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terça-feira, 11 de abril de 2017

OS CHEIROS OU ODORES, por Duarte Pereira


OUTRO TEXTO APANHADO AO SR DUARTE.

OS CHEIROS OU ODORES



QUEM PASSOU MAIS DE DOIS ANOS "NAQUELA TERRA" NÃO PODERÁ ESQUECER....


A CHUVA NO MATO, NOS CAMUFLADOS, O PEIXE SECO, DO SUOR, DA FALTA DE BANHO, DAS POPULAÇÕES RESIDENTES.
 
NÃO ESQUECENDO O DA GASOLINA E GASÓLEO DAS VIATURAS, DOS SORTUDOS, O DO SEXO.

QUEM TEVE A OPORTUNIDADE COMO EU, DE OUVIR, VER, CHEIRAR E BANHAR O OCEANO ÍNDICO.

NEM QUERO FALAR DO CHEIRO DO FRANGO À "CAFREAL", DO PEIXE E JAVALI, FRITOS OU ASSADOS.



DOS PETISCOS DO PRIMEIRO SARGENTO SILVA QUE FOI DE CASTIGO PARA O ALTO DA PEDREIRA. 

PENA O CASTIGO NÃO TER SIDO TODOS OS MESES DA COMISSÃO. 
SERIA BOM PARA ELE E PARA TODOS OS QUE FORAM "ABENÇOADOS" COM CASTIGO NA NOSSA COMPANHIA E COM A NOSSA COMPANHIA FORA DE PORTAS.
 
APANHEI UMA CHUVADA DAS GRANDES, ACHO QUE FIQUEI CONSTIPADO SEM CHEIRO OU ODOR.


sábado, 19 de setembro de 2015

Morteirada, por Paulo Lopes

Paulo Lopes
 
 
Como disse... cumpro, só para chatear quem não gosta! Lá vai a passagem em que fomos morteirados numa operação:
(...)
 
Era Domingo de Pascoa.
 
Ao longe já se ouvia o bater das hélices das moscas gigantes.
 
Apressamo-nos a colocar as telas de sinalização de cor berrante para que a nossa localização fosse detectada mais rapidamente.
Primeiro passou um bombardeiro T6 e já se avistavam os helicópteros.
Eram três e enquanto despejavam a carga que traziam (água e rações de combate), o T6 sobrevoava a zona.
Não foi longa a transacção de mantimentos e, um a um, os helicópteros deslocaram ficando o seu ruido característico a desvanecer-se pouco a pouco, devolvendo o silencio sagrado à floresta apenas, aqui e ali, desmantelado com o chilrear duma ave ou um grito de animal que detectava a nossa presença e se sentia ameaçado nos seus domínios.
 
Uma Feliz Pascoa para todos.
 
Rapidamente foram distribuídas as rações e água.
 
À mesma velocidade, abandonamos aquele local que, com o ruido que as máquinas voadoras espalharam a largos quilometros, era alvo fácil para uma tentativa de ataque com morteiros.
 
Na sequencia da nossa caminhada, rasgando a floresta, dilacerando a mata sabendo que, na companhia dos G.E., não haveria desvios de monta que atrasassem a nossa intenção, alcançamos o nosso segundo objectivo ao cabo do sexto dia: não se encontrava absolutamente ninguém e por isso não houve qualquer contacto.
 
Toda aquela zona estava sobejamente avisada da nossa presença e da enorme formação que actuava. Por isso todos se tinham retirado das machambas e abandonado todas as palhotas, refugiando-se numa das tantas bases muito bem simuladas e guardadas naquela difícil Serra de Mapé.
 
Limitámo-nos a rodear toda a zona de plantações e montar segurança para que os nativos destruíssem tudo: milho, mandioca, mapira, amendoim, feijão, tudo o que estivesse plantado e que já estava num processo adiantado de crescimento.
 
Tudo ficou destruído e queimado.
 
Saímos — como manda a lei da guerrilha — o mais rapidamente possível daquela zona e avançamos para outro local onde a floresta nos pudesse oferecer uma melhor protecção em relação ao nosso posicionamento.
 
Depois de andarmos mais uns quilometros, pernoitamos.
 
Nessa noite surgiu o que há muito esperávamos mas que estranhamente ainda não tinha acontecido: fomos atacados com granadas de morteiros!
Ouviu-se a primeira saída e logo a seguir, quase simultânea, a segunda.
Uns segundos depois —que para nós era uma eternidade— os rebentamentos. Aqueles rebentamentos assustadores que nos colocam numa posição de simples espera.
 
Os civis fugiam sem saber para onde.
Apenas corriam para o lado contrario ao dos rebentamentos.
Ideias falsas mas instintivas, pois, como sempre acontece nestes ataques, e imprevisível o local da queda dos projeteis.
Tanto caem aqui, ali ou acolá.
 
Fugir não adiantava absolutamente nada. Poderíamos mesmo estar a fugir para a morte.
Era incontrolável!
 
Caíram mais algumas granadas, mas felizmente e apesar de terem batido bem perto, não nos causaram quaisquer ferimentos.
 
Mas não deixaram de por toda a nossa ansiedade num sobressalto e por muitos ataques do gênero que possamos ter sofrido, cada um tem a sua historia e nada passa despercebido, quanto mais não seja, ao nosso subconsciente.
 
As morteiradas vão passando, mas as marcas, os sons e o próprio cheiro, vão ficando e a nossa memoria vai registando.
 
 
In "Memórias dos Anos Perdidos ou a Verdade dos Heróis"
paulo lopes