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terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

O esquecimento de quem viveu tempos difíceis é impossível, por Paulo Lopes

 
 
 
O esquecimento de quem viveu tempos difíceis é impossível.
Não de dificuldades materiais.
Falo de dificuldades mentais absorvidas pelo conteúdo de medos complementados por apertos de alma e escassez de esperanças.
 
E por isso as recordações levam-me a pensar que muitos homens embarcaram para o Ultramar. Alguns sofreram apenas a distância que os separava da família.
Outros sofreram até à morte.
Outros ainda, perderam pernas, braços e a vontade de viver.

Houve, decerto, alguns a quem a sorte bafejou a vida (ainda bem para eles), pois passaram toda a campanha numa cidade, dentro de um qualquer quartel, como se apenas tivessem ido cumprir o seu serviço militar um pouco mais longe da sua terra natal.
Mas também a esses, lhes apertou no peito as saudades e a falta dos seus familiares.
Dirão, por desconhecimento, por estupidez ou simplesmente, por total ignorância, que não foi assim tao mau, que o Vietname foi bem pior, que...
Nunca souberam o que era sentir saudades de tudo, até duma simples bica, como toda a minha companhia e outras que, talvez pelo isolamento, talvez devido ao constante jogo de vida e de morte, talvez por todo um conjunto de factores de desmoralização, talvez por termos visto o nosso próprio sangue e o sangue do IN, talvez por termos vivido no centro da guerra, talvez por os nossos ouvidos se ensurdecerem com o estalar das bombas e tiros, talvez por termos brincado com a morte, talvez por termos passado fome e sede, talvez, por tudo ou por nada disto, deveríamos ser todos compensados pelo destino.
Todos nós, cuja juventude ficou perdida, mas que tivemos a sorte de regressar, viemos cansados, dinamicamente falidos.
Haverá os que nunca mais vão recuperar!
Por mim, vou novamente lutar, mas agora, contra a minha própria memória, contra toda e qualquer forma do passado.
Vou recuperar!
Agora sim, agora sei qual a razão da minha luta.
Conheço definitivamente as causas.
Vou acabar em mim com todo o ódio gerado na guerra.
Apagar todas as fogueiras que fiz arder.
 
No entanto, hoje e já alguns anos distantes do que passei, sinto um constrangimento: existe um intervalo, um vazio no tempo e no espaço.
Uma linha indefinível e inexplicável que separa o eu de ontem e o eu presente.
 
Ainda hoje conservo um sentimento de revolta que me obriga a não perdoar e desconfiar de todo e qualquer politico ou governante.
Jamais esquecerei que, a custa do sangue, do medo sofrido, da deterioração cerebral, do desgaste psíquico e até da própria vida de muitos jovens, andam hoje, a ser aplaudidos, levados em ombros e até adorados, nomes que foram potenciais causadores de todo um quadro degradante, de todos estes anos perdidos, de tantas vidas desfeitas.
Nomes que voam por cima.
Que aparecem nas primeiras páginas dos jornais, revistas e noticiários como grandes heróis, salvadores de um povo, lavradores de uma independência!
Gentalha podre de rica à conta de cambalachos e corrupções, de esmagamento de vidas alheias, de prepotências desmedidas, que ironicamente, hoje são, grandes comunistas, socialistas, sociais-democratas, revolucionários, esquerdistas, direitistas e do que mais estará para vir, que eles mesmo —sempre os mesmos— inventarão.
Enfim, grandes e fervorosos defensores da democracia, dos direitos dum povo, da paz dos portugueses e do mundo!...
Filhos da p...!
Contudo, e o que me faz ainda doer mais, e que estes senhores, civis ou ainda militares, aproveitadores duma falsa libertação dum povo oprimido durante seculos, donos do mundo e da vida, continuam e continuarão a ser sustentados e levantados aos céus por aqueles que outrora perderam a juventude servindo os interesses de quem nunca se interessou por eles.
Portugal viu partir muitos soldados.
Uns nunca mais voltaram.
Outros regressaram como grandes heróis que nunca foram.
Grandes combatentes de batalhas que nunca sentiram.
Expoentes máximos no conhecimento de guerrilha que heroicamente travaram nos cafés das diversas cidades Moçambicanas.
Muitos, que realmente foram verdadeiros heróis, com todo o seu medo de combater, com todo o seu receio de ter que disparar a sua arma, com todos os sentidos em pleno desespero, com toda a sua virtude de voltar costas à guerra, passam despercebidos no meio da multidão que corre loucamente, não para acarinhar os jovens que já esqueceram que foram jovens, mas sim, para aplaudir e dar vivas a uma qualquer miss de Portugal, ou uma qualquer equipa de futebol que, algures, nesse mundo que transborda paz e alegria, obtiveram um lugar de destaque.
 
Multidão que corre a aplaudir e festejar vitorias de todos esses partidos políticos que existem no nosso Pais a beira-mar plantado, comandados por senhores tao democráticos como os de outrora.
Tudo o que para trás ficou escrito serve apenas para homenagear todos aqueles desventurados que, sem saberem a razão, tombaram na defesa da mentira dos poderosos.
Também não passa dum forte abraco a todos os heróis sem medalhas, que, perdidos no tempo e na memoria, passam despercebidos, sem historias mal contadas para dizer.
Quero aplaudir todos aqueles que determinadamente convictos, conseguiram fugir a muitas ordens dadas por desmedidos animais ao serviço do poder.
Quero coroar todos os que, a maneira de cada um, foram suficientemente heróis para dizer NÃO a muitas operações, fugindo delas como podiam, não acatando ordens daqueles que nunca estavam no local para as poder fazer cumprir.
in "Memórias dos Anos Perdidos ou a Verdade dos Heróis"
paulo lopes

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Um aerograma, por Luis Leote


20/11/2014 
 
Remexendo o baú das recordações....

A propósito da disponibilidade que o Fernando Lourenço colocou, para quem desejasse ver o filme que foi feito por ele e o filho, coloco aqui um pensamento, que roubei não sei onde, e que retrata o que vi!!!!

1971 - Cabo Delgado - Norte de Moçambique...



 Um aerograma...



"...O medo, a raiva e a ansiedade são na guerra as personagens principais, mas é o cansaço o verdadeiro protagonista.

O cansaço é a pior coisa que há numa guerra.



A fadiga do corpo, a fadiga da mente, a fadiga da própria vida, que nos aproxima tanto da morte que dir-se-ia uma tentação permanente.

Acho que se há heróis numa guerra, que lutam com desprezo da própria vida é porque estão demasiado exaustos para considerarem a vida uma coisa digna de apreço.

Nesta exaustão completa, o próprio instinto de sobrevivência desaparece."

domingo, 31 de agosto de 2014

As comadres estão ansiosas pelo almoço do Batalhão, por Duarte Pereira

Este artigo já tem algum tempo (ainda não se tinha realizado ao almoço em Sarzedo - Arganil, excelentemente, organizado pelo Fernando Bento), mas venho-o recuperar, para lembrança de todos e que fiquem para a posteridade as preocupações das Comadres.

........///.......

Duarte Pereira (As Comadres de Estremoz)


Também preocupados com o tempo.
 
 
O nosso autor é o mais calmo.
 
Quem só pensar chegar à hora do almoço irá perder a cerimónia daqueles que faleceram.
A bela vista panorâmica do miradouro lá do sítio.
 
 
 
Como sabem o evento é em Arganil.
Nunca lá fomos, mas parece que para lá é a subir com curva e contra curva.
Para cá, a estrada poderá parecer para alguns um pouco mais larga e as curvas estarem direitas.
Tenham cuidado, uma festa tem sempre de acabar bem.
 
Pessoalmente gostamos destas coisas em sítios de arvoredo, dá uma "larica" do caraças.
 
Embora o ar possa estar húmido, na vossa idade devem beber muitos líquidos.
 
Estamos ansiosas para saber a partir da próxima segunda feira como as coisas correram.
 
Ver fotos, pode ser que alguém faça um vídeo do Sr. Marcelino a cantar o fado.
 
Estamos cá a crer que haverá alguns discursos.
 
O nosso compadre Pardal deverá ir e espero que seja ele, se for a sua manifesta vontade, que para o ano, confecione o almoço lá para os lados de Estremoz.
 

 
Temos um sonho que este ano não será concretizado.
Ficar um dia na mesa do Sr. Horácio Cunha, que é mais ou menos da nossa altura.
Quanto ao sr Gilberto Pereira, como o Sr. é pequeno que se vá catar.
 
Beijinhos para quase todos e que corra tudo bem.
 
Comadres de Estremoz.
 

sábado, 30 de agosto de 2014

As comadres e as histórias do Duarte, por Duarte Pereira


REPETIMOS PARA A MALTA RECÉM ADERENTE.

Velhas DE Estremoz Alentejanas: Olá a todos.

Quem tem acompanhado este Blog já saberá quem somos, (As comadres são), a voz da consciência do Batalhão de Cavalaria 3878, em serviço em Moçambique entre 1972/74.
As companhias eram C.C.S. Macomia e as 3507 Mataca, 3508 Chai e a 3509 Macomia, mas pouco.



A 3509 fazia a proteção a uma picada, que seria estrada e estava a ser renovada, entre Macomia e o Mucojo, já no Oceano Índico.



O nosso autor, ex-furriel Pereira do 4º pelotão da 3509, deitava-se muito cedo, logo que podia, para os dias passarem mais depressa.

Queria rever a sua família e a sua Belinha, namorada a quem tinha feito votos de amor eterno.
 

A noite caía cedo.
O dia nascia cedo.
Enquanto uma caía e o outro nascia,  o ex-furriel nem sempre dormia.
 

Quando estava em Macomia, nos intervalos da mata, de vez em quando preocupava-se em ver o que o pelotão andava a fazer.
Fazia parte da sua missão, o bem estar da malta.
Tinha a ideia que alguns elementos ainda não tinham "molhado o bico" ( não estou a falar de cerveja ou outras bebidas).
Tinha conhecimento de algumas doenças, que poderiam marcar as suas vidas, embora houvesse informação, mas talvez não suficiente.

Na enfermaria muita penicilina se gastou.

Depois de algumas diligências, percebeu que os virgens ou mais inexperientes procuravam "senhoras" de idade mais avançada.
"Renda" mais baixa e mais paciência.
Idade avançada, na altura, não significava fora do prazo de validade, mas sim, "desgaste da viatura". 



Quando chegados ao Alto da Pedreira, foi autorizado (não sei por quem), que os soldados africanos poderiam ter companhia à noite nas suas tendas.

Confesso e nunca mais esquecerei que aquela convivência enriqueceu a nossa missão.
Senhoras no aldeamento dos milícias, senhoras na nossa base tática, era uma alegria.
Quando raramente havia a visita do Capitão ou alguma cerimónia, as senhoras da base regressavam a Macomia ou iam para o aldeamento dos milícias. 


Logo havia: boa comida, boa bebida, entretenimento e nada de stress .
 

Em 1973, em Macomia, foi por ele incumbido o ex-furriel Madeira (já falecido) de assegurar essas "missões", operações essas em que se empenhava.



Por hoje é tudo.

Nem só de pão vive o homem ... e as mulheres poderão dizer o mesmo.

Beijinhos e até breve.


http://decarnaxideparaomundo.blogspot.pt/
De Carnaxide para o mundo.
 

domingo, 17 de agosto de 2014

ALTO DA PEDREIRA 1973 - comandos à caça, por Duarte Pereira


ESTE COMENTÁRIO DO RUI BRANDÃO AGUÇOU-ME A CURIOSIDADE
 
Rui Brandão:
 
Então essa estrada conhecia-a muito bem agora nesta visita a Macomia.
Presumo que saibas que ficamos instalados no Resort que está no Mucojo.
 
 
No entanto, quero partilhar aqui um pequeno segredo.
Nos dias de loucura de Macomia (chamava-se na altura cacimbados do clima), quando já tínhamos uns bons meses de comissão e eu já estava "solteiro" (a minha mulher regressou de imediato à Metrópole logo a seguir ao ataque), no Jeep do Alferes Vinagre e após as 5 da tarde, aventurávamo-nos Kms e Kms na estrada para o Mucojo até chegarmos ao local dos macacos e mais adiante ainda.
Para dizer que já conhecia um bom bocado dessa estrada.
Há que reconhecer que até é um passeio fantástico.
 
 
AMANHÃ FAREI OS MEUS CONSIDERANDOS. BOA NOITE A TODOS.
HOJE JÁ É HOJE
ALTO DA PEDREIRA 1973, NÃO ME LEMBRO SE JÁ ESTARIA O MANUEL CABRAL.
 
JÁ ERA NOITE, FOI AVISTADA LUZ NA ESTRADA, CONTACTOU-SE MACOMIA PARA SE SABER DE ALGUMA COISA, FORAM INFORMADOS QUE SE HOUVESSE BARULHO DE MORTEIRO ÉRAMOS NÓS.
MORTEIRO VIRADO PARA ESTRADA.
ALGUÉM SE LEMBROU, NÃO SERÃO OS MALUCOS DOS COMANDOS?
LIGOU-SE PARA LÁ E INFORMARAM QUE TINHAM SAÍDO COM UMA VIATURA PARA CAÇAR "AO CANDEIO" PARA AQUELES LADOS.
MORAL DA HISTÓRIA, FICOU TODA A MALTA SEM DORMIR, POR CAUSA DAQUELES "BRINCALHÕES" E NÃO FICÁMOS COM A CERTEZA SE ERAM MESMO ELES.
O 81 NÃO DISPAROU POR POUCO.
 
 
SERIA UMA NOITE AINDA MAIS CONFUSA.
NOTA: SE EU SOUBESSE QUE PODERIAM SER VOCÊS, BRINDÁVAMOS COM UMA "AMEIXA" UM BOCADO MAIS PARA O LADO.