Rui Briote
No dia 17 de Fevereiro, já com o cheiro da terra africana entranhado nos nossos narizes, tomámos o avião que nos havia de levar até Porto Amélia, para de seguida irmos para o Chai, fazendo " escala" em Macomia.
Porto Amélia (atual Pemba) |
A viagem ainda demorou umas horas, mas deu para arregalar os nossos olhos perante tanta beleza que tivemos oportunidade de observar.
O avião, a pouca altitude, proporcionou-nos uma vista deslumbrante e de rara beleza... grandes manadas de zebras e outros animais selvagens, aliada à bem ordenada verdura dos coqueiros, contribuiu para que tivéssemos uma ligeira acalmia deixando de pensar para onde íamos.
Aeroporto de Pemba (ex-Porto Amélia) |
Chegados a Porto Amélia, cidade pequena, mas bela, aí pernoitamos...
Vista Aérea de Porto Amélia (atual Pemba) |
No dia seguinte deslocámos-nos para a praia, não para tomar uma "banhoca" muito desejada, mas sim armados de G3 e granadas de mão, para fazer treino individual "de costas viradas para a praia!".
Que mau gosto!...
Praia em Pemba (ex-Porto Amélia) |
No dia seguinte, 20 de Fevereiro, já devidamente " equipados" formámos uma coluna rumo ao Chai.
Cada pelotão foi "encaixotado" numa viatura, indo eu na cabine juntamente com o Miguel.
Os primeiros quilómetros foram calmos e não deu para ter tremuras, mas a partir dum determinado lugar elas chegaram e as calças começaram a "colar-se ao...".
Cantina de Ancuabe |
Parámos em Ancuabe e a partir daí, escoltados pelo Esquadrão de Cavalaria, com as suas Panhards, comandado se não me engano, pelo malogrado Valinhas, para nos fazerem segurança no resto do percurso.
AML Panhard - Esq. Cav. 1 |
Já com a bala na câmara lá fomos...de quando em vez ouvíamos umas rajadas, sinal que estávamos já na zona quente.
Os nossos corações começaram a ter mais batidas.
Estávamos já na zona de guerra...como seria daí para a frente?...
O tempo o diria.
Já à entrada de Macomia dei ordem para tirar a bala da câmara e aí surgiria o meu primeiro grande susto.
Macomia |
Ia, juntamente com o ex-furriel Miguel e eu junto à porta da viatura, na cabine duma Berliet e, à ordem de tirar a bala da câmara o Miguel "esqueceu-se" de tirar o carregador e ao dar ao gatilho só ouvi um silvo agudo ...a bala passou mesmo a rasar a minha cara..." borrei-me" todo.
Andei com o zumbido no ouvido não sei quanto tempo...
Miguel, Miguel não foi isso que te ensinei...:)
Depois duma noite dormida em Macomia partimos em coluna em direção ao Chai.
De novo, os corações aceleraram e quando as Panhards, nos pontos críticos, davam umas rajadas, encolhíamos-nos todos...
O primeiro sinal de guerra, foi-nos dado por uma ponte arrasada pelos "turras".
Mais tarde soubemos o nome da vítima...
a ponte de Muacamula"...
Ponte de Muacamula |
Atravessámos por um desvio e retomámos o caminho para o inferno.
A estrada, pintada de alcatrão, lá nos permitiu andar em marcha mais ou menos lenta, ao mesmo tempo que os nossos olhos arregalados iam mirando as ????, ora com uma vegetação densa ora despida.
Estrada Macomia - Chai |
Atravessámos o famoso, no mau sentido, Monte dos Oliveiras, local onde minas e emboscadas eram " mato"...
Estrada Macomia - Chai (ao fundo o Monte dos Oliveiras) |
Havia locais em que a pintura de alcatrão deu lugar a buracos, que eram as testemunhas de minas aí plantadas.
Estrada Macomia - Chai (próximo do Chai) |
Finalmente, divisámos o arame farpado, que dava acesso à " cidade" do Chai.
Aquartelamento do Chai |
Fomos recebidos em festa por uma companhia que via na nossa presença o passaporte para fugir dali...pudera!!!
Iriam embora e ficaríamos nós nas nossas novas " vivendas"...
Por do Sol - Chai |
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