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terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

A procissão, com capelão e tudo, em torno do morteiro 81, por Horácio Cunha...


Horácio Cunha 28 de Janeiro de 2014 16:19

Alto da Pedreira
 
- A fé e a guerra.
Uma procissão realizada no Alto da Pedreira em que a fé e a guerra estão de mãos dadas, com essa procissão a passar mesmo ao lado dos abrigos dos morteiros 81 — com Pedro Coelho e Americo Coelho.
A procissão a passar ao lado dos abrigos dos morteiros 81, cobertos com oleados.
Apesar da foto ter sido tirada à distância, podemos observar a opa branca do capelão entre o pessoal. Enfim... contingências do contexto.

Horácio Cunha comentou a sua publicação no grupo BATALHÃO DE CAVALARIA 3878.

Lá haver, havia, como dizia o outro.
Não sei quantos, mas não me parece que houvesse abrigos para as respectivas granadas.
Estas, certamente, estariam junto do próprio morteiro e não em abrigos individualizados como mostra a foto.
Certo estou a especular e a dizer uma grande asneira.
Esta não era a minha área.
Que me perdoem os especialistas nesta matéria.

Histórico de comentários

Duarte Pereira 28 de Janeiro de 2014 16:54

ENQUANTO LÁ ESTIVE SÓ HAVIA UM MORTEIRO 81.
AS CAPAS ESTARIAM A TAPAR AS GRANADAS.
COMIGO NÃO DISPAROU, MAS ESTEVE MESMO QUASE, QUANDO UM GRUPO DE COMANDOS FOI CAÇAR À NOITE (LAMPEIO ) PARA A ESTRADA.
O PESSOAL DE TRANSMISSÕES RESOLVEU.
MACOMIA NÃO SABIA NADA, MAS CÁ O "ESPERTO DO JE"  PEDI PARA LIGAR PARA OS COMANDOS (ALTAMENTE SUSPEITOS)

Horácio Cunha 28 de Janeiro de 2014 16:53

Muito bonito e muito adequado este extracto do amigo Paulo Lopes (ler em post próprio).
Uma confirmação do que acima referi - contingências do contexto.
Obrigado por este momento.
  • Devo confessar que o Paulo Lopes me pôs a ler por duas vezes o texto (neste caso o Duarte Pereira que o recuperou). Não tinha lido assim como não tinha visto a fotografia do Horácio Cunha.

  • Este sim, este texto teria o meu voto para ir para o blog do Jose Capitao Pardal.
    Os meus parabéns.

  • Foto de Fernando Lourenço.
     
    Fernando Lourenço Quanto a morteiros... olha para este Horácio Cunha, ainda por montar no seu lugar no Alto da Pedreira em construção.

    segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

    Pontão abaixo e a granada abandonada..., por Fernando Bento

    Foto do Fernando Bento

    22 de Julho de 2013 21:48
    Mais um pequeno artigo para a história do nosso Batalhão, acompanhado de duas fotos elucidativas.
    No dia 20/11/1972, perto da hora do almoço, ouve-se em Macomia um rebentamento, que logo se deduziu vir das bandas da picada para a Mataca.
    De imediato o pelotão de sapadores, foi incumbido pelo major de seguir para o local, no sentido averiguar a origem de tão grande estrondo.
    Patrulhamos toda a picada com atenção redobrada até que chegamos à zona em que a picada desce quase a pique culminando num pequeno pontão para depois subir novamente até ao Alto do Delepa (não sei se é assim que se chama).
    Quando chegamos ao pontão, (estava ali a origem do rebentamento), deparamos com o mesmo parcialmente destruído, que impossibilitava a passagem e que a partir daquele dia teve de se fazer por um dos lados, o que constituía uma tarefa bastante difícil, pois as margens eram bastante inclinadas.
    Estávamos a inspecionar o local no sentido de tentar descobrir se o mesmo não estaria armadilhado (era normal nestas circunstâncias), quando alguém gritou: atenção está ali uma granada.
    Deparamos com uma granada desencavilhada colocada atrás de uma pedra, propositadamente abandonada.
    Essa granada ainda nos fez recuar como primeira reação.
    Certificaáo-nos que não haveria mais alguma armadilha, estava tudo limpo, então o António pegou nela com todo o cuidado, colocou-lhe uma cavilha, das nossas granadas e pendurou-a no cinto.
    Tirei umas fotos para o relatório, e algum tempo depois abandonamos o local.

    domingo, 11 de agosto de 2013

    A EXPLOSÃO NO PAIOL, por Paulo Lopes

     
     
     

     
    Terminado o estranho mas bastante apreciado "descanso" voltaram as operações: desta vez o meu grupo não participou ficando no estacionamento acompanhados pelo grupo de apoio.

    Dentro do nosso "quartel" nunca havia obrigações diferentes para fazer, chegando mesmo a dar origem a um certo desmazelo em relação à nossa própria segurança de tão consequente e repetitiva ser a vida dentro dele.

    Assolava-nos a solidão do isolamento que nos apertava o peito mas o silêncio de uma clareira plantada no meio de uma interminável selva com todos os perigos espreitando a cada ramo de árvore, a cada passo que poisávamos nos trilhos fora do arame farpado que nos separava, contrastava com esse espírito de solidão e transmitia-nos uma paz que nos ia aliviando a pressão da guerra.

    Enganadora paz que nos alterava a forma de estar no alerta constante como se, estando para cá desse arame farpado, nos livrasse dos perigos que, ocultos na mata, espreitavam qual leão esfomeado preparando o assalto à sua presa.

    Mas a regra à excepção existe e, numa bela tarde, à mesma hora, com as mesmas pessoas, no mesmo campo, com a mesma bola e eu defendendo as mesmas balizas, fomos interrompidos pela gritaria de expressão aflitiva que nos fez deixar a nossa fuga à realidade e voltarmos a entrar no tempo e espaço em que vivíamos:

    - O paiol está a arder. O paiol está a arder! Venham ajudar. O paiol está a arder!

    Para dar razão à lei dos supersticiosos, era dia treze de Outubro, sexta-feira.

    Aquilo a que chamávamos de paiol só poderia ter esse nome pelo facto de lá estarem guardados todos os tipos de materiais bélicos, desde armamento a munições para diversos tipos de armas. Inclusive tínhamos também lá guardados dois bidões de duzentos litros cheios de combustível de helicópteros para eventuais abastecimentos de urgência que ocasionalmente pudessem surgir.

    Uma casota com pouco mais de quinze, ou menos, metros quadrados, revestida de tijolo.
    Uma porta simples de madeira com uma fechadura normalíssima.
    Tecto de chapas de zinco ondulado cobriam a casa da penetração do sol, chuva ou do que a meteorologia nos oferecesse.
    De pouca, se não nenhuma, ventilação.
    Era o paiol!...

    A tal improvisação e o desenrasca da nossa característica presença, forma de ser e pensar, menosprezando quase sempre a nossa própria segurança em benefício do "amanhã logo se vê"!...

    Aqueles alertantes e expressivos gritos acompanhados de desespero, aflição e manifesto gestual terminaram com a nossa tarde desportiva obrigando-nos a desviar o nosso olhar, focando-o para o local ao mesmo tempo que corríamos para lá.

    Num segundo todos estávamos em redor do paiol que deitava fumo pelas frestas da porta e pelas folgas do telhado que uniam ao tijolo, sem sabermos exactamente o que fazer naquele preciso momento.
    Sem raciocinar, arrombei a porta e com um camarada que já empunhava um extintor vinda da enfermaria, entrámos na esperança de apagar o presumível incêndio.

    Não se viam chamas. Não se via absolutamente nada, pois o fumo era negro e muito denso não permitindo qualquer visão dentro daquela casa.
    Voltámos a sair para aliviar os olhos que fraquejavam perante tanto fumo e dar um pouco de ar à garganta que ficara seca num segundo.
    Outro soldado foi para o interior do paiol.
    Voltei a entrar em auxilio desse camarada e os dois, com o extintor em punho, tentávamos espalhar espuma não sabendo tão pouco para cima de quê.
    Mas, tal como em muitas outras coisas do nosso exército, não funcionou.
    Há quanto tempo estaria aquele pretenso extintor sem ser carregado? O mais provável é que nunca tivesse sido levado dali para ser inspeccionado e acredito que ninguém se tenha, no mínimo, preocupado com isso.
    Pelo meu lado, não sendo, de forma alguma, diferente dos outros no desenrasca (andámos todos na mesma escola) nem tinha conhecimento da existência de tal aparelho!...

    Nada mais havia a fazer ali dentro.
    A abertura da porta originou que o fumo se dissipasse um pouco mais o que nos deu uma outra visão do que estava a acontecer.

    Levantámos uma caixa de granadas de morteiro de onde saía bastante fumo e o que conseguimos fazer com essa operação foi piorar a situação pois, se o fumo já era denso, apesar de mais aliviado, ficou ainda pior!...

    Só um acto inconsciente levaria alguém ir dentro de uma arrecadação repleta de fumo quando o seu conteúdo se compunha de quantidades apreciáveis de explosivos de várias espécies: granadas de mão ofensivas e defensivas; granadas de morteiro; TNT; munições das metralhadoras "G3" e "HK21" e sei lá o que mais se encontrava dentro daquela pretensão a paiol!
    Para completar e talvez o pior de todo aquele arsenal para "animar" um mais que provável fogo, lá estavam os tais bidões de combustível.

    Mas a guerra é uma inconsciência e nós, jovens guerrilheiros improvisados, abandonados à nossa sorte que, apesar de contrariados, quando metidos no centro dos acontecimentos, fossem eles quais fossem, dávamos sempre o nosso melhor e nestes momentos de pressão, éramos arrastados por essa inconsciência esquecendo-nos, por vezes, que a nossa própria vida estava a correr riscos!

    Naquele momento não estava em causa o matar para não morrer onde, se virássemos as costas à luta, estaríamos a oferecer a nossa vida ao inimigo.
    O defendermos-nos primeiro e pensar na soberania do nosso país depois.
    A sobrevivência.
    Não! Naquela situação que estávamos a viver poderíamos simplesmente sair dali, esquecer o paiol, deixar arder e fugir para o mais longe possível.
    Esperar pelos acontecimentos. Ver o que dava! Mas não foi o que fizemos.

    Ninguém saiu daquele local e todos, de uma forma ou de outra, tentámos resolver a questão como se fosse a ultima acção das nossas vidas. Alguém já havia transportado para junto do paiol a viatura que rebocava o tanque que nós utilizávamos para ir buscar água ao poço para os banhos e com o auxilio do motor de água, projectá-la para cima daquela fumarada...

    Uma fila de munições da HK21 que se encontrava por cima de uma das caixas de onde saía o grosso fumo, começou a estoirar como se alguém as estivesse a disparar.
    Tal som, sobejamente conhecido e gravado no nosso subconsciente, provocou-nos uma reacção instantânea mostrando-nos a realidade dos factos.
    A inconsciência tomada nos momentos anteriores foi aniquilada e o regresso à terra puxou pelos meus pulmões que soltaram amarras e gritaram o mais alto que puderam:
    Fujam! Fujam! Corram para as valas!...

    Não sei em que espaço de tempo todos desapareceram daquele local, mas que foi rápido, isso foi!...

    Pelo meu lado nunca corri com tamanha velocidade e tanta vontade!
    As munições continuavam a assobiar ao saírem do seu invólucro.
    Já deitado dentro de uma vala e com o coração aos pulos, esperei o inevitável: a explosão!...
     
    "Memórias dos Anos Perdidos ou a Verdade dos Heróis"

    Paulo Lopes 20 de Julho de 2013