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quarta-feira, 15 de abril de 2020

Mais uma..., por José D'Abranches Leitão

Mais uma...
Recordo ainda, o artesanato do “pirata”, um Maconde que usava um lenço preto na cabeça, e que fazia autênticas maravilhas! Cabeças, aldeias indígenas, crucifixos pequenos, Talheres, indígenas, ceias, crucifixos, etc. 
Tudo em pau-preto ou pau-rosa, que depois vendia ao pessoal.

Recordo o Capelão do Batalhão que para além de coleccionar estas “obras de arte”, também vendia uns postais muito apetitosos, ou seja, de gajas nuas!

Recuerdos!!!

Recordo que mais tarde, quando estávamos na Mataca, depois de uma célebre operação de grande envergadura, de 5 dias na mata, com um guia Maconde, que nos tentou enganar, andando às voltas, o que originou um grande desgaste, quer físico, quer psicológico, mas que mesmo assim chegamos ao objectivo, embora sem resultados significativos, pois fomos detectados quando tivemos de ser abastecidos de água, por heli. 

O barulho das catanas a rasgar a mata para o heli aterrar, originou que o IN nos detectasse! 
O regresso foi diabólico, demorando cerca de 10 horas contínuas a chegar à Mataca. 
Recordo-me de chegarmos já de noite, tendo sido recebidos com grande alegria pela malta da CCAVª 2750, pois já nos julgavam perdidos ou mortos! 
A caixa de 24 latas, entretanto prometida por mim, ao meu pelotão, foi deliciosamente bebida!
Gostaria de recordar alguns “heróis” desta aventura, mas a emoção atraiçoa-me e tenho medo de me esquecer de alguém!
Tínhamos notícias da malta da CCAVª 2750 (Mataca) CCAVª 2751 (Chai) que também iam “passando” muitos maus bocados! 

Era sempre uma grande aventura, para os condutores atravessarem a Ponte do Messalo, no Chai. Grande perícia tinha de haver, pois a ponte inacabada, só tinha o betão para os rodados das viaturas. 
Ao menor descuido, as viaturas podiam mergulhar no rio. 

Aliás os trilhos nas picadas tinham de ser rigorosamente cumpridos, pois um pequeno desvio, podia ser fatal: Havia minas por todo o lado!

Outra grande arma do IN era o chamado “feijão macaco”! 
Era um tipo de feijão trepador selvagem, que crescia na mata e cujo “pólen”, quando caía no corpo, originava uma comichão tremenda. 
Quanto mais se esfregava, mais comichão fazia. 
Muitas vezes, tínhamos de tirar a roupa e esfregarmos o corpo com terra. 
O IN “arrastava” este feijão trepador para os trilhos que sabiam que iríamos atravessar. 
Era o “caos”! E assim facilmente nos detectavam.

E assim o tempo ia passando, contando os dias, riscados do calendário, e certa altura, somos informados, de que iríamos para perto de Lourenço Marques, cumprir o segundo ano de Comissão. 
Seria um prémio, pois já tínhamos sofrido muito. 
A moral do pessoal estava de rastos! 
Mais uma vez a desilusão total.
Passaram 12,13 e só saímos de Macomia após 19 meses de Comissão! 
Em vez da “Namaacha”…com praia e tudo, fomos parar à fronteira do Malawi, já na Zambézia, limite do Niassa!


José Leitão
CCav 2752

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Feijão Macaco..., por Duarte Pereira

Feijão Macaco - fotos Google

Publicado por Duarte Pereira
30 de Julho de 2013 21:08
Feijão macaco

Em todas as guerras, uma grande percentagem das baixas não são devidas ao combate. Devem-se a carências de toda a ordem, das quais se podem salientar as dificuldades de alojamento e alimentação, o afastamento da família, doenças, acidentes de viação e por aí fora.

Mas África, continente fascinante, misterioso e por vezes cruel, apresentava, durante a guerra colonial, alguns perigos específicos a considerar. E, ao contrário do que muitos poderão esperar, não eram os leões, os leopardos, os rinocerontes, as cobras e os crocodilos, o que mais afetavam os nossos soldados.
Raramente eram avistados.
Eram de outra natureza, menos impressionante, mas muito mais insidiosa e traiçoeira.
Refiro-me aos mosquitos, abelhas e formigas.

Os mosquitos, porque para lá das incómodas comichões que provocam, eram portadores da malária.
Os casos dessa doença, por vezes fatal, ocorriam com uma certa frequência, apesar de todos os militares serem obrigados a tomar os medicamentos preventivos.

As abelhas, quando “incomodadas” nos seus ninhos ,com a passagem dos soldados, atacavam sem piedade tudo o que se mexia nas proximidades.
Nas operações, um desses ataques provocava a maior das confusões e a consequente quebra do silêncio e disciplina, tão necessários em situações de perigo.
De tal forma, que os guerrilheiros costumavam colocar minas anticarro junto aos enxames.
Quando a mina era acionada por uma viatura, os resultados eram avassaladores.
Os soldados ficavam com toda a pele exposta literalmente alcatifada por uma camada desses perigosos insetos.
E no caso dos feridos, o espetáculo tornava-se verdadeiramente dantesco.

As formigas, enormes e agressivas, mordiam sem piedade todos os incautos que tivessem o azar de se meter no seu caminho.
Quantas vezes, à noite, quando no mato se procurava um local para descansar ou para montar uma emboscada, toda a operação ficava comprometida porque os soldados desatavam aos pulos com as mordidelas das inúmeras formigas, que entravam para dentro dos camuflados.
Quase sempre, a única solução era sair do local, despir a roupa toda e sacudi-la (o que, por sua vez, abria uma possibilidade de ouro para os mosquitos nos picarem nas zonas mais despropositadas…).


Porém, havia ainda outro fator, raramente mencionado, que, não sendo grave nem provocador de doenças, causava imensos incómodos durante as operações. Estou a falar de um feijão selvagem de cor preta que, especialmente no norte de Moçambique, crescia a bom crescer nas terras abandonadas pelas populações locais por causa da guerra.

Na época seca, as vagens retorcidas desse feijão, libertavam umas palhetas microscópicas que se espalhavam no ar que, ao atingirem a pele, provocavam uma comichão incontrolável.

Se lhes tocávamos com as mãos, as ditas palhetas ficavam espetadas com tal densidade que formavam uma espécie de veludo, dificílimo de tirar.

As próprias populações nativas, quando no final da época seca, limpavam o mato dos terrenos destinados à agricultura, trabalhavam quase despidos, e com a pele pintada com uma espécie de pomada feita à base de cinza embebida em água.

E o pior é que nem a lavagem dos camuflados eliminava de todo a praga. E assim, mal se vestia, começava logo a comichão.
E não será por acaso que esse feijão era conhecido em Angola por “feijão maluco” e em Moçambique por “feijão macaco".

Autor: FERNANDO VOUGA (2006)