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quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Era o 2° ferido em combate!..., por José D'Abranches Leitão

Antes que os neurónios se f****** (1)
(1) (se queimem!!!!
Mais uma...

Iniciámos a saída ainda de noite...para não sermos detetados, pois sabíamos que o IN podia ser avisado, caso sassemos de dia.

O "objetivo", segundo informação do guia, ficava num escarpado, de difícil acesso nas faldas da Serra.

Nos dois primeiros dias, com as máximas precauções, a progressão na mata ia decorrendo, sem grandes sobressaltos! 
Mas ao final do segundo dia, já havia muito cansaço e os cantis começavam a ficar sem água!
(...)

Ao terceiro dia quando já próximos do objetivo, segundo informação do guia e após uma elevação relativamente baixa, ao chegar ao ponto mais elevado, somos alertados pelos soldados que iam na frente, de que 2 mulheres estavam no pequeno riacho, que naquele ponto rasgava transversalmente a descida da elevação. 

Ao sermos vistos pelas mulheres, estas fogem aos gritos de Tropaáué....Tropaáué !!!! 

Os primeiros soldados já tinham atravessado o riacho quando ocorreu um intenso tiroteio de armas automáticas, metralhadoras e rapidamente todos se deitaram pelo chão.

Alguém grita ao Justino para que se esconda atrás de um enorme embondeiro, mas o Justino é atingido num braço e tomba ferido!

Ripostamos de imediato e tentamos socorrer o soldado ferido, abrigando-nos onde fosse possível… só que o terreno não o permitia, pois a clareira era grande.

Durante alguns minutos, todos os nossos sentidos foram solicitados para que fosse possível aliar o raciocínio ao instinto de sobrevivência, debaixo de fogo.

Ouvia-se, juntamente com o estampido dos disparos, o ferido que se queixava de dores, outros que tentavam dar algumas indicações, com que cada um se teve de defrontar no limite das suas capacidades.

Ao fim de três ou talvez quatro longos minutos, tudo terminou após um disparo de uma bazucada que conseguimos efetuar e que levou o inimigo a retirar…

De imediato se fez avaliação da situação relativamente ao ferido e às munições disponíveis.

Depois de montada a segurança no local, foram efetuados os primeiros socorros, apresentando o Justino o braço dilacerado com alguma gravidade.

Nesta situação, tentou-se a comunicação via rádio para evacuação, mas como acontecia com alguma frequência e tínhamos a perceção disso mesmo, por experiências anteriores, estávamos isolados!..

Ou por incapacidade do equipamento ou simplesmente por ninguém escutar, devido ao facto de não estar dentro da hora da exploração rádio! 

Mas ao fim de 1 hora, conseguiu-se a evacuação. 
O Justino foi colocado numa maca e entrou no heli ...com destino ao Hospital de Mueda.


A deslocação, ao longo destes últimos quilómetros, foi feita sob uma tensão psicológica que se refletia nos rostos apreensivos, na precaução e no silêncio…
Não havia um sorriso, uma palavra, apenas o som das passadas e das botas esmagando as folhas, ao longo do caminho.

Outras operações se repetiram, mas esta provocou uma inesperada situação de grande tensão e sofrimento, pois o Justino possivelmente ficaria sem o braço....
Era o 2° ferido em combate!
Jose Leitao 
4° Grupo de Combate CCAV 2752

segunda-feira, 27 de abril de 2020

O nascimento de uma criança, Américo Condeço


20/03/2015

MAIS UMA EXPERIÊNCIA DE VIDA

Um belo dia fomos chamados, o Doutor e eu, ao Hospital Civil de MACOMIA para assistirmos a um parto pois a parturiente estava em trabalho de parto já há vários dias e a criança não queria nascer.

O Dr Cardoso esteve a analisar a situação e decidiu-se pela evacuação, pois tanto Mãe como Filho já estavam com poucas forças e a situação estava a tornar-se perigosa para ambos.

Chamados os meios de evacuação, tratámos de transportar a dita senhora de ambulância para a pista pois o avião já vinha a caminho para proceder ao seu transporte para o Hospital Civil de Porto Amélia.

A mulher dentro do avião procedimentos normais e avião no Ar.

E foi ai que aconteceu o bom da situação, quando do contacto com o piloto para o adeus e até ao regresso o mesmo informou que a criança tinha acabado de nascer, ordem imediata para regresso pois tanto a mãe como a criança necessitavam de cuidados imediatos.

Ainda acompanhámos os dois durante alguns dias no hospital civil de Macomia, mas depois perdemos-lhe o rasto.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

OPERAÇÃO “CAJU”..., por Rui Briote



Rui Briote
 para 
2019/02/05

Boa tarde Amigos!
Dedico este relato, em muito simples em especial aos que me acompanharam nesta operação.

Um abraço a todos
OPERAÇÃO “CAJU”

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Na época da apanha do caju, fruto muito saboroso e muito apetecido, lá estávamos nós prontos a colaborar “voluntariamente” para alguns interesses económicos.

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O dia, para o meu pelotão de alinhar para esse fim, chegou para ir fazer proteção a um grupo de homens e mulheres indígenas.
Logo de manhã cedo , começámos a caminhar pela mata, em busca do tal fruto. 
Tropa à frente e à retaguarda para proteger o pessoal que iria fazer esse serviço a troco dum “naco” de arroz ou outro produto, que seria entregue ao "cantineiro" e daí, seria espalhado pelos muito interessados no saboroso aperitivo.


Não foi necessário muito tempo até encontrar cajueiros.
Parámos, e fizemos um círculo, enquanto o “ saque” era feito.

Já ao cair da noite, tivemos que “ acampar”.
Feito um círculo, género ovo estrelado, em que neste caso, a gema era maior que a clara, pois a clara éramos nós tropa a fechar o círculo para proteger os “saqueadores” que formavam uma grande gema....

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Lá nos pusemos a "xonar", devidamente protegidos por alguns sentinelas atentos ao menor caso inesperado.

Seriam 4 ou 5 da madrugada, quando fui acordado, pois uma grávida decidiu dar à luz.
Era preciso água e, lá fui eu pedir esse precioso líquido aos meus soldados.

Findo esse processo, dirigi-me à parturiente com o enfermeiro.
A entrada na “ sala de parto”, formado pelas mulheres, foi-me vedado.
Era “ negócio” só para fêmeas.
Perante tal situação lá fui novamente descansar.

Mal começou o dia a clarear, pedi um helicóptero para a evacuação.
Para que fosse possível aterrar, houve necessidade de abrir uma clareira, trabalho extra com que não contávamos.
Depois de feita a improvisada pista, pouco tempo passou até começar a ouvir-se o barulho dum T6 que fazia proteção ao hélio.
Por rádio , lá fomos comunicando e o bicho aterrou suavemente.
Logo saíram dois maqueiros com a respectiva maca para ir buscar a parturiente e, qual o meu espanto, quando a vejo, calmamente, a caminhar em direção à ave voadora.
Fiquei de boca aberta, pois nunca tinha visto tal na minha ainda curta experiência.
Continuamos depois normalmente a apanha noutro local, esperando que nada de anormal sucedesse.

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Ao fim de três dias lá regressámos ao quartel. 
Fiz o relatório e enviei-o para o Comando. 
Poucos dias depois tive que ir a Macomia e, que lá cheguei, fui chamado ao gabinete do Comandante. 
Com cara de poucos amigos, questionou-me o porquê de ter pedido a evacuação da parturiente, questão à qual eu respondi que se tratava dum ser humano.

Vociferou e ameaçou-me dar uma “porrada”, mas não passou do ameaço....

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