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terça-feira, 1 de agosto de 2017

Quiterajo 1972 - Operação de dois dias..., por Duarte Pereira

Duarte Pereira partilhou uma memória no grupo: BATALHÃO DE CAVALARIA 3878.
23/04/2017
Quiterajo 1972 - Operação de dois dias.
4. Pelotão da 3509 sob o comando do capitão António Ferraz. 
Ataque a um aldeamento que daria abrigo ao I.N.

Não houve tiros, só na perseguição que nos moveram.
Houve resposta nossa com morteiro 60.

Na véspera do ataque toda a noite a chover e bem.
Recordo que tentei dormir , sentado e encostado a uma árvore.
Ao alvorecer, com a subida do leito de um riacho, a água quase me chegava ao umbigo (estava morninha).
Peço desculpa por ter recordado este episódio, mas no regresso (ao Mucojo), foram não sei quantas horas com o passo acelerado.
Não deu para esquecer.
Foto de Fernando Lourenço.
Nota : Aquele cantil pendurado, envolto num saco em pano, muito velho, acompanhou-me em algumas operações. 

Deveria ter capacidade para uns dois litros de água e ainda levava o normal .

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Ainda o ataque a Macomia em 7/7/1973, por Fernando Bento

Fernando Bento
 
Camaradas
 
Passados 41 anos do ataque a Macomia (7/7/1973), muita coisa se escreveu e contou sobre esse ataque efetuado pelas forças da Frelimo visando principalmente o quartel do nosso Batalhão.
 
Mas há um episódio que ainda não foi aqui descrito, penso eu, e que por uns segundos não teve consequências trágicas.
 
O furriel Joel do Pel. Rec. que nesse dia estava de piquete, regressava com a sua secção do Alto do Pina, local que ficava perto da missão donde se tinha uma vista pre...viligiada sobre Macomia.
 
Com o barulho do motor do "unimog", não se apercebeu do ataque e alguém o avisou atrasando-o assim uns segundos.
 
Quando descrevia a 1ª curva a seguir à estrada que conduzia ao Laku, uma granada de morteiro rebentava no meio da estrada defronte da casa do administrador, abrindo no alcatrão uma pequena cratera.
 
Não faço ideia quem eram os soldados que vinham nesse unimog, infelizmente o Joel já não está entre nós, mas naquele fim de tarde tiveram alguém a protegê-los, evitando-se assim uma tragédia.
 
 
 
Foi mais um episódio daquela guerra que ninguém de nós quis mas que tivemos de gramar.

Um abraço
 
 
Fernando José Alves Costa

Boa tarde Fernando Bento, fizeste um relato tão completo que parece que aconteceu à poucos meses, eu vinha nesse grupo, que tinha sido rendido no Alto Pina, só tivemos tempo de nos protegermos na valeta da berma da estrada que por sorte era bastante funda e dali corrermos para os morteiros.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

ACONTECEU ANGÚSTIA EM MACOMIA, Capítulo V, por Rui Brandão


ACONTECEU ANGÚSTIA EM MACOMIA
CAPÍTULO V
Até ali a realidade que eu estava a viver era simplesmente lúdica.
Aquele grito (É um ataque!!!) transportou-me como que impulsionado por uma mola, para uma realidade para a qual eu não me sentia preparado.
Poderia ser mais do que um simples ataque à morteirada, por que (propositadamente ainda não o tinha enunciado...) faltava a outra recomendação do Comandante "tenham atenção, quando terminar o bombardeamento o pessoal não pode desmobilizar.
A Frelimo está a por em prática golpes de mão após as morteiradas e já fizeram miséria em duas localidade a norte de Mueda.
Eu estava sozinho com a minha mulher e a minha pequenita.
Porra!!!
Fui de imediato de baixo da cama buscar a G3 e dois carregadores completos. Peguei no resto do pessoal e fui para a casa de banho no exterior da casa (joguei na probabilidade da superfície menor embora o telhado fosse de zinco).
 
 
Os rebentamentos eram uns atrás dos outros.
A minha mulher ficou atrás de mim no chuveiro protegendo a pequenita com os braços e ao mesmo tempo rezava muito alto e dizia que se ia embora para a Metrópole já no dia seguinte.
A Chana... a pobre berrava assustada com aquilo tudo.
Eu estava literalmente de joelhos com os cotovelos apoiados na sanita (situava-se junto à porta) com a G3 virada para a frente e ao mesmo tempo espreitava por cima do pequeno muro (50 a 60cm de altura) que tinha à volta da casa.
Gritei para ela para que se calasse de vez e tentasse acalmar a miúda.
Penso que consegui.
Lá fora era um festival.
Para mim principalmente.
Eu nunca tinha ouvido/assistido a uma saída de um morteiro muito menos a chegada de um com diâmetro 82.
 
 
O ritmo era cadenciado.
Estrondo acompanhado de chão a tremer e clarão cor alaranjado, logo seguida de uma saraivada de estilhaços que se faziam ouvir bem, no telhado de zinco logo seguida de uma pulverização de terra/areia.
Estrondo acompanhado de chão a tremer e clarão cor alaranjado, logo seguida de uma saraivada de estilhaços que se faziam ouvir bem, no telhado de zinco logo seguida de uma pulverização de terra/areia.
 
 
Isto nunca mais acaba?
ESTA MERDA NUNCA MAIS ACABA?
Passei a conhecer-me em situação "de baixo de fogo".
Sereno e muito lúcido.
Nestas horas apertadas ficamos sós connosco próprios...
Sei que há várias versões do tempo em minutos que durou o ataque.
Eu não tenho o tempo cronometrado, mas sei que aquilo começou ainda era de dia com alguma visibilidade e acabou com visibilidade reduzida.
E é aqui que se dá o momento crítico e caricato.
TERMINOU O ATAQUE...
Silêncio, ao qual não consigo juntar-lhe um adjetivo...
Espreitei um pouco mais por cima do muro.
Por trás da minha casa tinha o aldeamento todo.
 
 
As palhotas estavam rigorosamente alinhadas (ainda se lembram?). até parecia que o Marquês de Pombal tinha sido chamado para fazer ali um biscate.
Na minha frente via apenas vultos de pretinhos a correr como loucos de um lado para o outro.
- Queres ver que isto é que é o tal golpe de mão?
(vim a saber mais tarde que eles não vão para abrigos - não os tinham - corriam presumo que a fugir das morteiradas).
De trás de uma palhota sai um vulto em passo lento com um objeto pontiagudo virado para baixo.
Foi um momento terrível para mim.
Aquilo era um gajo com uma Kalash!!!
Baixei-me apontei a arma por cima do muro e organizei ideias - tiro a tiro não me tiras daqui e daqui a bocado vem alguém do quartel buscar-nos.
Os paliativos que nós vamos buscar e acreditamos piamente só porque não queremos morrer.
O homem virou-se mais um pouco e a "Kalash" começou a balançar.
Coitado do homem, trazia consigo talvez o único pertence que tinha, um chapéu de chuva.
Levantei-me e fui ter com o homem; com a boca muito seca e a voz completamente rouca, perguntei-lhe se havia feridos.
Respondeu-me que não sabia: . Então vai ver!!!
Nesse momento começou a dar-me a tremideira.
E se eu tinha estado tão bem até ali...
Passados 15 a 20 minutos chegou o meu amigo e grande companheiro de armas, Júlio Bernardo num Unimog com os seu homens.
 
 
Vinha buscar-nos para nos levar para o Quartel.
Fizemos o caminho a pé mas protegidos pelos homens que iam no Unimog.
Quando entrámos no Quartel pela porta junto à Messe dos Oficiais, deparei com uma quantidade enorme de soldados em linha deitados com as G3 apontadas para o exterior.
Afinal, não era só eu que padecia da paranoia do Golpe de Mão...
***Continua no próximo Capítulo