto de Figo Maduro, nas traseiras da Portela e não fosse a farpela a rigor de militar e alguns dos meus companheiros de viagem estarem vestidos da mesma maneira (mais galões, menos galões, com eles ou sem eles), poderia julgar que ali se estava a preparar um embarque para umas férias num qualquer país distante.
 
Aeroporto de Figo Maduro - FAP (Lisboa)
 
Fomos chamados, para nos apresentarmos na sala de embarque e as despedidas que tive com os meus pais, foram rápidas e de forma a que fossem, vou ali e já volto, para não dar origem às lágrimas que, sabia, iam ser muitas após a minha partida.

O ambiente não era, de forma alguma, aterrorizador nem idêntico aquelas partidas de barco que saíam do Cais da Rocha Conde de Óbidos, até porque, os militares eram em muito menor número e na sala de embarque, misturados com as fardas, encontravam-se vestes simpáticas e sofisticadas: familiares de militares que os acompanhavam para as cidades do Ultramar, o que deixava desde logo transparecer que a grande maioria não se deslocava para a guerra mas sim, para a vida normal que tinham abraçado, havia algum tempo, nas terras ultramarinas.
 
Cais da Rocha Conde de Óbidos - Embarque de Tropas para Ultramar
 
Sabiam precisamente para onde iam e lá, nesse local, nada tinham a temer em relação à guerra.
 
Não como eu que ia para uma vida nova.
Nem sabia, tão pouco, para onde ia: — Vais para Moçambique. — Disse-me o meu comandante do quartel de Beja.
— Apresenta-se no Quartel General em Porto Amélia.
— Disseram-me no quartel dos adidos na Ajuda.
Era tudo o que tinha para meu conhecimento!
Sentia-me completamente aturdido, adormecido e inconsciente de que vida me tinham preparado para a minha nova mudança ao serviço do exército.
Ao serviço da Nação.
 
 
O avião levantou voo, precisamente às vinte horas e cinquenta e cinco minutos.
Já comodamente instalado no meu lugar do avião da TAP, um Boeing 707 fretado pelo exército para transporte de militares e familiares (dos graúdos), sentou-se a meu lado um 2º sargento.
 
A viagem previa-se num espaço de tempo longo.
—Nove horas!
— Alguém me tinha informado.
Estava também prevista uma escala em Luanda e portanto muito tempo teríamos para falar de coisas banais, sem interesse, para passarmos as próximas longas horas.
Fizemos, como parecia ser obrigatório e estava previsto, escala em Angola, mais precisamente em Luanda, não só para deixar alguns militares e seus familiares que ficariam por ali mas também para reabastecimento do avião.
Operação que demorou o tempo suficiente para irmos até ao bar do Aeroporto onde, por desconhecimento dos hábitos e preços do marisco em África, mandei vir um prato de camarão para acompanhar com uma cerveja pois, pelo preço apresentado no placar afixado na parede do bar, pensei ser um pires com meia dúzia mal medida, de carapaus de bigode, aos quais nunca perdia, se isso me fosse monetariamente possível, uma ocasião de poder apreciar o seu sabor.
Mas afinal o prato era mesmo um prato e bem recheado.
Nada mau para a minha primeira refeição em terras Africanas.
 
 
Devorei-os sem precisar de ajuda, nem de tempo extra para limpar o fundo ao prato.
Até Moçambique faltava apenas um pulo e assim, às doze horas do dia 7 de Julho de 1972, estava na Beira.
Tinha chegado a Moçambique.
Na Beira, depois daquelas burocracias habituais e extremamente aborrecidas de fazer, soube quando partiria para Porto Amélia, no distrito de Cabo Delgado.
 
Para mim, completamente desinformado da geografia Africana, tal nome nada me dizia, mas como o mal logo se sabe, fiquei esclarecido e para que constasse, Cabo Delgado era um dos principais distritos do norte de Moçambique onde a guerra estava bem implantada.
Começava a acordar de vez!
Mas que poderia esperar um atirador?
 
Aeroporto da Beira
 
Três dias depois, aterrava no Aeroporto de Porto Amélia, capital do distrito de Cabo Delgado.
 

Porto Amélia (Pemba) - Moçambique
 
Entre apresentações e avisos do que havia a fazer, depressa fiquei conhecedor do meu pouso definitivo: — MATACA, junto à Serra do Mapé.

 
Restava-me saber quando e como iria.
 
Ninguém me deu agradáveis notícias de tal paradeiro: uns não conheciam tão pouco Mataca, mas da dita Serra, não me auguravam nada de aceitável.
Outros diziam que era no meio do nada e simplesmente faziam uma careta expelindo dos seus lábios um enorme chiiiiiiii...
Messalo-4.jpg
Outros, os mais conformados, diziam que era igual a tantos outros aquartelamentos espalhados pelas matas de Cabo Delgado.
 
Fiquei a saber o que já sabia...nada!

paulo lopes
in "Memórias dos Anos Perdidos ou a Verdade dos Heróis"

domingo, 23 de fevereiro de 2014

VIDA de um não MILITAR, por Armando Guterres



 
VIDA de um não MILITAR

Quinta 02/07/1970 - Banho na ribeira - primeiro ato militar com os catorze mancebos da aldeia.

Sexta 03/07/1970 - Inspecção sanitária, no velho edifício dos Bombeiros Voluntários do Fundão. Resultado previsível "todo o serviço" - não conseguido, segundo os interesses deles.
Santarém - terça feira 12/01/1971 - como recrutado.
Não recortaram grande cousa....
 
Sábado 03/04/1971 - Recruta pronto.
 
Domingo 11/07/1971 - 1.º cabo miliciano - Apresentação no RC4.
Missão pastar a vaca, com um intervalo de 3 semanas em Tancos no Curso de Buracos e Alçapões. Continuação de pastar a vaca - um trabalho que levei a sério e cumprimento segundo o RDM.
Sargento de dia num Domingo - Arrear da Bandeira: um puxão para baixo + dois para cima e depois de três tocaduras ...
Não faço ideia de quem a pôs cá em baixo.
 
Segunda feira 20/09/1971 - no gabinete de um capitão.
Tínhamos chegado atrasados dez "pastores".
Conforme iam dando justificações, iam levando dez dias.
Chegou a minha vez e dei a razão de ter perdido o comboio, que de propósito não tentei encontrar (festa civil na aldeia).
Mostrei o pulso e disse "MEU CAPITÃO O PONTEIRO DOS MINUTOS CAIU E POR ISSO CHEGUEI ATRASADO AO APEADEIRO".
Fiquei muito admirado da sua cara simpática a mandar-me retirar.
Os restantes continuaram a colecionar dez dias.
Terça feira 08/02/1972 - Teatro Vitória uma secção da Revista e corrida para Santa Apolónia. Abrantes - Santa Margarida de táxi.

Quarta feira 09/02/1972 - Furriel Miliciano Graduado - embarque no Figo Maduro - Luanda.
 
Quinta feira 10/02/1972 - Chegada à Beira de manhã.
Saída do quartel para cidade num autocarro de 2 pisos que tencionava ir vazio (abanou o suficiente até abrir as portas).
Andei sozinho à procura de uns primos que não encontrei.
Disse a um VCC que tinha uma nota de mil e ele foi comigo a uma cervejaria e fez questão de pagar as Laurentinas.
Jantar numa cervejaria com muita da nossa malta.
Um Alfero comando, chegado de Tete, pede ao n/capitão-proveta autorização para uivar.
Endireitou as facas de peixe que o empregado lhe ia dando.
Sexta feira 11/ 02/1972- Entrega das G3.
Voo fretado à DETA.
Último voo em que serviram bebidas alcoólicas nesses fretes.
Bebeu-se toda e qualquer que ia embarcada. Coitadas das hospedeiras!!!!
Porto Amélia debandada de armas e bagagens para pensões e hotéis.
Fui um dos que dormiram no quartel (num canto num monte de colchões).
 
Sábado 13/02/1972 - Queixa às autoridades militares, porque o pessoal invadiu a praia da messe dos oficiais e de fato de banho, uns de cuecas e outros nem isso.
Ao anoitecer recebemos as munições.
Trepámos para as viaturas atribuídas, transporte de gado com os respectivos taipais.
Paragem em Ancuabe para formar a coluna com a devida protecção.
Domingo 13/02/1972 - Recepção pelos velhinhos.
Saída para a Mataca.
Muito bom acolhimento no resort.
Terça feira 15/02/1972 - Os velhinhos leváramos para Macomia.
Quinta feira 17/02/1972 - Regresso à Mataca ...

 

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Aí vai mais um relato: A ida para Moçambique... Ida para o Desconhecido, por Rui Briote



Quarta feira de cinzas, 16 de fevereiro de 1972, ao fim de uma tarde cinzenta, saímos de Santa Margarida, postos em autocarros rumo ao aeroporto de Figo Maduro, afim de partir para a nossa colónia de férias " resort Moçambique"...
 
Boing 707 da FAP
 
Um pássaro gigante, mais conhecido por avião, tripulado por pilotos da FA. ganha balanço e lá vamos nós a subir aos céus e ver Lisboa a fugir-nos rapidamente da vista...lágrimas afloram e correm de mansinho pela face...
As hospedeiras, aliás hospedeiros, também não ajudavam muito.
Já no ar, deixámos o nosso querido Portugal para trás, na altura conhecido por Metrópole.
As nuvens que sobrevoámos pareciam algodão ...
Que delícia para os nossos olhos!
     
Boing 707 da FAP, em Terra e em Voo

Seis horas depois, passámos o Equador e entramos no hemisfério sul em direção a Luanda, onde iríamos aterrar para relaxar.
Uma centena e meia de homens foi colocada num espaço exíguo e, com o calor que fazia, começamos a destilar e aí permanecemos uma hora mais minuto menos minuto.
 
Embarcámos de novo, rumo à cidade da Beira.
 
A aproximação à pista foi um tremendo susto, pois o avião começou a dançar, ora para a esquerda ou para a direita, e ao vermos o rio Zambeze (segundo o Hélder Losna (ECAV1), seria o rio Pungué e não o Zambeze, já que este último fica ainda longe da cidade da Beira), serpenteando com um caudal enorme, mesmo debaixo do nosso nariz ... os nossos corações começaram a bater forte, fortemente...será que iremos tomar um banho forçado?
Agarrados aos bancos estávamos a preparar-nos para tudo...
Finalmente, os pilotos lá endireitaram o avião e fizemos uma aterragem nada suave, mas chegamos inteiros...
UFA que alívio!!!
 
Aeroporto de Beira (Moçambique)
 

Já em terras africanas debaixo dum calor abrasador, entreolhávamo-nos com ar inquisidor, pois os olhares recaiam sobre nós e, de vez em quando lá se ouvia ..."aqui estão mais checas...".
Só esta receção já nos atemorizava, mas lá caminhámos para o quartel para tratar de receber a fiel companheira G3 e novas ordens.
 
Já ao fim da tarde fomos para os nossos aposentos para descansarmos.
Aproveitei essa folga para juntamente com o ex-alferes Ribeiro ir jantar a casa da prima da minha então namorada, hoje minha mulher, que morava junto à igreja de Nossa Senhora de Fátima.
 
Após o mesmo, quando regressávamos para os quartos, mais ou menos a meio caminho, virei-me para o Ribeiro e propus-lhe uma volta pela cidade.
Interrogámo-nos:
"Para onde?"...
Fizemos marcha atrás e eis que deparámos com a Boite Diana, que ficava junto ao Moulin Rouge.
Decidimo-nos pela primeira, para ver uma sessão de striptease ...
 
Moulin Rouge - Beira (Moçambique)
 
Entrámos lentamente com uma curiosidade latente nos nossos olhos bem abertos.
A sala iluminada por luzes psicadélicas anteviam um bom espetáculo para os checas.
Sentámo-nos logo nas mesas junto ao palco, pois queríamos estar em cima do acontecimento...
 
De súbito, ao som duma música quente, surge uma beldade toda ondulante e provocante.
Ao mesmo tempo que nos recostávamos nas cadeiras, os nossos olhos escancaram-se para não perder pitada do espetáculo.
A bailarina loira ou morena para aqui não interessa, num mexe, remexe com movimentos lentos e doces, lá se vai " descascando "...Eis senão quando, entra em cena uma cobra.
A beleza, pega nela sem receio e coloca-a ao pescoço, qual cachecol...
Ai que arrepio!!!...
A cobra, languidamente percorre o corpo desnudo, passando por áreas proibitivas, apertando a "nossa amiga" cada vez mais...
Só se ouvia a música suave que acompanhava o bailado, pois os espetadores estavam embevecidos com tanto bamboleio...
 
Infelizmente o fim do show chegou, mas iríamos ser surpreendidos.
Estávamos na "sobremesa" do espetáculo e, eis que a bailarina se aproxima de nós.
Gentilmente levantámo-nos, sim os dois ao mesmo tempo e puxámos por uma cadeira.
Ela com um sorriso rasgado sentou-se na nossa companhia. Lá tivemos que pedir um " chá" para a menina e encetámos uma conversa, não muito longa, mas com boas perspetivas... Num bate papo curto, mas " incisivo" convidámo-la a fazer-nos uma visita lá em cima, mais propriamente no Chai...e a malandra com sorriso cativante prometeu-nos tal desígnio...
 
Chegada a hora da despedida ela foi feita com um beijinho...soube a pouco, claro, mas ficou a promessa...até hoje!!!

Já a madrugada ia avançada, regressámos ao quartel e só uma forte chuvada nos acalmou após tão excitante noite em vésperas duma nova viagem, desta vez rumo a Porto Amélia...

 
Aeroporto de Pemba - Moçambique
  •  
    Rui Briote Este relato refere-se à ida para Moçambique...
     
  •  
    Fernando Bento Engraçado a nossa viagem (C.C.S.) foi identica à vossa, só que eu fui para a boite Primavera, o relato está porreiro. Ao fim de 40 anos estas memórias continuam bem vivas, parece que foi ontem, não é?
  • Um abraço Briote.
     
  •  
    Rui Briote Abraço Amigo...
     
  • Rui Briote porque é que ao fim de 40 anos esquecemos o nome da maioria daqueles que conviveram junto de nós tantos meses e não esquecemos estas história das quais conseguimos fazer um relato tão completo?
  • Um Abraço
     
  •  
    Rui Briote Tem que se puxar um pouco pela memória e recorrendo a cábulas....
  • Abraço
     
  •  
    Paulo Lopes Afinal ainda há muita história por contar que, timidamente, vai-se soltando das gavetas!
    Tudo cá para fora amigo Rui Briote! Se não para mais, que seja para me convencer que eu não percebo nada de escrita!
     
  •  
    Rui Briote Amigo não tenho pretensões a ser " escritor"...limito-me a fazer um relato e tenho outro na forja e será já a caminho do Chai...com calma e puxando pelos miolos...abraço
     
  • Rui Briote uma dúvida? A saída não terá sido a 16 de Fevereiro?
  • Confirma na caderneta militar...
     
  • Rui Briote não contas que na 3ª feira de carnaval fomos a um baile numa das localidades próximas de Santa Margarida, onde fizemos furor a dançar sozinhos, sem par e com a sala cheia... eramos para aí uns 20 ou 30?
     
  •  
    Rui Briote Lembro-me disso...o baile foi em Abrantes...nós saímos na quarta feira de cinzas
     
  • Rui Briote! Nem eu e já escrevo (para mim, principalmente) há muito tempo e, neste meu livro que uma plateia restrita leu e que agora, a conta gotas, os meus companheiros de "guerra" vão tendo a paciência de ler, começo por dizer:
    Como é evidente, tod
    os os nomes constantes neste romance (se for esse o titulo que se lhe possa ser atribuído) são inventados assim como também tudo o resto, e o resto nem sempre é tudo o que sobra, porque sobra ainda a veracidade das cidades, vilas, lugarejos e pontos esquecidos nos mapas convencionais.
    Tudo o que poderá parecer não o é e será, isso sim, uma pura e simples coincidência. Coincidências aplicadas a nomes de tantos jovens feitos homens prematuros que já não podem; não querem; ou não conseguem, ler estas palavras que descrevo.
  • Digo eu que tenho, quando em vez, dizer coisas.

    Não sou escritor porque a capacidade para tal está tão longe como África.
    Apenas e ao longo de anos, juntei folhas rascunhadas, rasguei e voltei a rascunhar dando origem a este amontoar de frases que, unidas, têm a intenção (pensamento secreto e reservado) ser uma simples crónica transformada em livro!
  • Apenas e somente isso:
    intenção (pouca).

    E assim começa o livro.
     
  •  
    Rui Briote Uma justa e merecida homenagem a quem lá ficou...apareçam mais testemunhos...
     

  •  
    Jose Capitao Pardal O que sucedeu com a aterragem, diga-se de passagem com excelente visibilidade, foi que o "checa" do piloto, que tinha ido tirar um curso intensivo de 707, à Boeing (certamente só de simulador), primeiro, por confusão certamente, fez-se à aterragem ao Rio Zambeze (que levava um elevado caudal, ou não fosse tempo das chuvas), e não ao aeroporto da Beira e depois viu-se "grego" para levantar novamente o aparelho, para se fazer à pista...