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sábado, 10 de outubro de 2020

Vai "abananado" das respectivas ajudas de custo..., por José D'Abranches Leitão

25 Março de 1971! 

Tive alta do HM125 ! 

Na véspera um Alferes Médico. ...perguntou-me se queria ir para o Hospital de Lourenço Marques, com um grau de incapacidade de 10 a 15%! (?)...mas como já andava bem, disse-lhe que queria voltar a Macomia, regressar à minha Companhia, comandar um grupo de homens de barba rija, a maioria transmontanos...com fibra de aço!
 
E la fui eu "abonado das respetivas ajudas de custo". 

O Sargento que me passou a respetiva guia de marcha, enganou-se e escreveu "vai abananado das respetivas ajudas de custo"!!!! 

Muito me ri, na viagem de regresso!!!! 

No bar dos sargentos, já em Macomia, houve cerveja a rodos...algumas lágrimas de emoção e...a "guerra" segue dentro de momentos!!!


quarta-feira, 7 de outubro de 2020

25 de Setembro..., por José D'Abranches Leitão

O som vinha de longe!??
Havia "batuque"!!!!
Alerta máximo !
Normalmente era assim no dia de aniversário (?) da Frelimo.
Batuque....a noite era de dança. ...no aldeamento.
Sabíamos que alguma população, jogava com um pau de dois bicos!!!???
E a dança, vulgo batuque. ...era a "senha"!!!
Tropaáué! !!! Tropaáué! Tropaáué! Vai sair.... (os mainatos, ouvidos atentos!!!). 
E a coberto da noite...a notícia chegava às palhotas!!!!

Na caserna....os berros! 
Fecha a porra da luz! 
Quero dormir!!! 
Amanhã saímos cedo!!! 
Carago !!! 
Era a voz inconfundível do Alfaiate!!!
Eram assim as nossas saídas, ainda o dia não tinha nascido.... para a picada ou embrenhados num trilho pela mata dentro!
Dia seguinte...minas na picada....emboscadas!?
Do Chai...recebíamos noticias. ...de que "eles"...andavam por perto!
Messalo...da outra margem...alguns vultos suspeitos!
Mataca...nada era recebido via rádio. ... mas o alerta era a palavra de ordem!
Toda a Companhia em alerta máximo! !!!
Era assim o 25 de Setembro!!!
...
As "memórias"...continuam, enquanto os fusíveis, digo neurónios. ...não se "fundem"...ou não se f*****!!!!!
José Leitão
CCAV 2752

Reencontro de irmãos, por Livre Pensador

 Livre Pensador

BATALHÃO DE CAVALARIA 3878

07/10/2020
Em Julho de 1972, ainda éramos "checas", dois grupos de combate (1º. e 3º.) da Ccav. 3508 partiram para mais uma operação, desta vez na Serra do Mapé, local onde o contacto com a Frelimo era quase inevitável. 

Detetámos um aldeamento com 9 palhotas que foi destruído, após uma breve troca de tiros com os guerrilheiros. 

Prendemos uma mulher e os seus 2 filhos, que se vêm na foto, e apanhámos uma granada de mão. 

A captura desta mulher iria revelar-se surpreendente, para nós militares "checas", por 3 razões:

1ª.) Ao ser apanhada, a mulher correu para abraçar o nosso guia: eram irmãos! 

2ª.) Ao chegarmos à picada, já perto do quartel, pedimos que as viaturas nos fossem buscar. 
Quando estas se aproximavam de nós, a mulher tentava fugir assustada, porque nunca tinha visto um carro! 

3ª.) Um dos filhos tinha um tom de pele mais claro (como se pode ver na foto) e os olhos com traços orientais. 

Conclusão: o apoio da China à Frelimo não era só material ... também era sentimental! 

Tudo isto pode parecer estranho, mas foi na guerra e foi verdade!

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Era o 2° ferido em combate!..., por José D'Abranches Leitão

Antes que os neurónios se f****** (1)
(1) (se queimem!!!!
Mais uma...

Iniciámos a saída ainda de noite...para não sermos detetados, pois sabíamos que o IN podia ser avisado, caso sassemos de dia.

O "objetivo", segundo informação do guia, ficava num escarpado, de difícil acesso nas faldas da Serra.

Nos dois primeiros dias, com as máximas precauções, a progressão na mata ia decorrendo, sem grandes sobressaltos! 
Mas ao final do segundo dia, já havia muito cansaço e os cantis começavam a ficar sem água!
(...)

Ao terceiro dia quando já próximos do objetivo, segundo informação do guia e após uma elevação relativamente baixa, ao chegar ao ponto mais elevado, somos alertados pelos soldados que iam na frente, de que 2 mulheres estavam no pequeno riacho, que naquele ponto rasgava transversalmente a descida da elevação. 

Ao sermos vistos pelas mulheres, estas fogem aos gritos de Tropaáué....Tropaáué !!!! 

Os primeiros soldados já tinham atravessado o riacho quando ocorreu um intenso tiroteio de armas automáticas, metralhadoras e rapidamente todos se deitaram pelo chão.

Alguém grita ao Justino para que se esconda atrás de um enorme embondeiro, mas o Justino é atingido num braço e tomba ferido!

Ripostamos de imediato e tentamos socorrer o soldado ferido, abrigando-nos onde fosse possível… só que o terreno não o permitia, pois a clareira era grande.

Durante alguns minutos, todos os nossos sentidos foram solicitados para que fosse possível aliar o raciocínio ao instinto de sobrevivência, debaixo de fogo.

Ouvia-se, juntamente com o estampido dos disparos, o ferido que se queixava de dores, outros que tentavam dar algumas indicações, com que cada um se teve de defrontar no limite das suas capacidades.

Ao fim de três ou talvez quatro longos minutos, tudo terminou após um disparo de uma bazucada que conseguimos efetuar e que levou o inimigo a retirar…

De imediato se fez avaliação da situação relativamente ao ferido e às munições disponíveis.

Depois de montada a segurança no local, foram efetuados os primeiros socorros, apresentando o Justino o braço dilacerado com alguma gravidade.

Nesta situação, tentou-se a comunicação via rádio para evacuação, mas como acontecia com alguma frequência e tínhamos a perceção disso mesmo, por experiências anteriores, estávamos isolados!..

Ou por incapacidade do equipamento ou simplesmente por ninguém escutar, devido ao facto de não estar dentro da hora da exploração rádio! 

Mas ao fim de 1 hora, conseguiu-se a evacuação. 
O Justino foi colocado numa maca e entrou no heli ...com destino ao Hospital de Mueda.


A deslocação, ao longo destes últimos quilómetros, foi feita sob uma tensão psicológica que se refletia nos rostos apreensivos, na precaução e no silêncio…
Não havia um sorriso, uma palavra, apenas o som das passadas e das botas esmagando as folhas, ao longo do caminho.

Outras operações se repetiram, mas esta provocou uma inesperada situação de grande tensão e sofrimento, pois o Justino possivelmente ficaria sem o braço....
Era o 2° ferido em combate!
Jose Leitao 
4° Grupo de Combate CCAV 2752

domingo, 23 de agosto de 2020

O perdido..., criado pelo Duarte Pereira, mas da autoria do Fernando Afonso

Duarte Pereira
26/07/2020
Hoje vou dedicar um pouco mais do meu tempo a uma "vida" que todos pensavam de muita "acalmia" só interrompida nas colunas de reabastecimento.
Neste texto do Fernando Afonso, iremos ler alguns dos que estiveram mais próximos dos " enxames de abelhas" .

Pensei que só o capitão miliciano graduado António Ferraz andaria no "barulho ", mas na Mataca também andou o Nuno Salgado com o mesmo estatuto, os furriéis, esses "malandros", também andavam na linha da frente para os "golpes de mão", exemplo, o Cardoso que era um pouco mais pequeno tinha mais hipóteses de fugir às balas, segue a narrativa do Fernando Afonso.
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Fernando Afonso Há muita coisa de que já não me recordo, exactamente porque fiz uma limpeza no disco rígido. Por exemplo, só sei o nome da operação OMO, porque fui heli-transportado e porque participei nela apenas com a minha secção, tendo o restante pelotão ficado no aquartelamento.
Todas as outras que fiz ao longo da comissão, e foram muitas, não sei o nome de nenhuma delas.

  • Fernando Afonso, Nós queremos lá saber dos nomes das operações. Aguardamos os pormenores da operação em que te perdeste. Vai alinhavando e depois publica. Abraço.
  • 📷Fernando Afonso Dia 11 de Maio/73 iniciamos a operação, 2º e 3º pelotão. Levávamos connosco, como guia, um indivíduo que tínhamos apanhado no mato numa operação anterior e que o Major mandou que nos acompanhasse naquela operação, para nos levar ao objectivo (o Major era um sonhador. Guerrilheiro de arame farpado).

  • Dia 12 à tarde aproximá-mo-nos do objectivo.
  • O "turra" pediu-nos por tudo para não matarmos ninguém. Ele tinha família do lado de lá. Falsamente, anuímos ao seu pedido.
  • Como já era muito tarde resolvemos pernoitar nas imediações e tentar chegar ao objectivo no dia seguinte, pela madrugada. O Salgado, que já era capitão e que alinhava sempre connosco, chama-me e pergunta-me se eu quero ir à frente com o grupo (porque ele conhecia-nos bem, tinha sido o meu alferes do grupo), ao que respondi: "Não. Não me ofereço, porque pode alguma coisa correr mal e não quero ficar com problemas de consciência".
  • Naquele dia era ao 3º pelotão que competia ir na frente. Eles que avançassem. Entretanto fur. Cardoso, oferece-se para seguir na frente com a sua secção.
  • No dia 13 de Maio (dia da Sra. de Fátima), de madrugada iniciámos a progressão já com todas as cautelas e pouco tempo depois depará-mo-nos com um acampamento com 5 ou 6 palhotas e com 7 ou 8 habitantes.
  • Fez-se o assalto, no tiroteio faleceu uma mulher e os outros deixá-mo-los fugir porque havia lá crianças e não queríamos que ficassem órfãs. Isto digo eu agora, porque na altura não havia tempo para pensar.
  • O pelotão atravessou o local das palhotas, eu seguia na cauda e houve uma ordem para a última secção destruir as palhotas.
  • Depressa passei a informação aos soldados e começamos a pegar fogo nelas. Os meus soldados com pressa e talvez com medo de alguma represália afastaram-se de mim, sem avisarem, deixando-me sozinho naquela missão.
  • Quando deixo as palhotas e sigo em direcção ao local onde supostamente esperaria que estivesse o pessoal à minha espera, olho em redor e onde é que eles estão? Durante alguns momentos, bloqueei. Respirei fundo e corri em várias direcções na ânsia de os encontrar.
  • Acho que Nª Sra. de Fátima esteve do meu lado. Tive a sorte de ir parar a uma pequena elevação de terreno que me permitia ter um campo de observação mais elevado e assim vislumbrar o pessoal que já seguia muito afastado. Corri até eles, juntei-me ao meu pessoal e já não me lembro se lhes disse alguma coisa. Acho que não.
  • Passados alguns minutos ouvimos ao longe 3 ou 4 rebentamentos. Acho que foram granadas que estariam escondidas nas palhotas. Até porque o meu soldado Lemos apanhou uma granada que depois entregou ao Capitão. O regresso foi tranquilo.
  • 📷Duarte Pereira Fernando Afonso - Este teu artigo fica aqui em "Banho Maria" e amanhã ou depois divulgarei no topo da página do grupo, porque no meio de todos estes comentários será difícil apanhar. Não sei se tens conhecimento que o José Capitão Pardal "alimenta" um Blog em que publica as nossas " histórias" que tenham pernas e cabeça.
  • Esse blog é "público" e não só nós deste Grupo, mas qualquer outro "internauta" poderá ter acesso. Eu tenho uma série de artigos meus lá publicados e pergunto se vês algum inconveniente em o José Capitão Pardal os publicar, se achar que têm mérito.
  • Obrigado por teres partilhado connosco mais um episódio complicado daqueles tempos. Abraço.
  • 📷Fernando Afonso Duarte Pereira Os relatos são verdadeiros e vividos na 1º pessoa. Ainda houve outras peripécias que não revelei porque o texto já estava longo, mas o essencial fica narrado.
  • Não vejo nenhum problema em que se torne público, contudo alerto para o facto de poder ser lido por alguém que não goste de alguns termos usados, com por exemplo: "turras", que era o termo, na altura, utilizado para referenciar os guerrilheiros da Frelimo.

sexta-feira, 21 de agosto de 2020

A Carne Guisada da ração de combate..., por Livre Pensador

 

Livre Pensador
12/08/2020

Está na hora do almoço numa das imensas operações em que tive de alinhar. 


Alguém é servido dum pouco de carne guisada? 


Esta foto ainda foi tirada durante o ano de 1972, porque em 1973 e 74 já não conseguia suportar tanta ração de combate. 

Ao abrir uma lata de conserva, só o cheiro já me dava vómitos.

A imagem pode conter: Livre Pensador, planta, flor e ar livre


  • Duarte Pereira Ribeiro - eu poderia vir para aqui " pintar " e escrever que a minha companhia tinha sido empurrada para o mato para patrulhamentos e ir a objectivos ou bases com guerrilheiros.
    Só cá vim a descobrir que só haveria uma ou duas pequenas bases instalada
    s talvez em pequenos aldeamentos escondidos na mata e cheguei a passar por um deles já destruído por GE's , num passeio que o major convidou o 3. pelotão por uns 4 dias, sem hipóteses de balda, porque a recolha seria na estrada Macomia/Porto Amélia e o início no Alto da Pedreira , com direito o boletim diário por rádio e num dos dias tivemos visita de uma DO, outros chamam Dornier e devia passar para nos cumprimentar e enviar umas latas de cerveja. Graças a Deus nunca enjoamos a racção de combate excepto na op. Omo 1, vinte e tal dias na Serra do Mapé em Abril/Maio 1972. Nota: Sardinha e carne guisada trocava as latas por atum que nunca enjoei e fruta. Nos dois dias ou três sem comida, cheguei a comer sardinha esmagada num tacho com mandioca feito por um africano que cortava as manchambas, dos melhores petiscos que comi até hoje, a fome apura o apetite e o paladar. Grande lição de vida.
    • Livre PensadorAutor Amigo Duarte Pereira muitos foram os meses em que passei 12 dias em operações no mato a comer ração de combate. E aconteceu, um ou outro mês, em que chegou aos 16 dias. Arre porra que foi demais!!!! Durante vários meses saí para o mato apenas com chouriços e pão ou, em alternativa, com um cacho de bananas na mochila. Após o regresso de Moçambique, passaram muitos anos em que não podia ver uma lata de conserva à minha frente.
  • Luís Leote O transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) consiste em reações disfuncionais intensas e desagradáveis que têm início após um evento extremamente traumático.
  • Paulo Lopes Boa tarde amigo Ribeiro (Livre Pensador)!
    Uma lata das muitas rações de combate que tive de tragar, que sempre trocava (e havia sempre quem trocasse) por lata de sardinhas ou atum! :-) :-) Abraço.
  • Armando Guterres Ontem ao jantar foi uma lata de atum ao natural. Não enjoei e continuei, sempre a consumir enlatados.
  • José Rosa Paulo comiamos o que podíamos com o passar do tempo as vezes as latas de conservas eram s nossa safa tempos q que já lá vão um abraço amigo
  • Livre PensadorAutor Já perto do fim da comissão houve um período de dois ou três dias (não mais) em que, no aquartelamento do Chai, apenas havia ração de combate para alimentar os cerca de 150 militares da Ccav. 3508. Na messe de sargentos, a cada refeição era distribuída uma ração de combate para ser dividida por dois militares. Foi curioso observar que os considerados "aramistas" todos se deliciaram com a original ementa, enquanto os considerados "operacionais" ficaram com as "tripas" às voltas.