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domingo, 23 de abril de 2017

A arte do desenfianço, por Gilberto Pereira


" JORNAL DA CASERNA "

NA SUA EDIÇÃO DE HOJE PODEMOS LER UM PEQUENO TRECHO INTITULADO:
" O MILITAR DESENFIADO "



DECERTO TODOS O CONHECIAM, ODIADO POR UNS AMADO POR OUTROS.
(Gilberto Pereira?...)

NÃO TENDO RESISTIDO AO EXCESSO DE ALCÓOL A FIM DE ESQUECER A MATILHA MILITAR, FOI VITIMA DE FEBRES ALTAS, TENDO SIDO EVACUADO PARA HM MUEDA E POSTERIORMENTE TRANSFERIDO PARA O HM NAMPULA.

AÍ FOI INSTALADO NUMA SUITE MILITAR E TEVE OS CUIDADOS MÉDICOS DE ACORDO COM A SUA PATENTE.

FORAM SEIS MESES DE LUTA CONTRA A DOENÇA, MAS AO MESMO TEMPO SEIS DE DESCANSO E LAZER.


ESTES DIAS ERAM PASSADOS DO SEGUINTE MODO:

ÁS NOVE HORAS DA MANHÃ A FEBRE APARECIA E IA ATÉ AOS
41,5º FAZIA EXAMES E ANÁLISES ORA NO HM ORA NO HC.

Á TARDE POR VOLTA DAS 4/5 HORAS A FEBRE DESCIA ATÉ AO
NORMAL. 

DEPOIS UM DUCHE UM "LANCHITO" E A FUGA PELO ARAME FARPADO EM DIREÇÃO Á CIDADE NA COMPANHIA DE OUTROS CAMARADAS TAMBÉM MUITO DOENTES.

UMA VEZ CHEGADO À CIDADE UMA PEQUENA GULOSEIMA NO PORTUGAL, UNS MORANGOS COM CHANTILY VITAMINAS CONTRA OS ANTIBIÓTICOS QUE A SANITA ENGOLIA.

DEPOIS UMA VOLTINHA LÁ PARA BAIXO QUE VOCÊS CONHECEM BEM AFIM DE MANTER A FORMA FISICA. 

DEPOIS TÁXI PARA CIMA EM DIREÇÃO À "FLORESTA" UM JANTAR PARA RETEMPERAR FORÇAS. 

JÁ É NOITE UM CINEMA DE VEZ EM QUANDO E PARA FINDAR A NOITE NADA MELHOR QUE UNS CAMARÕES E UMAS BAZUCAS NA "MARISQUEIRA A TAL PONTO QUE O REGRESSO AO HM TERIA DE SER FEITO EM TÁXI E QUANTAS VEZES NELE ENTREI DE GATAS COMO SE FOSSE AINDA MENINO.

AGORA O PIOR ESTAVA PARA VIR: E COMO ENTRAR NAQUELE
ESTADO SE AO CIMO DA RAMPA NO PORTÃO ESTAVA UM CHECA? 

NÃO HAVIA DISPENSA NEM PAPEL NENHUM COMO FAZER? 

A CABEÇA QUADRADA, AS PERNAS NÃO AJUDAVAM MUITO E O DESEQUILÍBRIO ERA CONSTANTE A PONTOS DE A MEIA RAMPA VIRAR PARA BAIXO.

APÓS ALGUMAS TENTATIVAS E PERANTE O OLHAR ATERRORIZADOR DO CHECA LÁ CONSEGUIA CHEGAR AO PAU DO PORTÃO QUE ME SERVIA DE BENGALA, E AGORA?

O CHECA DE ARMA APONTADA DIZIA: A SUA DISPENSA? E EU RESPONDIA: QUAL DISPENSA QUAL ???..........., MOSTRAVA O CARTÃO MILITAR E PUXAVA DUM MAÇO DE NOTAS E ENTREGAVA UMA DIZENDO TENS AÍ A DISPENSA E AMANHÃ HÁ MAIS--------.
E ASSIM ENTRAVA ENQUANTO ELE SORRIA PARA A NOTINHA E DIZIA BOA NOITE.

TODOS OS DIAS A HISTÓRIA SE REPETIA ATÉ QUE AO FIM DE SEIS MESES ESTAVA TESO E FINALMENTE A DOENÇA ESTAVA DESCOBERTA. 

IAM-ME DAR ALTA E EU IA PARA OS ADIDOS. 
ENTRETANTO JÁ TINHA PEDIDO MAIS DINHEIRO QUE CHEGOU NA HORA CERTA. 

AO CHEGAR AOS ADIDOS Á ESPERA DE TRANSPORTE PARA MACOMIA, FUI INFORMADO PELO OFICIAL DE DIA QUE SÓ TINHA COLUNA PARA MUEDA NA PRÓXIMA SEMANA E QUE ESTARIA DE SERVIÇO NO OUTRO DIA, AO QUE RESPONDI: NÃO NÃO FAÇO SERVIÇO NENHUM, TIRE ESSA IDÉIA DA SUA CABEÇA E ELE RESPONDEU: ENTÃO NÃO VENHAS VER A ESCALA NÃO!

COM DINHEIRO NO BOLSO FUI COMPRAR PASSAGEM DE AVIÃO NO MESMO DIA VOEI PARA PORTO AMÉLIA E Á TARDE DE TÁXI AÉREO PARA MACOMIA. 

APRESENTEI-ME COM O PAPEL DA BAIXA E TUDO FICOU BEM. 
ESTAVA ENTÃO DE VOLTA Á CASA MATERNA. 

ESTÁVAMOS POR VOLTA DOS ANOS 73 CREIO NÃO SOU MUITO BOM EM DATAS, MAS PELO PAPEL QUE TINHA DEVIA SER ISSO.
TEMPOS QUE JAMAIS ESQUECEREI.....

AS SAUDADES FORAM TANTAS QUE MAIS TARDE VOLTEI LÁ (HMN).
DESTA VEZ POR MENOS TEMPO, A METRÓPOLE ESTAVA PERTO.

MUITA COISA FICOU POR DIZER, JÁ VAI LONGA A CONVERSA E O VOSSO TEMPO É PRECIOSO.

UM ABRAÇO A TODOS.

domingo, 8 de janeiro de 2017

Na apanha do caju I, por Paulo Lopes


Paulo Lopes

Eu relembro:

No dia seguinte e como já estava mais ou menos previsto, fomos proteger os trabalhadores na apanha do caju.

Uma das varias fontes de receita para engordar contas bancárias de uma meia dúzia de abutres e claro, untar as mãos dos
 energúmenos brigadeiros, coronéis, marechais e outros que tais que estão a mais! (mentira!! Estou a brincar!!!).

Mas quem ia proteger essa receita?
Nós, pois então!

E quem a iria apanhar a troco de quase nada?
Os nativos, claro e transparente como a brisa que sopra nas tardes limpas do calor de África!
Durou dois dias esta primeira intervenção do meu grupo de combate.
Entretanto, quando outro grupo prosseguia na proteção nos campos de cajueiros e o nosso descansava no quartel de Macomia, como era eu que comandava o grupo, fui chamado ao gabinete do major.

Aqui já tinha que ter cuidado com os passos em frente, continências, farda devidamente apresentável e todas essas coisas que chamavam de disciplina militar que na recruta me ensinaram e obrigaram-me depois, mais tarde, a ensinar a outros.


E foi assim que me apresentei ao terror das operações.


Sem muita conversa paralela, o nosso major foi direitinho ao assunto e ao mesmo tempo que me mostrava no mapa uma zona determinada, ia dizendo:
— Assim que anoitecer, quero que o seu grupo saia para um patrulhamento.
Seguem por esta picada —movimentando o seu ponteiro pelo risco desenhado no mapa que nos indicava o caminho— até ao Sagal e assim que o atingirem entram na floresta até chegarem aqui — e o ponteiro parou na picada que vinha do Chai —.

Pretendo que dentro da floresta avancem ziguezagueando no terreno e em zonas mais densas façam emboscadas nos trilhos que possam encontrar.
Possivelmente e num andamento normal, chegarão perto das nove horas da manhã.


Assim que chegarem ao objectivo comuniquem para que eu mande uma viatura buscá-los. 
Compreendido?
— Muito bem meu major.
Peguei no mapa e retirei-me, sem que, militaristamente, fizesse a respectiva continência.


Claro que ele tinha uns planos muito bem definidos e estudados, mas falhou num ponto essencial: era eu que ia a comandar o patrulhamento e não ele (como é óbvio!).


Saímos às cinco horas da tarde e rigorosamente cumpri as ordens recebidas indo direitinho pela picada prevista ate ao Sagal.

Uma aldeola como tantas outras plantada uns quilómetros (poucos) afastada do quartel e que albergava uma mão cheia de nativos entre eles, decerto alguns do inimigo, que vegetavam por meia dúzia de palhotas de construção igual a todas as outras.


Mas a partir dai alterei todo o planeamento do meu querido major: não andei toda a noite as voltinhas.
Não embosquei absolutamente nada.
Não aproveitei o luar para coisa alguma a não ser para escolher o melhor local possível para estender os ossos.

Tenho a certeza de que, por muito razoável que fosse esse local, nunca se aproximaria à boa cama onde o major se iria deitar e sonhar a maneira de inventar operações para os seus soldadinhos de chumbo fazerem.

Mal acabamos de sair do Sagal e já dentro da mata, mandei formar o circulo habitual para as pernoitas e a única coisa que exigi foi a montagem de um esquema de sentinela e o silêncio quase absoluto, não fossemos acordar as diversificadas aves que já se acomodavam cobertas pela folhagem das árvores que as albergavam.

Ninguém nos chateou, nem incomodámos ninguém e por volta das cinco horas da manhã iniciámos o caminho até ao local previsto para a nossa recolha, o qual atingimos cerca das sete horas.
Claro que apenas às nove horas — de maneira nenhuma queria estragar as contas feitas pelo major!— comuniquei com Macomia informando a nossa chegada ao local combinado.

Entretanto ia escrevendo o guião para o filme que apresentaria ao major.
Fomos recolhidos duas horas mais tarde que a prevista, mas vieram.
Francamente, pensei que não o fariam e que o nosso regresso a Macomia teria de ser feito a pé.

In "Memórias dos Anos Perdidos ou a Verdade dos Heróis"
paulo lopes

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Ainda o ataque a Macomia em 7/7/1973, por Fernando Bento

Fernando Bento
 
Camaradas
 
Passados 41 anos do ataque a Macomia (7/7/1973), muita coisa se escreveu e contou sobre esse ataque efetuado pelas forças da Frelimo visando principalmente o quartel do nosso Batalhão.
 
Mas há um episódio que ainda não foi aqui descrito, penso eu, e que por uns segundos não teve consequências trágicas.
 
O furriel Joel do Pel. Rec. que nesse dia estava de piquete, regressava com a sua secção do Alto do Pina, local que ficava perto da missão donde se tinha uma vista pre...viligiada sobre Macomia.
 
Com o barulho do motor do "unimog", não se apercebeu do ataque e alguém o avisou atrasando-o assim uns segundos.
 
Quando descrevia a 1ª curva a seguir à estrada que conduzia ao Laku, uma granada de morteiro rebentava no meio da estrada defronte da casa do administrador, abrindo no alcatrão uma pequena cratera.
 
Não faço ideia quem eram os soldados que vinham nesse unimog, infelizmente o Joel já não está entre nós, mas naquele fim de tarde tiveram alguém a protegê-los, evitando-se assim uma tragédia.
 
 
 
Foi mais um episódio daquela guerra que ninguém de nós quis mas que tivemos de gramar.

Um abraço
 
 
Fernando José Alves Costa

Boa tarde Fernando Bento, fizeste um relato tão completo que parece que aconteceu à poucos meses, eu vinha nesse grupo, que tinha sido rendido no Alto Pina, só tivemos tempo de nos protegermos na valeta da berma da estrada que por sorte era bastante funda e dali corrermos para os morteiros.