quinta-feira, 24 de julho de 2014

MAIS DE TRÊS ANOS EM TRÊS MINUTOS, por Duarte Pereira



MAIS DE TRÊS ANOS EM TRÊS MINUTOS.
 
CONSIDERAVA-ME BASTANTE NORMAL ATÉ ASSENTAR PRAÇA EM SANTARÉM, JANEIRO DE 1971.
NOS PRIMEIROS TRÊS MESES FIZERAM-ME UMA LAVAGEM AO CÉREBRO E SUJARAM E PARTIRAM-ME O CORPO.
 

 
NA ESPECIALIDADE PREPARAM-ME PARA "VIAJAR".
MAIS PORRADA PARA CIMA.
 
DEPOIS DESCANSEI UM POUCO, MAS NÃO DO FÍSICO E DA MENTE, METERAM-ME A DAR UMA RECRUTA NA PARTE TEÓRICA E FAZER MAIS UNS QUILÓMETROS.
TIVE DE ME SOCORRER DOS MEUS APONTAMENTOS DA SEBENTA.
 
 
FIZ UM SERVIÇO NUM FIM DE SEMANA, PRIMEIRO E ÚNICO DURANTE A MINHA VIDA MILITAR.
NESSE DIA ACONTECEU ALGUMA COISA NO PAIOL E REBENTOU PARTE DA ENFERMARIA DA E.P.C. E TIVE DE DAR ALTA AOS DOENTES, QUE JÁ TINHAM FUGIDO E NÃO FUI EU QUE LHES DEI ALTA.
 
 
NÃO FAÇO IDEIA O QUE FIZ EM SANTARÉM NO QUARTO TRIMESTRE DE 1971.
 
EM JANEIRO DE 1972 SANTA MARGARIDA E DEPOIS VIAGEM PARA MOÇAMBIQUE.
 
 
EM MOÇAMBIQUE PERDI MUITAS LEMBRANÇAS E ACHO QUE JÁ CONTEI O QUE SE PASSOU EM 1972 AO SERVIÇO DO 4º PELOTÃO.
 
QUERIA SÓ RECORDAR QUE EM 1973 PARTILHEI ATÉ JULHO UM QUARTO FORA DO QUARTEL COM O FORTES E INFELIZMENTE ESSE QUARTO FICOU SÓ PARA MIM A PARTIR DESSA ALTURA.
 
HÁ COISAS ESTRANHAS NA VIDA , DISSERAM-ME QUE IA COMANDAR UMA SECÇÃO. EM 1973 DERAM-ME UM PELOTÃO E QUANDO ESTAVA EM MACOMIA DERAM-ME UMA COMPANHIA.
 
 
E DEPOIS QUEREM QUE NÃO FALE.
TENHO DE DESABAFAR.
 
QUANDO ASSINEI O CONTRATO PARA IR PARA A TROPA, (ACHO QUE NÃO ASSINEI NADA), NÃO SERIA PARA TODAS ESTAS MUDANÇAS.
 
SÓ ME LEMBRO DE TER FALADO UMA OU DUAS VEZES COM O COMANDANTE E TALVEZ DUAS VEZES COM O MAJOR DE OPERAÇÕES.
 
O CAPITÃO RARAMENTE O VI OU VIA. (FUI FELIZ).
 
MAS HÁ UMA IMAGEM QUE NUNCA ESQUECEREI, SÓ ME LEMBRO DE ESTAR COM O SILVESTRE PIRES DENTRO DO QUARTEL.
 
 
ENSINOU-ME A JOGAR DADOS "KING".
 
 
ESSE "FANTASMA" NUNCA MAIS ME SAIU DA CABEÇA.
DECERTO POR ESTARMOS AMBOS FORA DAS "NOSSAS ÁGUAS".
 
  • Duarte Pereira EM 1973 E ATÉ AO FIM DA COMISSÃO FIQUEI SEM FOTÓGRAFO PRIVATIVO. SERIA UMA MAIS VALIA PARA ESTA PÁGINA E DAÍ TALVEZ NÃO
     

domingo, 20 de julho de 2014

Carta de uma mãe ao Ministro do Exército, por Virgínio Briote e Luis Graça

Foi com alguma emoção que li este texto da autoria do Virgínio Briote, irmão do meu grande amigo e companheiro de algumas desventuras, por terras de Moçambique, mais propriamente, em Chai - Cabo Delgado...
É pois da dor da mãe do grande amigo Rui Briote (o último da esquerda na foto de família), gravemente ferido no aquartelamento daquela localidade, com uma granada de morteiro, que estamos a "falar".
Tal como todas as mães, quis o melhor para os seus filhos... que a pátria (ou quem decidia em nome dela) mandava para uma guerra, sem sentido, há muito perdida e adversa dos ventos da história, que seguiam em sentido contrário...

JCP

.................///....................

Guiné 63/74

- P13405: Tantas vidas (Gil da Silva Duarte / Virgínio Briote) (2): As nossas mulheres: carta de uma mãe a Sua Excelência o Ministro do Exército, datada de 4 de fevereiro de 1963, intercedendo por um filho que acabava de ser mobilizado para o CTIG, depois de um outro ter sido morto em Angola, em 23 de abril de 1963...


Portugal > Finais dos anos 50 >  "Fotografia de mães e filhos, em finais dos anos 50, com a guerra já no horizonte".
"Todos esses rapazes foram para África: um para a Guiné, e dois para Moçambique, regressando um destes paraplégico".

Foto (e legenda): © Virgínio Briote  (2014). Todos os direitos reservados [Edição: L.G.] 1. Mensagem do nosso editor (jubilado) Virgínio Briote, e referência incontornável do nosso blogue, para o qual entrou na data já distante de 23/10/2005 (*):
 
Data: 16 de Julho de 2014 às 14:43
 
Assunto: As nossas Mulheres 
 
Caros Luís e Carlos, Dei agora com uma carta que, naqueles tempos, me foi entregue em Brá. É evidente que os nomes estão omitidos, mas a carta é verdadeira. Devolvi-a ao filho da Senhora que a escreveu há pouco mais de meia dúzia de anos, estava a Mãe ainda viva!

Um abraço do VB [, Virgínio Briote, ex-alf il cmd, cmtd Gr Diabólicos, CCmds, CTIG, Brá, 1965/67: , foto à esquerda, c. 1965]

2. Carta ao Ministro do Exército
 
Exmo. Senhor
Ministro de Exército
Excelência,
Venho respeitosamente dirigir-me a Vossa Excelência expondo-lhe o seguinte.
Sou mãe do 2º Sargento Miliciano ..., morto em Angola, no Quitexe, em 23 de Abril de 1963.
Após 22 meses (?) ao serviço da Pátria, o meu filho, que era a luz dos meus olhos lá se ficou.
 
Hoje tive conhecimento que outro meu filho, o 1º Cabo Miliciano ..., acaba de ser mobilizado para a
Guiné, para onde parte no dia 9 deste mês.
Sou pobre, se não ia pessoalmente, de joelhos, pedir a Vossa Excelência que tenha pena de mim.
Com a morte do meu ... nunca mais fui a mesma.
Se há pessoas desamparadas da sorte, uma delas sou eu, perdi completamente o gosto por viver.
 
Não choro os meus filhos à Pátria, choro sim a sua morte quando vejo companheiros deles, depois de apurados, descerem aos hospitais militares e ficarem livres.
Não ensino procedimentos destes aos meus filhos, custar-me-ia muito vê-los tomar atitudes idênticas. Mas apelo ao coração, que presumo ser bom, de Vossa Excelência, que certamente também é Pai.
A metrópole é também a nossa Pátria e o meu filho ficaria aqui a cumprir o tempo necessário e não mo mandaria para longe entrar em combates.
Há seis anos, o meu marido teve uma trombose.
Vive, mas é um doente, e com tudo isto vejo agravar o seu sofrimento.
Não me convenço que meu filho…vá para tão longe.
E pelos seus filhos, peço-lhe que mo deixe ficar.
Vossa Excelência terá a certeza que eu terei mais meia dúzia de anos de vida, nunca mais de alegria, mas para melhor poder amparar o meu marido e meus filhos, para os quais sempre tenho vivido.
 
Julgo bater à porta de Deus e a Ele fico a pedir para que Vossa Excelência e Família tenham uma vida cheia de saúde e felicidade.
Respeitosamente de Vossa Excelência Maria……
 
4 de Fevereiro de 1965.

3. Comentário de L.G.: No passado dia 10, mandei ao VB a seguinte mensagem:  (...) Em boa forma?
 
É só para te recordar o desafio que te lancei há tempos, e reiterei em Monte Real, no IX Encontro Nacional da Tabanca Grande...
Não nos sacas aí, do teu baú, uns tantos textos (meia dúzia...) para dar continuidade a esta série, "Tantas Vidas"? !... 
Estamos com 200 mil visualizações por mês...
Vem o verão, e é preciso alimentar o blogue... sobretudo em agosto...
Há muitos camaradas, "periquitos", que nunca tiveram oportunidade de ler o teu blogue Tantas Vidas (**), há muito desativado...
Pensa também nesta malta,que está a chegar ao nosso blogue...
Quando cá chegaste éramos meia dúzia de "tertulianos", hoje somos 662" (...).
A resposta não tardou, comunicando-me que o assunto não estava esquecido, e mandando-me duas colaborações, a começar por este texto que acima publicamos, o que vem reforçar a minha esperanção, e mais do que isso, convição de que os nossos leitores vão poder ter o privilégio de ler ou reler alguns dos melhores textos da série "Tantas Vidas" do Gil Duarte & Companhia... (Gil Duarte é uma espécie de "alter ego" do VB)...
 
(...) Os textos do Tantas Vidas?
Nunca mais peguei neles, tenho-os arquivado no portátil, julgo que fiz a cópia total do blogue mas nem tenho a certeza de que o tenha copiado todo.
No PC fiquei com alguns textos que copiei e antes de os publicarmos tenho que os voltar a ler, corrigir, ordenar e completar, uma vez que fechei o blogue em princípios de 2005!
Mas podemos voltar a pegar no assunto. (...).

Por estes dias, o VB e a Irene estarão  de visita à "família americana" (filha, genro e netos), em Seatle...
Desejo-lhes calorosos  encontros e que bons ventos os tragam de novo à doce casa e à querida pátria, como diria o grande Ulisses, o homérico  guerreiro que levou 10 anos da sua vida a regressar à sua amada Ítaca, depois da guerra de Troia.

______________

Notas do editor:
(*) Vd. psoite da I Série, 23 de outubro de  2005 > Guiné 63/74 - CCLV: Virgínio Briote, ex-comando da 1ª geração (1965/66) 
(**) Vd. poste de 26 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13194: Tantas vidas (Gil da Silva Duarte / Virgínio Briote) (1): Tantos anos depois... Recordar, porquê? Postado por Luís Graça at 18:49   Enviar a mensagem por e-mailDê a sua opinião!Partilhar no TwitterPartilhar no FacebookPartilhar no Pinterest Marcadores: as nossas mulheres, as nossas mães, Estado Novo, família, guerra colonial, Tantas Vidas, Virgínio Briote
 
4 comentários:
Luís Graça disse...
Digam lá se o do meio não é o VB? 
Sim, tenho uma vaga ideia de o VB um dia me ter dito que tinha um mano que foi gravemente ferido em Moçambique, na guerra colonial... 
Espero não estar a trocar as "cassetes"...
São as marcas, físicas e outras, que ficam am grande parte das famílias da nossa geração... 
Obrigado, VB, por partilhares esta foto de família...
Boa viagem até Seatle, para ti, o Gil Duarte e a Irene...
Que te tenhas muitas alegrias ao reencontrar a tua/vossa família americana...
 
LG quarta-feira, Julho 16, 2014 7:09:00 da tarde

Anónimo disse...
Não fosse a pressa, a história para ficar completa devia tê-la contado assim: a carta foi certamente enviada para o ME que a deve ter remetido para o QG/CTIG. Aqui deve ter estado parada uns tempos até ter sido enviada para Brá, uma vez que era lá que se encontrava o filho (elemento do meu grupo) da Senhora que escreveu a carta.
O então Cmdt da CCmds do CTIG entregou-ma em mão com a indicação "desenrasque-se" e que agisse em conformidade com o estado anímico e físico do referido militar.
Muitos anos depois, 2002/03, quando estava em casa dos meus Pais a ver e limpar os papeis e fotos que tinha trazido de lá, dei com essa carta.
Depois entrei em contacto com o meu antigo Camarada e combinei encontrar-me com ele e passei-lhe para as mãos a carta que a Mãe tinha escrito em 1965.
Foi com as lágrimas nos olhos que reconheceu a letra da Mãe e me disse que ainda era viva.
Era assim que eu devia ter relatado este facto.
O meu irmão Rui é o pequeno da ponta esquerda da foto, de boné.
Foi atingido por estilhaços de uma granada de morteiro que rebentou no parapeito do telhado sobre o qual se encontrava, no Chai, Macomia, em Junho de 1973, salvo erro.
Abraço VB quarta-feira, Julho 16, 2014 7:37:00 da tarde
 
JD disse...
Caro Virginio, Belíssima carta de desespero e de esperança.
Houve mães de portugueses que passaram semelhantes sofrimentos.
No meu pelotão tive um camarada com um irmão embarcado na mesma data com destino para Cabuca, era gémeo, e outro, mais velho, que já contava alguns meses em Angola.
Quantas angústias as daquela senhora? e as de todas as mães com filhos mobilizados para o desconhecido?
Como perguntava o poeta ao mar, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal?
Desejo-te boas viagens nesse novo mundo, e fica atento, podes encontrar o Zé Câmara ou o Tony. Um abraço JD quarta-feira, Julho 16, 2014 9:59:00 da tarde
 

quinta-feira, 17 de julho de 2014

ACONTECEU ANGÚSTIA EM MACOMIA - E o que mais aconteceu..., por Rui Brandão


 
ACONTECEU ANGÚSTIA EM MACOMIA
Esclarecimentos


Perante algumas dúvidas legitimamente colocadas ao longo da publicação dos Capítulos do Título vertente, quero-vos dizer que tudo foi escrito de memória mas... tenho várias referências de datas e documentos que me ajudam a balizar os eventos.
Recordem-se que eu tinha a minha pequenita comigo, que me referenciou vários períodos da minha vivência em Macomia.
Não vos falei das várias situações de crise que passei, com os violentos ataques de paludismo que a miúda passou, a partir do momento que iniciou a dentição.
Passei noites a baixar-lhe a febre com panos de água gelada na testa.
Os problemas com o Administrador (mais semana menos semana) consigo localizá-los, porque tenho (ainda) os recibos das rendas de casa.
O ataque a Macomia, esse então é fácil.
Eu fiz anos a 4 de julho e o ataque foi no sábado a seguir.
Os episódios em si, dificilmente os esquecerei.
Foram maus de mais para que os possa esquecer.
Garanto-vos ainda.
Muito mais coisas deste tipo se passaram mas, tenho respeito por vós e pelo vosso tempo, para vir agora contá-los.
Já não acrescentariam muito mais ao essencial que vos quis transmitir.
E se vos contar que não tive direito ao segundo mês de férias por que apanhei 6 dias de detenção?
E se vos contar que isso aconteceu sem eu ter culpa nenhuma?
E se eu vos disser que isso se deu por o Major estar com uma valente bebedeira de Whísky (situação recorrente, sublinhe-se) pouco depois do jantar?
Ali culpabilizava-se, punia-se e não havia direito a defesa e muito menos ao contraditório.
E se eu vos contar que esse homem era um falhado com um problema sério de alcoolismo?
E se eu vos contar que esse mesmo Major era um flop em estratégia militar?
Bastaria contar a história da célebre viatura vazia que enviou propositadamente numa coluna para o Chai pondo em risco a vida (ou até as pernas - minas...) de um condutor.
 
 
E se eu vos contar que esse Major tinha a necessidade de colocar um aparato bélico (Kalash + pistola à cintura) cada vez que ia fazer os revis às tropas em operações no mato (e se eu fiz tantos revis com ele...) para mostrar que era um operacional do Caraças?
 
 
Pois companheiros, teria que voltar a outro tipo de Título "qualquer coisa em Macomia" para vos "incomodar" com "ninharias".
Já passou...
Deixem lá.
Abraço-vos camaradas de guerra.
Talvez a propósito, publico hoje uma fotografia que poderá ter uma mensagem.
Quero que eles vão todos pró car.........
Rui Brandão
................///......................
NOTA DE JOSÉ CAPITÃO PARDAL: É bom frisar que as "revis" eram efetuadas de avioneta (DO) e só, enquanto a Frelimo não possuiu misseis terra-ar.
No mato eu nunca o vi.
Vocês viram?
Aliás, em 1972/1974, os únicos graduados que andavam na guerra no mato e na picada eram em exclusivo os praças (cabos e soldados) e os milicianos (capitães, alferes e furriéis).
Do quadro só por castigo e rapidamente arranjavam forma de dar baixa ao Hospital ou ser colocados nas cidades.
Só entre as tropas especiais é que a maioria dos oficiais comandantes de companhia (capitães) eram do quadro, e andavam no mato e na picada.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

ACONTECEU ANGÚSTIA EM MACOMIA - Capitulo VI, por Rui Brandão


ACONTECEU ANGÚSTIA EM MACOMIA
CAPÍTULO VI
A chegada ao interior do quartel foi um pouco estranha.
Na periferia estavam soldados deitados no chão com as G3; na messe de Sargentos havia uma euforia nervosa e próxima da estupidez.
A malta ria descontroladamente.
A descarga dos nervos era uma evidência.
Exultava-se por que não tínhamos feridos embora fosse a última coisa que estivéssemos à espera. "Aquilo" tinha sido um massacre.
De imediato fui acolhido pelo Fur. Rosa (mecânico) que me cedeu o seu quarto para mim e restante família.
Uma vez instalados, fomos convidados para a patuscada que o Fur. Pacheco estava a fazer.
Ele mesmo tinha chegado de férias havia 3 ou 4 dias.
Trouxe um pitéu para o pessoal - línguas de bacalhau.
 
 
Ficou destinado para esse dia 7 de Julho o jantar com uma caldeirada de línguas de bacalhau.
Quando começou o ataque, o Tacho já estava ao lume (na fogueira que servia a messe de Sargentos). A meio da morteirada, já dentro do abrigo o Pacheco grita.
Filhos da puta que ainda fazem queimar a caldeirada!!!
Ato contínuo, sai do abrigo debaixo de fogo e vai arrastar o tacho para fora do lume; de seguida voltou para o abrigo.
Ficará ao critério de cada um, mas este gesto de heroísmo poderia ser louvado com a cruz de guerra "língua de bacalhau de 1ª classe".
Comemos as línguas de bacalhau completamente às escuras uma vez que por medidas de segurança, toda a iluminação do quartel foi desligada.
Recolhi ao quarto do Rosa com a minha mulher e a Chana que se estava a portar como uma heroína.
Fomos dormir.
Claro que não... Não conseguimos "pregar olho" nessa noite.
Foi duro...
De manhã levantei-me e tive a sensação de uma manhã de Domingo diferente.
O falatório centrava-se na experiência de cada um.
Eu estava ali quando rebentou a primeira!!!
Então e eu?
Comecei a correr para ir buscar a G3... .... .... ...
Comecei por ir dar uma volta para ir ver como estava a instalação elétrica do quartel, por que fazia parte de uma das minhas responsabilidades.
O meu pessoal já estava no terreno a fazer essa mesma inspeção.
Feliz e inacreditavelmente não havia grandes estragos.
Quando regressava da vistoria à instalação da luz do reforço (linha vital daquele quartel), encaminhei-me para o centro do quartel e passei pelo sítio junto à grande mangueira (árvore) onde tinha rebentado uma morteirada.
 
 
No local estavam vários militares comentando o evento e ainda o Comandante.
Cheguei, disse bom dia e a continência da praxe.
O Comandante, vira-se para mim e à frente daquela malta toda, manda a bujarda!!!
Brandão, tive conhecimento que metes-te cá dentro do quartel a tua mulher sem o meu consentimento!!!
Aquilo para mim foi mais que uma morteirada que me caiu em cima.
Sinceramente já não me lembro como saí daquilo.
Fiquei sem palavras.
Nem sei se terei dito alguma coisa naquele momento.
Depois de uma situação de guerra com aquela envergadura, aquele filho da puta queria que eu o procurasse para lhe pedir autorização para proteção de mim (claro) e ainda da minha mulher e essencialmente de uma criança com 17 meses.
Oficiais de Salão.
Exatamente!!!
Eram esses que ficavam nos gabinetes a enviar os soldados e os milicianos para a frente de combate. Passavam tardes e tardes a jogar dados (7 fulen e vira, 7 fulen e vira, 7 fulen e vira).
 
 
Tantas vezes que os vi nessa figura...
Os meus companheiros que o digam, que o confirmem.
Principalmente os Oficiais e os Furriéis que tinham mais motivos para se deslocar àquele edifício onde estava instalado o Comando e a Messe de Oficiais.
Poderei falar (denunciar) ainda as matinés de conversa com o Sr. Administrador (o tal panasca de calçõeszinhos brancos e camisa branca com pichebeques dourados nos ombros).
Não posso esquecer os matacões da PIDE que por lá passaram e que tinham mais preocupação em seguir a vida dos militares que os chamados "turras".
Foi uma "guerra" de merda.
Macomia era uma feira de vaidades para aqueles Oficiais do quadro.
As companhias operacionais não tinham DE FATO qualidade de vida.
Mas os militares que as compunham, tinham a sua dignidade respeitada e inviolável.
Cada um traga a sua escala de valores e compare.
Quase que me apetecia deixar aqui um pedido de respeito pelos "aramistas".
Claro que não... As coisas não se colocam assim.
Todos, mas mesmo todos seja de que forma, tiveram o seu sofrimento numa guerra que nenhum de nós queria.
Termino esta descrição do ACONTECEU ANGÚSTIA EM MACOMIA com a publicação de uma foto que ilustra bem o que quero transmitir àquela corja de parasitas que se passearam em Macomia.
 


segunda-feira, 14 de julho de 2014

As Comadres conversando..., por Duarte Pereira


Duarte Pereira
AMIGOS E COMPADRE.
NÃO TEMOS TIDO MUITO TEMPO PARA ACOMPANHAR A VOSSA PÁGINA. ESTAMOS A SEMEAR, A REGAR, O ALENTEJO ESTÁ VERDE, A TEMPERATURA ESTÁ A SUBIR.
 
 
DEPOIS DE ALMOÇO COSTUMAMOS PASSAR UM POUCO PELAS BRASAS.
 
 
DEMOS UMA VISTA DE OLHOS E ONTEM A PÁGINA AQUECEU, MAS FELIZMENTE NENHUM OLHO FICOU AZUL.
CONTINUA A HAVER MUITOS PARTICIPANTES E DÁ GOSTO OUVIR A MÚSICA, HOJE OUVIMOS CLÁSSICA, O SR BRANDÃO QUER "LEVANTAR O VÉU" A CERTAS COISAS QUE SE PASSARAM NOS BASTIDORES DE MACOMIA, CHEIRA-NOS A POLÍTICA.
O SR JOÃO MARCELINO QUER PAZ NA FOLHA, O NOSSO COMPADRE QUER HARMONIA, E NÓS QUERÍAMOS UM I-PHONE COM TELEFONIA.
O SR RUI BRIOTE CONTINUA NOS SEUS EXAMES PARA PODER TER MAIS UM DIA DE ALEGRIA COM A VOSSA MALTA NO DIA DO ALMOÇO DO BATALHÃO.
ESTAMOS UM POUCO TRISTES, O SR PAULO LOPES NÃO IRÁ, O SR LUÍS LEOTE ESTÁ NA DÚVIDA POR A SUA SOGRA NECESSITAR DE ASSISTÊNCIA.
O SR FERNANDO BENTO ESPERAVA MAIS EX-COMBATENTES, MAS NINGUÉM PODERÁ ADIVINHAR A VERDADEIRA RAZÃO DAS SUAS AUSÊNCIAS, NÓS CALCULAMOS.
O SR JOSÉ GUEDES ANDA A TIRAR AULAS GRÁTIS.
 
 
O NOSSO AUTOR DIZ QUE ELE FOI O SEU MELHOR ALUNO, MAS TAMBÉM FOI O PRIMEIRO E ÚNICO.
VOLTANDO AO PRINCÍPIO, QUANDO ESTAMOS NA HORTA O NOSSO CORPO ENTRA EM EBULIÇÃO, O SUOR QUE CORRE POR NÓS ABAIXO FAZ COMICHÃO.
O "TOINO" DEVE ESTAR A CHEGAR PARA LIMPAR UMAS PAREDES E PODE SER QUE TENHA TEMPO PARA NOS LAVAR AS COSTAS.
FIQUEM BEM.
BEIJINHOS.
MELHOR OU PIOR, VÃO TENTANDO APROVEITAR A VIDA.
NÓS NÃO NOS QUEIXAMOS MUITO, TEMOS MUITA IMAGINAÇÃO.
 

domingo, 13 de julho de 2014

Desejo que possam dizer: eu tenho amigos, por Fernando Lourenço


A amizade é uma das mais comuns relações interpessoais que a maioria das pessoas tem na vida.
Mas a palavra amizade tem vindo a perder o seu valor quando se define este sentimento.
Hoje em dia chama-se amigo e diz-se "amigo de" com a facilidade e distancia de um clik.

O ser-se amigo ou ter-se como amigo, não é necessário gostar dos mesmos assuntos, partilhar as mesmas ideias politicas ou religiosas, ter os mesmos conhecimentos e ou movimentar-se no mesmo meio social.

Numa ami...zade vive-se uma experiencia de vital importância; pelo respeito, tolerância, lealdade enfim é a aceitação de cada um como realmente ele é.

Hoje ás 8 horas da manhã estava a telefonar ao Duarte Pereira para lhe dar os parabéns.
Há perto de 40 anos atrás teria ido ás duas da manhã bater-lhe á porta.
E ele ia desculpar-me e aceitar porque é meu amigo e a mulher dele também (parece que estou a ouvir a Isabel: é muito doido este tipo).

De hoje a uma semana, no dia 20 de julho celebra-se o dia do amigo.
Desejo que nesse dia possam dizer: eu tenho amigos.

Mais um abraço Duarte Pereira.