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quarta-feira, 3 de junho de 2020

O mundo por vezes também é pequeno..., por Fernando Lourenço


20/06/2015

Por várias vezes ao longo do ano faço os possíveis por manter o contacto com alguns camaradas e sou nisso retribuído. 

Telefono e telefonam-me, falo pelo Skype, convido e sou convidado para umas patuscadas tanto em casa como fora. 

Esta experiência humana de vital importância, esta grande riqueza que é a de ter aquele sentimento de puro desinteresse e sem egoísmos como é a amizade também tem de ser alimentada. 

E a única forma de ter amigos é ser amigo. 

Nem sempre isso é possível por várias, por vezes dolorosas razões. 
E acontecem estes convívios. 



Aí temos a alegria de rever pessoas com quem passámos algum tempo e foram importantes para nós.

Foi o caso deste convívio. 



Apareceu o Batanete. 

E se o contentamento honesto como nos abraçamos não precisasse de palavras, o Batanete fez questão, com algumas frases como só ele as sabe dizer daquela forma divertida, me fazer vir à memória os bons momentos que me fez passar. 




Também vi o José Caldeira. 
Creio que foi a primeira vez que ele foi a um convívio do Batalhão. 



A última vez que o tinha visto ainda o Campo Maior jogava na 1º divisão e eu fui fazer uma transmissão dum jogo qualquer e ele ao ver-me foi ter comigo. 
Muitas vezes ao longo destes anos eu me lembrei dele com o pensamento de que o gostava de rever. 
E aconteceu. 

Também me foram ver, e isso também o devo ao Jose Capitao Pardal, amigos que tenho em Estremoz, que ao saber por ele que eu ia lá, fizeram questão de me ir ver. 



A razão de eu mencionar isto é por estes meus amigos serem amigos também de alguns elementos do Batalhão e suas famílias e só agora ao fim de 40 anos terem sabido disso. 

O mundo por vezes também é pequeno.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

O Não Regresso da Guerra...., por José Nobre

O Não Regresso da Guerra....
Paris - Quartier Latin -Dezembro de 1970 - Sábado à noite -
Primeiro uma sessão de cinema, depois um petisco num dos muitos restaurantes da Rue de la Huchette, depois a musica num dos muitos bares da mesma rua. 
Por vezes escolhíamos o Caveau de La Huchette, o famoso Bar, onde durante muitos e muitos anos passaram os melhores músicos de Jazz e também da chamada música cigana ( leste da Europa)....
Noites frias, muitas vezes de neve, mas os nossos 20 anos tudo suportavam......até à hora da abertura das portas da estação do metropolitano.....
Voltávamos para casa no primeiro "metro"....bebíamos um café no "Chez Pierre".....
Aquecíamos as mãos e os pés, ouvindo uma música qualquer vinda do Jukebox.....e planeávamos a próxima saída. 
Nós, só tínhamos vinte e poucos anos. Não, não foi assim há tanto tempo.....49 anos.....somente. 
Eu era um dos únicos que não tinha "fugido à tropa" o único que tinha andado por terras africanas. 
Faziam-me perguntas, muitas perguntas. 
Eu, pouco dizia, não tinha a coragem de lhes dizer que tinha saudades, não da guerra, mas tinha-as dos gajos que comigo andaram de Janeiro de 1967 a Outubro de 1969....IRMÃOS....que um dia deixei à porta do Quartel de Estremoz. 
Como é que se pode explicar esta "merda" a alguém que não esteve onde eu estive....olhavam-me. questionavam-me - Viste alguém morrer?....Não respondia....ainda era cedo, eu ainda não tinha voltado da guerra.....o corpo sim.....TUDO O RESTO NÃO.
Dedicado a todos aqueles que estiveram comigo em África, ( Moçambique ) à malta da Companhia de Cavalaria 1728 e à malta da Companhia de Caçadores 1804
Apontamentos - Boulogne Billancourt (França) - Monchique - Portimão....e onde calha....onde me dá a pancada de escrever.



domingo, 25 de novembro de 2018

O MARROQUINO (1), por José Nobre

O MARROQUINO (1)
Navio Niassa – 4 de Agosto de 1967.
Era o nosso segundo dia de viagem a bordo do Navio Niassa, o qual pertencia à Companhia Nacional de Navegação, mas que desde o inicio da guerra ultramarina, servia para transportar, os mancebos mobilizados para o chamado ultramar. 

O nosso destino era Moçambique. 
Rapidamente compreendemos que a vida dentro daquele navio não seria fácil. 
Os porões tinham sido transformados em dormitórios, centenas e centenas de camas, que não eram mais do que umas tábuas cobertas com os chamados “colchões de espuma” e uma manta. 
Não existia qualquer local para as refeições, os duches eram de água salgada e as retretes eram uns cubículos mal amanhados, onde a privacidade dos utilizadores não existia. 
Bastou uma única noite, a primeira, para que a vida a bordo daquele navio se transformasse num inferno. 
O cheiro a vomitado que vinha dos porões era indescritível. 

Começava bem a nossa viagem a caminho de uma guerra que ninguém queria.
Nessa manhã de 4 de Agosto de 1967, tivemos a primeira palestra dada pelo nosso capitão, o comandante da Companhia de Cavalaria 1728, e também a primeira revista ao fardamento, entre outras coisas.

O Marroquino, o soldado condutor 044483/67, era a gargalhada da companhia 1728. 
Quando recebeu o fardamento, poucos dias entes do embarque para Moçambique, meteu-o dentro do saco de viagem e nunca mais lhe tocou, ficou tal e qual como lhe tinham entregue.
Antes da formatura já todos riam do fardamento do “marroquino” destacava-se de todos os outros que tinham o fardamento à sua medida. 

O alferes Guerra gritou, sentido, e todos ao mesmo tempo obedeceram à ordem.
O Capitão Pereira Monteiro, ou seja o “Becas” acabava de chegar para proceder à primeira revista da companhia. 
Olhou para todos, um a um, e ia fazendo alguns reparos sobre o cabelo, a barba, as camisas desabotoadas, e até o emblema da boina que não estava direito. 
A meio da revista, deu com os olhos no marroquino, não acreditou no que estava a ver. 
Tinha um verdadeiro espantalho na sua frente, no meio do seu pessoal. 
Ficou vermelho (particularidade do “Becas” quando se irritava). 
Fez-se ainda mais silêncio. 
Todos esperavam pela reação do comandante da companhia.
- Então você, (o Becas tratava todos por você) não tinha ninguém para lhe tratar do fardamento? 
Porque não trocou a camisa e os calções? 
O algarvio mantinha-se em sentido.
Diga- me lá porquê?
O Niassa avançava para Moçambique e enquanto o “Becas” falava o silêncio ainda era mais pesado, até os motores do navio faziam menos barulho.
- Como o meu capitão sabe, os meus pais estão em França, vai para dois anos, e eu não sei coser roupa e também não tenho ninguém na família que tenha o curso de “ Corte e Costura.”
Ouviu-se um burburinho na formatura, o Augusto, mesmo ao lado do marroquino, fazia um grande esforço para não rir.
- E as camisas, meu capitão, só haviam estas quando chegou a minha vez de receber o fardamento.
Ainda ficou mais vermelho, o “Becas.” 
A sentença caiu pesada, chamou pelo furriel, responsável pelos condutores, mais conhecido por “Parafuso” e disse-lhe.
- Este soldado deverá comparecer na próxima formatura com o cabeça rapada, e fica proibido de sair do navio quando chegarmos a Luanda.

Saiu-lhe cara a piada do “corte e costura.” 
Em pleno Atlântico tinha começado uma relação, entre o “Becas”, o marroquino e o barbeiro, que só terminaria no dia 12 de Outubro de 1969 quando regressaram a Lisboa. 

Depois e durante os vinte e sete meses moçambicanos, foram só mais umas doze carecadas, o marroquino, partiu careca e chegou careca.

Evidentemente que o “ Becas” quando da nossa escala em Luanda, deixou-me sair do Niassa, para um breve conhecimento da capital angolana.

Depois do nosso regresso de Moçambique e já no quartel de Estremoz, e na hora das despedidas, o “Becas” abraçou o marroquino e disse-lhe: Se algum dia tiver filhos e eles se portarem mal......não se esqueça de lhes dar uma carecada.
Ainda hoje, quando entro numa barbearia e me sento na cadeira, sinto a vontade de dizer...
É mais uma carecada.
RIP – Capitão Pereira Monteiro, nunca me esquecerei de si.

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

A nossa visita de hoje ao Alqueva, por Duarte Pereira




Vamos dedicar este texto ao Sr Marcelino, que amanhã há muitos anos, começou a estar cá.
GRANDE AVENTURA
...
Quando chegamos ao Alqueva estava todo molhado.


As paredes da frente estavam húmidas de suster a água que levava atrás.
Todo o ano a bater na parte de baixo das costas deve dar um certo desconforto.
Quando pode largar o repuxo à frente será uma sensação indescritível quase sexual.


Queríamos dar € 5,00 ao Sr que tomava conta daquilo para abrir as torneiras.
Ele disse que não, por causa das turbinas, no nível da barragem mais não sei o quê.

Gostámos do dia.
Na volta até viemos devagar.

A palhinha do garrafão estava tão dura que até parecia de plástico.
Foi com vinho e regressou com água do Alqueva, para vender aos turistas.

Ao fim de um tempo o Toino viu uma brigada da G.N.R. e resolveu parar para lhes dar os parabéns.
Sim senhores, bela auto-estrada, nem passei os 120 Km/h.

Resposta do agente - O senhor acaba de sair de uma estrada municipal. Venha mas é soprar o balão. 
O Toino rebentou com três e não foi multado.

Ainda ouviu um recado via rádio para as outras patrulhas, para não nos mandarem parar. 
O material está caro.

Lá chegamos a casa. 
Vamos descansar duas horas e depois logo se vê.

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Encontro, Almoço e Convívio do Batalhão de Cavalaria 3878


Aqui vos deixo a carta-convite para o Encontro, Almoço e Convívio do Batalhão de Cavalaria 3878, remetida a todos os ex-combatentes daquela unidade, que estiveram em Cabo Delgado (Moçambique), entre 1972 e 1974, nos aquartelamentos de Macomia, Chai e Mataca, cuja realização está a meu cargo, no próximo dia 20/6/2015, na cidade de Estremoz.

Exmo. Sr.
                                                               

Assunto: ESTREMOZ - Almoço Convívio – Batalhão de Cavalaria 3878

Venho convidar-te para que “te apresentes ao serviço” no próximo dia 20 de Junho de 2015 (Sábado), em Estremoz.
- A concentração será às 10,30 horas, junto à Adega Tiago Cabaço Wines na Estrada Nacional 4, em frente a Estremoz (coordenadas 38.832732411972735 / -7.584214210510254), seguida de uma “visita” à Adega.

- Às 12,00 Horas - no Cemitério de Estremoz (saída para Elvas), teremos a Homenagem aos camaradas de armas falecidos (no Talhão dos Combatentes).

- Às 13 horas - Almoço e Convívio no Manjar de Estremoz, Zona Industrial Lote 34, (coordenadas 38.84741811576974 / -7.577905654907227).

- Seguido de FADOS com Manuel Fria, Francisco Azevedo, João Marcelino e Cláudia Pires, acompanhados à Guitarra por Jorge Silva e à Viola por Miguel Monteiro.

- Às 17,30 horas - Lanche de “ração de combate” alentejana.
 


Atualiza os dados pessoais (incluindo email), formaliza a inscrição no destacável abaixo e remete o cheque ou o vale de correio, até ao dia 12 de Junho, para a morada acima.

Nota que as inscrições para o almoço só serão consideradas válidas após pagamento, dada a necessidade de assegurar com o Restaurante, o número correto de refeições.

Se necessitares de pernoitar, a oferta hoteleira em Estremoz é diversificada: Pousada Rainha Santa Isabel, Hotel Páteo dos Solares, Hotel Gadanha, Hotel Imperador, Hotel Alentejano, Pensão Mateus, Residencial Carvalho, Residencial Miguel José e uma variada gama de Turismo Rural e de Habitação, em Estremoz, Borba e Vila Viçosa.



O preço do almoço e lanche é de 30,00 €.

Para quem ficar em Estremoz ou arredores, de 20 para 21 de Junho, proponho excursão a ALQUEVA, com Cruzeiro na Barragem e visita à Vila Típica de MONSARAZ, organizada pelas Rainha Santa Isabel Viagens, onde devem solicitar informações, inscrever e pagar antecipadamente (email: info.estremoz@rsi-viagens.com e telefone: 00351 268 333 228).
Para que a excursão se realize deverá haver, pelo menos, um mínimo de 30 inscrições e o preço por pessoa é de 55,00 € (com cruzeiro e almoço típico incluídos).

Um abraço, boa viagem e cá vos espero, neste lindo Alentejo.


José Capitão Pardal

sábado, 6 de setembro de 2014

PARA O ANO TEM DE HAVER UMA PEÇA DE TEATRO, por Duarte Pereira



Duarte Pereira (As Comadres de Estremoz)

 
JÁ ANDAMOS EM CAMPANHA ELEITORAL PARA O ALMOÇO CONVIVIO DO BATALHÃO EM 2015.
CLARO QUE ESTAMOS A PENSAR EM NÓS.
TEM DE SER UM SÍTIO RELATIVAMENTO PERTO.
JÁ TEMOS 35 AMIGOS E APOIANTES.
NUNCA ORGANIZÁMOS QUERMESSES NEM ALMOÇOS COM TANTA GENTE.
ERA UM PROBLEMA.
SE FALTASSE DINHEIRO TINHAMOS DE IR PEDIR ÀS MESAS NA HORA DO ALMOÇO.
SE SOBRASSE O QUE FARÍAMOS AO DINHEIRO??
COMPRÁVAMOS UM SAQUINHO DE REBUÇADOS PARA CADA UM.
 
JÁ TEMOS O NOSSO CANDIDATO ESCOLHIDO.
A PARTIR DE 26 DE MAIO PENSAMOS COMEÇAR A CAMPANHA.
PARA O ANO TEM DE HAVER UMA PEÇA DE TEATRO, COISA PARA UNS 30 MIN NO MÁXIMO E NÓS AMBAS AS DUAS SEREMOS AS VEDETAS .

Foto de humor inteligente.

.....///.....

Estamos a relembrar mais um texto do Duarte Pereira...

domingo, 18 de maio de 2014

NEM SEI BEM ONDE PASSEI, por João Marcelino



VIAJEI ATÉ AQUI, NEM SEI BEM ONDE PASSEI,..
SE PASSEI JÁ NÃO ME LEMBRO,
DE PASSAR O QUE PASSEI,..
PRA ENCONTRAR UM AMIGO
VOLTARIA A PERCORRER CAMINHOS,
POR ONDE ANDEI,..
NOUTRO TEMPO ESSE PASSADO
FEZ PARTE DE NÓS,..
SÓ ISSO EU SEI !!!...

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Os alentejanos e as anedotas, por Duarte Pereira




Duarte Pereira (As comadres alentejanas)

PARA AGRADECER OS BLOGS AO COMPADRE PARDAL, FOMOS "ROUBAR" UM TEXTO AO SR LUIS LEOTE. 
CHEGÁMOS À CONCLUSÃO QUE TER AMIGOS DÁ PARA "DESVIAR UMAS COISAS", SE O COMPADRE JÁ LEU EM TEMPOS, RELEIA.

TRIBUTO AOS ALENTEJANOS
(Para ler com tempo)

Alentejo
Palavra mágica que começa no além e acaba no Tejo
O rio da Portugalidade
O rio que divide e une Portugal e que à semelhança do homem português, fugiu de Espanha à procuro de mar.

O Alentejo molda o caráter de um homem.
A solidão e a quietude da planície dão-lhe espiritualidade, a tranquilidade e a paciência dum monge.
As amplitudes térmicas e a agressividade da charneca dão-lhe resistência física, a rusticidade, a coragem e o temperamento do guerreiro.
Não é Alentejano quem quer. 
Ser Alentejano não é um dote é um dom. 
Não se nasce Alentejano, é-se Alentejano.

Não foi por acaso que D. João II se teve de se refugiar em Évora para descobrir a Índia. 
No meio das montanhas e das serras um homem tem as vistas curtas; só no coração do Alentejo um homem consegue ver ao longe. 
Mas foi preciso Bartolomeu Dias regressar ao reino depois de dobrar o Cabo das Tormentas sem conseguir chegar à Índia, para D. João II perceber que só o costado dum Alentejano conseguia suportar o peso dum empreendimento daquele vulto.

Aquilo que para um homem comum fica muito longe, para um Alentejano fica já ali. 
Para um Alentejano não há longe nem distância, porque só um Alentejano percebe intuitivamente que a vida não é uma corrida de velocidade, mas uma corrida de resistência onde a tartaruga leva sempre a melhor sobre a lebre. 
Foi, por esta razão, que D. Manuel decidiu entregar a chefia da armada decisiva a Vasco da Gama. Mais de dois anos no mar…
Para um Alentejano. o caminho faz-se caminhando e só é longe o sítio onde não se chega sem para de andar. 
E Vasco da Gama limitou-se a continuar a andar onde Bartolomeu Dias tinha parado.

O problema de Portugal é precisamente este: 
Muitos Bartolomeu Dias e poucos Vasco da Gama. 
Demasiada gente que não consegue terminar o que começa, desiste quando a glória está perto e o mais difícil já foi feito. 
Ou seja muitos portugueses e poucos Alentejanos.

D. Nuno Álvares Pereira, aliás, já tinha percebido isso, caso contrário, não tinha partido tão confiante para Aljubarrota. 
D. Nuno sabia bem que uma batalha não se decide pela quantidade mas pela qualidade dos combatentes.
É certo que o rei de Castela contava com um poderoso exército, composto por espanhóis e portugueses, mas o Mestre de Avis contava com meia dúzia de Alentejanos. 
Não se estranha, assim, a resposta de D. Nuno aos seus irmãos, quando o tentaram convencer a mudar de campo com o argumento da desproporção numérica: -Vocês são muitos?
O que é que isso interessa se os Alentejanos estão do nosso lado?

Mas os Alentejanos não servem só as grandes causas, nem servem só para as grandes guerras. 
Não há como um Alentejano para desfrutar plenamente dos mais simples prazeres da vida.
Por isso se diz que Deus fez a mulher para ser a companheira do homem. 
Mas, depois teve de fazer os Alentejanos para que as mulheres também tivessem algum prazer. 
Na cama e na mesa, um Alentejano nunca tem pressa. 
Daí a resposta da Eva a Adão quando este intrigado lhe pergunta o que é que o Alentejano tinha que ele não tinha: -Tem tempo e tu tens pressa!

Quem anda sempre a correr, não chega a lado nenhum. 
E muito menos ao coração duma mulher. 
Andar a correr é um problema que os Alentejanos, graças a Deus, não têm. 
Até porque os Alentejanos e o Alentejo, foram feitos ao sétimo dia, precisamente o dia que Deus tirou para descansar.

E até nas anedotas, os Alentejanos revelam a sua superioridade humana e intelectual. 
Os brancos contam histórias dos pretos, os brasileiros dos portugueses, os franceses dos argelinos, só os Alentejanos contam e inventam anedotas sobre si próprios. 
E divertem-se imenso, ao mesmo tempo que servem de espelho a quem as ouve.

Mas para que uma pessoa se ria de si própria, não basta ser ridícula porque ridículos todos somos. 
É necessário ter sentido de humor. 
Só que isso só é um extra só disponível nos seres humanos topo de gama. 
Não se confunda, no entanto, o sentido de humor com alarvice. 
O sentido de humor é um dom da inteligência, a alarvice é o tique da gente bronca e mesquinha. Enquanto o alarve se diverte com as desgraças alheias, quem tem sentido de humor ri-se de si próprio. Não há maior honra do que ser objeto duma boa gargalhada. 
O sentido de humor humaniza as pessoas, enquanto a alarvice diminui-as. 
Se os grandes ditadores se rissem de si próprios nunca teriam sido as bestas que foram.

As anedotas Alentejanas são autênticas pérolas de humor: curtas, incisivas, inteligentes e desconcertantes, revelando um sentido de observação, um sentido crítico e um poder de síntese notáveis. 
Não resisto a contar a minha anedota preferida: 

Num dia em que chovia muito, o revisor do comboio entrou numa carruagem onde só havia um passageiro.
Por sinal um Alentejano que estava todo molhado em virtude de estar sentado num lugar junto a uma janela aberta: 
- Ó amigo, porque é que não fecha a janela? (Perguntou o revisor).
– Isso queria eu, mas a janela está estragada (respondeu o Alentejano).
– Então porque é que não troca de lugar?
– Eu trocar trocava, mas com quem?

Como bom Alentejano, que me prezo de ser, deixei o melhor para o fim.
O Alentejo, como todos sabemos, é o único sítio do mundo onde não é castigo uma pessoa ficar a pão e água. 
Água é aquilo que qualquer Alentejano anseia, e o pão…
Mas há melhor iguaria que o pão Alentejano? 
O pão Alentejano come-se com tudo e com nada. 
É aperitivo, refeição e sobremesa. 
É tão bom no primeiro dia, no dia seguinte ou no fim da semana. 
Só quem come o pão Alentejano está habilitado para entender o mistério da fé. 
Comê-lo, faz-nos subir ao céu.

Por tudo isto, que sempre que passeio pela charneca numa noite quente de verão, ou sinto no rosto o frio cortante das manhãs de inverno. 
Dou graças a Deus por ser Alentejano.
Que maior bênção poderia um homem almejar?

Dum Alentejano 
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