O TEXTO QUE IRÃO VER MAIS ABAIXO, FOI ESCRITO PELO MEU FILHO A 27 DE AGOSTO.
O MEU PAI ESPEROU PELAS 12.05 H DO DIA 28, NA ALTURA DA MINHA VISITA E IA ACOMPANHADO PELA MINHA FILHA PARA SE DESPEDIR DE MIM.
DOIS DIAS ANTES ESTEVE NUMA AMENA CAVAQUEIRA NA HORA DE VISITA COM A MINHA MULHER E FILHA. ...
NESSA NOITE TEVE UM A.V.C. FORTE E PASSOU A ESTADO DE COMA.
NO MOMENTO QUE ESTOU A ESCREVER ACABARAM TODAS AS CERIMÓNIAS FÚNEBRES.
AS MÉDICAS DISSERAM QUE ELE NUNCA MAIS TERIA UMA VIDA MINIMAMENTE NORMAL.
SOU CATÓLICO E AGRADECI A DEUS POR O TER POUPADO A MAIS SOFRIMENTO.
PENSEI TAMBÉM DE FORMA EGOÍSTA NA FAMÍLIA.
A VIDA CONTINUA.
O MEU PAI, PARA MIM CONTINUARÁ SEMPRE VIVO PELOS ENSINAMENTOS QUE ME DEU.
A SUA CALMA, TUDO SE RESOLVE.
SE EU SOU COMO SOU AGRADEÇO À MINHA MÃE QUE É MUITO NERVOSA E NÃO SE CALA A NADA.
PUBLICO ESTE PEQUENO TEXTO PORQUE ACHO QUE O DEVERIA FAZER.
JUNTOU-SE O FALECIMENTO DA MÃE DA CIDÁLIA PIRES E ACHO QUE FOI NO MESMO DIA.
ESTAMOS AMBOS SENTIDOS.
QUE OS QUE NOS DEIXARAM, FIQUEM BEM ONDE QUER QUE ESTEJAM.
Rui Pedro Pereira
O avô Armando está a lutar pela vida no hospital.
A luta é dura.
Como foi a vida dele.
E dos meus avós.
E dos nossos avós.
O avô Armando e o "outro" avô, no sentido em que fui criado com o avô Heitor, capitão orgulhoso do Exército português, combatente nas antigas províncias ultramarinas.
O avô Heitor ou melhor, capitão Heitor ensinou-me a ler, alguns princípios das Forcas Armadas, levou-me a conhecer quartéis, messes de oficiais, enfim a minha tropa até aos 14 anos foi com ele.
O avô Armando e o "outro" avô no sentido em que, com ele, aprendi a ser mais terra a terra eu que, influenciado pelo avô Heitor, já sonhava com o brilho reluzente das medalhas por bravura (deixou-me duas e uma espada de Toledo).
Com o avô Armando fui à pesca, na Baía de Cascais, ainda os meets eram de pescadores e a calçada estava cheia de redes e não de putos que merecem levar um par de estalos.
Com o avô Armando conheci a Cascais dos pescadores, da gente humilde, a Cascais longe dos tios e das tias, a Cascais do Pai do Vento, do jardim da Gandarinha, da barbearia em frente a Igreja, a Cascais onde me casei.
O avô Armando, que trabalhava o vidro, também tomou conta do antigo cinema de Cascais.
Abria e fechava as portas.
Abria e fechava o bar.
Deixava-me entrar pelo lado dos cisnes.
De brincar junto ao Óscar gigante.
No espaço que hoje e ocupado por uma Igreja de Culto, vi Os Salteadores da Arca Perdida, O Livro da Selva e Dick Tracy.
E estranho escrever isto no Facebook, mas escrever faz-me bem.
Faz me estar mais perto dele.
Tenho saudades do meu avô Heitor e já tenho saudades do meu avô Armando.
Porque, com eles, pude ver a Baía de Cascais de duas maneiras possíveis: da varanda da sumptuosa messe da Marinha e em cima do casco de um barco ao largo da Praia dos Pescadores.
Cidália Pires
Perdi uma das pessoas que muita falta me fica a fazer, a minha mãe.
Acabou o sofrimento esta noite ...